Fan Li o “Mau da Fita” e a inimitável mente chinesa西施与她的情人为何是中国最早的女权主义者?

Foto: O bailado contemporâneo Xi Shi

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]untem-se à minha volta gentis leitores e permitam que vos presenteie com a história maravilhosa e nunca antes contada de Fan Li 范蠡 – intelectual, estratega militar e homem de negócios bem sucedido – e de Xi Shi 西施, a sua famosa amante, uma femme fatale. Os dois ficaram conhecidos na História chinesa como um par de “maus da fita”.

Fan nasceu nos finais do séc. VI AC, num reino chamado Yue (a poucas horas de carro da actual Xangai). Filho de pais pobres, tornou-se amigo de um homem que reconheceu o seu talento e sabedoria e o levou consigo para a capital como conselheiro do Rei Goujian, que era inteligente e ambicioso. Pouco depois o Rei Goujian atacou o Reino de Wu e sofreu uma derrota memorável. Fan e o Rei foram feitos reféns e torturados durante longos anos pelos carcereiros do Rei de Wu, até serem libertados e mandados para casa carpir as mágoas. Quando lá chegaram, Fan começou a engendrar um plano de vingança – um plano que exigia um toque feminino.

Xi Shi, filha de um comerciante de chá e uma femme fatale entrou em cena, uma mulher que poderia ser recordada como uma das Quatro Grandes Beldades. Era tão atraente que os peixes do lago, onde ela ia todos os dias lavar as suas sedas, perdiam a capacidade de nadar e afundavam-se. Xi Shi cruzou-se com o engenhoso Fan Li junto ao lago, quando ele andava à procura de uma mulher inteligente e talentosa. Apaixonaram-se perdidamente um pelo outro.

O Rei de Wu tinha fama de mulherengo. Fan Li compreendeu que tinha encontrado o espião perfeito, ou melhor dizendo a espia perfeita, para derrubar o reino inimigo. Para ajudar o seu amante, Xi Shi aceitou ser enviada como um presente de Yue ao Rei de Wu. O libidinoso Rei ficou imediatamente rendido a Xi, dava-lhe presentes, construiu-lhe um palácio e colocava-a acima de todos as suas outras esposas. Durante os 17 (!) anos que se seguiram, ela foi-lhe aos poucos envenenando o espírito, minando a sua capacidade para governar e afastando os seus sensatos conselheiros, ou fazendo com que ele os mandasse executar. Em 473 AC, Yue voltou a atacar. Wu não estava preparado e sucumbiu. O Rei de Wu suicidou-se quando o seu reino foi anexado. Depois disto, Fan Li retirou-se do serviço público. Ele e Xi Shi desapareceram num barquinho, nas águas cobertas de nevoeiro do Lago Taihu. Foi nas margens do Taihu que ele lançou os primeiros alicerces dos negócios chineses: centrando-se na organização, abertura de espírito, honestidade e na observação astuta da flutuação dos mercados. Fan Li tornou-se um comerciante rico. Foi tão bem-sucedido que escreveu uma série de livros sobre gestão comercial. Já na reforma escreveu o primeiro texto de sempre sobre aquacultura, estabelecendo os princípios que iriam dominar nos próximos 2.000 anos a criação de viveiros de peixes na China. A China controla 70% desta actividade a nível mundial, baseada na reciclagem de nutrientes e no respeito pela biodiversidade. Paradoxalmente, hoje em dia a China está a ser afectada por uma quantidade assustadora de crises ambientais.

Por isso, se não consegue abarcar a imprevisibilidade do raciocínio chinês e a intrincada ramificação mundial dos negócios e investimentos deste povo, que quase parecem ser feitos ao acaso, a forma mais fácil de começar a desembaraçar este novelo é estudar Fan Li.

Fan Li também é conhecido por Tao Zhugong 陶朱公, um intelectual que se tornou o santo patrono dos homens de negócios.

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