O Bailinho da Madeira

A maioria dos caros leitores devem lembrar-se do cantor madeirense, Max, e da sua célebre canção o Bailinho da Madeira. Só que a música agora é outra. Há muitas décadas que a Região Autónoma da Madeira liderada por Alberto João Jardim já deixava os portugueses perplexos com as decisões que o ex-chefe do Executivo madeirense tomava deixando rabos de palha.

Reinou até poder e deixou a governar a Madeira o seu delfim Miguel Albuquerque. Este, começou por afirmar que ganharia eleições por maioria absoluta, caso contrário, demitia-se. Não aconteceu e teve de se valer do PAN local para poder continuar na cadeira do poder. Albuquerque, sabem bem os madeirenses, fez sempre o que quis e o que lhe apeteceu com aquele ar de monárquico arrogante. As desconfianças de negociatas obscuras, o compadrio com empresas de amigos, a colocação como presidente da Câmara Municipal do Funchal do seu maior amigo e braço direito, foram sempre uma constante.

As pessoas interrogavam-se como era possível uma offshore ter o direito de não dar satisfações nenhumas ao Governo central, a não ser pedir dinheiro. O tempo foi passando e a situação na Madeira passou a ser escandalosa no que tocava a ajustes directos de obras, de concursos públicos irregulares ou ilegais, autorizações para certos grupos hoteleiros e rejeitando outros interessados, compras extravagantes dos mais diferentes materiais e inserção dos mais diversos militantes do PSD regional em lugares-chave da administração pública. Chegou ao ponto de se aproveitar da fama mundial de Cristiano Ronaldo para se promover junto do povo madeirense. O seu Governo gastou milhões de euros deixando sempre um grande número de habitantes da ilha vivendo na miséria em casas quase em ruína.

Na semana passada assistimos ao Bailinho da Madeira em forma secreta com um avião da Força Aérea a transportar inspectores da Polícia Judiciária, procuradores e juízes em direcção ao Funchal. A comitiva judicial entrou a matar e realizou as mais diversas buscas, incluindo na casa de Miguel Albuquerque. A primeira conclusão foi a ligação corruptiva entre um grupo português de construção civil e as autoridades madeirenses.

Até dinheiro vivo encontraram na casa do presidente da edilidade funchalense e da sua mãe, bem como depósitos bancários injustificados nas suas contas. Foram de imediato detidos o presidente da Câmara do Funchal e dois empresários do referido grupo de construção civil, que pela divulgação de alguns factos ficou a saber-se que os concursos públicos das obras seriam alegadamente fraudulentos para que o tal grupo os vencesse.

Mais: o presidente do Governo regional, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido e sem qualquer ética e dignidade política, anunciou logo que não se demitia. Neste sentido, o líder do PSD nacional, Luís Montenegro, fechou-se em copas, quando anteriormente teve apressadamente a decisão de anunciar que António Costa se devia demitir depois do tal parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República. Desta feita nem uma palavra no sentido de retirar imediatamente a confiança política a Miguel Albuquerque, que acabava de ser suspeito de corrupção e de outros crimes.

O ambiente político chegou ao rubro com todos os partidos, excepto os que fazem parte da nova Aliança Democrática, a exigirem a demissão de Albuquerque. Na sexta-feira, Albuquerque já não tinha mais condições políticas para continuar no cargo e anunciou a sua demissão.

Depois, assistimos à vergonhosa actuação do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha ouvido de viva voz o pedido de demissão do primeiro-ministro António Costa, e acto contínuo, anunciou a dissolução da Assembleia da República e marcou eleições antecipadas e nem aceitou a proposta do Partido Socialista, que tinha a maioria absoluta, de continuar a governar Portugal com outro primeiro-ministro.

