Eva Mok, fotógrafa | Lente para a realidade

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]va Mok é a fotógrafa de Macau que se dedica essencialmente à captura de imagens de rua e de arquitectura. Com 35 anos, foi há apenas cinco que resolveu mudar de vida. Deixou a cadeira de escritório onde trabalhava na como administrativa com a empresa responsável pelo espectáculo “The House of Dancing Water”, e dedicou-se à fotografia, actividade que na altura ainda era completamente nova, e em que a câmara não passava do vulgar telemóvel.

Uma das escolhas de Eva Mok é a fotografia de rua à qual prefere chamar de humanista. Para a fotógrafa, trata-se de alargar o conceito e estende-lo ao que mais gosta de fazer. “Capturar imagens capazes de reflectir culturas e hábitos do quotidiano de um lugar em particular é uma experiência muito enriquecedora e é o que mais gosto de fazer”, diz ao HM. Por outro lado, a fotografia é um bom instrumento capaz de reflectir a cultura de uma comunidade”, considera.

Macau está incluído. “Apesar de ser a terra natal e o espaço que melhor conhece, continua a ser um lugar onde se encontram imagens únicas”, diz. Pessoalmente, prefere os bairros antigos e as festividades tradicionais para registar. A razão, aponta, é reflectirem as particularidades de uma situação ou de uma história.

No entanto, quando se fala de rua de quotidiano as dificuldades num território familiar são acrescidas. “As situações são mais difíceis de identificar porque é a minha própria cultura”, aponta Eva Mok. É a falta de surpresa que está na base desta dificuldade até porque “quando se vai para o estrangeiro e se entra no desconhecido estamos mais atentos a tudo e as imagens aparecem com mais facilidade”, diz.

Cada lugar, sua particularidade

Além da fotografia, Eva Mok é apaixonada pelas viagens. Depois de deixar o emprego voo para a Europa. Passou pela Rússia, viveu em Portugal e não deixou de conhecer a França, o Reino Unida, a Itália ou a Suíça. Pela Ásia, a Tailândia está nas suas preferências e há uma razão: “É muito fácil fotografar as pessoas na Tailândia. Olham-nos com um sorriso e deixam que registemos o que fazem”, explica.

Já me Macau, se se tratarem de situação em que está implicada a venda de um produto, os comerciantes pedem para que se compre de modo a deixarem-se fotografar. Às vezes, entro numa loja e sinto que as pessoas não querem ser fotografadas e às vezes até me dizem coisas do género “se não me compra nada porque é que eu hei de deixar que fotografe”, comenta.

Na Europa as pessoas são mais reservadas, refere, pelo que, muitas vezes, escolhe dedicar-se à fotografia de arquitectura. “Também gosto muito de registar os edifícios característicos dos lugares e a Europa é muito boa para isso. Tem igrejas e monumentos incríveis que são um desafio para qualquer fotógrafo”, refere.

Um gosto recente

A fotografia apareceu quase por acaso e não há muito tempo. “Comecei com a fotografia no final de 2012″, conta. Cansada do trabalho que tinha que sentia “não trazer mais nada de novo” e depois de viajar para Portugal duas vezes em que teve oportunidade de percorrer o país foi juntando uma série de imagens tiradas com telemóvel. Os elogios por parte dos amigos fizeram com que se interessasse cada vez mais pela imagem. O resultado, uma dedicação total. “Comecei a perceber que gostava realmente de capturar imagens e tratei de ter formação na área com a frequencia de cursos”, explica.

Trabalhar em Macau como fotógrafa é sempre “uma luta” principalmente se não se trabalha no sector comercial. “Eu só faço fotografia de rua e de arquitectura e é muito difícil sobreviver com o que faço, mas se fotografasse  eventos ou casamentos seria mais fácil”, diz.

A venda de impressões é quase impossível. “Macau não tem essa cultura e se se tratam de artistas menos conhecidos qualquer valor que se peça é sempre considerado como “demasiado caro”, mas se forem trabalhos de artistas de renome ninguém se queixa dos preços, por muito altos que sejam”, lamenta. “É um grande desafio tentar vender as minhas fotografias” e a solução pode passar por ter de pensar em arranjar alternativas de modo a subsistir. “Estou a pensar em ter alguns trabalhos como free-lancer”, revela. Para já espera ainda ter oportunidade de conseguir uma exposição.

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