Pleonaxia ou a vontade de tudo possuir

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á que falamos tanto da Grécia, recuemos até 550 anos antes da nossa era quando os filósofos entenderam estar perante uma doença caracterizada pela “vontade de tudo possuir”. Mas como era possível haver gente nesse tempo com a veleidade de tudo ter, com uma sede interminável de posse, com um abismo cravado em si de insaciabilidade perante os bens do mundo?
Jean Paul Vernant, um grande helenista, explica : “A riqueza substitui todos os valores porque ela tudo pode comprar. É então que o dinheiro conta, o dinheiro faz o homem. Ora, contrariamente a todos os “outros poderes”, a riqueza não comporta qualquer limite: nada nela marca o seu termo, os seus limites, o seu fim. A essência da riqueza é a desmedida”.
A riqueza, o desejo de possuir mais, instala-se como uma febre, uma loucura, e tal foi percebido melhor pelos filósofos da Antiguidade grega do que pelos homens contemporâneos. Quantos vemos a correr até ao fim da vida, com o único fito de acumularem mais dinheiro que não lhes vai servir para nada?
Nesse delírio, os homens de hoje esmagam quem estiver no seu caminho, não olham a danos colaterais. Nem sequer aos danos que infligem neles mesmos. rodriguez_avarice1
Finalmente, a pleonaxia é uma doença mental que se aproxima do desespero, que é irmã da gula e prima da inveja. Com o advento do capitalismo como regime dominante, assistimos à sua transformação em ideologia superior. Atascados numa espécie de darwinismo social, esses doentes afirmam a pleonaxia como sentido máximo da vida, não entendendo que a doença os impede de viver.
Seriam coitados se à sua volta não espalhassem o mal, não destruíssem os valores alheios, as vidas dos outros, em nome da sua pleonaxia. São, é certo, lamentáveis enquanto seres humanos, prisioneiros que estão de uma cegueira, de um traço de paranóia anal (cumulativa), neles instilado por uma sociedade também doente, fixada nas contas e na acumulação.
O mundo precisa de crescer e as pessoas de analisar as suas acções para não se deixarem submergir com algo que lhes foi imposto mas que eles julgam ser o zénite de uma vida quando, na verdade, se limitam a atingir o seu nadir.

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