O G20 e a sua alternativa: a “Rota da Seda”

I

A cimeira do BRICS na África do Sul foi alvo da atenção de todo o mundo. Igual interesse internacional despertou o encontro do G20 na Índia, que teve lugar um pouco depois daquela cimeira. Os cinco membros do BRICS decidiram alargar o grupo. Nos novos membros estão incluídos o Irão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, entre outros estados. O encontro do G20 também atraiu a atenção global. Da agenda constava a guerra na Ucrânia, entre outros tópicos. Para além disso, tornou-se evidente que alguns dos seus estados-membros planeiam lançar um novo projecto: o chamado “Corredor Índia – Médio Oriente – Europa” (por vezes, abreviado para IMEC – sigla em inglês). Entre os “pais fundadores” desta nova “aliança” estão os EUA, a França, a Itália, a Alemanha, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e a Índia.

O principal objectivo do estabelecimento de tal “corredor” é a criação de um contrapeso ao projecto da “Nova Rota da Seda” (Yidai yilu 一帶一路), iniciado pela China há cerca de dez anos, em 2013/14. Os motivos que levam à criação deste contrapeso são óbvios: o “Ocidente” continua a afirmar que a China se tornou um império agressivo, que coopera com a Rússia e que manipula os mercados económicos e financeiros em diversas partes do mundo – contra os interesses “legítimos” dos países mais “civilizados”.

II

O que significa tudo isto? Um dos propósitos do novo “corredor” é a intensificação da comunicação e dos transportes entre a Índia e a Europa, através do Médio Oriente. À primeira vista, parece bem. No entanto, a geografia constitui um problema. Como é que deverá funcionar um “corredor” entre a UE e a Índia? Dada a actual situação política, é impossível estabelecer uma ligação terrestre da Europa à Índia. A construção de ferrovias e de auto-estradas através do Irão e do Paquistão, com o objectivo de ligar a Índia à Turquia e à Europa, não faz qualquer sentido. O Paquistão e a Índia são rivais. Além disso, as sanções da UE ao Irão excluem a possibilidade deste país se tornar parceiro do “Ocidente” – e, assim, de se tornar um elemento que ajude à estabilidade deste corredor terrestre.

Posto isto, devido ao cenário geopolítico, a composição da infra-estrutura do IMEC irá consistir na criação de vários segmentos separados: (1) Os navios teriam de ir e vir através do Mar Arábico, entra a Índia e os Emirados/ Arábia Saudita. Algumas destas embarcações teriam de passar através do Estreito de Hormuz, que é actualmente uma zona perigosa. Por conseguinte, muitos navios preferem entrar no Mar Vermelho e seguir pelo Canal de Suez em direcção à Europa. Isto não é novidade. Durante décadas, o comércio e o tráfego entre a Índia e a Europa dependeram destas “avenidas”. No entanto, o IMEC pode conduzir a uma mudança do cenário geral: Aparentemente, o Egipto não se encontra entre os seus estados “fundadores”. Por isso o Cairo pode colocar alguma pressão no “novo” sistema e cobrar taxas adicionais para facultar a entrada dos navios no Canal do Suez. (2) As novas linhas ferroviárias que ligariam os Emirados, ou algum porto na Arábia Saudita, ao antigo Levante ou à Turquia, passariam através de um ou dois dos seguintes países: Jordânia, Iraque, Síria e Israel. Aqui chegados, é preciso perguntar: Será que estes países vão cooperar e apoiar o novo “sistema”? E o que dizer da visão deslumbrada de um transporte de passageiros de alta velocidade através dos desertos do Médio Oriente? E quanto aos regulamentos de vistos, o problema das migrações e dos refugiados que procuram asilo? Terão os visionários do IMEC pensado em tudo isto? Além disso, o fluxo total de transportes terrestres através do Médio Oriente seria certamente muito inferior ao fluxo dos transportes marítimos através do Mar Vermelho. Portanto, fará algum sentido construir ferrovias através dos desertos do Médio Oriente? (3) A partir do Levante, ou da Turquia, os navios vão ter de chegar a qualquer porto europeu. Pireu perto de Atenas, coopera de perto com a China. Então, que cidades seriam os portos de escala no Sul da Europa? Nada disto parece claro.

III

Existe ainda outra questão: Quem iria lucrar com um tal dispositivo de tráfego segmentado e, em termos mais gerais, com a dimensão política do IMEC? A UE? A Turquia? Ou a Arábia Saudita e os Emirados? Ou qualquer outro? – Como foi referido, a Arábia Saudita e o Emirados estão prestes a tornar-se membros do BRICS. Quando isso vier a acontecer, passarão a pertencer a dois “blocos” rivais, com interesses opostos. Fará isso algum sentido? Será que vai ajudar a região do Golfo a tornar-se um polo de atracção do intercâmbio pacífico euro-asiático, com uma intensidade nunca antes vista? Irão os Emirados e a Arábia Saudita funcionar como zonas limítrofes entre o “Ocidente” e a China e angariar enormes investimentos de ambos os lados ao sublinharem o seu “papel neutral”? Mas até que ponto serão “neutrais” na eventualidade de conflitos de maior dimensão?

Além disso, o Irão vai aceitar esta “jogada” às portas de sua casa? Há muito pouco tempo, devido às acções diplomáticas da China, a Arábia Saudita e o Irão iniciaram conversações sobre assuntos de interesse mútuo. É verdade, a coexistência pacífica é sempre possível. No entanto, os EUA e outros países insistem nas sanções a Teerão. Em contrapartida, a China tem uma mente aberta e generosa e nunca interveio militarmente no Médio Oriente. Assim sendo, é intenção do “Ocidente”, ou antes dos EUA, usar o IMEC como uma ferramenta contra o processo lento da détente política em certas zonas do Médio Oriente? Como é que o IMEC vai lidar com o desejo da China, e de muitos asiáticos, de pacificar toda esta região? Poderão a Arábia Saudita e os Emirados resistir à pressão dos EUA?

Existem muitos mais pontos duvidosos. Os órgãos de comunicação oficiais continuam a afirmar que as dissidências internas e os confrontos militares caracterizam a situação da Síria e do Iraque. Existem também várias opiniões sobre a forma de lidar com os curdos e com o seu desejo de constituírem um estado independente. Além disso, os europeus têm criticado repetidamente a Arábia Saudita pelas suas atitudes conservadoras. Censuram este país por não respeitar os direitos humanos. Estranho, não é verdade? Subitamente, a UE e os EUA, que sublinham constantemente a importância dos “valores ocidentais”, desejam cooperar com a Arábia Saudita para lutar contra a China. É altura de perguntarmos: Como é que o Governo de Riad, por vezes apelidado de “monarquia absolutista”, encara tudo isto? Será que sorri do alto da sua realeza perante as atitudes “ocidentais”?

Em contrapartida: a Arábia Saudita e os Emirados podem pensar que o IMEC é uma boa ideia, porque esta aliança pode permitir que a UE, ou os EUA, passem a importar mais alta tecnologia e a fazer novos investimentos no Médio Oriente. Os leitores não devem esquecer, de acordo com algumas previsões, que chegará a altura em que os mercados mundiais vão deixar de ter necessidade de comprar enormes quantidades de petróleo à região do Golfo. Pensarão a Arábia Saudita e os Emirados nesta perspectiva? Estarão preocupados com as novas tendências económicas? – Mais uma vez, não sabemos dizer.

Há também o problema da moeda. A compra e a venda de petróleo são feitas sobretudo em dólares americanos. Washington teme que o Médio Oriente possa alterar certos segmentos do mercado financeiro. Neste ponto, voltamos a lembrar-nos do BRICS e da ideia de introdução de novos mecanismos financeiros. Não há dúvida de que a Arábia Saudita e os Emirados vão observar a situação. Estão à espera para ver. O mais certo é acabarem por alinhar com quem lhes oferecer as melhores opções, – as mais pacíficas.

O pequeno e densamente povoado Israel também pode ter de reconsiderar a sua posição no contexto de uma vizinhança em rápida mudança. Actualmente, Israel acompanha de perto o mundo muçulmano e o seu armamento nuclear. Mesmo que tenha havido alguns comentários positivos do lado dos judeus em relação aos planos do IMEC, é melhor manter alguma cautela: Até que ponto é que é realista sonhar que um pequeno país altamente tecnológico vai aceitar o comércio livre com os seus antigos inimigos? Comércio de bens de todo o tipo através dos portos de Israel e circulação livre de passageiros através do seu território – será isso possível?

