Obra do compositor Lopes-Graça digitalizada até junho de 2019

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]odas as partituras de Fernando Lopes-Graça (1906-1994), algumas delas inéditas, estarão totalmente digitalizadas no final do primeiro semestre do próximo ano, disse à agência Lusa o presidente da Fundação D. Luís I.

Salvato Teles de Menezes é o presidente da Fundação que tutela a programação da Casa Verdades Faria-Museu da Música Portuguesa (MMP), no Monte Estoril, em Cascais, entidade à guarda da qual Lopes-Graça deixou todo o seu espólio.

“Nós prevemos que a digitalização de todas as partituras esteja concluída em junho do próximo ano, e depois cria-se um ‘link’ ao ‘site’ da Biblioteca Nacional [de Portugal], possibilitando que todas as pessoas, especialmente os investigadores, tenham acesso às partituras”, disse Salvato Teles de Menezes, em entrevista à agência Lusa.

O responsável referiu que “as partituras levantam questões, relacionadas com as diferentes versões feitas pelo próprio Lopes-Graça”, mas, garantiu que “tudo irá lá ficar”, digitalizado.

Uma das dificuldades da digitalização é facto de o compositor, quando dava por terminada uma obra, “passava a partitura em papel vegetal”.

O processo de digitalização vai ser “acelerado”, garantiu o presidente da Fundação D. Luís I, referindo que todo o investimento, “que não é particularmente oneroso… de uns milhares de euros” é da Câmara de Cascais.

Teles de Menezes revelou que o processo de digitalização das partituras começou por iniciativa do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, que foi instado, “por várias personalidades”, para a disponibilização do material de composição de Fernando Lopes-Graça, autor de sinfonias, música de câmara, coral, para piano e harmonização de centenas de canções populares dos repertórios europeu e americano.

“O resto [do material do acervo documental de Lopes-Graça] virá a seguir”, garantiu Salvato Teles de Menezes.

O responsável sublinhou que este processo visa também “preservar a documentação, evitando o seu desgaste pelo manuseamento”.

A digitalização da obra musical disponibiliza o seu acesso e a sua transcrição em partitura “o que, do ponto de vista da revisão, pressupõe a fixação do texto original, até porque cada compositor tem uma gramática própria”, disse, por seu turno, a coordenadora do MMP, Conceição Correia.

O compositor Sérgio Azevedo, que foi aluno de Lopes-Graça, é um dos revisores da obra do compositor tomarense.

Conceição Correia realçou que, “além da edição das partituras, é essencial fazê-las circular”. Aliás, “foi uma dificuldade com a qual se debateu o próprio Lopes-Graça, tendo muitas partituras circulado em ‘helicópias’”, feitas pelo próprio compositor, que “eram as chamadas edições do Lopes-Graça”.

Em entrevista à agência Lusa, a coordenadora do MMP, Conceição Correia, realçou a vastidão do espólio do compositor, natural de Tomar, revelando que “ainda há muitos inéditos”.

“A obra é vasta e, apesar de estar toda catalogada, é ainda desconhecida na sua totalidade, e vai revelar muitas surpresas durante muitos anos”, disse a responsável.

Quanto aos inéditos, Conceição Correia disse que estes “vão surgindo através das edições e dos estudos de investigação de quem se dedica à obras de Lopes-Graça, e as põe à vista”.

Segundo a responsável, “há obras musicais que nunca foram gravadas, e outras que só tiveram uma primeira audição”, caso das mornas cabo-verdianas, que foram estreadas em 1981, nas Caldas da Rainha, pela pianista Olga Prats e cujas partituras são apresentadas no dia 08 de dezembro, na Casa Verdades de Faria-MMP, por Edward Luiz Ayres d’Abreu.

À apresentação, no âmbito do ciclo “Escutar Lopes-Graça”, que se inicia no sábado, segue-se um recital pelo pianista Duarte Pereira Martins, com um programa que inclui peças de Óscar da Silva e Eurico Thomaz de Lima, além das Mornas, de Lopes-Graça.

Conceição Correia afirmou que “o trabalho de digitalização das partituras está já em curso”, referindo que muitas composições de Lopes-Graça mantêm-se no manuscrito original, não estando editadas e muitas nem gravadas.

“Para a maioria das pessoas há uma porção da obra de Lopes-Graça que não está ainda vulgarizada”, disse Conceição Correia, realçando que tem havido um “interesse crescente pela obra” do autor do “Requiem à Memória das Vítimas do Fascismo” (1979).

“Há cada vez mais estudantes a trabalhar sobre a obra de Lopes-Graça, quer a nível nacional quer internacional”, facto que não é alheio “à atividade regular do MMP de tratamento e divulgação da obra”, nomeadamente através de um ‘site’, que “desperta interesse” e do catálogo editado em 1997, que, “pela primeira vez, deu a noção de conjunto da obra”.

Conceição Correia referiu que a obra de Lopes-Graça tem “interessado muitos estudantes brasileiros”. O compositor deslocou-se várias vezes ao Brasil, a primeira vez, em 1958, e “manteve contactos e correspondência”.

Nos Estados Unidos, a sua obra coral é tema de uma tese de doutoramento. O compositor norte-americano, diretor coral e investigador Gregory W. Brown, da Universidade da Geórgia, está a trabalhar numa tese em Artes Musicais, que se intitula “The ‘Canções Regionais Portuguesas’ of Fernando Lopes-Graça (1906-1994): Methods and significance of the adaptation of folk materials into the coral médium”.

Por outro lado, “em Portugal, aprendemos a olhar de outra forma para a música portuguesa, em que, até meados do século passado, se menosprezava um pouco o repertório nacional”, e daí “uma maior procura por um dos nossos compositores de excelência”.

A edição de partituras “é vital”, sublinhou Conceição Correia, que apelou à colaboração da sociedade civil, “através de parcerias e apoios”.

Além das partituras, o MMP projeta digitalizar também os vários ensaios, textos e críticas de autoria de Lopes-Graça, além do material que o compositor guardou sobre referências escritas às suas peças.

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