André Namora Ai Portugal VozesO melhor e o pior de um país Um amigo meu na companhia da esposa e de outro casal percorreu o centro e o norte do país. Ele regressou e quis descrever-me o que viu, apesar de há uns anos ter passado por alguns dos mesmos locais. Só que desta vez ficou atónito com a diferença que encontrou pelas mais diversas aldeias, vilas e cidades. Ficou maravilhado, diz que tem sido feito muito trabalho autárquico apesar de alguns responsáveis terem sido acusados nos últimos anos de corrupção. A verdade, disse-me ele, é que o país está lindo na Soalheira, em Viseu, na Guarda, na Régua, em Bragança, em Vila Real e nas margens do rio Douro. Houve muito progresso, muitos jardins, parques infantis, praias fluviais, piscinas, igrejas, tudo muito bem tratado, restaurado e de uma higiene tal, que o meu amigo chegou a dizer durante a viagem que a limpeza das localidades lhe fazia lembrar Singapura. Neste particular, salientou que os autarcas mantêm as ruas, os largos, as praças num brilho. Que não se vê um papel no chão e muito menos uma beata de cigarro. Isto, pelo país fora. É um regozijo ouvir dizer bem do nosso país, quando o quotidiano político, por exemplo, não passa de uma panóplia de fraudes, roubos, concursos públicos adjudicados directamente a empresas de amigos, informações confidenciais enviadas para governos estrangeiros, carros de ministros que rolam a mais de 200 kms/hora e que não têm seguro e matam trabalhadores na estrada. São os actos mais vergonhosos que podem suceder a uma sociedade, tal como um ex-juiz que entregava processos de um tribunal superior a uma amiga estagiária para advogada. A situação na governação é discutida diariamente de uns políticos contra outros, com o povo a assistir sempre à mesma “pandemia” que vigora no interior dos partidos políticos e no Parlamento com os deputados a rejeitarem uma proposta que criminalizasse o enriquecimento ilícito. Esse país político já enerva qualquer habitante do Portugal real. É totalmente merecedor dos maiores encómios que salientemos que a parte urbana do país, incluindo o bom estado das estradas, apresenta ao visitante nacional ou estrangeiro uma dignidade extraordinária e onde os monumentos estão conservados e mantendo a sua estrutura arquitectónica devido ao trabalho incessante de quem é responsável pelas aldeias, vilas e cidades. E a viagem do meu amigo com os seus companheiros foi ainda contemplada com uma culinária tradicional das Beiras, Trás-os-Montes e Minho que pode ser considerada uma das melhores do mundo, quando se ingere a carne barrosã, única no país. Uma culinária de excelência acompanhada por vinhos de um nível tão elevado que Portugal tem conquistado prémios de renome internacional. Os amigos leitores que possam este ano deslocar-se a Portugal de férias, não deixem de optar por visitar o interior do país para se sentirem honrados com a modificação positiva que Portugal tem sido alvo. Venham, mas não comprem jornais. Caso contrário ficam logo tristes com o vosso Portugal, onde apenas lêem em manchetes a vergonhosa acção de certos “tubarões” que há anos gozam com todo um povo modesto e trabalhador. Na semana passada aquele grupelho chefiado pelo fora-de-lei Joe Berardo, o tal amigo de José Sócrates e que ninguém sabe onde foi buscar tanto dinheiro na África do Sul para depois chegar a Portugal e começar a tirar milhões de vários bancos e a abrir portas de museus com obras caríssimas que nem os especialistas em arte sabem explicar onde foi o figurante arranjar tanto dinheiro para obter obras de arte tão valiosas. Acabou-se o gozo de fazer dos deputados parvos quando foi ouvido na Assembleia da República e teve um comportamento abaixo de ignóbil. O homem foi detido, bem como o seu advogado de sempre e foi declarada arguida mais uma pandilha que com Berardo realizou as mais diversas fraudes ficais, lavagens de dinheiro e burlas qualificadas nos mais diversos bancos. A maior vergonha prendeu-se com as centenas de milhões de euros que lhe facilitaram na Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco público, para o meliante ir comprar acções no banco BCP Millennium. O caso está a ultrapassar a perplexidade dos investigadores. Berardo depositou milhares de milhões em offshores e é este fulano que teve o desplante de afirmar no Parlamento que apenas tinha uma garagem… Esperemos que se faça justiça rapidamente sobre este caso que envolveu quase duas centenas de investigadores, procuradores e juízes de instrução criminal numa operação sem precedentes que os levou a actuar em Lisboa, Funchal e Sesimbra com dezenas de buscas domiciliárias e não domiciliárias. A operação da Polícia Judiciária e dos magistrados incidiu sobretudo num grupo económico, que entre 2006 e 2009, contratou quatro operações de financiamentos com a CGD, no valor de cerca de 439 milhões de euros. Este grupo económico tem incumprido com os contratos e recorrido aos mecanismos de renegociação e reestruturação de dívida para não a amortizar e causou um prejuízo de quase mil milhões de euros à CGD, ao Novo Banco e ao BCP Millennium, tendo sido identificados actos passíveis de responsabilidade criminal e de dissipação de património. Mesmo assim, o juiz deixou Berardo ir gozar a liberdade em troca de uma caução de cinco milhões de euros, o que para Berardo são amendoins… Que país é este que tem do melhor e do pior? *Texto escrito com a antiga grafia