E por último, o que pensar da Índia? Os anglófonos continuam a dizer-nos que a Índia tem estruturas democráticas, que os seus muitos grupos religiosos coabitam em harmonia, todos sob o mesmo tecto. Mas o que dizer do sistema de castas? E dos problemas entre os hindus e os muçulmanos no Sul da Ásia? E quanto às fricções entre as etnias locais? E sobre o enorme fosso entre pobres e ricos? Importa que milhares de sul-asiáticos trabalhem na região do Golfo para receberem salários baixíssimos? Terão os políticos europeus pensado sobre a natureza “multi-facetada” das relações entre a Índia e o Médio Oriente? De acordo com relatórios recentes, a Índia planeia alterar a sua designação “oficial”: De futuro, deseja voltar a adoptar o antigo nome de Bhārat. Estas mudanças simbólicas fazem diferença? Que implicações vão ter para os cidadãos da Índia? E para o nacionalismo do Sul da Ásia?

A adesão simultânea a duas alianças rivais, BRICS e IMEC, daria à Índia a possibilidade de escolha, ou de, qual “equilibrista”, ir jogando com os dois lados, conforme as circunstâncias o ditarem. Dito de outra forma, tal como os Emirados e a Arábia Saudita, a India pode vir a colher frutos de polos opostos. O IMEC, assim parece, tem uma predisposição genética para comportamentos oportunistas.

V

A América do Norte fica muito longe do Mediterrâneo, do Médio Oriente e da Índia. Assim, em termos geográficos, o apoio dos EUA à ideia do IMEC não faz qualquer sentido. Só há uma explicação para a decisão de Washington: a vontade de não abdicar dos seus mercados tradicionais. Opõe-se ao projecto da “Nova Rota da Seda”, porque tem medo da China e da política de Pequim de manutenção da paz. Infelizmente, vários líderes influentes da UE, que passaram longos anos no mundo anglófono, seguem cegamente os pontos de vista e as indicações de Washington. Estes indivíduos transformaram-se em marionetas da Casa Branca, acreditam na existência de “valores comuns”, na sua superioridade, na força do “Ocidente”, e em qualquer coisa que nos faz lembrar a “missão civilizadora”.

Para além disso existem preocupações militares. Os anglófonos continuam a dizer-nos que a China quer estabelecer uma rede de bases militares em torno do Oceano Índico. A aliança AUKUS é uma espécie de contrapeso militar. É muito provável que o IMEC venha a ser, sem qualquer dúvida, uma aliança económica. No entanto, em determinadas circunstâncias, um tal sistema pode mudar as suas características, em função das suas estruturas institucionais e da situação política. Aqui podemos pensar nas forças navais e em outras forças da Índia, que estão a desenvolver-se rapidamente. Como é que o Médio Oriente encara tudo isto e o que podemos dizer sobre o Sri Lanka e o Paquistão? Estarão os líderes da UE cientes de todas as possibilidades que podem ocorrer no cenário político, ao “micro-nível” das relações entre Deli e o Médio Oriente?

Além disso, será que o “Ocidente” espera a cooperação militar da Índia contra os inimigos “conjuntos”? As forças dos EUA, e mesmo algumas tropas britânicas, estão presentes em várias partes da zona do Oceano Índico. Existem importantes instalações militares em Diego Garcia, uma ilha no arquipélago de Chagos, situada no meio do Oceano Índico. As forças dos EUA usaram frequentemente essas instalações durante diversas guerras. Este é apenas um exemplo da presença militar dos EUA nesta parte do mundo. Em contrapartida, a China não provoca outras nações e países desta região. Assim sendo, com quem é que a Índia vai cooperar? Bhārat, é claro, não pode ser enganado; conhece o seu passado; à semelhança da China, sofreu muito com a pirataria britânica. Por isso, pode alguma vez vir a confiar nos anglófonos??

VI

Curiosamente também, a Grã-Bretanha, que tem um primeiro-ministro hindu, não parece muito interessada no grupo IMEC. Por outro lado, a imprensa americana afirma que a iniciativa IMEC vai ser um agente transformador. A Índia também pensa (ou pretende pensar) de forma positiva. Há quem afirme que a “conectividade” tradicional entre a Índia e o Médio Oriente será muito mais importante do que o velho sistema da Rota da Seda. Vê-se que a máquina de propaganda trabalha a todo o vapor.

Há muitos migrantes indianos em várias zonas costeiras do Oceano Índico. Algumas cidades, ilhas e outros lugares têm líderes políticos de origem indiana, por exemplo Maurícia. Isso terá importância? Aguardamos com expectativa a emergência da “Grande Índia”, contrariamente aos desejos de Washington?? Sentir-se-á confortável o Primeiro-Ministro hindu em Londres com todos estes pontos de vista, opções, tratados, alianças e etc.?

Uma outra questão leva-nos até Ancara. A Turquia, um membro da NATO, está de alguma forma ligada ao sistema da Rota da Seda. A Turquia tem interesse na Ásia Central. Além disso, está em permanente contacto com a Rússia. Existe ainda o grupo Xangai, que inclui o Irão, a China, a Rússia e muitos outros membros. Então, o que irá fazer Erdogan? Será possível pôr a funcionar o IMEC sem o seu país? Quem sabe, talvez Ancara reaja iniciando um “contra- programa”, através de uma aliança que faça ressurgir a ideia da grandeza otomana num novo formato. Na antiguidade, os comerciantes otomanos exerciam a sua actividade na Índia e o Império Otomano estava em contacto regular com partes da Indonésia moderna. O Irão, pode acrescentar-se, é um caso semelhante. Em muitos portos da Ásia medieval, e do início da Idade Moderna, encontrávamos mercadores do Irão. Esta pode ser uma razão válida para Teerão propagandear a fundação de um “corredor iraniano comercial”? É certo que pensar nesta e noutras opções parece ridículo e rebuscado, mas diz-se que Otto von Bismarck afirmou: “A política é a arte do possível.”

VII

Finalmente, temos a UE. A reacção da imprensa europeia ao projecto do IMEC não é unânime. Na verdade, porque é que todos os países da UE devem seguir cegamente as ambições dos EUA? A era do colonialismo acabou, certo? Ou esta suposição está errada? Ficará o IMEC melhor sem os EUA? Suponhamos que não existiam forças nem intervenção dos EUA nos mares asiáticos. Nessas circunstâncias, seria de todo necessário criar qualquer tipo de aliança? O projecto da Nova Rota da Seda lembra-nos os velhos tempos quando o comércio através do Oceano Índico era sobretudo pacífico sem amarras a grandes alianças. Regra geral, as alianças são positivas se promoverem a cooperação pacífica e o entendimento mútuo. O IMEC é uma entidade concebida para prejudicar outra entidade, ou o seu principal interveniente. Não é disto que o mundo precisa.

Washington não é claramente altruísta. Finge ser gentil, mas não conhece limites. De facto, o chamado “Ocidente” é um conceito ilusório, existem poucos ou nenhuns “valores comuns”. A ideia do IMEC, se chegar a ser posta em prática, servirá Washington temporariamente, e talvez também alguns outros, mas é muito provável que a Europa não venha a ter qualquer tipo de benefício. Pior ainda, o IMEC tem potencial para prejudicar a Europa, porque a sua finalidade é aumentar as dissidências entre a UE e a China. A dissidência descontrolada entre elas tornará a Europa mais vulnerável. Não há qualquer dúvida de que uma economia saudável da UE não é do interesse das empresas norte-americanas, mas é do interesse da China. Os empreendedores e as empresas da UE e da China desejam cooperar entre si; Bruxelas, guiada por Washington, não parece aceitar esse desejo. Claro que alguns líderes europeus vêem mais longe, mas expressam opiniões distintas quando são confrontados com o projecto IMEC. Aparentemente, estes políticos têm medo. Para concluir: Washington pode regozijar-se – “divide et impera!”

No entanto, ia história fica por aqui? E se a Índia e o Médio Oriente, em qualquer altura, sugerirem subitamente que a China também deveria passar a ser membro do IMEC? Washington ficaria desconcertado. O governante hindu em Londres poderia reconsiderar o actual estatuto do antigo reino pirata e outros países lançariam um profundo suspiro de alívio. Talvez que muitos canais euro-asiáticos voltassem a abrir e talvez Bruxelas voltasse ao bom caminho.

