Ai Portugal VozesJornalistas desprezados André Namora - 25 Ago 2025 O país continua a arder. As chamas não dão tréguas. Um ex-autarca e candidato a presidente de uma Junta de Freguesia, de 40 anos, estava a tentar combater as chamas e salvar animais na sua aldeia morreu carbonizado. Cinco bombeiros da Covilhã a caminho do combate às chamas viram o carro tombar numa ravina e um dos bombeiros morreu, outro, luta pela vida em estado grave e três estão feridos no hospital. Um operador de máquinas de arrasto com larga experiência morreu quando realizava combate às chamas na zona de Mirandela. Um carro de bombeiros foi engolido pelas chamas e enquanto ardia por completo os soldados da paz conseguiram fugir resultando um bombeiro ferido gravemente. Milhares de moradores de aldeias e vilas combatem os incêndios à porta das suas casas com baldes e pequenas mangueiras sem qualquer apoio aéreo ou por falta de bombeiros que não são suficientes para atender a todo o lado. Os moradores desabafam paras as televisões que o inferno nunca visto tem como culpados os criminosos incendiários, uns doentes mentais, outros pagos e os governantes que nos últimos anos não levaram a efeito o planeamento que há muito está delineado para reduzir a catástrofe. No funeral do bombeiro da Covilhã que faleceu, o primeiro-ministro foi apupado e gritaram “Vai-te embora! Não mereces estar aqui!”. Portugal não possui nem um avião Canadair para o combate eficiente às chamas. Dezenas de casas arderam e vários hectares de produtos agrícolas desapareceram. A ministra da Administração Interna, antiga provedora de Justiça, não possui a mínima ideia do que é combater um incêndio e, em princípio, chamou os jornalistas para uma conferência de imprensa. Depois de proclamar umas baboseiras e limitar-se a anunciar que o estado de alerta iria continuar, quando os jornalistas se preparavam para confrontar a ministra com várias perguntas pertinentes, a governante disse: “Vamos embora!”. Absurdo, insolente, revoltante a atitude da ministra ao desprezar os jornalistas. Muitos deles que têm arriscado a vida em reportagem no meio das chamas, obrigados a fugir, dia e noite a comer e dormir sem condições. A atitude da ministra já mereceu o apelo da maioria dos portugueses ao primeiro-ministro para a demitir. Luís Montenegro faz ouvidos de mercador e depois de se pôr a nadar nas ondas do mar algarvio e de realizar a festa do Pontal enquanto o país ardia, as redes sociais foram palco dos maiores insultos ao chefe do Executivo obrigando-o a interromper as férias e a mostrar que estava preocupado com a situação de tragédia no país. O Governo tem sido igualmente criticado por não ter pedido apoio europeu quando o drama estava no auge. Os incêndios têm sido devastadores. Muitas habitações de uso permanente arderam, os idosos são evacuados para pavilhões desportivos ou para instalações das Juntas de Freguesias. A logística de apoio à alimentação dos bombeiros e dos militares da GNR tem sido muito deficiente. A coordenação entre a Proteção Civil e os bombeiros não existe e o presidente da Liga dos Bombeiros já reivindicou um comando nacional autónomo para os bombeiros combaterem os incêndios. Pensamos que o presidente da Liga dos Bombeiros anda a falar para o boneco. Na televisão temos assistido aos mais diversos especialistas sobre ordenamento do território, sobre soluções para o planeamento futuro de soluções positivas, sobre o que está errado na floresta portuguesa. E por que razão o Governo não chama esses especialistas e reúne com eles para que em Outubro se iniciassem já acções tendentes a resolver muito do que não está certo e que tem colocado a vida de milhares de portugueses em risco? Seria urgente ouvir essa gente para depois agir em conformidade. Os bombeiros em número insuficiente estão exaustos. Caem no chão e dormem uns minutos, desidratados e, por vezes, a água não existe. Nas aldeias nem água nem electricidade. As intervenções dos responsáveis pela Proteção Civil nunca registam esses dramas e, muito menos, encontram soluções. É o deixa arder e fé em Deus. Não pode continuar a ser assim. Algo tem de mudar drasticamente, caso contrário, para o próximo ano teremos a mesma cena. O povo está triste, desolado, sem confiança nos políticos e, mais uma vez, quem aproveita disto tudo é a demagogia e o populismo do Chega. Ventura tem cada vez mais boa imprensa e não há um dia que não apareça na televisão a proferir aquilo que os desolados gostam de ouvir. É assim que aumenta o número de votantes. Os democratas vão gozar férias para a praia e nem se apercebem do mal que estão a fazer a eles próprios e aos seus partidos para um futuro a curto prazo quando chegarem mais eleições. Não se gastam milhões de euros a evitar estas tragédias, mas continua-se a admitir o gasto astronómico de milhares de milhões de euros num aeroporto em Alcochete, quando o aeroporto de Beja podia resolver o problema. De tal forma é assim, que muitas equipas de futebol nas suas deslocações para competições europeias já partem e chegam usando o aeroporto de Beja. E isto, sem existir um pequeno empreendimento que ligasse Beja a Lisboa e vice-versa de TGV. Assistimos a governantes preocupados com os milhões de euros que têm de enviar para a Ucrânia e não há dinheiro para salvar os portugueses. A revolta do povo atingido pelos incêndios é enorme e perto de Seia-Covilhã ouvimos um desabafo de um morador que diz tudo: “Se apanhasse aqui algum político atirava-o para o meio das chamas!”. A situação é grave, gravíssima e ficamos com a ideia que os responsáveis estão completamente impotentes para resolver o problema. As cartas abertas ao primeiro-ministro têm sido inúmeras. Tivemos acesso a uma carta escrita pelo cidadão Mário Gonçalves, na qual a dado passo, refere que: “Escrevo-lhe em nome da revolta, da indignação e do mais profundo desprezo pelo espectáculo a que assistimos nos últimos dias. Enquanto o País ardia, enquanto famílias perdiam casas, memórias e vidas, enquanto bombeiros se arrastavam exaustos no terreno a lutar contra as chamas incontroláveis, V. Exa apareceu em público a falar de “esgotamento”. Esgotado de quê, senhor Primeiro-Ministro? De farras, de praia, de inaugurações inúteis e de discursos vazios? Esgotados estão os bombeiros que, com meios insuficientes, dormem no chão, comem quando podem e arriscam a vida diariamente. Esgotadas estão as famílias portuguesas que veem arder aquilo que construíram com o suor de uma vida inteira. Esgotado está um povo que tem de aturar a sua indiferença mascarada de encenação política”.