Poemas de Su Dongpo

苏轼 Su Shi, ou 苏东坡 Su Dongpo, é considerado o maior poeta da dinastia Song (960-1279) e um dos maiores de toda a poesia chinesa, ao lado de Li Bai e de Du Fu. Nasceu em Meishan, em 1037, na província de Sichuan.

A sua figura corresponde ao ideal do letrado/mandarim da velha China, poeta e prosador, calígrafo e pintor, homem político e criador de jardins. Crítico dos poderosos do império, conheceu mais de uma dezena de despromoções e exílios. A sua poesia, imaginativa, rica de cores e tonalidades, influenciada pelo budismo禅 chan (o zen japonês) desdobra-se por excelentes descrições da natureza e também pelos temas da amizade e do amor.

A lua, no meio do Outono

Ao entardecer, nuvens dispersas desaparecem,
não se vêem mais montanhas,
silenciosa, a Via Láctea dá a volta, na abóbada de jade.
Se nesta noite, neste nosso existir,
não fruirmos prazer, mil alegrias,
no próximo mês, no próximo ano,
quem sabe por onde se desdobrarão as nossas vidas?

鹧鸪天·林断山明竹隐墙

林断山明竹隐墙。
乱蝉衰草小池塘。
翻空白鸟时时见,
照水红蕖细细香。
村舍外,古城旁。
杖藜徐步转斜阳。
殷勤昨夜三更雨,
又得浮生一日凉。

Fim da floresta, resplandece a montanha

Acaba a floresta, resplandece a montanha,
os bambus escondem um muro feito pelos homens.
O canto das cigarras na erva murcha, junto ao lago,
pássaros brancos em círculos no céu aparecem, desaparecem.
Lótus vermelhos reflectem-se na água, soltam perfumes,
uma muralha antiga rodeia um velho lar.
Lentamente, apoiado no bastão, caminho para o sol poente,
de súbito, uma chuva cai, ilumina o céu,
Sempre a incerteza no avançar do tempo,
o final do dia envolto em espasmos de frescura.

Ainda, o último poema de Su Dongpo, escrito em 1101, numa das mais fantásticas montanhas da China, Lushan, na província de Jiangxi.

庐山烟雨浙江潮

庐山烟雨浙江潮,
未至千般恨不消。
到得还来别无事,
庐山烟雨浙江潮。

Névoas de Lushan, marés de Zhejiang

Névoas de Lushan, marés de Zhejiang.
Antes da viagem, nostalgias mil,
depois da viagem, o crescer dos dias.
Névoas de Lushan, marés de Zhejiang.


Tradução e texto de António Graça de Abreu

6 Out 2022