4 Out 2023

G20 | Defendidas “acções concretas” para enfrentar desafios globais

A cimeira do G20 terminou ontem com a entrada da União Africana como membro permanente. Em Nova Deli, foi assinada uma declaração que promete “acções concretas” para responder a desafios mundiais, nomeadamente um compromisso de aposta em energias renováveis

 

A cimeira do G20, presidida pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que decorreu este fim-de-semana em Nova Deli, resultou numa declaração final consensual com o estabelecimento de um compromisso com “acções concretas para enfrentar desafios globais”.

“Encontramo-nos num momento decisivo da história em que as decisões que tomamos agora determinarão o futuro das pessoas e do planeta. É com a filosofia de viver em harmonia com o ecossistema envolvente que nos comprometemos com acções concretas para enfrentar os desafios globais”, lê-se na declaração dos líderes do G20.

A cimeira do G20 teve como tema “Vasudhaiva Kutumbakam”, frase sânscrita encontrada em textos hindus como o Maha Upanishad, que significa “O mundo é uma família”. “A cooperação do G20 é essencial para determinar o rumo que o mundo tomará. Persistem os ventos contrários ao crescimento económico e à estabilidade globais. Anos de desafios e crises em cascata reverteram os ganhos da Agenda 2030 e dos seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, refere a declaração.

No documento, os líderes do G20 indicam que “as emissões globais de gases com efeito de estufa continuam a aumentar, com as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a poluição, a seca, a degradação dos solos e a desertificação, ameaçando vidas e meios de subsistência”.

“O aumento dos preços das matérias-primas, incluindo os preços dos alimentos e da energia, está a contribuir para as pressões sobre o custo de vida. Desafios globais como a pobreza e a desigualdade, as alterações climáticas, as pandemias e os conflitos afectam desproporcionalmente as mulheres e as crianças, assim como os mais vulneráveis”, sublinha o G20, considerando que juntos têm a oportunidade de construir um futuro melhor.

De acordo com a declaração, transições energéticas justas podem melhorar o emprego e os meios de subsistência e reforçar a resiliência económica. “Afirmamos que nenhum país deveria ter de escolher entre combater a pobreza e lutar pelo nosso planeta. Procuraremos modelos de desenvolvimento que implementem transições sustentáveis, inclusivas e justas, a nível mundial, sem deixar ninguém para trás”, lê-se no documento.

Palavra de Li

A agência estatal Xinhua afirmou que o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, que representou a China nesta cimeira pautada pela ausência de Xi Jinping, defendeu a globalização e “promoção da unidade, cooperação e inclusão” das nações.

Li Qiang fez um apelo para que os países se respeitem mutuamente, procurem “um campo [de actuação] comum apesar das respectivas diferenças e vivam conjuntamente de forma pacífica”, e afirmou ainda que nenhuma nação “está imune a enfrentar grandes crises e desafios comuns”. Na perspectiva do primeiro-ministro chinês, os membros do G20 devem buscar “a aspiração original de unidade e cooperação”, apostando na “responsabilidade dos tempos em prol da paz e desenvolvimento”. O dirigente adiantou também que o G20 precisa de unidade em vez de divisão, cooperação em vez de confronto e inclusão em vez de exclusão, acrescentou.

Alô, África

Uma das novidades desta cimeira prende-se com a entrada da União Africana (UA), um forte sinal para África e uma vitória diplomática para a Índia, que deverá ser a líder dos países do Sul, não tendo sido ainda mencionada a alteração do nome para G21.

Narendra Modi bateu o martelo três vezes antes de fazer o anúncio, que recebeu aplausos na sala, apertou a mão do actual líder da UA, o Presidente das Comores, Azali Assoumani, e abraçou-o calorosamente. “Com a aprovação de todos, solicito ao representante da União Africana que assuma o seu lugar como membro permanente do G20”, disse depois Modi, sublinhando que foi a Índia a propor a alteração.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tinha defendido, na sexta-feira, que a UA deveria tornar-se membro permanente do grupo. “Veremos qual será a decisão, mas o que é claro é que a União Europeia [UE] apoia a adesão da União Africana ao G20”, declarou Michel, numa conferência de imprensa em Nova Deli, antes do início da cimeira.

Sem consenso

Profundamente dividido sobre o futuro do petróleo, o G20 não apelou à saída dos combustíveis fósseis na sua declaração final, mas apoia, pela primeira vez, o objectivo de triplicar as energias renováveis até 2030, compromisso assumido três meses antes da COP28, a 28.ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que se realizará de 30 de Novembro a 12 de Dezembro, no Dubai.

Nesta cimeira, os EUA defenderam um ambicioso projecto de “corredor” logístico que ligasse a Índia e a Europa ao Médio Oriente, com um papel de liderança para a Arábia Saudita. Foi assinado um acordo de princípio entre EUA, Índia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, UE, França, Alemanha e Itália. No que diz respeito à Ucrânia, a declaração final denunciou o “uso da força” para conquista de territórios, mas não menciona a Rússia.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, abriu a cimeira do G20 atrás de uma placa onde o seu país foi identificado como “Bharat”, o sinal mais forte até à data de uma potencial mudança no nome oficial “Índia”, herdado do passado colonial. Índia e Bharat são os dois nomes oficiais do país segundo a sua Constituição, cujo artigo 1 começa: “Índia é Bharat”. O G20 reúne as 19 economias mais desenvolvidas ou emergentes e a União Europeia.

Homenagem a Gandhi

Os líderes do G20 foram ontem convidados a prestar homenagem, descalços, a Mahatma Gandhi, o herói da independência indiana, no memorial que lhe foi dedicado. Narendra Modi cumprimentou-os um a um em Raj Ghat, o local onde Gandhi foi cremado em Janeiro de 1948, um dia depois de ter sido assassinado por um ideólogo nacionalista hindu.

Cada um dos líderes inclinou a cabeça perante o primeiro-ministro indiano para que Modi lhe atasse uma estola de cor creme ao pescoço, segundo o relato da agência francesa AFP. O chefe do Governo esperava-os em frente a uma enorme fotografia a cores do ‘ashram’ de Sabarmati, o retiro espiritual onde Gandhi viveu durante muito tempo, situado no estado natal de Modi, Gujarat. O ‘ashram’ é um local que muitos líderes visitaram em viagens oficiais à Índia, como o norte-americano Donald Trump em 2020, ou o britânico Boris Johnson em 2022.

Os líderes do G20 foram então convidados a juntar-se a Modi em frente a uma placa de mármore preto, decorada com grinaldas de malmequeres laranja e amarelos.

Ali, uma chama eterna celebra a memória de Gandhi (1869-1948), o apóstolo indiano da não-violência. Após a interpretação de um hino hindu, todos guardaram um minuto de silêncio diante das coroas fúnebres enviadas por cada Estado. O memorial é um dos locais mais sagrados da capital indiana, onde mais de um milhão de pessoas seguiram os restos mortais de Gandhi após ter sido assassinado.

Alerta de Lula

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, alertou na cimeira do G20 para a “emergência climática sem precedentes” no mundo que põe em risco a segurança alimentar e energética. “A falta de compromisso com o ambiente está a conduzir a uma emergência climática sem precedentes”, afirmou Lula no início da reunião. “As secas, as inundações, as tempestades e os incêndios são cada vez mais frequentes e põem em risco a segurança alimentar e energética”, disse Lula, citado pela agência francesa AFP.

Cimeira no Brasil

A próxima cimeira do G20 irá realizar-se no Rio de Janeiro em 2024 e Lula da Silva alertou que se Vladimir Putin se deslocar ao país para o evento, não será detido. “Posso dizer que se eu for Presidente do Brasil e ele vier ao Brasil, não há nenhuma razão para ele ser preso”, disse citado pela agência francesa AFP. Lula da Silva garantiu, numa entrevista a uma televisão indiana, que Putin vai ser convidado para visitar o Rio de Janeiro. Putin é alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI) emitido em Março, por suspeita de crimes de guerra pela deportação de crianças ucranianas. Desde então, condicionou os destinos das suas viagens e falhou reuniões internacionais como a cimeira do G20. “Todos vão à cimeira dos BRICS, por isso, espero que venham à cimeira do G20 no Brasil. No Brasil, eles vão sentir um clima de paz”, afirmou Lula. “Gostamos de cuidar das pessoas. Por isso, acho que o Putin pode facilmente vir ao Brasil”, acrescentou.

