Joana Freitas EventosCinema | Ian Lam e Maxim Bessmertny lançam séries sobre pessoas de Macau Para um, é uma forma nova de ver Macau; para outro, o repescar da memória uma realidade conhecida. “What’s Your Art?” junta Ian Lam e Maxim Bessmertny num projecto que, mais do que dar a conhecer as pessoas que fazem o território, é ir ao fundo delas, das suas histórias e da sua vida [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara Ian Lam, dentro de um casino, o que é interessante não é tanto a slot-machine, mas mais a pessoa que se senta em frente a ela – o jogador. E é desta perspectiva que o jovem salta para um novo desafio, para o qual convidou o realizador Maxim Bessmertny: contar a história de vida de pessoas da terra. A história real, de alguém real, de “todos os níveis e partes da sociedade”. É assim que começa “What’s Your Art?”, a nova série de episódios online a ser actualmente filmada pelos dois jovens locais. Ian Lam, que trabalha no projecto com a empresa eSpark, convidou Max Bessmertny para dirigir as séries, numa ideia onde o realizador local tem, pela primeira vez, ‘apenas’ esse papel. “É uma ideia original e engraçada ao mesmo tempo e raramente me convidam para fazer coisas deste estilo, normalmente começa com a minha concepção, produção e direcção. Desta vez posso apenas dirigir, algo que me despertou a atenção. Já para não falar que é um projecto que me fala ao coração, é sobre esta cidade, a minha cidade.” Para transformar um conceito em algo real, Ian Lam “pesquisou profundamente” os diversos tipos de pessoas que compõem esta cidade. Com Max escreveu o guião, que foi imediatamente considerado “muito viável” pelo realizador por trás do filme “Trycicle Thief”, filmado em Macau e que obteve sucesso além-fronteiras. “É à base de entrevistas, mas não só. É algo interessante, que nos move para conhecer personagens em 15 minutos”, revela Bessmertny ao HM. O episódio piloto começa com uma “personagem” que é, no fundo, uma cara conhecida da terra – não individualmente, mas como um elemento que, para quem cá vive, é já tão comum que quase passa ao lado. “What’s Your Art?” vai mais a fundo. “O primeiro episódio começa com uma senhora que recolhe cartão nas ruas para viver. Mas é a vida dela, a sua própria experiência e conversas com ela. É aqui que descobrimos que faz também [exercício] para controlar a pressão arterial e, com esta ligação, passamos para a segunda personagem, do segundo episódio, que não vou revelar”, explica. Quem mais podemos conhecer a seguir é uma questão que fica por responder, à espera que os episódios de “What’s Your Art?” invadam os ecrãs – online, mas possivelmente não só. Lembranças que cá estão Enquanto a série pretende, de certa forma, “dar voz aos que não a têm”, como indica Bessmertny, foi precisamente a existência destas pessoas que fez Ian Lam avançar com o projecto. O jovem, nascido em Macau mas estudante no Canadá, regressou recentemente ao território e consegue, por isso, ter uma outra perspectiva. “Na visão de um estrangeiro, novo nesta cidade, uma das coisas que mais salta à vista é que este lugar não é como qualquer outro que já tenhamos experienciado. É de um incrível surrealismo, mas num sentimento que nunca é captado nos média ‘normais’, onde o que vemos é sempre microscópico, pequenos pedaços da história real”, diz Ian Lam, citado por Maxim Bessmertny. “Esta cultura é, na minha opinião, o elemento mais interessante desta cidade, tal como o que é mais interessante num casino não é normalmente a slot-machine mas a pessoa que joga. As histórias de vida das pessoas.” A visão “fresca” interessou a Bessmertny que, chamando Macau a sua casa há mais de duas décadas, conseguiu assim “redescobrir” algumas das silhuetas que abundam nas ruas da cidade. “São coisas de que me esqueci e que consigo reaprender desta forma. É muito interessante trabalhar com pessoas como [Ian Lam], porque a sua visão torna esta cidade muito mais interessante. Ao darmos vozes a estas pessoas somos mesmo obrigados a pensar como é que vivemos aqui todos, neste local de misturas, algo que poderia passar despercebido mas é fenomenal. É ‘realismo-social’: conhecemos estas pessoas, falamos com elas, durante meses.” Duas visões “semelhantes, mas diferentes ao mesmo tempo”, como caracteriza Max Bessmertny, originaram então “What’s Your Art?”, que está a ser filmado com a ajuda de uma equipa de talentos locais. Para já não está confirmado quantos episódios serão feitos, porque a equipa ainda espera um evento que vai acontecer em Fevereiro e que pode mudar o rumo da série. “Essa [actividade] pode chamar a atenção e ter audiência é o que mais interessa neste caso. Porque isso é o que pode levar-nos a algo mais do que o que temos pensado.”
