A não aceitação é egoísmo

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á quando andava na escola secundária ouvia os professores dizerem que com a educação não existe distinção entre as várias classes sociais. Compreendi desde logo o conceito e confesso que independentemente da classe social a que pertence o aluno, este pode ser educado sem que exista discriminação. Parece-me, no entanto, que esta ideia não se verifica na realidade.

Ultimamente deparei-me com uma notícia que me fez franzir o sobrolho: um inquérito sobre a forma como os pais avaliam as escolas, as vagas e os professores de educação especial. Senti-me descontente com os resultados, que vão contra tudo o que escrevi no parágrafo anterior.

Publicado pela Associação de Estudo do Ensino Especial de Macau, o inquérito mostrou que 73 por cento dos inquiridos considera que as vagas nas escolas de educação integrada não são suficientes, enquanto que 90 por cento acredita que as escolas que não participam no plano de educação inclusiva deveriam fazer parte dele, sobretudo as escolas privadas. Uma boa parte dos pais considera que, como algumas escolas ainda não disponibilizam uma educação integrada, as vagas estão mal distribuídas.

O que mais me tocou foi uma triste realidade revelada pelo inquérito. Alguns pais disseram que, quando os seus filhos são diagnosticados como tendo necessidades educativas especiais, são as próprias escolas que aconselham esses alunos a mudarem de escolas, pois estas não oferecem uma educação inclusiva.

Quem tem algum conhecimento nesta área sabe bem que é uma pena que este tipo de alunos não possa estudar nas escolas às quais se habituaram, sendo um desperdício mudarem de estabelecimento de ensino onde aprendem com outros portadores de deficiência. As suas capacidades podem muito bem ser maiores, basta apenas serem acompanhados pelos professores adequados.

Suponho que as escolas regulares, sobretudo as mais famosas, bem como os seus professores, considerem sempre que o ideal seja ensinar os bons alunos e os obedientes, e também todos aqueles que não sofrem de autismo ou deficiência mental.

Escolas e professores são os elementos mais importantes no processo de crescimento dos alunos. É egoísmo se as escolas não tentarem aceitar aqueles que têm necessidades educativas especiais, sobretudo na fase em que eles mais precisam de integrar grupos com alunos sem problemas, por forma a obterem os conhecimentos necessários e a aprenderem a viver da mesma maneira que os outros.

É duvidoso que existam escolas que só aceitem bons alunos para manter a sua reputação e agradar aos encarregados de educação. Se todas as escolas mantiverem esse egoísmo e não aceitarem os alunos com necessidades educativas especiais, então de quem é a responsabilidade? As crianças não nascem assim por vontade própria, são vulneráveis e as mais facilmente esquecidas.

É impossível ter os mesmos métodos para todos os alunos, mas pode-se e deve-se maximizar a igualdade, não só com medidas mas também com o pensamento. Uma educação igualitária faz parte das responsabilidades das instituições de ensino.

Concordo com a opinião da académica Ana Correia concedida ao Jornal Tribuna de Macau, onde disse que as escolas subsidiadas pelo Governo não deveriam rejeitar alunos com necessidades especiais. Estas não deveriam, portanto, ter a alternativa de aceitar ou não aceitar, deveriam aceitar todos, desde que tivessem acesso às condições essenciais.

Os pais dos chamados filhos normais também deveriam deixar de lado os receios e as preocupações desnecessárias, pois têm de compreender e aceitar que os filhos devem conviver na escola com outras crianças que possuem dificuldades de aprendizagem.

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