11 Set 2023

G20 | Índia acolhe uma cimeira com divisões, sem Xi e Putin

Decorre entre amanhã e domingo, em Nova Deli, mais uma cimeira do G20, que não contará com a presença de Xi Jinping, nem Vladimir Putin. Analistas consideram que a ausência de Xi tem significado político e não surpreende, tendo em conta as tensões com a Índia em matéria de fronteiras

 

A Índia acolhe este fim-de-semana mais uma cimeira do G20 na qual o Presidente norte-americano, Joe Biden, tentará beneficiar da ausência dos homólogos chinês e russo para reforçar alianças dentro de um bloco fortemente dividido.

Na reunião de dois dias em Nova Deli, as fortes divergências sobre a guerra na Ucrânia, a eliminação progressiva das energias fósseis e a restruturação de dívida deverão dominar os debates e, provavelmente, impedir qualquer acordo do grupo, que agrega as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia (UE).

Joe Biden falará de “uma série de iniciativas conjuntas para enfrentar os problemas globais”, nomeadamente as alterações climáticas e “mitigar as consequências económicas e sociais da guerra travada pela Rússia na Ucrânia”, declarou o conselheiro para a Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

O Presidente chinês, Xi Jinping, não participará na cimeira, que decorre numa altura em que se exacerbam as tensões comerciais e geopolíticas com os Estados Unidos e a Índia, com a qual a China partilha uma longa fronteira de traçado contestado.

Pequim está também irritada com o facto de a Índia ser membro do Quad (Diálogo de Segurança Quadrilateral), uma parceria de segurança com a Austrália, o Japão e os Estados Unidos, que a China vê como uma iniciativa para combater a sua influência.

As autoridades chinesas não explicaram por que razão Xi não participará na cimeira, tendo-se limitado a confirmar que o primeiro-ministro, Li Qiang, se juntará aos dirigentes do G20, cujos países representam cerca de 85 por cento da economia mundial e das emissões de gases com efeito de estufa.

A ausência do Presidente chinês poderá afectar os esforços de Washington para que o G20 continue a ser o principal fórum de cooperação económica mundial.

“Sem a participação da China, existe o risco de algumas questões não verem a luz do dia ou de não se chegar a uma conclusão lógica”, considerou o professor de Ciência Política indiano Happymon Jacob, da Universidade Jawaharlal Nehru, declarações à agência Lusa.

Questão de prioridade

Ao HM, a académica Cátia Miriam Costa, do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), e habitual analista de assuntos relacionados com a China, entende que a ausência de Xi Jinping “tem um significado político que não está ancorado na questão das fronteiras, mas antes na demonstração de prioridades para a política externa chinesa”.

“Com esta postura, a China reafirma o seu maior interesse em fóruns como os BRICS em detrimento de outros que, agora, se apresentam como menos interessantes para o projecto da República Popular da China. Ao fazê-lo também evita temas incómodos na política internacional como o debate político sobre a guerra na Ucrânia ao mais alto nível”, adiantou.

Tiago André Lopes, docente na Universidade Portucalense, entende que a ausência do Presidente chinês “dificilmente é uma surpresa”, dado que, por um lado “a diplomacia entre Pequim e Nova Deli tem tido dificuldade em resolver o diferendo colocado pela normalização constitucional de Caxemira”.

Além disso, “a ausência do Presidente Putin permite à China sinalizar os seus parceiros diplomáticos e aliados mais salientes: a ausência solidária da cimeira dos G20 assinala uma frente diplomática entre Moscovo e Pequim que é cada vez mais interligada e que produziu o alargamento da Organização de Cooperação de Xangai e dos BRICS”.

Para Tiago André Lopes, Xi Jinping “continua, obviamente, a ter interesse na manutenção de canais de comunicação diplomática com o Ocidente, mas sinaliza as suas prioridades estratégicas de modo simbólico”. O docente relembra também que “o Presidente Putin cancelou a ida a Istambul, obrigando o Presidente da Turquia a ir até Sochi, mas, entretanto, agendou uma visita a Pequim”. São factos que “estão obviamente interligados”, considera.

Jorge Tavares da Silva, académico da Universidade de Aveiro, defende que a ausência de Xi “é uma demonstração de descontentamento com o evoluir tenso das relações com os Estados Unidos e com a Índia”, pois são dois países “com os quais Pequim tem uma enorme competição geopolítica, para além do conflito fronteiriço nos Himalaias”.

“A diplomacia chinesa usa muitas vezes o silêncio, a recusa de diálogos ou a ausência como factor de pressão sobre os seus parceiros. Lembro que no encontro de Shangri-La, em Maio, o ministro da defesa Li Shangfu recusou encontrar-se com o secretário da defesa norte-americano Lloyd Austin, obrigando a novos esforços da diplomacia americana para encontros posteriores. A China tem uma diplomacia mais defensiva”, frisou.

Lavrov presente

Outra sombra que paira sobre a cimeira é a guerra na Ucrânia, e o Presidente russo, Vladimir Putin, estará também ausente, substituído pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.

Putin é, desde Março, alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI), que o acusa de crimes de guerra pela deportação ilegal de crianças ucranianas. O Kremlin classificou tais acusações como “nulas e inválidas”. “Enquanto a Rússia não puser fim a esta guerra, não será possível haver ‘business as usual’ (que as coisas decorram com normalidade)”, considerou o porta-voz do Governo alemão, Wolfgang Buechner.

As crises globais com que o G20 se confronta são “muito mais difíceis, mais complicadas e mais preocupantes do que foram durante muito tempo”, sublinhou, por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, S. Jaishankar.

O reforço como potência

A Índia, que acaba de consolidar o seu estatuto de potência espacial, ao colocar uma nave espacial na Lua em Agosto, vê na sua presidência do G20 um momento de viragem que fará definitivamente do país um actor global de primeira ordem.

O primeiro-ministro, Narendra Modi, apresenta a Índia como o autoproclamado líder do “Sul global”, que quer ser uma ponte entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento e exerce pressão para que o bloco seja alargado à União Africana, tornando-se o “G21”. Modi está a tentar utilizar o G20 para reformar as instituições multilaterais, tais como a ONU, e dar mais peso aos países em desenvolvimento.

“A emergência da Índia enquanto a economia de mais rápido crescimento do mundo e a sua abordagem inclusiva são boas notícias para os países do Sul”, defendeu o antigo diplomata indiano Sujan Chinoy, director do Instituto Manohar Parrikar de Estudos e Análises de Defesa.

Mas os esforços do dirigente indiano para pressionar os homólogos do G20 a ultrapassarem as suas divergências e solucionarem os problemas globais mais importantes foram vãos nas reuniões ministeriais que precederam a cimeira.

Em Julho, os ministros da Energia do G20 não conseguiram chegar a acordo sobre um calendário para reduzir a utilização de combustíveis fósseis. E nem sequer falaram sobre o carvão, um combustível sujo que continua a ser uma fonte de energia essencial para a Índia e a China.

Estes dois países estão entre os maiores poluidores do planeta, mas afirmam que os países ocidentais, que começaram a poluir durante a Revolução Industrial, há dois séculos, devem assumir uma responsabilidade histórica muito maior na actual crise climática.

Qualquer esperança de consenso no G20 sobre a energia e o clima enfrenta também a resistência de países como a Arábia Saudita e a Rússia, que temem que uma transição em direcção ao abandono dos combustíveis fósseis fragilize as suas economias.

Acertar agulhas

Dezenas de milhares de agentes de segurança, incluindo francoatiradores de elite posicionados nos telhados de Nova Deli, forças especiais, tecnologia anti-‘drones’ (aeronaves não-tripuladas), limusinas blindadas e “homens-macaco” recrutados para manter afastados os macacos que proliferam na capital indiana são algumas das medidas de segurança adoptadas pelas autoridades para acolher a cimeira do G20.

Grande parte do centro da cidade foi fechada ao trânsito e as lojas obrigadas a encerrar. Foi também declarado feriado público, o que mergulhou no silêncio a habitualmente sobrelotada e ruidosa megalópole ultra-poluída de cerca de 30 milhões de habitantes.

Os bairros da lata ilegais foram destruídos, os sem-abrigo que viviam debaixo das pontes e ao longo das ruas foram transferidos para “albergues”, as fontes foram ligadas e os sinais de trânsito desbotados há anos receberam uma nova camada de tinta.

