Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasGuanxi, o dínamo da língua chinesa (限制) 中国人脑筋里的一件事 [dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]uanxi關係significa relacionamento. Ou simplesmente: contactos. Guan 關 significa demasiado perto, clausura; aprisionar. Mas, no sentido estratégico, também significa localização crucial, especialmente no que à Rota da Seda diz respeito. Xi繫 significa ligação, laços, correlações, sistema organizado, etc. O caracter inclui a palavra “seda”. De facto, a Rota da Seda pode ser vista como a manifestação máxima das poderosas redes comerciais Guanxi, no tempo em que a seda era a moeda internacional. O projecto do Partido Comunista Chinês para uma nova Rota da Seda está em sintonia com a forma de funcionar das mentes chinesas. Contrariamente à nossa palavra “relacionamento”, que sugere algo durável e com valor de per si, a utilização da palavra Guanxi altera-se quando combinada com um verbo. Guanxi implica sempre muita acção. É um conceito enérgico e auto-motivado e constantemente em movimento. Guanxi é um herói de acção, tipo Bruce Lee, divertido, rápido e com um historial muito antigo. Guanxi é de longe a palavra mais dinâmica da língua chinesa. E, na minha opinião, é também um factor que limita a mentalidade chinesa e restringe a autenticidade e a criatividade. Na cultura chinesa Guanxi é um factor fundamental para fazer negócio. Aos olhos dos ocidentais representa qualquer coisa de mítico e profundo que deve ser respeitado e venerado. Mas se olharmos por trás da cortina de fumo, é apenas uma forma de reciprocidade: ‘um favor em troca de outro’. Muitas vezes os homens de negócio chineses oferecem qualquer coisa a alguém, para que posteriormente possam cobrar os seus dividendos, ou para obterem de alguma forma mais poder e influência. São procedimentos que permitem criar contactos, relacionamentos e redes que os ajudam a ultrapassar as normas impostas pelo Governo e as práticas comerciais convencionais. Aspecto importante deste processo são as ligações sociais entre os indivíduos, pensadas para proporcionar acesso directo e privilegiado a informações internas, sobre contratos comerciais e bens escassos. Por outras palavras, o talento não é para aqui chamado e na maior parte dos casos nem se lhe dá hipótese de existir. No universo Guanxi, a inovação só existe enquanto efeito secundário e quem ousar arriscar um pensamento inovador tem a derrota garantida. O talento e a habilidade sofrem com a subjugação a uma tradição empedernida. A carta na manga deste sistema é, e sempre foi, o conjunto mais significativo de relações e contactos. Estamos quase no Novo Ano Chinês, uma altura fantástica para “guanxar”. Por falar em “guanxar”, vamos dar uma olhadela aos rituais de bebida chineses. Quanjiu, “persuadir (o parceiro de negócio) a beber” é um dos pontos altos das festas chinesas. Existem muitas expressões chinesas relativas a esta forma de comportamento, que poderíamos classificar de “extremo”. “Bebe! Mostra que és meu amigo!” “Bebe como deve ser porque é raro teres hipóteses de te embriagar.” “Sente (a amizade) profunda, bota abaixo. Sente (a amizade) frágil, como a taça.” Etc. Na China valoriza-se a quantidade de álcool que estamos dispostos a beber com o nosso parceiro de negócios. Os jogos de bebida dos chineses não têm a ver com o prazer da bebida propriamente dita. Levar o outro a beber até cair esconde a intenção de poder e controlo; “quem manda em quem”. É um sinal de conquista. Se alguma das minhas leitoras tiver intenção de participar num banquete do Ano Novo Chinês, não se esqueça do que acabei de dizer.