EventosConan Osíris, músico | Ligado por Bluetooth Pedro Arede - 28 Nov 201928 Nov 2019 Chegou e está à procura de rede. Conan Osíris, o artista português que ganhou mediatismo depois de “Telemóveis”, canção com a qual representou Portugal no Festival da Eurovisão da Canção em Israel, vai estar hoje, em Zhuhai, e no sábado, em Macau, para dois concertos integrados no cartaz do festival “This is my city” [dropcap]E[/dropcap]ram duas da tarde em Portugal quando a chamada aconteceu. Entre viagens, o HM conversou com Conan Osíris (Tiago Miranda) numa altura em que o artista estava já no aeroporto a caminho de Macau. Entre um encontro furtuito com um conhecido e a pressa de estar na porta de embarque a horas, a voz “expectante mas sem expectativas” de Conan Osíris revelou vontade de ser surpreendido e o desejo de se emparelhar com a Ásia, Macau e o público. Como vês Macau e o que esperas encontrar aqui? Não sei. Não vou com nenhuma expectativa nem nenhuma imagem pré-definida. Acho que isso é algo que me ajuda sempre quando vou conhecer algum sítio pela primeira vez, como aliás tem acontecido muito ao longo deste ano. Então, em Macau, basicamente, vou com essa mesma atitude, ou seja, vamos ver o que vamos encontrar! Estou curioso com a cultura e sobre as coisas em geral. Gosto também do facto de ser uma região pequena, que dá para explorar com facilidade. De que forma encaras o teu encontro com os portugueses que vivem em Macau? Sinceramente não sei, vou de mente aberta. Estou expectante mas sem expectativa em relação ao que quero que aconteça, mas não tenho nenhuma pré-definição. Quero ser surpreendido também. Estou nessa! Como te sentes por fazer parte do cartaz do festival “This is my City” que, além de música, inclui também cinema e fotografia? Não sabia que o festival também incluía cinema e fotografia mas sinto-me lisonjeado por estar em Macau, por fazer parte do festival e por ter a oportunidade de mostrar, eventualmente, alguma coisa de novo. O ano de 2019 ficará para sempre marcado na tua vida pela participação no festival da Eurovisão. Sentes que isso mudou a forma de actuar ou como te apresentas ao público? Acho que já estou com a distância suficiente para saber que foi uma marca, um momento forte, mas pelo qual não me guio muito. Até pela forma como o nosso espectáculo está sempre a evoluir. Acho que conseguimos distanciarmo-nos de maneira a não nos tornarmos dependentes do próprio momento. Sentes atracção pela Ásia? Achas que podes voltar para casa inspirado de maneira diferente por este lado do mundo? Não quero ser demasiado generalista, mas sempre foi uma zona que me atraiu bastante, inclusivamente quando estávamos a planear os concertos. Ao início esta tour tinha contornos completamente diferentes. Envolvia também Tóquio e Taiwan e estava super expectante, mas as coisas acabaram por não ir na direcção que estava delineada e vamos fazer só os concertos em Zhuhai e Macau. O continente asiático é uma grande referência para mim. Diria mesmo que é aquele que mais me atrai directamente ao nível da curiosidade e, por isso, acho que vai ser uma boa troca digamos assim, até porque tenho bastantes influências musicais que vêm da Ásia. Aliás, entre os próprios músicos que costumam tocar comigo em Portugal, um deles é macaense e o outro é nepalês, então acho que faz todo o sentido. A que fontes musicais asiáticas já te vieste inspirar? Sempre fui muito influenciado pela música de Bolywood, as bandas sonoras e tudo mais. Para quem conhece um bocadinho de Portugal e de Lisboa, mais durante os anos 70 e 80 talvez, houve um grande “boom” do Bolywood e as pessoas iam todas as semanas ao cinema ver estes filmes e andavam a ouvir os discos. Havia um grande consumo e troca de influências nesse tempo. Lembro-me da minha mãe dizer que todas as semanas ia ver um filme indiano novo e isso, de alguma forma, ficou inserido na minha musicalidade, I guess. Houve uma altura também, em que estudei alguma animação chinesa e andei a fazer alguma “recolecção” sobre animação no geral. Para além disso, como trabalhei muitos anos na zona do Martim Moniz e do Intendente, onde essa cultura está super presente e enraizada há bastante tempo, acho que essa interacção já existia naturalmente em Lisboa para mim e acho que torna tudo isto um bocado mais familiar. Tens um processo fixo para compor? Tenho vários processos. Basicamente tenho um onde faço primeiro o beat e depois parto para o resto. Tenho outro onde só há ideia e não tenho beat nem letra e então construo tudo à volta daquela ideia. Por último, tenho ainda um processo onde existe letra e só depois vou fazer um beat para essa letra. Portanto tenho essas três vias e qualquer uma delas vai pretty much parar ao mesmo, só que a sua génese é muito diferente. E quando identificas essa génese, sabes logo à partida a que fontes vai beber para as compor? Não, até porque essa parte da composição nasce quase sozinha. Quando estás por dentro do projecto acaba por sair dali um ritmo de uma certa forma, um estilo ou até um ritmo da batida que começa por parecer random e depois muda, e o que às vezes era para ser uma música lenta, passa a ser uma música rápida… esta parte é sempre muito aleatória. Tanto que eu, por exemplo, tenho sempre dentro do mesmo projecto três músicas diferentes, porque eram mesmo para ter sido três coisas diferentes. Então, acaba por ser muito por aí, é muito aleatório: o universo do sistema de composição acaba por ganhar uma vida própria. Para quem não conhece ou nunca te ouviu, achas que é fácil encontrar nos teus ritmos elementos tipicamente portugueses? Claro, acho que sim! Até porque dá para encontrar nalgumas músicas o género de uma cítara que é tocada como se fosse uma guitarra portuguesa. Mas acaba por haver sempre imensas referências e até tenho o Malhão nalguns ritmos também. Quando consegues detectar esses elementos sonoros encontras sempre maneira de fazer uma ponte entre alguma coisa portuguesa. No “Celulitite” também é possível encontrar quase um ritmo de Vira. Quando estás em palco, como te sentes? Costumo pensar que sou uma cena que está ligada por Bluetooth e que depois emparelha com o público. Depois conforme a reacção, às vezes fico mais enérgico, outras vezes mais focado ou mais calmo, ou então acabo a abandalhar tudo. É muito aleatório também. Antes de entrar em palco tento não pensar em muita coisa para não ficar irritado. Já aprendi a ter mecanismos que me permitem fazer tudo o que posso para ficar mesmo tranquilo.