VozesJuvenis, Delirantes, Juvenis Leocardo - 16 Jul 201516 Jul 2015 [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]oshua Wong Chi-Fung, natural de Hong Kong, 18 anos de idade, estudante e activista, doravante referido pelo nome de “Joshua”. Amos Yee Pang-San, natural de Singapura, 16 anos de idade, estudante, doravante referido apenas pelo seu nome inglês “Amos”. Dois jovens, duas caras larocas, duas cabecinhas pensadoras, só que muito confusas. Joshua e Amos são o paradigma do jovem ideólogo da burguesia nas cidades mais capitalistas da Ásia. Se no clássico de 1955 que o imortalizou, James Dean era o “rebelde sem causa”, estes serão com toda a certeza os “rebeldes sem causa alguma” – e andam desesperadamente procurando uma. Joshua apareceu em 2011 durante os protestos contra o plano de Pequim de implementar nas escolas de Hong Kong uma disciplina de Educação Patriótica, algo que nesta região do sul da China tem inevitavellmente a conotação de “lavagem cerebral”. Com apenas 14 anos de idade na altura, o jovem Joshua destacou-se pela sua postura de confrontação com as autoridades, que muito provavelmente ficaram saber como lidar com a situação – afinal era uma criança que ali estava. Além da componente de “street fighter”, sempre de megafone em punho e rosto pueril, que mal consegue segurar os óculos, o activista adolescente destacou-se ainda pelos seus dotes de retórica, bastante desenvolvidos para a idade. Enquanto os outros jovens de 14 anos escutavam Justin Bieber e seguiam apaixonadamente a quadrologia “Twilight”, Joshua fazia activismo político, e chegou mesmo a fundar um movimento a que se deu o nome de “schoolarism”, e quando ouvi falar disto pela primeira vez, juro que pensei tratar-se de uma escola de pensamento já existente. Poucos se podem orgulhar de ter fundado uma ideologia antes de ter barba. Só que nem Joshua tem barba, nem a sua retórica pernas para andar. Foi um nascimento prematuro. Comecei a seguir de perto a sua actividade há pouco mais de um ano, e fiquei espantado com a forma como debita as frases feitas colhidas do jardim da pró-democracia chinesa, um eufemismo que designa o que não passa de oposição ao Governo Central, e ao próprio regime. Abandonado o plano de Pequim no sentido de “ensinar” aos patriotas de Hong Kong como a mãe deles é uma mãe, como tal deve ser respeitada, surgiu o fenómeno “Occupy Central”, que paralisou o centro financeiro de Hong Kong durante semanas em nome de coisa nenhuma, a não ser a prática de um desporto radical muito na berra aqui na região: “chatear a China”. Joshua exibiu o seu imberbe ego de uma forma que se pode considerar quase pornográfica, demonstrando muita vontade de derrubar, nenhuma de construir, e ainda menos em propor alternativas. O pináculo do ridículo deu-se quando levou a cabo uma greve de fome que nem chegou a cinco dias, pois aparentemente esta modalidade de activismo dá “fome” – o que ajuda a explicar o sentido do seu nome. O preocupante é a forma como fala de “desobediência civil”, que confunde com uma espécie de “birra do sono”. O melhor era alguém lhe explicar que se tudo o que se lê nos livros fosse aplicável por qualquer um, bastando para tal apenas “querer”, aprendia-se qualquer língua lendo uma vez uma vez um dicionário dessa mesma língua. Ou em alternativa podiam ver se ele tem chichi. [quote_box_left]“Nem Joshua tem barba, nem a sua retórica pernas para andar. Foi um nascimento prematuro”[/quote_box_left] Amos é uma variante de Joshua que se pode considerar na linha do “same same, but different”. Ambos adolescentes (Joshua é dois anos menos novo), ambos de etnia chinesa, ambos muito longe de saber o que implica nascer de etnia chinesa para um quinto da população mundial. A diferença entre os dois génios ingénuos? O “habitat”: o “quasi-homo protestis paranadis” conhecido por Amos move-se por Singapura, a cidade-estado por excelência, que para os olhos de muitos ocidentais é uma sociedade faraónica onde o povo leva chicotadas todo o dia, todos os dias, enquanto arrasta os blocos de pedra para construir as pirâmides. O “faraó”, para uns, e “pai de Singapura” para outros foi Lee Kuan Yew, desaparecido a 23 de Março último aos 91 anos, mais de uma década depois de se retirar da cena política. Enquanto primeiro-ministro de Singapura, Lee foi muitas vezes acusado de excesso de autoridade, ficando talvez um patamar acima do ditador comum, com a diferença dos singaporeanos que supostamente o deviam temer viverem uma vida consideravelmente próspera. Se em termos de qualidade da democracia em Singapura, ou da falta dela, ninguém melhor que os próprios singaporeanos para julgar, e talvez a maior parte não tenha razão de queixa – digo eu, que não tenho percepção de qualquer estrangulamento das liberdades civis naquele local em particular, e mesmo tendo lá estado, não dei conta de um povo oprimido. Mas quem sou eu, quando Amos, que tinha cinco ou seis quando Lee saiu de cena, consegue em 15 segundos dizer dele o que nem o mais audaz dos seus opositores diria em dez anos? Decorriam ainda as cerimónias fúnebres do fundador da cidade estado, e este jovem, que chegou a ganhar um prémio de realização quando tinha 11 anos, faz um vídeo onde insulta Lee a um ponto que mesmo em qualquer democracia ocidental lhe valeria um belo sarilho. Não foi esfolado e mergulhado em sal, e foi necessário recorrer a uma tecnalidade para agir judicialmente contra ele. As imagens de Amos ao lado dos pais cada vez que vai responder a tribunal dizem tudo; um casal com um rosto pesaroso, furioso até, e ele sorridente, como quem pregou uma partida que fez toda a gente rir. Pobres pais. É possível que muito boa gente com mais que idade para ter juízo aprecie este tipo de chicana política, e mesmo muitos jovens batem palmas a estes dois exemplares do que a “democracia” representa nesta região do globo. Para mim não passa senão de aparecer num jogo decisivo e da maior responsabilidade, a contar para o campeonato da gente grande, e apresentar em campo a equipa de juvenis. Sai goleada, certamente.