Cerca de 70.000 vasos de flores foram também distribuídos por toda a cidade. De acordo com o jornal “Times of India”, foram utilizados 35 camiões-cisterna para os regar. Foram ainda erigidas várias estátuas ao deus hindu Shiva, incluindo uma com 8,5 metros de altura, colocada à entrada do local da cimeira: o Bharat Mandapam, um centro de conferências recentemente renovado, perto do memorial Raj Ghat a Mahatma Gandhi, onde se espera que os líderes do G20 plantem árvores. Com Lusa

7 Set 2023

G20 | MNE chinês em reunião com homólogos norte-americano e russo

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China vai participar na reunião entre os chefes da diplomacia dos países do G20, que arranca na quinta-feira em Nova Deli, confirmou ontem o governo chinês.

Na reunião vão também estar presentes o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.

A participação dos chefes da diplomacia das três potências ocorre num período de fortes tensões geopolíticas suscitadas pela guerra na Ucrânia e pelo deteriorar da relação entre Pequim e Washington.

“A convite do ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, vai participar na reunião entre os ministros dos países membros do G20, em Nova Deli”, confirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em conferência de imprensa.

Segundo Mao, Pequim vai encorajar o G20 a “enfrentar os desafios pendentes” na economia global e está disposta a “trabalhar com todas as partes” para “enviar um sinal positivo sobre o multilateralismo”.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, cancelou, no início de Fevereiro, a viagem que tinha planeado à China, após a descoberta de um balão de espionagem da China no espaço aéreo norte-americano, não tendo agendado qualquer encontro bilateral com Gang, embora vá manifestar a sua preocupação, no encontro com Jaishankar, por este incidente, e pelos empréstimos de Pequim a países na órbita da Índia.

“Tivemos conversas sérias com a China, tanto antes do último escândalo do balão de vigilância, quanto depois. Portanto, espero que essas conversas continuem”, disse o secretário de Estado assistente dos EUA para assuntos da Ásia do Sul e Central, Donald Lu, na semana passada.

Guerra e desenvolvimento

O homólogo russo, Serguei Lavrov, também anunciou que pretende encontrar-se com Wang à margem da reunião.

Face à pressão dos países ocidentais sobre a guerra na Ucrânia, cujo primeiro aniversário coincidiu na semana passada com a reunião entre os ministros das finanças do G20, na cidade indiana de Bangalore, Pequim mostrou o seu apoio a Moscovo e a reunião terminou sem um acordo conjunto.

A Índia, país anfitrião do G20, multiplicou as suas compras de petróleo russo após o início do conflito e tem insistido na necessidade de resolver a guerra na Ucrânia por meio do diálogo. Nova Deli é uma aliada histórica da Rússia, mas goza crescente aceitação do Ocidente, em oposição à vizinha China.

A reunião entre os chefes da diplomacia começa oficialmente esta quarta-feira, com a chegada dos ministros dos Negócios Estrangeiros à capital indiana, mas as principais reuniões estão marcadas para quinta-feira, com uma agenda centrada no multilateralismo, cooperação para o desenvolvimento e segurança alimentar e energética.

1 Mar 2023

G20 | Xi Jinping faz repreensão pública Justin Trudeau

Sem contemplações, e num gesto pouco vulgar, o Presidente chinês confrontou publicamente o primeiro-ministro canadiano, acusando-o de divulgar e deturpar conversas privadas

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, repreendeu na quarta-feira o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em frente às câmaras, na cimeira do G20, numa contenda pública incomum, que pode complicar ainda mais as relações bilaterais.

“Ir contar aos jornais sobre aquilo que falamos não é apropriado”, disse Xi a Justin Trudeau, de acordo com um vídeo registado pelos jornalistas em Bali, na Indonésia.

Xi referia-se a informações difundidas pela imprensa, sobre uma conversa entre os dois. Órgãos de comunicação canadianos e internacionais, que citaram pessoas familiarizadas com o encontro, relataram que o primeiro-ministro canadiano expressou preocupações com a alegada interferência chinesa nas eleições do seu país.

“Além disso, não foi assim que a conversa se realizou”, acrescentou Xi, acusando Trudeau de falta de sinceridade.
As observações de Xi foram traduzidas para o inglês por um intérprete. “Se houver sinceridade [da sua parte], então devemos ter uma discussão baseada no respeito mútuo. Se não houver, é difícil esperar mais”, afirmou o líder chinês.

O Presidente chinês aparentemente tenta despedir-se do primeiro-ministro canadiano, mas este responde. “No Canadá, acreditamos no diálogo livre, aberto e franco, e é isso que continuaremos a fazer”, disse Justin Trudeau, em inglês. “Vamos continuar a procurar trabalhar juntos de forma construtiva, mas vão haver coisas sobre as quais não concordamos”, acrescentou.

Xi Jinping pôs então fim à conversa, afirmando por duas vezes: “Cabe a si criar as condições [necessárias para melhorar as relações]”. Questionada ontem sobre o incidente, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China Mao Ning minimizou o caso.

“O vídeo (…) contém uma breve conversa entre os líderes dos dois países, durante a cimeira do G20. Isso é algo normal”, apontou. “Não acho que deva ser interpretado como uma crítica ou repreensão a alguém por parte do Presidente Xi”, acrescentou.

Encontro amargo

A reunião de terça-feira entre Xi Jinping e Justin Trudeau foi o primeiro diálogo cara a cara entre os dois líderes desde 2019.

A polícia federal canadiana indicou, na quinta-feira passada, que estava a investigar a alegada criação ilegal de “esquadras” pela China no Canadá, para controlar em particular chineses exilados ou a residir no país.

Justin Turdeau também disse, na semana passada, que a China estava a conduzir “jogos agressivos”, depois de a emissora canadiana Global News ter avançado informações sobre a interferência chinesa no processo eleitoral do Canadá.

As relações entre Pequim e Otava deterioraram-se acentuadamente nos últimos anos, sobretudo depois da detenção, em 2018, pelo Canadá, a pedido dos Estados Unidos, da directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei.

18 Nov 2022

Xi Jinping avisa Biden que Taiwan é “linha vermelha”

O Presidente chinês, Xi Jinping, avisou o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, para não “cruzar a linha vermelha” em Taiwan, durante o encontro bilateral que mantiveram na Indonésia, anunciou a diplomacia chinesa.

“A questão de Taiwan está no centro dos interesses centrais da China, a base da fundação política das relações sino-americanas, e é a primeira linha vermelha a não ser atravessada nas relações sino-americanas”, disse Xi a Biden, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

“A resolução da questão de Taiwan é da competência dos chineses”, advertiu o líder chinês, citado pela agência francesa AFP. Os dois presidentes estiveram reunidos durante mais de três horas na ilha indonésia de Bali, à margem da cimeira do G20, o grupo das economias mais desenvolvidas e emergentes.

Xi disse que “é a aspiração comum do povo chinês de alcançar a reunificação nacional e salvaguardar a sua integridade territorial”. “Qualquer pessoa que procure separar Taiwan da China estará a violar os interesses fundamentais da China e o povo chinês nunca o permitirá. Esperamos ver paz e estabilidade no Estreito de Taiwan, mas a paz e a ‘independência’ de Taiwan são irreconciliáveis”, avisou.

O líder chinês disse esperar que Washington “honre a sua palavra” e “respeite a política de uma só China e os três comunicados conjuntos assinados” pelas duas partes. “São a base das relações entre os nossos dois países”, insistiu.

Xi recordou que Biden comentou “em numerosas ocasiões” que os Estados Unidos “não apoiam a independência da ilha” e não têm intenção de “utilizar Taiwan como instrumento para ganhar vantagem na sua concorrência com a China ou para conter a China”. “Esperamos que os Estados Unidos cumpram as suas promessas e ponham realmente tudo isto em prática”, acrescentou.

A presidência norte-americana disse que, no encontro, Biden criticou as “acções coercitivas e cada vez mais agressivas” da China em relação a Taiwan. “Não creio que haja uma tentativa iminente da China de invadir Taiwan”, disse Biden, no entanto, na conferência de imprensa que deu em Bali após a reunião com Xi.

As tensões entre Pequim e Washington agravaram-se em Agosto, na sequência de uma viagem provocatória à ilha pela presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi. A China respondeu à visita com os maiores exercícios militares em redor da ilha em décadas e com sanções comerciais contra Taipé. Os Estados Unidos são o principal fornecedor de armas de Taiwan e têm declarado que estarão do lado de Taipé em caso de um conflito militar com a China.