No caso da Madeira, o Presidente Marcelo, ex-líder do PSD, não teve o mesmo critério político e deixou que o Governo madeirense continuasse no activo com outro político do PSD Madeira à frente do Executivo. Dois pesos e duas medidas contraditórias que vieram manchar, mais uma vez, o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, que cada vez perde mais popularidade junto do povo. O Presidente Marcelo apenas tinha de dissolver a Assembleia Legislativa regional e marcar eleições assim que a lei o permitisse, no caso concreto para o mês de Março.

Como devem imaginar assistimos ao aproveitamento político da situação por parte do Chega de André Ventura, que esfregou as mãos de contente na esperança de conseguir obter uma votação superior ao PSD devido à inoperância de Luís Montenegro, nas próximas eleições de 10 de Março. Naturalmente que este caso é gravíssimo quando estão em causa vários crimes graves por parte das autoridades madeirenses, especialmente a detenção do presidente da Câmara do Funchal, o homem de maior confiança de Miguel Albuquerque.

Estamos perante mais um caso que fará correr muita água por baixo das pontes, já que será o tribunal a decidir o futuro dos suspeitos por corrupção em grande escala e de outros crimes graves. No entanto, lembremo-nos do caso Sócrates, que na semana passada voltou ao início passados anos e voltou a ser acusado de vários crimes na companhia de vários arguidos e cujo “caso Marquês” continuará para as calendas. Quanto aos ilhéus irão continuar num Bailinho da Madeira com fanfarra repleta de interrogações.

29 Jan 2024

Covid-19 | Portugal conta com 448 casos de infecção, o primeiro na ilha da Madeira

[dropcap]O[/dropcap] número de infectados pelo novo coronavírus subiu para 448, mais 117 do que os contabilizados na segunda-feira, anunciou esta terça-feira a Direcção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica em Portugal, divulgado esta terça-feira às 12:00, há 4.030 casos suspeitos (mais 1.122), dos quais 323 (eram 374) aguardam resultado laboratorial. Segundo a DGS, há três casos recuperados.

Entretanto o Governo Regional da Madeira anunciou ontem o primeiro caso de Covid-19 na região, indicando que se trata de uma cidadã holandesa que se encontrava de férias na ilha. “O caso positivo foi detetado numa cidadã holandesa que entrou no território no dia 12 de março”, disse o presidente do executivo, Miguel Albuquerque.

A cidadã está agora internada no espaço do Serviço de Saúde da Madeira (Sesaram) preparado para os isolamentos de casos de Covid-19. “Determinámos o fim de todas as actividades de animação e recreação turísticas na região autónoma a partir deste momento, como, por exemplo, excursões, passeios, visitas guiadas, rent-a-car ou de outra ordem”, afirmou Miguel Albuquerque, em conferência de imprensa, no Funchal.

O governante realçou que o executivo comunicará novamente às embaixadas a “necessidade mandatória de procederem ao repatriamento dos seus concidadãos que ainda permanecem na região, com a maior brevidade possível”.

Miguel Albuquerque vincou também o reforço das medidas de restrição de entrada de cidadãos em centros comerciais, mercados e outros espaços públicos, no sentido de evitar a concentração de pessoas e o contacto físico entre elas.

O primeiro caso positivo de Covid-19 no arquipélago da Madeira foi registado na segunda-feira (16 de março) às 22:14 horas, sendo que os serviços de saúde e proteção civil tomaram “todas as medidas necessárias de isolamento e prevenção” da unidade hoteleira” onde se encontrava a cidadã holandesa.

Trata-se do Enotel Quinta do Sol (ex-Quinta do Sol), um quatro estrelas localizado na Rua Dr. Pita, na cidade do Funchal, com 147 quartos.

“Segundo o protocolo previamente estabelecido, todos aqueles com quem [a turista] contactou estão a ser devidamente acompanhados pelas autoridades regionais de saúde”, esclareceu Miguel Albuquerque, vincando que o governo irá “continuar a tomar as medidas necessárias” no sentido de conter a pandemia de Covid-19 e salvaguardar “a vida e a saúde” das famílias.

