SociedadeSuicídio juvenil | Problema exige intervenção alargada Sofia Margarida Mota - 10 Mai 2017 As linhas de apoio e prevenção do suicídio dirigidas a jovens não funcionam eficazmente. A ideia foi deixada pelo director dos serviços comunitários de aconselhamento psicológico dos Kaifong, Chan Lap Man. A psicóloga Filipa Freire considera que o problema é multidisciplinar. A sensibilização de pais e educadores é fundamental [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] director dos serviços comunitários de aconselhamento psicológico dos Kaifong, Chan Lap Man, alerta para a ineficácia das linhas de apoio e prevenção do suicídio juvenil. As declarações surgem em reacção aos vários casos que, diz o responsável, tiveram lugar nos últimos dias em Macau, entre eles o suicídio de uma aluna do ensino secundário de 16 anos de idade. Chan Lap Man refere ainda que apesar de a equipa em que trabalha não registar muitos casos de pedido de apoio, isso não significa que a ajuda não seja necessária. Em causa está o facto de os adolescentes lidarem com os problemas emocionais recorrendo a colegas, pais e professores. Ao HM, a psicóloga Filipa Freire é peremptória: é necessário que pais e educadores estejam atentos aos sinais que vão sendo dados pelos adolescentes. “Pais e professores devem estar alerta a todos os sinais que possam identificar como comunicação de um problema”, afirma. Da sua experiência, as pessoas dão sempre sinais quando não estão bem. Neste sentido, a formação e sensibilização têm um papel fundamental para que “as dicas” possam ser detectadas e as acções prevenidas. Por outro lado, “com esta atenção haveria uma maior tomada de consciência dos próprios pais acerca das suas posturas face aos filhos”. A psicóloga acrescenta que, desta forma, “seria mais fácil conseguir ter uma percepção do que é necessário mudar e procurar então ajuda profissional”. Da crítica ao entendimento De acordo com Chan Lap Man, tem existido uma responsabilização de determinadas atitudes dos pais que podem levar ao isolamento e doença mental dos adolescentes, e que estão entranhados na vida quotidiana. A título de exemplo, o responsável pelo aconselhamento dos Kaifong refere a educação através da crítica e do castigo como factores capazes de despoletar vários problemas nos mais jovens, podendo mesmo levar ao seu isolamento e à repressão das emoções. Filipa Freire considera a situação “bastante pertinente”. “Não posso especificar, mas do conhecimento que tenho e há muitas publicações sobre isso, a crítica em que o jovem se possa sentir ameaçado não faz qualquer efeito”, explica. No seu entendimento, este tipo de abordagem pode mesmo ser fonte de mazelas nas auto-representações que podem levar a que, mais tarde, a criança ou o jovem interiorize que não tem competências. O conselho que deixa é o de dar atenção à forma como as críticas são feitas. “Somos todos sensíveis e, muitas vezes, os pais não têm consciência do que é que a crítica poderá fazer”, diz. Por outro lado, “os pais podem também ter sofrido o mesmo tipo de educação e comparam-se aos filhos, na mesma situação, salientando que não se deixaram ir abaixo”. O médico Cheong Chi Hong, subdirector da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, defendeu, em declarações ao jornal Ou Mun, que a ajuda para os problemas dos mais jovens deve ser dada através da criação de um plano de futuro capaz de ser cumprido e que não seja promotor de stress. “Um plano a longo prazo significa uma motivação em que são designados objectivos e deve ser capaz de permitir que, ao longo da carreira escolar, os adolescentes se possam conhecer a si próprios”, diz. De acordo com o médico, “através deste tipo plano os jovens podem ter mais consciência sobre o seu papel e valor na sociedade”.