Ucrânia: Nuclear, não obrigado

Esclarecido este assunto, Xi Jinping, reiterou ao seu homólogo norte-americano que a China está “muito preocupada” com a guerra na Ucrânia e que Kiev e Moscovo devem retomar as negociações. “Apoiamos e aguardamos com expectativa o reinício das conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia”, disse Xi.  A China também espera que os Estados Unidos, a União Europeia e a NATO “conduzam diálogos abrangentes com a Rússia”.
Xi disse a Biden que “conflitos e guerras não produzem nenhum vencedor” e defendeu que “não existe uma solução simples para uma questão complexa”. Xi e Biden concordaram em rejeitar a utilização de armas nucleares na guerra na Ucrânia.

Xi também disse a Biden que o mundo é suficientemente grande para que ambos os países se possam desenvolver e prosperar. “Nas actuais circunstâncias, a China e os Estados Unidos partilham mais, e não menos, interesses comuns”, disse. A China não procura desafiar os Estados Unidos ou “alterar a ordem internacional existente”, disse também, apelando para que ambas as partes se respeitem mutuamente.

Não há “democracias perfeitas”

Xi defendeu ainda que “nenhum país tem um sistema democrático perfeito” e que as diferenças específicas entre os dois lados podem ser discutidas, “mas apenas na condição prévia da igualdade”. “A chamada narrativa ‘democracia versus autoritarismo’ não é a característica que define o mundo de hoje, muito menos representa a tendência dos tempos”, afirmou.

No seu comunicado, a Casa Branca disse que Biden falou sobre a situação dos direitos humanos na China e, em particular, as acções de Pequim na região ocidental de Xinjiang, em Hong Kong e no Tibete.

Sobre a Coreia do Norte, Biden transmitiu as suas preocupações sobre o comportamento do regime de Kim Jong-un, que intensificou o lançamento de mísseis e pode estar a preparar-se para realizar o seu primeiro ensaio nuclear desde 2017. Disse “ao Presidente Xi que penso que eles têm a obrigação de deixar claro à Coreia do Norte que não devem realizar testes nucleares”, revelou Biden após a reunião.

Xi avisou Biden de que iniciar uma guerra comercial e tecnológica, procurando a desvinculação económica ou o corte das cadeias de abastecimento, “não serve os interesses de ninguém”. A Casa Branca apenas aludiu às práticas chinesas que vão contra a economia de mercado e não fez qualquer menção às tarifas que o ex-presidente Donald Trump (2017-2021) impôs às importações chinesas e que Biden manteve. Também não abordou as novas restrições que Washington colocou à venda de ‘microchips’ chineses.

16 Nov 2022

G20| Líderes defendem acesso universal a vacinas e ajuda à OMS

Vários líderes mundiais reiteraram neste fim-de-semana a defesa de um sistema que garanta o acesso universal às vacinas contra a covid-19, durante a cimeira do G20. Além disso, foi pedido a atribuição, pelas principais 20 economias mundiais, de uma ajuda de 4,5 mil milhões de dólares à Organização Mundial de Saúde, de forma a reforçar a resposta à pandemia

 

[dropcap]R[/dropcap]ealizou-se este fim-de-semana a cimeira anual de 2020 do G20, que reuniu líderes de 19 países que representam cerca de 90 por cento do PIB mundial, a União Europeia e governadores de bancos centrais. A Arábia Saudita foi a anfitriã da cimeira deste ano, que decorreu por videoconferência, formato que se tornou norma desde a explosão global da pandemia da covid-19, que foi, como seria de esperar, o principal foco das conversações.

Um dos assuntos que dominou as conversações no sábado foi o acesso global à, muito aguardada, vacina para o novo tipo de coronavírus.

“Temos de garantir o acesso à escala planetária e evitar a todo o custo o cenário de um mundo a duas velocidades”, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, numa intervenção pré-gravada num evento paralelo da primeira reunião dos chefes de Estado e de Governo do G20.

Apesar de enaltecer o COVAX, o instrumento internacional lançado para assegurar o acesso justo e equitativo às vacinas em desenvolvimento para a covid-19, Macron vincou que “são necessárias mais contribuições” e propôs a criação de um mecanismo para doações destes fármacos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.

Por sua vez, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, considerou que, “para superar a pandemia, cada país tem de ter acesso à vacina”, alertando que os fundos angariados até agora no âmbito do sistema COVAX “não são suficientes para alcançar este objectivo” e apelando ao apoio dos restantes líderes dos países presentes na cimeira.

Também o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, defendeu que o acesso aos tratamentos e às vacinas deve ser um direito de todas as populações. “Para Itália, estes são bens públicos para todos e não o privilégio de uns poucos”, disse, sendo secundado pelo chefe de Governo do Reino Unido, Boris Johnson, que sublinhou o compromisso do país no acesso universal às vacinas e no apoio ao sistema COVAX.

Já o Presidente argentino, Alberto Fernández, afirmou que “a cooperação e a solidariedade são os dois elementos-chave na luta contra a pandemia” e que a distribuição equitativa das vacinas “é uma tarefa colectiva para a comunidade internacional que exige a assinatura de um grande pacto de solidariedade global”.

De Madrid, a convite

Na mesma linha, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, enviou uma mensagem gravada para o evento, na qual referiu que “a cooperação no seio do G20 é fundamental para ultrapassar a pandemia e regressar ao caminho da recuperação social e económica”. Acto contínuo, fez questão de dizer que o tempo lhe deu razão, quando afirmou que era preciso “cuidar da saúde do povo e da economia ao mesmo tempo” face à emergência do novo coronavírus.

“Devemos oferecer as vacinas que estão a ser desenvolvidas como património comum da humanidade, em vez de aprofundar as injustiças existentes”, declarou o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, durante o seu discurso na reunião virtual de líderes, em que advogou a urgência de mecanismos de garantia de “equidade e preços adequados” para as vacinas.

Com estatuto de convidada permanente, Espanha fez-se representar pelo presidente do Governo, Pedro Sánchez, que lembrou aos outros chefes de Estado e de Governo que “não estaremos a salvo até que todos estejam a salvo”.

Por outro lado, não foi possível ouvir o Presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump, uma vez que o discurso não foi aberto à comunicação social. Segundo a EFE, Trump fez uma breve aparição no início da cimeira virtual do G20 e depois foi jogar golfe, enquanto os seus homólogos de outros países discutiram medidas contra a pandemia.

Abrir cordões à bolsa

Foi igualmente debatida a hipótese de atribuir uma ajuda de 4,5 mil milhões de dólares à Organização Mundial de Saúde (OMS), de forma a reforçar a resposta à pandemia.

O apelo consta numa carta, a que a agência France-Presse (AFP) teve acesso, assinada pela primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, pelo director da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A missiva foca em particular a lacuna de 4,5 mil milhões de dólares que existe actualmente nos fundos da OMS, nomeadamente para responder às necessidades associadas à distribuição das futuras vacinas contra a doença covid-19. “Um compromisso dos líderes do G20 de financiar de forma substancial o défice actual de 4,5 mil milhões de dólares do (mecanismo) ‘ACT-Accelerator’ salvará vidas instantaneamente”, referiu a missiva.

O “ACT Accelerator” é uma aliança global liderada pela OMS e parceiros para a produção de forma global e equitativa de diagnósticos, terapêuticas e vacinas. O objectivo passa por assegurar que os países mais desenvolvidos não monopolizem estas vertentes. A rede COVAX é o pilar destinado a garantir o acesso universal a uma vacina contra a covid-19.

Tal compromisso do G20 “permitirá uma estratégia para sair da crise”, acrescentaram os signatários da carta dirigida ao anfitrião da cimeira do G20, o rei saudita Salman bin Abdulaziz Al Saud.

Corrida contra-relógio

“Os recentes avanços nas vacinas contra a covid-19 oferecem esperança”, mas estas devem “chegar a todos”, “o que significa que as vacinas devem ser tratadas como um bem público”, “acessível a todos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em declarações aos ‘media’ em Nova Iorque.

“Esta é a única maneira de travar a pandemia” e “a solidariedade é sobrevivência”, reforçou.
Durante sete meses, foram investidos 10 mil milhões de dólares no desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e terapêuticas. “Mas há um défice de 28 mil milhões de dólares, dos quais 4,2 mil milhões de dólares serão necessário antes do final do ano”, enumerou Guterres.

“Estes fundos são fundamentais para a industrialização, o transporte e o fornecimento de vacinas contra a covid-19″ e os “países do G20 têm os meios” para os financiar, argumentou o secretário-geral da ONU.