O chefe do executivo apelou aos cidadãos para que permaneçam nas suas residências, efectuando apenas saídas para aquisição de alimentos, compra de medicamentos, apoio a idosos e deslocações de e para o trabalho. “Face a esta nova situação, o trabalho na Administração Pública fica reduzida ao nível indispensável para o funcionamento das instituições, restringindo ainda mais os seus planos de contingência”, afirmou.

Miguel Albuquerque apelou ainda aos cidadãos de quarentena na região, sobretudo os que regressaram do continente, para o “cumprimento escrupuloso” da mesma, uma vez que está em causa “a vida e a saúde de outros concidadãos, incluindo os seus familiares”.

Entretanto, nasceu esta terça-feira o primeiro bebé de mãe infectada com o vírus da Covid-19 no Hospital de São João, no Porto. Os dois “estão bem”, disse à Lusa fonte oficial daquela unidade hospitalar. De acordo coma fonte, foram feitos testes de despiste do vírus no bebé, estando a aguardar-se os resultados.

17 Mar 2020

Covid-19 | Portugal conta com 448 casos de infecção, o primeiro na ilha da Madeira

[dropcap]O[/dropcap] número de infectados pelo novo coronavírus subiu para 448, mais 117 do que os contabilizados na segunda-feira, anunciou esta terça-feira a Direcção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica em Portugal, divulgado esta terça-feira às 12:00, há 4.030 casos suspeitos (mais 1.122), dos quais 323 (eram 374) aguardam resultado laboratorial. Segundo a DGS, há três casos recuperados.
Entretanto o Governo Regional da Madeira anunciou ontem o primeiro caso de Covid-19 na região, indicando que se trata de uma cidadã holandesa que se encontrava de férias na ilha. “O caso positivo foi detetado numa cidadã holandesa que entrou no território no dia 12 de março”, disse o presidente do executivo, Miguel Albuquerque.
A cidadã está agora internada no espaço do Serviço de Saúde da Madeira (Sesaram) preparado para os isolamentos de casos de Covid-19. “Determinámos o fim de todas as actividades de animação e recreação turísticas na região autónoma a partir deste momento, como, por exemplo, excursões, passeios, visitas guiadas, rent-a-car ou de outra ordem”, afirmou Miguel Albuquerque, em conferência de imprensa, no Funchal.
O governante realçou que o executivo comunicará novamente às embaixadas a “necessidade mandatória de procederem ao repatriamento dos seus concidadãos que ainda permanecem na região, com a maior brevidade possível”.
Miguel Albuquerque vincou também o reforço das medidas de restrição de entrada de cidadãos em centros comerciais, mercados e outros espaços públicos, no sentido de evitar a concentração de pessoas e o contacto físico entre elas.
O primeiro caso positivo de Covid-19 no arquipélago da Madeira foi registado na segunda-feira (16 de março) às 22:14 horas, sendo que os serviços de saúde e proteção civil tomaram “todas as medidas necessárias de isolamento e prevenção” da unidade hoteleira” onde se encontrava a cidadã holandesa.
Trata-se do Enotel Quinta do Sol (ex-Quinta do Sol), um quatro estrelas localizado na Rua Dr. Pita, na cidade do Funchal, com 147 quartos.
“Segundo o protocolo previamente estabelecido, todos aqueles com quem [a turista] contactou estão a ser devidamente acompanhados pelas autoridades regionais de saúde”, esclareceu Miguel Albuquerque, vincando que o governo irá “continuar a tomar as medidas necessárias” no sentido de conter a pandemia de Covid-19 e salvaguardar “a vida e a saúde” das famílias.
O chefe do executivo apelou aos cidadãos para que permaneçam nas suas residências, efectuando apenas saídas para aquisição de alimentos, compra de medicamentos, apoio a idosos e deslocações de e para o trabalho. “Face a esta nova situação, o trabalho na Administração Pública fica reduzida ao nível indispensável para o funcionamento das instituições, restringindo ainda mais os seus planos de contingência”, afirmou.
Miguel Albuquerque apelou ainda aos cidadãos de quarentena na região, sobretudo os que regressaram do continente, para o “cumprimento escrupuloso” da mesma, uma vez que está em causa “a vida e a saúde de outros concidadãos, incluindo os seus familiares”.
Entretanto, nasceu esta terça-feira o primeiro bebé de mãe infectada com o vírus da Covid-19 no Hospital de São João, no Porto. Os dois “estão bem”, disse à Lusa fonte oficial daquela unidade hospitalar. De acordo coma fonte, foram feitos testes de despiste do vírus no bebé, estando a aguardar-se os resultados.

