A informação vale dinheiro

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om tantos casos de abuso sexual infantil estampados nas primeiras páginas dos jornais da RPC, este título, tirado da frase que encabeça o cartaz do filme Os Anjos Vestem de Branco《嘉年华, parece-me um tanto ao quanto de mau gosto. O filme estreou a semana passada nas salas de cinema chinesas.

Os Anjos Vestem de Branco conta também a história de um caso de abuso sexual infantil. Não foi por coincidência que o filme estreou nesta altura, mas sim por sentido de oportunidade. Também não é um truque de marketing.

As protagonistas são duas raparigas. Wen, de 12 anos, é uma das vítimas. Mia, de 15, é apenas a testemunha ocular. Quando este crime aconteceu, Mia trabalhava ilegalmente na recepção de um motel. Durante a tarde, um homem de meia idade deu entrada no motel. Mais tarde ela viu o homem empurrar duas rapariguinhas para o quarto. Na manhã seguinte, as duas raparigas foram para a escola.

Contudo, dias mais tarde, Xinxin, uma das duas crianças, conta à mãe tudo o que se passou. As meninas, Wen e Xinxin, são submetidas a exames ginecológicos e de seguida a polícia local dá andamento ao processo. Mas como o suspeito se recusa a declarar-se culpado, a chave para resolver o crime é Mia, que poderá testemunhar que o viu entrar no quarto com as meninas.

No entanto, se Mia testemunhar vai chamar a atenção para o facto de estar a trabalhar ilegalmente, o que obviamente lhe irá trazer uma série de problemas. Mas ficar calada também não é opção. Ajudar os outros faz parte da natureza de Mia, mesmo quando isso a põe em risco.

Nesta altura Mia toma uma decisão. Vai ajudar as vítimas contando tudo o que sabe, mas também se vai ajudar a si própria, porque vai vender a informação. Mas agora surge um perigo ainda maior. E surge na forma de um carro que persegue Mia durante a noite, com os máximos ligados. Mia pode ter sido apanhada na teia do submundo que habita a cidade…

O filme não aborda a violência, nem o “estado de direito”, nem a justiça na RPC. A realizadora, Vivian Wu, está interessada em explorar o lado obscuro desta cidade do litoral virada para o turismo. O estilo documental que a realizadora adopta revela uma visão frontal e corajosa.

Boa parte do filme mostra-nos retratos de mulheres complexas, mas sobretudo não convencionais, que fazem escolhas imprevisíveis. A história também nos leva a certos locais do submundo desta cidade, onde a corrupção não conhece limites.

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