Na terça-feira passada foi igualmente divulgada uma carta assinada por Guterres dirigida aos líderes do G20.
Na missiva, o secretário-geral da ONU apelava aos dirigentes do G20 para demonstrarem audácia e ambição nas medidas relacionadas com a pandemia. “O G20 sabe que será necessária uma nova redução da dívida. O grupo deve agora demonstrar uma maior ambição e propor medidas mais audaciosas para permitir aos países em desenvolvimento enfrentarem a crise de forma eficaz e evitar que a recessão mundial se transforme em depressão mundial”, sublinhou na missiva.

Noutro planeta

A participação de Donald Trump na cimeira do G20 limitou-se a um discurso gravado, antes de se retirar para mais um dia de golfe. Ao contrário de ter aproveitado a ocasião para se despedir dos seus congéneres, na sequência da derrota nas eleições presidenciais, Trump insistiu que vai manter a Casa Branca. De acordo com o Observer, que teve acesso ao áudio da intervenção, Donald Trump afirmou: “Tem sido uma grande honra trabalhar convosco, estou ansioso para continuar durante muito tempo”.

De seguida, o ainda Presidente norte-americano passou a gabar a economia e o poder militar dos Estados Unidos, repetindo a teoria falsa de que a sua Administração seria responsável pelas duas primeiras vacinas contra a covid-19, quando a vacina que está a ser desenvolvida pela Pfizer não foi subsidiada pelo Governo.

Num claro contraste com os discursos dos restantes líderes, focados na resposta global à pandemia, Donald Trump mostrou-se desinteressado da cimeira, aliás, não participou no evento “Pandemic Preparedness”, no dia em que os Estados Unidos baterem o recorde de infecções diárias, com 195.500 novos diagnósticos.

Aliás, depois de gravar o discurso, marcado pela tónica unilateral, o Presidente publicou no Twitter mensagens sobre as eleições presidenciais e abandonou a Casa Branca para ir jogar golfe.

22 Nov 2020

Cimeira do G20 termina com apoio ao comércio livre e crescimento económico

[dropcap]O[/dropcap]s países do G20 concluíram no sábado a cimeira daquele grupo com uma declaração de apoio “aos fundamentos do livre comércio” e ao “crescimento económico”, com as tensões globais como pano de fundo, segundo o Japão, que recebeu a reunião.

Os líderes do G20 “concordaram na sua determinação em favorecer o crescimento económico” e mostraram “ansiedade e descontentamento no contexto da globalização” e pelo “sistema comercial global”, afirmou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, numa conferência de imprensa no final da reunião de dois dias. O grupo “foi capaz de reafirmar os fundamentos do livre comércio”, segundo Abe, que sublinhou em particular o apoio do G20 a “alcançar mercados abertos, livres e não discriminatórios” e “um terreno de jogo justo”.

“É difícil encontrar uma solução para tantos desafios globais de uma só vez, mas conseguimos mostrar uma vontade comum em muitas áreas”, afirmou o primeiro-ministro nipónico.

Os mandatários também reconheceram os “claros riscos da desaceleração da economia global”, segundo Abe, adiantando que os países do G20 “estiveram de acordo na sua determinação em favorecer o crescimento económico” e “reformar a Organização Mundial do Comércio (OMC)”.

O comunicado final acordado pelos líderes do G20 sublinha “a intensificação das tensões geopolíticas e comerciais”, mas no texto não se inclui qualquer menção ao auge do proteccionismo, no actual contexto de conflitos comerciais entre os Estados unidos e a China e outros países.

“O crescimento global parece estar a estabilizar-se, e em geral espera-se um crescimento moderado mais à frente este ano e em 2020”, sublinha a declaração conjunta do G20, que também se compromete a “enfrentar os riscos” derivados das tensões anteriormente mencionadas e a “empreender mais acções” se for necessário.

Entretanto, 19 dos 20 membros do G20 – sem os Estados Unidos – reafirmaram em Osaka o compromisso da “implementação completa” do acordo assinado em 2015 em Paris sobre a luta contra o aquecimento global. Os signatários concordam na “irreversibilidade” deste acordo, numa declaração final redigida em termos similares aos publicados no final do G20 no ano passado mas obtido com dificuldade devido à oposição de Washington.

1 Jul 2019

G20 | Holofotes apontados a Trump e Xi no 1.º aniversário da guerra comercial

O encontro bilateral entre os líderes da China e Estados Unidos marcará a cimeira do G20, numa altura em que se cumpre um ano desde o início de disputas comerciais que ameaçam a economia mundial

 

[dropcap]X[/dropcap]i Jinping e Donald Trump vão reunir em Osaka, no Japão, para tentar pôr fim à guerra comercial, num momento de impasse, após as negociações terem sido subitamente interrompidas, em Maio passado, quando após 11 rondas de diálogo o Presidente norte-americano subiu as taxas sobre cerca de 200.000 milhões de produtos importados da China.

Washington acusou então Pequim de retroceder em compromissos anteriormente alcançados, enquanto a China acusou a delegação norte-americana de não respeitar a soberania e a dignidade do país e de fazer exigências inaceitáveis.

Desde o Verão passado, os Governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados um do outro.

Esta semana, o vice-ministro do Comércio chinês, Wang Shouwen, recordou que a China exige “respeito mútuo” e pelas regras da Organização Mundial do Comércio, nas negociações com Washington. “O compromisso deve ser dos dois lados”, realçou.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, garantiu que um acordo comercial entre a China e os Estados Unidos está “90 por cento concluído”. “A mensagem que queremos ouvir é que eles querem voltar à mesa e continuar a negociar, porque acho que há um bom resultado para a economia chinesa e a economia dos EUA, com um comércio equilibrado e a continuar a construir esse relacionamento”, afirmou, citado pela imprensa norte-americana.

Conquistar o futuro

Em causa estão os planos de Pequim para o sector tecnológico, que visam transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideraram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

Washington impôs já taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e ameaça taxar mais 300 mil milhões.

Trump colocou ainda a gigante chinesa das telecomunicações Huawei na “lista negra”, que restringe as empresas dos EUA de fornecer ‘chips’, semicondutores, ‘software’ e outros componentes, sem a aprovação do Governo. Pequim ameaçou suspender a exportação para os EUA de terras raras, os minerais essenciais para o fabrico de produtos electrónicos.

Para durar

Analistas prevêem que, apesar da possibilidade de um acordo, a rivalidade entre a China e os Estados Unidos será duradoura, numa altura em que Xi legitima o seu novo estatuto como Presidente vitalício com a projecção do país além-fronteiras.

Xi anunciou já o início de uma “nova era” e reforçou o poder interno ao abolir o limite de mandatos para o seu cargo, com o objectivo final de firmar a posição da China como grande potência, até meados deste século.

Washington passou a considerar o país asiático como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que ameaça bipolarizar o cenário internacional.

Yu Yongding, economista-chefe da Academia Chinesa de Ciências Sociais, uma influente unidade de investigação próxima do Governo chinês, lembrou ontem que a rivalidade terminará apenas quando um novo equilíbrio for alcançado. “Eu talvez não veja o dia [em que essa rivalidade termine], pois já tenho 70 anos”, afirmou Yu, citado pela imprensa chinesa.

À guerra comercial poderá seguir-se uma “guerra de investimentos”, uma “guerra financeira” ou uma “guerra cambial”, e até mesmo “medidas de guerra quase quente”, como embargo de petróleo e o congelamento de activos chineses, previu Yu.

A marinha norte-americana tem reforçado as patrulhas no Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos, enquanto Washington tem reforçado os laços com Taiwan, que se assume como uma entidade política soberana, contra a vontade de Pequim, que ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência.

Referências a uma nova Guerra Fria são agora comuns entre funcionários chineses e norte-americanos. “Podemos certamente pensar em várias frentes de batalha: no comércio, informática, defesa (Mar do Sul da China) ou tecnologia (5G). Mas isto é uma guerra entre uma superpotência mundial em declínio (os EUA) e uma em ascensão (a China)”, considerou Timothy Ash, estrategista na BlueBay, empresa gestora de activos.

28 Jun 2019

G20 | Washington e Pequim suspendem guerra comercial por 90 dias

Donald Trump e Xi Jinping encontraram-se durante a cimeira do G20 na Argentina e chegaram a acordo para suspender as hostilidades comerciais por três meses. Para já, Pequim compromete-se a comprar um grande volume de mercadorias para contrariar o desequilíbrio comercial entre as duas nações

 

[dropcap]O[/dropcap]s Presidentes dos Estados Unidos e da China estabeleceram uma trégua comercial, que vai adiar por 90 dias o aumento das taxas alfandegárias norte-americanas impostas sobre importações chinesas, anunciou, no sábado, a Casa Branca.