17 Mar 2020

Covid-19 | Portugal conta com 448 casos de infecção, o primeiro na ilha da Madeira

[dropcap]O[/dropcap] número de infectados pelo novo coronavírus subiu para 448, mais 117 do que os contabilizados na segunda-feira, anunciou esta terça-feira a Direcção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica em Portugal, divulgado esta terça-feira às 12:00, há 4.030 casos suspeitos (mais 1.122), dos quais 323 (eram 374) aguardam resultado laboratorial. Segundo a DGS, há três casos recuperados.
Entretanto o Governo Regional da Madeira anunciou ontem o primeiro caso de Covid-19 na região, indicando que se trata de uma cidadã holandesa que se encontrava de férias na ilha. “O caso positivo foi detetado numa cidadã holandesa que entrou no território no dia 12 de março”, disse o presidente do executivo, Miguel Albuquerque.
A cidadã está agora internada no espaço do Serviço de Saúde da Madeira (Sesaram) preparado para os isolamentos de casos de Covid-19. “Determinámos o fim de todas as actividades de animação e recreação turísticas na região autónoma a partir deste momento, como, por exemplo, excursões, passeios, visitas guiadas, rent-a-car ou de outra ordem”, afirmou Miguel Albuquerque, em conferência de imprensa, no Funchal.
O governante realçou que o executivo comunicará novamente às embaixadas a “necessidade mandatória de procederem ao repatriamento dos seus concidadãos que ainda permanecem na região, com a maior brevidade possível”.
Miguel Albuquerque vincou também o reforço das medidas de restrição de entrada de cidadãos em centros comerciais, mercados e outros espaços públicos, no sentido de evitar a concentração de pessoas e o contacto físico entre elas.
O primeiro caso positivo de Covid-19 no arquipélago da Madeira foi registado na segunda-feira (16 de março) às 22:14 horas, sendo que os serviços de saúde e proteção civil tomaram “todas as medidas necessárias de isolamento e prevenção” da unidade hoteleira” onde se encontrava a cidadã holandesa.
Trata-se do Enotel Quinta do Sol (ex-Quinta do Sol), um quatro estrelas localizado na Rua Dr. Pita, na cidade do Funchal, com 147 quartos.
“Segundo o protocolo previamente estabelecido, todos aqueles com quem [a turista] contactou estão a ser devidamente acompanhados pelas autoridades regionais de saúde”, esclareceu Miguel Albuquerque, vincando que o governo irá “continuar a tomar as medidas necessárias” no sentido de conter a pandemia de Covid-19 e salvaguardar “a vida e a saúde” das famílias.
O chefe do executivo apelou aos cidadãos para que permaneçam nas suas residências, efectuando apenas saídas para aquisição de alimentos, compra de medicamentos, apoio a idosos e deslocações de e para o trabalho. “Face a esta nova situação, o trabalho na Administração Pública fica reduzida ao nível indispensável para o funcionamento das instituições, restringindo ainda mais os seus planos de contingência”, afirmou.
Miguel Albuquerque apelou ainda aos cidadãos de quarentena na região, sobretudo os que regressaram do continente, para o “cumprimento escrupuloso” da mesma, uma vez que está em causa “a vida e a saúde de outros concidadãos, incluindo os seus familiares”.
Entretanto, nasceu esta terça-feira o primeiro bebé de mãe infectada com o vírus da Covid-19 no Hospital de São João, no Porto. Os dois “estão bem”, disse à Lusa fonte oficial daquela unidade hospitalar. De acordo coma fonte, foram feitos testes de despiste do vírus no bebé, estando a aguardar-se os resultados.

