O presente de Hitler ao Extremo-Oriente 犹太人在中国

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] História dos Judeus na China vem de longe, remonta pelo menos ao séc. VIII. Também durante o Nazismo muitos vieram à procura de refúgio na “terra dos dragões”.

A economia mercantil da antiga China atraiu muitos comerciantes judeus. Viajando através da Rota da Seda, muitos deles instalaram-se na parte ocidental do País. Os judeus foram oficialmente aceites em 960 DC na cidade de Pien-Liang (Kaifen nos dias de hoje). Construíram a Sinagoga da Pureza e da Verdade, a primeira na região, em 1163. A comunidade foi crescendo nos oito séculos que se seguiram, atingindo o seu auge no séc. XVII, com 5.000 membros. Contudo, o período que se seguiu trouxe guerras, pobreza e isolamento religioso, provocando um declínio significativo da comunidade.

Mas em Xangai a história dos judeus é totalmente diferente. Conhecida como a “Pérola do Oriente”, Xangai recebeu, durante a II Guerra Mundial, cerca de 30.000 refugiados judeus, dados que deveriam ser acrescentados ao Registo da Memória do Mundo da UNESCO.

Em 1845 Xangai foi forçada a abrir as suas portas ao comércio externo, por imposição dos Tratados unilaterais que se seguiram às Guerras do Ópio, e uma rede de proeminentes famílias de Judeus Sefarditas – os Kadoories, Hardoons, Ezras, Nissims, Abrahams, os Gubbays, e, muito especialmente, os Sassoons – rumaram à cidade. Na altura, faziam parte da elite dos muitos ocupantes ocidentais da zona.

Pequena, mas poderosa, esta classe de comerciantes financiou muitas das Mansões Belle Époce construídas no distrito de Bund, numa versão local da Ringstrasse, em Viena. O Cathay Hotel, propriedade de Victor Sassoon, foi concluído em 1929 e tornou-se a “jóia da coroa” do Bund, o centro da vida social dos judeus da cidade. Neste sentido, Xangai é possivelmente a Maior Cidade Judaica Alguma Vez Construída. Pouco depois, em meados dos anos 30, chegaram os refugiados, fugidos da Alemanha Nazi. Nessa altura a comunidade judaica de Xangai aumentou consideravelmente, atingindo um número próximo dos 30.000 membros.

Embora os refugiados que se instalaram em Xangai vivessem certamente bastante melhor do que os seus familiares e amigos que ficaram para trás, na Europa, a vida no Extremo-Oriente não deixava de ser conturbada. Em Xangai, inicialmente tudo parecia promissor aos olhos dos judeus alemães acabados de chegar, pouco depois da subida ao poder de Hitler. Muitos deles eram médicos e dentistas. Aparentemente Xangai ficou tão grata pela vinda de pessoas com estas qualificações profissionais que um jornal escreveu num destaque: “O presente de Hitler ao Extremo-Oriente”.

Sam Sanzetti não era médico. O seu verdadeiro nome era Semyon Liphshitz e era fotógrafo. Chegou a Xangai em1922. Depois de trabalhar como aprendiz, abriu o seu próprio estúdio em1927 e tornou-se um dos mais famosos fotógrafos de Xangai. Trinta anos depois mudou-se para Israel, onde permaneceu até à sua morte em 1986. Sanzetti fez cerca de 20.000 retratos de habitantes da cosmopolita Xangai. Fotografou a sépia e a cores trabalhadores, figuras da alta sociedade, mulheres, famílias, crianças, enviados diplomáticos, figuras públicas famosas, etc. A imagem de marca de Sanzetti foi composta pela compleição suave dos seus modelos, pelo olhar intenso, a postura marcada, a beleza feminina e a inocência infantil. Os seus retratos deram origem a uma nova marca “O Xangai look”.

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