Ai Portugal VozesA esperança não morre André Namora - 6 Jan 2025 Diz o povo que a esperança é a última coisa a morrer. A esperança dos portugueses neste novo ano de 2025 é a única particularidade que lhes resta. Esperança que o país mude em muitos aspectos da sua vida social, económica e política. Sempre que um novo ano tem início não há ninguém que não deseje aos seus familiares, amigos e conhecidos votos de melhores dias. É isso que se aguarda este ano, apesar de o panorama ser um pouco indecifrável. A política tem de ser concreta, essencialmente visando os muitos milhões de cidadãos que vivem ao nível da pobreza. A comunicação social tem informado que neste desiderato existem aproximadamente quatro milhões de portugueses pobres. É muitíssimo. É mais que um terço da população global. E os políticos parece que têm de mudar a graduação dos óculos. Dá a ideia que as habitações sociais, as casas para estudantes, as reformas dignas, os transportes públicos, os lares de idosos, as creches, os jardins infantis, as condições de trabalho de médicos, enfermeiros e bombeiros são factos concretos e problemáticos que podem ficar para as calendas. Não podem. Neste 2025 têm de pensar no nível de pobreza que referimos. Têm de ajustar o Orçamento do Estado para benefício de quem mais precisa. Têm de apoiar as médias e pequenas empresas para que o desemprego diminua e o rendimento aumente para que o país tenha maior riqueza. Preocupa-nos ao constatar que a decisão governamental está virada para um aeroporto em Alcochete que poderá custar aos portugueses dezenas de milhares de milhões de euros. Milhares de portugueses nunca irão ver esse aeroporto e muito menos utilizá-lo, pois, anunciam a sua inauguração para 2040. É preocupante que o Governo esteja preocupado essencialmente com um TGV entre Lisboa e Badajoz, com um TGV entre Lisboa e o Porto, com um TGV entre o Porto e Vigo. Preocupado no encerramento do Autódromo do Estoril a fim de ali construírem imóveis de luxo para os novos residentes norte-americanos e virado para obras megalómanas que em nada beneficiam o país real e todos aqueles que vivem no interior abandonados à sua sorte. O Governo tem gasto milhões de euros que envia para a guerra na Ucrânia, mas os bairros de lata pululam por todo o lado. Não se constrói um conjunto de edifícios que sirva com dignidade a reinserção dos jovens toxicodependentes, não se constrói creches para crianças cujos pais não podem pagar as existentes que nem têm mais vagas, não se constrói residências para estudantes universitários quando assistimos à exploração inaudita de se alugar um quarto sem casa de banho, em Lisboa, por 700 euros, não se resolve de uma vez por todas o problema das mulheres grávidas que continuam sem saber onde irão ter o parto com a agravante de agora serem obrigadas a telefonar para o serviço de saúde sempre que sintam qualquer sintoma, não se resolve o problema dos bombeiros sapadores desprezados há mais de 22 anos. A lista é enorme. O novo ano de 2025 não pode servir para os políticos apenas se preocuparem com as eleições autárquicas deste ano e com as presidenciais no início de 2026. Sobre as eleições presidenciais o mundo da política enlouqueceu como em crónica anterior já vos falei. As televisões passam o tempo a criar nomes de candidatos a Presidente da República. Mas, que interesse tem isso para o bem do povo? Nenhum. O povo quer é comer, quer preços mais baixos nos supermercados, quer comprar os combustíveis mais baratos, quer que os seus filhos não emigrem, quer reformas com o mínimo de dignidade. Sobre este último facto, aconteceu que um amigo que vive no Luxemburgo há 25 anos não acreditava que em Portugal houvessem reformas de 150 euros. É chocante e perturbador ouvirmos um compatriota que trabalha num país da Europa dizer-nos que Portugal é uma miséria. Em 2025 algo de muito substancial tem de mudar. Não podemos assistir a decisões como a escandalosa, mesmo a terminar 2024, que nos caiu nos escaparates, com o primeiro-ministro a nomear um secretário-geral do Governo que iria receber um salário de 16 mil euros por mês. A opinião pública revoltou-se nas redes sociais e alguns comentadores televisivos vieram a terreiro condenar tal decisão. Obviamente que se tratava de algo chocante para a maioria dos portugueses. Neste sentido, os deputados na Assembleia da República têm a obrigação de aprovar legislação em que o maior salário seja o do Presidente da República, seguido dos salários para o primeiro-ministro, ministros, secretários de Estado e deputados. A partir daqui mais nenhum funcionário do Estado poderá receber mais que as personalidades mencionadas. Tem de existir senso comum na gestão da cousa pública. Tem de haver exemplos que venham de cima e não deixar a maioria dos portugueses a sofrer sem qualidade de vida e a pensar que só se governa para os ricos. Na semana de Natal de 2024 tomámos conhecimento de um casal que ficou desempregado e a solução que teve foi a venda da sua casa e ir com dois filhos menores residir para casa dos pais. Não, assim o país não pode continuar. O povo português é trabalhador, é generoso, é solidário, mas tem de merecer dos seus governantes que numa passagem de um ano velho para um ano novo, os votos de feliz Ano Novo não passem de uma balela.