17 Mar 2020

As Ilhas do Ouro Branco

A arte que o açúcar da Madeira comprou em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] antecipar o arranque do programa de Comemorações dos 600 anos do Descobrimento da Madeira e do Porto Santo, que se assinalará em 2019 de forma intensa, o Governo Regional da Madeira, em conjunto com o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) de Portugal, apresenta a excepcional exposição “As Ilhas do Ouro Branco – Encomenda Artística na Madeira (séculos XV-XVI)”, inaugurada no passado dia 15 de Novembro. Em Lisboa, estão reunidas 86 peças provenientes do Museu de Arte Sacra da Diocese do Funchal, de colecções privadas e um retábulo do espólio do Museu.

Se a importância desta exposição é inegável no âmbito da história da arte, não é menos relevante no que concerne à museografia. Comissariada por Fernando António Baptista Pereira e Francisco Clode de Sousa, historiadores de arte e museólogos, com reconhecida investigação no âmbito do património madeirense, a narrativa expositiva flui numa lógica coerente e articulada, facilmente perceptível pelo visitante.

A abrir a exposição, que apresenta obras de pintura, escultura e ourivesaria, algumas delas restauradas para a ocasião, está um grande ecrã onde é projectado um filme que mostra a Madeira e a sua natureza em bruto, tal como terá sido encontrada pelos primeiros navegadores, e “que estão na base do encantamento que a ilha da Madeira provocou”, salientou Francisco Clode de Sousa na apresentação à imprensa, para quem esta mostra revela também a história da Madeira, a ilha “onde Portugal se ensaiou fora de si próprio”, referiu.

Sublinhou ainda que “a Madeira é uma espécie de balão de ensaio do que viria a ser o Portugal da expansão, primeiro atlântica e depois no Índico.” Ao longo de uma narrativa que parte do espanto dos primeiros navegadores perante o novo território e prossegue com a evocação do esforço do povoamento e da implantação de estruturas económicas e administrativas no arquipélago, esta exposição dá a conhecer as elites comitentes locais através das suas encomendas – obras de pintura, escultura e ourivesaria – provenientes da Flandres, do continente ou até do Oriente. A narrativa expositiva constrói-se em quatro núcleos: “O açúcar no paraíso”; “Organizando a terra virgem”; “A arte que o açúcar comprou”; “Um reino dentro do reino” Numa última sala, expõem-se as mais destacadas obras-primas encomendadas, sintetizando, com particular brilho, a riqueza do património madeirense dos séculos XV e XVI, resultante do esplendor cultural proporcionado pelo ciclo económico do “ouro branco”.

Proveniente da Ásia, a cana-de-açúcar terá começado a ser importada da Sicília pelo Infante D. Henrique, que introduziu o seu cultivo na Madeira nos finais da primeira metade do século XV, um projecto de rápida expansão. O desenvolvimento da produção de açúcar em larga escala permitiram a sua exportação para os portos da Flandres, primeiro através de Lisboa, e depois directamente. O consumo do “ouro branco” aumentou, assim, por toda a Europa, alterando hábitos alimentares e algumas práticas medicinais no mundo.

