Programa “Vinhos na Rádio” organiza curso

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João Paulo Martins é crítico e jornalista vinícola

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma iniciativa que partiu de solicitações de ouvintes da Rádio Macau, que desafiaram a produção do programa “Vinhos na Rádio” para uma partilha de conhecimentos que fosse além da antena. O curso de vinhos vai já na terceira edição, conta com a parceria da Fundação Oriente e é da responsabilidade do crítico João Paulo Martins, jornalista que trabalha na imprensa vinícola desde 1989. Arrancou ontem ao final da tarde, na Casa Garden, e termina hoje, com a participação de 15 pessoas.

“Tenho vindo a Macau com alguma regularidade, gosto de cá vir. As pessoas daqui têm interesse em relação a vinhos, têm acesso a bons vinhos portugueses – porque se vendem cá todos –, e a vinhos de outras partes do mundo, até mais do que temos em Portugal”, assinala João Paulo Martins. “São pessoas com algum conhecimento e interesse, com algum poder de compra, são interessadas e isso é o melhor que podemos ter quando estamos a dar um workshop de vinhos”, explica acerca dos seus formandos.

Num curso deste género, começa-se pelo princípio de tudo: a uva. “Como é que ela cresce e se desenvolve, até chegar à altura da vindima, como é que se faz o vinho”, indica o jornalista. “É importante perceber quais são as etapas determinantes de todo o processo evolutivo do ciclo da uva até chegar à vindima.”

Depois, João Paulo Martins deixa algumas noções sobre como é que se faz o vinho e “como é que, com as mesmas uvas, se fazem vinhos com diferentes perfis, para percebermos como é que cada produtor organiza o seu vinho no sentido de corresponder aquilo de que gosta”.

Numa outra fase, “perante um vinho no copo”, o responsável pelo curso fala sobre “o que tem de se aprender a ler: os aromas, a prova de boca, as texturas, a acidez, o prolongamento do vinho no final, tentar perceber se é um vinho novo ou velho, conforme o tipo de aromas que tem, conforme a cor, se mostra um potencial bom para guardar em casa”.

A preocupação de João Paulo Martins, vinca, “é que o consumidor tente tirar o máximo partido do vinho que tem à frente para provar”. Quanto mais souber do assunto, “mais prazer pode ter em beber” o que tem no copo, refere o autor da obra “Histórias com vinho & outros condimentos”, livro recentemente lançado.

Assunto de mulheres

Há algumas décadas, a vinha e o vinho era assuntos tipicamente masculinos. Hoje, arrisca o jornalista, “50 por cento dos enólogos portugueses são mulheres, o que é uma situação de facto nova em relação ao que existia há 30 anos”.

Não há estatísticas oficiais, mas são cada vez mais as mulheres a trabalhar nesta área. No entanto, já se fizeram as contas aos consumidores e chegou-se à conclusão de que são as mulheres que fazem as compras em casa, diz o jornalista: “São as mulheres que compram o açúcar e o arroz, e que compram também o vinho”.

O facto de serem as mulheres a escolher fez com tenha passado a haver “um interesse crescente pelo vinho que, felizmente, deixou de ser um assunto masculino”. Esta vontade de saber mais reflecte-se nas acções de formação sobre a matéria e Macau não é excepção – a presença feminina tem aumentado a cada edição do curso organizado pelo “Vinhos na Rádio”.

A designer Sofia Bobone é uma das participantes na iniciativa. Depois de dois pequenos cursos dados por Luís Herédia, em que ficou “com algumas noções que não tinha”, decidiu juntar-se ao grupo que se reúne por estes dias na Casa Garden. “Bebo socialmente e encaro estas formações como algo com um aspecto mais mais lúdico. É sempre bom saber mais, para poder apreciar os vinhos”, diz.

O conhecimento ajuda no momento da escolha. “Pode ser tudo mais fácil na compra, na escolha de vinhos nos restaurantes, até aprender a combinar quais são aqueles que ficam melhor com certos tipos de comida. Isso faz bastante diferença”, refere Sofia Bobone.

Para a designer, os vinhos deixaram de ser um tema masculino, apesar de continuar a haver mais críticos nesta área. “Há muitas mulheres que têm interesse, gostam e são apreciadoras. Na altura dos nossos pais, as mulheres bebiam muito menos, hoje em dia já não há essa diferença.”

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