Saúde Feminina

dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara este exercício reflexivo tentarei de alguma forma pensar na saúde sexual feminina no debate médico contemporâneo, onde a medicina convencional está muitas vezes em conflito com as ditas medicinas alternativas. Não sou pessoa para defender um discurso anti-científico. Nada disso. Mas apresentar-me-ei aqui como alguém que se sente perdida nesta encruzilhada que pode ser a tensão entre a medicina tal como a conhecemos e a medicina holística e de prevenção, em particular, quando falamos do sexo feminino.
A saúde sexual feminina tem como especialidade médica a ginecologia. Qualquer mulher de qualquer idade verá com regularidade um médico assim que se tornar sexualmente activa. Este médico irá sentá-la numa geringonça, que é uma cadeira, e inspeccionará a vulva, a vagina e o colo do útero. Todos estes detalhes do órgão reprodutor feminino serão analisados para determinar a sua saúde e normalidade. Quantas de nós não visitou a especialidade com queixas de desconforto, com corrimentos esquisitos ou dores estranhas? Lá somos vistas, medicadas e, se tudo correr bem, não precisaremos de voltar tão cedo. Só na nossa próxima sessão de rotina anual. Até aqui, tudo bem. Não fosse a minha surpresa de nunca me terem informado exactamente como posso manter as minhas partes femininas saudáveis. Em qualquer outra especialidade poderão informar-vos de preferências alimentares, exercícios ou outros cuidados a ter. Em relação à saúde sexual feminina, será que há uma educação aberta, bem informada e clarificada do que devemos e não devemos fazer?
Estes recantos femininos podem ser completos desconhecidos para quem os detêm. O desconforto em falar das nossas partes mais íntimas faz com que seja difícil falar abertamente de como manter o nosso sexo saudável – ou de como evitar irritá-lo. Uma perspectiva mais holística de saúde vos dirá uma data de coisas, até que o vosso nível de stress pode afectar a forma como a vossa vagina se sente (mas tudo é afectado pelo stress, não é?). Trata-se de um ambiente tão delicado, um ecossistema tão bem coordenado que temos que ter cuidado em não perturbá-lo. Se a vagina tem poderes de auto-limpeza, isso só é verdade se ela conseguir encontrar o seu equilíbrio para tal.
O que é que pode irritar as partes íntimas? (1) Roupa demasiado justa e, especialmente, de materiais sintéticos são má ideia. A delicada pele vulvar não será capaz de respirar de forma apropriada, e poderá provocar alergias e outros problemas. (2) Duches vaginais são desapropriados, colocar líquidos lá para dentro poderá perturbar toda a dinâmica. (3) As vulvas é que precisam de uma lavagem regular e cuidada, que deve ser feita com sabões sem cheiros, sem cores. Quanto mais simples, melhor! (4) Ter sexo sem estar devidamente lubrificada é puro masoquismo. Para evitar rupturas de tecido, ou dor em geral, verifiquem se estão em situação ideal para penetração e, se for preciso, peçam ajuda ao amigo lubrificante que é para isso que ele serve. (5) Cuidado com as depilações. Em outras ocasiões tentei reforçar que o look natural de pêlos púbicos são provavelmente a solução mais saudável, mas para quem quiser aparar, ou cortar por completo, recomenda-se que troquem de lâmina regularmente para evitar o desenvolvimento de infecções em pêlos encravados.
A medicina convencional já começa a alertar-nos para algumas destas práticas, mas as medicinas alternativas vão para além destas recomendações e propõem receitas caseiras para situações regulares de mau-estar vaginal. Existem neste momento algumas modas alternativas para prevenir e/ou curar vaginites, e que têm gerado alguma controvérsia. Fala-se em banhos de vapor, tratamentos feitos com iogurte, alhos ou vinagre. A Medicina Tradicional Chinesa, por exemplo, também nos ensina que não devemos ingerir alimentos frios durante a menstruação para prevenir dores. Tudo isto parece-nos bem – mas os ginecologistas convencionais parece que não acham muita graça a estas sugestões dizendo que não há evidência científica para defendê-las. Sim, alhos provavelmente não são boa solução para curar o que quer que seja, por isso não os experimentem! Porque apesar de tudo, há muitas pessoas por aí que não sabem o que dizem. Mas há outras que até sabem, acerca do vinagre, por exemplo: uma colher de sopa de vinagre de cidra em um litro de água poderá ajudar a aliviar o desconforto vulvar provocado pela candidíase. Fica a dica da semana.
Eu sou da opinião de que a saúde feminina seria muito mais interessante se não houvesse uma tensão entre medicinas. Esta tensão existe porque a natureza de cada uma delas não se alinha numa ideologia/paradigma. Especialmente quando falamos de saúde feminina, que ao longo da história da ciência foi gentilmente posta em desvantagem em relação a outras áreas. Em geral, a saúde nunca foi/é um tópico fácil porque envolve processos biológicos, fisiológicos, psicossomáticos e emocionais que ainda ninguém percebeu muito bem como se relacionam, mas que estamos por descobrir.

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