Em paralelo, os mercadores que levavam o açúcar para Bruges e Antuérpia, entre outras cidades da Flandres, regressavam regularmente à Madeira com bens, nomeadamente obras de arte, sobretudo de carácter religioso, destinadas a satisfazer as devoções e a definir o estatuto social dos novos grupos populacionais constituídos à sombra dos canaviais e da economia açucareira, nomeadamente de pinturas das oficinas de Gérard David, Dick Bouts, Joos Van Cleve e Jean Gossaert, de escultura das oficinas de Malines, Antuérpia e Bruxelas, artes decorativas e ainda ourivesaria, também provenientes do continente e até do Oriente. A maioria das igrejas matrizes fundadas ou reformuladas durante o reinado manuelino foi dotada de imagens e retábulos flamengos, entre os quais se destaca o magnífico retábulo da Sé do Funchal, único no mundo, inspirando a encomenda de peças idênticas por particulares.

Com um pé na economia açucareira, eram feitas encomendas artísticas que geraram “uma economia da salvação”, explicou Fernando António Baptista Pereira na apresentação à imprensa. Nas palavras deste historiador de arte, as peças expostas resultavam “da oferta à igreja de obras de arte que eram compradas com os excedentes económicos para remissão dos pecados”. Recordou ainda que foram os cereais o primeiro ciclo económico do arquipélago, só depois substituídos pelo açúcar. Foi este “ouro branco” escoado para os mercados europeus, numa altura em que o açúcar ainda era raro e caro, que proporcionou um enorme desenvolvimento local na Madeira. É perceptível o gosto dos senhores locais pela arte flamenga, onde frequentemente se faziam representar e cuja posse lhes sublinhava o prestígio. Tal como se regista a mudança de gosto que, a partir de meados do século XVI, passa a privilegiar as oficinas de Lisboa, nas expressões da Renascença ao Maneirismo.

Muita da “arte que o açúcar comprou” pode ser vista nesta exposição que constitui, seguramente, uma oportunidade de excepção para ver em Lisboa algumas das obras mais notáveis de pintura, escultura e ourivesaria do património artístico português, incluindo: Santiago Maior, de finais do século XV e atribuído a Dieric Bouts; a Virgem com o Menino, São Bento e São Bernardo, de c. 1515 e atribuído a Francisco Henriques; o Retábulo dos Reis Magos, com o corpo central relevado em madeira dourada e policromada e volantes laterais pintados com a representação dos doadores, de oficina de Antuérpia, datado de c. de 1530; o Tríptico da Descida da Cruz, de cerca de 1518-1527 e atribuído a Gérard David (Bruges); o Tríptico de Santiago Menor e de S. Filipe, datado de c.1527-1531 e atribuído a Pieter Coecke van Aelst (Antuérpia); o Tríptico da Virgem da Misericórdia, de Jan Provoost (Bruges e Antuérpia), datado de 1529, com Nossa Senhora da Misericórdia ao centro, ladeada pelos santos Cristóvão, Paulo, Pedro e Sebastião; duas pinturas (Apresentação do Menino no Templo e Ressurreição) do retábulo da igreja de São Brás, no Arco da Calheta, de c. 1550-1560 e atribuído ao Mestre de Abrantes; quatro pinturas (Anunciação, Adoração dos Pastores, Adoração dos Magos e Ressurreição, de oficina portuguesa e datadas de c. 1550-1560; ou as extraordinárias esculturas de S. Sebastião, fragmento, de oficina coimbrã, atribuída a Diogo Pires, o Moço, e da Imaculada Conceição, dita Virgem de D. Manuel, trabalho flamengo, possível oficina de Malines, ambas datadas do início do século XVI; a imponente cruz processional, com iconografia da Paixão e a representação, no reverso, da figura em vulto de Cristo Redentor Mundi, e com decoração e heráldica manuelina, em prata dourada, do primeiro quartel do século XVI, para além de obras do anónimo conhecido como “Mestre da Lourinhã”, de Michiel Coxcie (Malines), e Joos van Cleve (Antuérpia). E estas são apenas algumas de entre as 86 peças que se encontram expostas e que podem ser vistas no MNAA, de terça a domingo das 10h00 às 18h00, até 18 de Março de 2018.

22 Fev 2018