Joana Freitas EventosCinema | Realizador de Macau vence prémio Kodak Student Gold Award 2015 “Trycicle Thief” soma e segue com menções positivas, desta vez tendo vencido o prémio Kodak mais importante para estudantes. O filme de Maxim Bessmertny, realizador de Macau, retrata a ganância e as necessidades do ser humano [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]axim Bessmertny venceu o prémio Kodak Student Gold Award 2015, com o filme “Trycicle Thief”. Feito em Macau e pelo russo radicado no território, o filme retrata a vida de um condutor de riquexós e do que acontece quando o seu triciclo é furtado por um homem de negócios. A Kodak, com sede em Nova Iorque, nomeou cinco estudantes como vencedores dos prémios Kodak Scholarship Program 2015, uma competição mundial que acontece anualmente em colaboração com a Universidade de Filme e Vídeo, em Chicago. Este ano, as candidaturas atingiram “um número recorde”, como indica a organização, com mais de 55 instituições de ensino de Cinema a participar. As universidades escolheram os alunos que consideraram mais aptos a receber o prémio, que consiste em bolsas de estudo e prémios monetários. A estudar em Singapura, na New York University’s Tisch School of the Arts Asia, Max Bessmertny foi o vencedor do primeiro prémio, que lhe valeu dez mil dólares em bolsas de estudo. O realizador admitiu ao HM que nem acreditava quando soube que tinha vencido. “A minha primeira reacção foi ‘não me acredito’. Pensei que estavam a brincar comigo”, diz, sorrindo. Mas, depois, caiu em si. “Depois, senti-me honrado por muitas razões. Não é por mim, é pela natureza do prémio, a natureza dos filmes. Não necessariamente o ‘Trycicle Thief’, mas a combinação das coisas. Primeiro, porque me lembro de ver filmes como ‘Tarkovsky’s Stalker’ e ‘La Dolce Vita’, porque o meu pai e os amigos adoravam estes filmes. Lembro-me que, das primeiras vezes, nunca me senti inspirado com isto. Era um adolescente, ignorante, que não sabia muito de coisa nenhuma. Mas eu adorava já trabalhar com pessoas do mundo do teatro, da música… Aos poucos, comecei a identificar-me com os filmes que me estavam a ser mostrados”, explica Max Bessmertny ao HM. Foi depois de longas noites e diversão na sua adolescência, aos vinte, que Max se apercebeu do que realmente queria fazer. “Vi o fime ‘Citizen Kane’, que estava escondido numa misteriosa caixa de DVDs em minha casa.” E foi aí que o clique aconteceu. Ou que, pelo menos, chegou a certeza de que o Cinema era o futuro do jovem realizador. “Trycicle Thief” é a mais recente curta-metragem de Max Bessmertny, tendo passado já em diversos locais no território e na região vizinha. Em Novembro do ano passado, o realizador dizia ao HM que o destino do filme “se faria por ele próprio”, algo que acabou por acontecer este mês. Um filme sobretudo da “ganância e necessidade humanas”, que tem Macau como pano de fundo. Max Bessmertny veio para o território com cinco anos, tendo estudado em Londres, Tailândia e Singapura, mas mantendo sempre uma forte ligação à Macau que a viu crescer e onde quer, diz, desenvolver a sua carreira. Por agora, o realizador mantém-se em filmagens para a sua próxima produção, tendo realizado recentemente campanhas publicitárias para diversos empreendimentos de Macau. O segundo prémio Kodak 2015 foi entregue a Paulina Skibinska da National Film School em Lodz, na Polónia, com o filme “Object”. Matvey Fiks da School of Visual Arts em Nova Iorque venceu o terceiro prémio com “Babushka”. Estes prémios são atribuídos anualmente e a Kodak promete continuar a fazê-lo. “A Kodak é fervorosamente devotada à próxima geração de cineastas”, disse Andrew Evenski, presidente da Kodak’s Entertainment & Commercial Films, citado num comunicado da organização. “Ter uma parceria com a Universidade de Filme e Vídeo tem-nos mantido constantemente ligados às instituições que ensinam estes novos artistas.”