h | Artes, Letras e IdeiasImaculada Conceição padroeira de Macau José Simões Morais - 1 Dez 2017 [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]or engano, na última semana saiu o artigo correspondente ao dia de hoje, 1 de Dezembro, que comemora o início da Restauração da Independência de Portugal em 1640, então sobre o domínio de Filipe III de Portugal e o IV de Espanha. Este rei jurou e fez jurar a todas as Corporações eclesiásticas, Universidades e Catedrais dos seus domínios, o defender o Mistério da Conceição Imaculada. Com Portugal independente, “a 25 de Março de 1646, a Corte e os representantes dos três Estados (clero, nobreza e povo) sob proposta de D. João IV, proclamaram a Senhora da Conceição como Rainha e Padroeira de Portugal e juraram defender sempre esse privilégio augusto e celebrar com muito particular afecto e solenidade a sua festa”, segundo Benjamim Videira Pires, que complementa: “Em 11 de Setembro desse ano, expediram-se cartas para todas as Câmaras da metrópole e do Ultramar, a fim de que as respectivas autoridades, com o clero, a nobreza e o povo, ratificassem e repetissem o acto da Corte e dos três Estados, elegendo também e proclamando Padroeira deste Reino, a Virgem Nossa Senhora da Conceição”. É natural que esta ordem real chegasse a Macau, apenas em 1647 e daí ser feriado no próximo dia 8 de Dezembro. Serve este para venerar a Imaculada Conceição, um dos quatro padroeiros que Macau já teve, a par de S. João Baptista, Santa Catarina de Sena e S. Francisco Xavier, tendo espelho no quinto, o Santo Nome de Deus, assim chamada pelos portugueses a cidade no início. Juntam-se a estes, como protectores para a comunidade chinesa, Kum Iam (Guan Yin), comparável a Nossa Senhora, Á-Ma (Mazu) para os marítimos e Na Cha, contra a peste. Antigamente começava hoje (1 de Dezembro) a celebração do oitavário à Imaculada Conceição e a 8 de Dezembro a sua festa, com missa e procissão. O culto Os monges franciscanos tinham sido “os primeiros que no século XIII professaram em público, de viva voz e por escrito, a crença da Conceição Imaculada e estabeleceram a festa deste augusto Mistério em todas as suas igrejas. Vários doutores e teólogos desta Ordem se tornaram célebres por seus escritos na defesa desta crença, contra alguns que a impugnavam, quase todos pertencentes à Ordem dominicana e difundindo-a com incansável zelo e ardor, e sendo imitados por insignes e piedosos varões, foram seguidos com entusiasmo, não só pelo comum dos fiéis, como pelas corporações mais sadias e distintas então existentes na Europa”, do Boletim do Governo do século XIX. Se a Imaculada Conceição foi a última padroeira a ser consagrada em Macau, o seu culto é tão antigo quanto o estabelecimento dos portugueses e “nos primeiros tempos o Senado, ou Governo, fazia à sua custa a festividade da Conceição em 8 de Dezembro, mas seguindo-se de perto ao estabelecimento (em 15/11/1579) da ordem franciscana em Macau, a instituição, na Igreja dela, da Confraria da Conceição, de cujo culto aquela ordem era zelosa propugnadora, o Governo daí em diante só concorria, ainda em 1844, com a prestação de 100 patacas para ajuda dos gastos da dita festividade, que ficou a cargo da referida Confraria, ainda hoje existente, e que esteve ricamente dotada”, como referido nesse Boletim do Governo. A Confraria da Conceição, que rendia o seu culto à Mãe de Deus, estava encarregada da organização destes festejos. “A 23-XII-1781, o Senado assentou ficar (perpetuamente) Presidente da Confraria de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Macau, a pedido da mesma Confraria, que se via impossibilitada de arcar com as despesas da festa”, segundo Benjamim Videira Pires, que refere, “visto ser o Protector, que concorre anualmente com vinte taéis”. No início, as celebrações à Imaculada Conceição eram realizadas no Convento de S. Francisco até que, com esse templo arruinado, em 1850 passaram para a Sé Catedral. Já como Padroeira, a festividade ocorria com uma extraordinária solenidade, havendo missa cantada acompanhada a órgão, com assistência das autoridades políticas, religiosas e os principais moradores da cidade e onde todos os vereadores do Senado comungavam. Após a missa, ao som de uma salva feita desde a Fortaleza do Monte, saía em procissão, à roda do largo da Catedral, o andor de Nossa Senhora da Conceição, seguido do Santíssimo Sacramento conduzido pelo Bispo Diocesano, sendo acompanhada em cortejo com a guarda de honra, que incorporava em peso a própria guarnição e o Governador, pegando os vereadores da Câmara nas varas do pálio. Estátuas da padroeira A imagem da Imaculada Conceição de Maria encontra-se em muitas igrejas de Macau, assim como logo desde 1640 no frontispício da Igreja da Madre de Deus. “Após a Restauração, a desejo do Rei D. João IV, por volta de 1647/48 o título da Igreja e do Colégio mudou-se para Colégio e Igreja da Imaculada Conceição”, segundo Benjamim Videira Pires que segue dizendo, “A igreja do mosteiro das Clarissas era também dedicada à Imaculada; e os Franciscanos, na sua Igreja de Nossa Senhora dos Anjos ou da Porciúncula, possuíam um altar à mesma evocação”. Já Luís Gonzaga Gomes refere que em 1936 foi demolida a antiga Igreja da Imaculada Conceição e nesse lugar construída a nova Igreja de S. Clara, em estilo gótico. No Salão Nobre do edifício do Leal Senado, encontra-se um oratório com as estátuas de Nossa Senhora da Conceição no centro do altar e à esquerda a de S. João Baptista, ambos Padroeiros da Cidade e onde outrora, todos os Senadores ouviam Missa e comungavam nas festas de cada um dos 4 Padroeiros. Para construir (ou reconstruir) esse oratório foi pedida autorização pelo Senado a 31 de Dezembro de 1818, sendo deferido por Dec. Régio de 28 de Setembro de 1819, que manda nesta ocasião declarar ao Bispo Diocesano para que ele haja de conceder as licenças necessárias para a erecção do pretendido Oratório, onde antes da Ordinária Vereação dos Sábados, se haja de celebrar Missa. E continuando com P. Manuel Teixeira, o Oratório ainda hoje existe, mas já não se celebra ali Missa, nem sequer se reza antes das sessões camarárias. Na Igreja do Seminário de S. José há o altar dedicado à Imaculada e no alto da Colina da Penha encontra-se a sua estátua, assim como na gruta aí existente. A “17-9-1871 Bernardino de Sena Fernandes convocou os subscritores do Colégio da Imaculada Conceição, para tratar do encerramento deste estabelecimento de educação e instrução, por se terem retirado da Colónia as professoras que regiam esse colégio”, segundo Gonzaga Gomes, que refere ainda, a “19-2-1906 devido aos esforços do Bispo Dom João Paulino de Azevedo e Castro, chegaram os padres salesianos Luís Versiglia, Ludovice Olive e João Fergnani, acompanhados dos mestres de oficinas Feliz Boresto, Luís Carmagnala e Gaudêncio Rota, para fundarem o Orfanato da Imaculada Conceição, para crianças chinesas”. No feriado oficial de 8 de Dezembro, em honra da Padroeira de Macau Imaculada Conceição, já sem oitavário a anteceder, ocorrerão na próxima sexta-feira apenas duas missas na Sé Catedral, às 11 horas em português e às 17 horas em inglês.