AFA | Liberdade artística marca exposição de aniversário

A Art for All Society assinala mais um aniversário com uma exposição sem tema. Uma ideia que, segundo o curador José Drummond, deu oportunidade aos artistas de revelarem melhor a sua individualidade criativa, sem constrangimentos

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma exposição livre e capaz de mostrar a identidade de cada autor que a compõe. Esta é a ideia da mostra que assinala o nono aniversário da Art For All Society (AFA), que decorre até sexta-feira no Art Garden, na Avenida Rodrigo Rodrigues.

O evento, que conta com a curadoria de José Drummond, teve na génese “propor aos artistas que encontrassem uma solução própria para contribuir para o aniversário da AFA”. “Esta opção faria mais justiça ao trabalho de cada um até porque, muitas vezes, estar a limitar os artistas a um determinado tema pode ser constrangedor”, disse José Drummond ao HM. O objectivo foi mostrar, de forma representativa, o trabalho de cada um dos membros da associação.

O resultado foi um conjunto de obras que acabam por fazer sobressair trabalhos marcados pela liberdade de criação. “Em virtude dessa liberdade, a exposição é uma montra interessante do que se faz em Macau, especialmente pela diversidade que a própria arte local tem”, referiu o curador.

Uma das características que pontua as artes plásticas locais e que, de algum modo, a caracteriza é precisamente a diferença que se pode ver em cada uma das criações porque “em Macau é difícil encontrar dois artistas que sejam semelhantes ou que estejam na mesma linha”. Drummond atreve-se mesmo a dizer que é uma arte “em que não há modas ou estilos e há realmente um trabalho individual em que cada um explora a sua expressão, sendo que, se podem existir elos de ligação entre um ou outro artista, existe, ainda assim, uma voz única em cada um”.

Para o curador, este aspecto poderia até ser encarado de uma forma negativa mas, no caso de Macau, até acaba por ser benéfico. “Este hipotético desapego a modas, tendências ou estilos acontece essencialmente por existir uma outra coisa que poderia ser negativa: o não ter um verdadeiro mercado de arte, uma história de arte ou uma série de estruturas”, apontou.

Por outro lado, é um aspecto que foge à influência do crescimento recente das indústrias culturais, na medida em que é um fenómeno que “causa algum constrangimento aos artistas”. Para o artista plástico, estas indústrias podem obrigar os criadores a produzirem trabalhos “mais comerciais”.

Um caminho difícil

Os nove anos que estão a ser comemorados pela AFA não tiveram um trajecto facilitado. “Ao longo deste tempo foram muitas as dificuldades e começaram logo por ter tido de mudar, pelo menos quatro vezes, de localização, o que acaba por ser muito negativo”, explicou José Drummond.

As dificuldades que a associação foi encontrando limitaram o trabalho e as possibilidades de afirmação. “A inquietude a prazo e em prazos de dois anos, em que cada vez que se muda de espaço volta a fazer-se obras, por exemplo, impossibilita o planeamento a médio prazo”, disse.

Para o curador, o grande destaque do trabalho desenvolvido está precisamente no que a AFA tem feito pelos próprios artistas. Ao olhar para o início, José Drummond recorda que a realidade artística da altura era muito diferente. “Além dos espaços institucionais – e mesmo estes eram em muito menor número do que hoje –, existiam mais uns três espaços onde os artistas se podiam mostrar e nenhum deles tinha a perspectiva de um espaço expositivo que pudesse colmatar a lacuna da galeria comercial”, explicou ao HM.

Com a AFA, os artistas tiveram um espaço que, além de aberto à experimentação, também podia ser usado para a venda de trabalhos. “A questão da venda, na altura, foi importantíssima para que alguns deles pudessem começar a ter estúdios e a ser mais reconhecidos, especialmente na sociedade local”, explicou o curador. Nove anos depois, há artistas que, através do trajecto ao qual a AFA deu início, passaram a ser reconhecidos, alguns mesmo internacionalmente.

Mas o caminho ainda não acabou e Macau precisa de mais e melhor no panorama de arte local e, essencialmente, na arte contemporânea. O aspecto prioritário para Drummond é a formação com uma “aposta na educação na área artística, especialmente com uma visão contemporânea”. “No que respeita à formação, é usual ver membros da AFA a darem workshops dentro das instalações da associação de modo a motivar energias e a estender o leque de acções na sociedade.”

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