Iris Ieong, tatuadora no Wonderland Tattoo Studio: “O Governo não liga aos tatuadores”

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de se licenciar em recursos humanos, Iris Ieong viu-se numa encruzilhada profissional entre a estabilidade e a paixão. Desde dos 10 anos de idade que tinha um fascínio pela tatuagem, portanto, não foi de estranhar que a paixão prevalecesse. Como resultado, tornou-se tatuadora profissional e abriu o “Wonderland Tattoo Studio”, em Macau, em Setembro deste ano.

Quando terminou o curso, Iris Ieong já trabalhava a tempo inteiro numa empresa, apesar de já tatuar alguns clientes fora do horário de expediente. Colorir peles era algo que fazia nos tempos livres mas, finalmente, decidiu seguir a sua paixão e tornar-se tatuadora profissional.

“Passar o dia sentada num gabinete não é algo que eu queria. Na altura não foi uma decisão fácil de tomar porque tinha trabalho estável que me pagava todos os mês e não era preciso administrar tudo sozinha”, recorda a tatuadora. Um dos momentos chave para Iris Ioeng foi a primeira tatuagem que fez, com um tatuador do Interior da China que acabaria por lhe dar algumas dicas sobre a arte que viria a abraçar. Apesar de ter aberto o estúdio há apenas quatro meses, a tatuadora de 25 anos de idade já tem três anos de experiência a colorir corpos.

Questionada sobre quando surgiu o seu interesse por tatuagem, lembrou que havia sido uma criança fortemente influenciada por cultura estrangeira. Como tal, logo aos 10 anos perguntou à mãe quando podia ter uma tatuagem, algo que só viria a acontecer aos 20 anos.

“Depois de ter feito a primeira tatuagem, parece que fiquei viciada, foi algo de maravilhoso”, recorda.

Telas de pele

Sem formação artística, Iris Ieong sentiu alguma dificuldade no início da aprendizagem para tatuar. Porém, os maiores obstáculos foram os pais que reagiram muito mal à primeira tatuagem que fez. “A minha mãe nunca pensaria que eu ia fazer uma, mas depois da primeira apercebi-me que não ia conseguir mentir à minha mãe e decidi contar-lhe a realidade”, explica.

A vontade da jovem foi recebida com alguma desilusão por parte dos pais. “Há pessoas das gerações mais velhas que acham que o acto de tatuar é uma forma de violência contra a própria pessoa”, contextualiza.

No entanto, depois de estudar a técnicas e de ter conseguido obter alguns resultados positivos, ou seja, tatuagens bem feitas a mãe passaria a aceitar melhor a vocação da filha.

Hoje em dia, Iris Ieong acha que a sociedade em geral tem uma atitude mais aberta em relação à tatuagem, e muito mais pessoas entendem que se trata de uma forma de arte.

A tatuadora tem algumas dificuldades em caracterizar os clientes que visitam o seu estúdio, uma vez que não são apenas jovens, mas também pessoas de meia idade e mães de família.

Quando às características de um bom tatuador, Iris Ieong entende que “é preciso ouvir os clientes, porque são eles que vão ter a tatuagem na pele, por isso é preciso respeitar as suas opiniões”, sublinha jovem. A tatuadora acrescenta que outra virtude fundamental é a paciência.

A jovem de 25 anos acha que o Governo tem muitos aspectos a melhorar no que toca à profissão que escolheu. No momento em que a tatuadora solicitou licença para trabalhar junto das autoridades, descobriu que o Executivo não tinha regulamentos preparados para tatuadores. “Acho que o Governo não presta atenção aos trabalhos de tatuadores, porque se calhar pensa que há poucos serviços desse género em Macau”.

De acordo com Iris Ieong, no território não existem regulamentos para fiscalizar o trabalho dos tatuadores que operam em Macau, algo muito lamentável uma vez que a existência de regulamentos seria útil para melhorar este tipo de profissão. A ausência de legislação leva a que “qualquer pessoa que tenha máquinas de tatuagem possa tatuar em Macau”. Face a esta realidade, a tatuadora espera que sejam elaborados regulamentos de forma a que os clientes tenham acesso aos melhores serviços.

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