Neo-mini-dicionário

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]oje decidi fazer uma coisa diferente, e compilar alguns neologismos, bem como termos e expressões que passaram a adquirir um sentido diverso do original, depois de passarem pelo inferno das redes sociais. Espero que não detestem muito.

Abortismo: apoio à prática do aborto, como parte do plano para o Genocídio Branco.

Anti-Semitismo: qualquer demonstração de relutância em aceitar a política expansionista e o comportamento criminoso do estado de Israel.

Benfica: não sabendo bem do que se trata, é aquele ou aquilo que tem a culpa de tudo; “a culpa é do Benfica”.

Burguês: um indivíduo que sabe escrever; “Ao contrário de muito burguês a quem o paizinho pode pagar os estudos, existe gente que teve de começar a trabalhar muito cedo e não aprendeu a escrever devidamente. De qualquer maneira e independentemente dos estudos, todos temos direito a opinar.” (da página do PNR).

Capitalismo: um horror porque o dinheiro está nas mãos dos outros, mas uma maravilha na hora de atacar os esquerdalhos.

Cientistas: esquerdalhos pagos pelo George Soros para nos impingir a teoria do aquecimento global e prejudicar o humilde negócio familiar das petrolíferas.

Direitinha: alguém que se diz de direita, mas que na verdade não passa de mais um esquerdalho.

Estalinista: pessoa que se opõe à verborreia demente do fadista João Braga.

Esquerdalho: basicamente qualquer indivíduo que não partilha de ideologias fascistas e não seja um reaccionário.

Fascismo: ideologia de esquerda; “Mussolini pertenceu ao Partido Socialista italiano e Hitler ao Partido Nacional Socialista”.

Feminazis: partidárias radicais dos ideais feministas, que “são lésbicas e querem acabar com os homens”. A existência destas implica que toda e qualquer pretensão do feminismo seja “uma grande treta”.

Genocídio Branco: a teoria de a vinda de refugiados e imigrantes para o Ocidente faz parte de um plano maior com vista à extinção de raça branca. A sério.

George Soros: bilionário americano relativamente discreto até há poucos anos, quando lhe  foi atribuída a autoria da “Conspiração globalista”.

Globalismo: a ideia de um mundo sem fronteiras. Uma coisa “terrível”.

Globalização: coisa boa quando se vai comer ao chinês e fazer compras no Toys’R’Us, péssima quando se vive paredes meias com imigrantes.

Invasão Uterina: vinda para o Ocidente de mulheres islâmicas “que têm oito filhos EM MÉDIA cada uma”, com o intuito de contribuir para o Genocídio Branco.

Islamo-fascismo: é melhor nem procurar saber do que se trata.

Liberalismo: “uma doença mental”. Vem também em versão “neo” e “ultra”.

Maoista: pessoa que se opõe à realização de palestras onde o convidado seja o Dr. Jaime Nogueira Pinto.

Me(r)dia: os media convencionais, que “escondem a verdade”.

Nazi: lengalenga infantil; “- És um ganda nazi! – Não não, nazi és tu!”

Neo-marxismo: supostamente o mesmo que Marxismo, só que da era tecnológica; na prática é tudo que não se insira neste rol de disparates que estou aqui a debitar.

Nova Ordem Mundial (NOM): Parece qualquer coisa saída de um plano diabólico de Lex Luthor, ou do imperador Ming, mas “estamos a caminho dela”, com a ajuda do Globalismo, Soros, abortocionistas, feminazis, etc.

Politicamente Correcto: serviu durante muito tempo para que certas pessoas não ouvissem o que não gostam, e é actualmente desprezado por estas mesmas pessoas para que possam dizer os disparates que muito bem entenderem.

Refujihadista: deixem para lá.

Salazar: ditador que morreu pobre e decrépito, tal como o país que deixou; D. Sebastião do saudosismo lusitano.

Trump: o santo e a senha; quem é anti-Trump não entra no clube Trump, e vice-versa.

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