Os enfimadores

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]emos assistido a uma nova moda, moda não, eu diria antes “praga” nas redes sociais e quejandos que consiste em terminar os comentários com um ambíguo “enfim…”. São os “enfimadores”, um novo tipo de pseudo-intelectual, que num tom a atirar meio para o paternalista, mas completamente para o idiota, deixam aberta uma linha de pensamento que eles próprios iniciaram – sem que ninguém lhes tivesse pedido coisíssima nenhuma, note-se.
É mais frequente encontrar este tipo de barata tonta nos comentários a notícias com factos que podem ser interpretados de forma diversa, ou temas fracturantes, e em alguns casos sensíveis, e cujas posições de uns podem entrar em rota de colisão com a posição de outros, e mesmo constituir um insulto à dignidade de quem, ENFIM, optou por dar à vida um tempero diferente (reparem como demonstro aqui um uso correcto para este infame “enfim”). 
Chamar à posta de pescada que o enfimador arrotou “opinião” é elevar a sua presunção ao estatuto de qualquer coisa digna de registo; normalmente tudo o que antecede aquele “enfim…” é verborreia da mais mal cheirosa, daquela que dá vontade de repreender o indivíduo que se atreveu a emfimar mesmo ali à nossa frente, sem pedir autorização a ninguém, ou perguntou se estávamos com vontade de aturar os seus obtusos enfins. 
Uma opinião, como o nome indica, é uma constatação do foro pessoal, nunca de carácter vinculativo, é refutável, e acima de tudo mutável – mudar de opinião não significa necessariamente que se é um vira-casacas, mas manter a mesma opinião apesar de todos os indícios do contrário é asinino: uma convicção só o é quando se trata de algo de plausível e concretizável. O facto de anteceder um monte de barbaridades com “eu acho”, ou acrescentar “…na minha opinião” no final dessas mesmas barbaridades não faz delas “opinião”. É o mesmo que colocar uma sombrinha em miniatura numa taça de urina de burra e chamar-lhe um “cocktail”. 
Os enfimadores são os chicos-espertos das absurdas asserções que se querem fazer passar por opiniões; com aquele “enfim…” estão a querer dizer-nos que estão cobertos de razão, e só não elaboram o esterco literário que acabaram de produzir porque nos “nunca íamos entender”, pois “vai para além da nossa capacidade”. Nisso até podem ter alguma razão, pois sempre tive alguma dificuldade em entender jumentês. 
Alguns enfimadores terminam o seu acto de masturbação mental (isto em frente a senhoras e crianças, imaginem) com um daqueles emoticons com um sorrisinho pateta, como quem demonstra condescendência pela nossa “inferioridade” intelectual (estes casos mais frequentes se a discussão é sobre religião). Mas olhem, sabem o que podem fazer com essa atitudezinha imbecil, as sombrinhas em miniatura, os emoticons e o “enfim…” em geral? Enfi(e)m-no no…exactamente, vêem como nem foi preciso acabar com “enfim…”?

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