Washington tinha afirmado que a subida das taxas de 10% para 25% ia entrar em vigor a 1 de Janeiro próximo.

Donald Trump e Xi Jinping chegaram a acordo durante um jantar, no final da cimeira do G20, que decorreu entre sexta-feira e sábado, em Buenos Aires.

Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, indicou que o objectivo é permitir a continuação das negociações comerciais e os dois países vão iniciar “de imediato negociações sobre mudanças estruturais” em relação à protecção da propriedade intelectual, cibercrime e outras prioridades norte-americanas.

A Casa Branca acrescentou que se os dois lados não chegarem a acordo no prazo de 90 dias, então o aumento das taxas alfandegárias será aplicado.

Tudo em aberto

Donald Trump saudou uma “reunião produtiva que abriu possibilidades ilimitadas para a China e os Estados Unidos”, enquanto Wang Yi considerou que este acordo é uma vitória para os dois lados, no final de uma cimeira do G20 sob alta tensão na Argentina.

Washington referiu ainda que Pequim se comprometeu a comprar uma quantidade “ainda por definir, mas muito significativa” de produtos norte-americanos para reduzir o enorme desequilíbrio comercial entre os dois países.

Em particular, a China vai começar a comprar “de imediato” produtos agrícolas norte-americanos, garantiu.
A Casa Branca indicou ainda que Xi comprometeu-se a designar o fentanil como “substância controlada” na China e a impor pesadas penas a quem comercializar este forte analgésico, que está relacionado com o aumento das mortes por ‘overdose’ de opiáceos nos Estados Unidos.

Revisão global

A administração norte-americana tinha anunciado que as taxas alfandegárias sobre importações chineses no valor de 200 mil milhões de dólares iam aumentar de 10% para 25% no início do próximo ano e Trump estava a considerar alargar o número de bens chineses que iriam sofrer esse aumento.

Entre sexta-feira e sábado, os líderes das 20 principais economias do mundo e dos países emergentes debateram, em Buenos Aires, os temas mais relevantes da agenda global, num momento de fortes tensões comerciais entre os Estados Unidos e potências como a China e União Europeia, e por conflitos político-diplomáticos cruciais, em particular o que opõe a Rússia à Ucrânia.

3 Dez 2018

G20 | Donald Trump e Xi jinping debatem disputas comerciais

[dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, vai ter esta semana oportunidade de se colocar à prova como negociador, quando reunir com o homólogo chinês, Xi Jinping, para debater uma guerra comercial que ameaça a economia mundial.

Trump, que diz ser um “grande negociador”, vai reunir com Xi, durante a cimeira do G20, que se realiza em Buenos Aires, sexta-feira e sábado.

Caso os dois líderes não estabeleçam tréguas, as disputas comerciais deverão intensificar-se: as taxas alfandegárias que Trump impôs sobre quase metade das importações oriundas da China estão configuradas para aumentarem de 10 por cento para 25 por cento, no início de 2019. Pequim deverá retaliar.

Os analistas duvidam de um acordo final, que termine de vez com a guerra comercial. No entanto, os mais optimistas esperam que os dois lados concordem com uma espécie de “cessar-fogo”, que permita manter o diálogo e adiar o agravar das disputas.

Mas numa entrevista publicada terça-feira pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, Trump disse ser “altamente improvável” que a Casa Branca venha a aceitar o pedido de Pequim, de suspender o agravamento das taxas alfandegárias.

Trump voltou ainda a ameaçar com a possibilidade de alargar as taxas alfandegárias a todos os produtos importados da China.

O Presidente norte-americano mostrou-se confiante: “Estou muito bem preparado. Não é como se precisasse de me sentar e estudar. Eu sei o que estou a fazer. Sei melhor do que qualquer outra pessoa. E a minha intuição sempre esteve certa”.

Wendy Cutler, vice-presidente do Instituto de Estudos Asiáticos e antigo funcionário norte-americano para o Comércio, que negociou com a China, considerou que as “expectativas”, para o encontro no G20, “são muito baixas”.

“Vai ser uma negociação muito difícil. Os assuntos em questão não são de solução fácil”, disse.
Trump impôs já taxas alfandegárias sobre 250 mil milhões de dólares de importações oriundas da China. Pequim retaliou com taxas sobre bens norte-americanos.

Washington justificou a decisão com tácticas “predatórias” por parte de Pequim, na sua ambição em competir em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável ou robótica, visando quebrar com o domínio industrial norte-americano.

A Casa Branca alega que Pequim força a transferência de tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês, ou usurpa segredos comerciais às empresas norte-americanas.

Pequim nega as acusações e afirma que as sanções de Trump visam apenas conter a ascensão do país.
As disputas levaram já a quedas nas praças financeiras em todo o mundo, sobretudo na China, onde a bolsa de Xangai recuou mais de 20 por cento, desde que o início das disputas, este Verão.

Divisões internas

Na semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) reviu em baixa a previsão do crescimento da economia mundial de 3,7 por cento para 3,5 por cento, citando as disputas comerciais como um dos principais motivos.

Grupos empresariais norte-americanos têm apelado ao Governo para que chegue a um acordo com a China, mas o panorama actual é pouco encorajador.

Na semana passada, o representante do Comércio norte-americano, Robert Lighthizer, afirmou que os esforços da China para usurpar segredos comerciais de firmas norte-americanas “aumentaram em frequência e sofisticação”.

“A China, fundamentalmente, não alterou as suas acções, políticas e práticas, relativas à transferência de tecnologia, propriedade intelectual e inovação, e parece mesmo que adoptou outras medidas irracionais, nos últimos meses”, afirmou, num relatório.

Mas a Casa Branca parece também dividida entre defensores de uma política mais agressiva face à China, como o conselheiro para o comércio Peter Navarro, e defensores do comércio livre, como o conselheiro máximo para a política económica, Larry Kudlow.

No início deste mês, Navarro afirmou num discurso que Trump não se interessa sobre o que Wall Street pensa sobre a sua política de confronto com a China.

Mas quatro dias depois, Kudlow considerou os comentários de Navarro “infundados”. “Não foram autorizados por ninguém”, disse Kudlow. “Penso mesmo que ele fez um mau serviço ao Presidente”, afirmou.

29 Nov 2018

Trump vai reunir-se com líderes da Rússia e China na cimeira do G20

[dropcap]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos da América vai ter reuniões bilaterais com vários líderes na cimeira do G20, que decorre na sexta-feira e no sábado na Argentina, incluindo os seus homólogos da Rússia e da China, foi ontem anunciado.

“O Presidente e a delegação [dos EUA] vão interagir com vários dirigentes, incluindo reuniões bilaterais com o Presidente da Argentina, o Presidente da Rússia, o primeiro-ministro japonês e a chanceler da Alemanha, e um jantar de trabalho com o Presidente chinês”, disse Sarah Sanders, porta-voz do executivo norte-americano.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, também irá reunir-se com os líderes da Turquia, Índia e Coreia do Sul, segundo afirmou John Bolton, conselheiro da Segurança Nacional.

Questionado se estava previsto um encontro entre Donald Trump e o príncipe saudita Mohammed bin Salman na cimeira do G20, John Bolton respondeu negativamente, explicando que o programa de reuniões bilaterais “já está completo”.

Apesar das declarações de Bolton, Sarah Sanders não descartou a hipótese de uma reunião informal com os sauditas. A reunião do grupo das 20 principais economias do mundo realiza-se em Buenos Aires.

28 Nov 2018

Cimeira G20: Xi Jinping e Emmanuel Macron concordam em promover a cooperação

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping e o seu homólogo francês Emmanuel Macron concordaram sábado, em Hamburgo, promover as relações bilaterais e a cooperação. “O lado chinês está disposto a fazer esforços conjuntos com o lado francês para continuar a ver as relações bilaterais de um modo estratégico e uma perspectiva de longo prazo, e a trabalhar para um melhor desenvolvimento de nossos laços”, disse Xi durante uma reunião com Macron no âmbito da anual cimeira das principais economias do Grupo dos Vinte (G20) em Hamburgo, Alemanha.

“A confiança mútua política, espírito pioneiro e inovador e a cooperação internacional frutífera têm sido as características destacadas da relação China-França”, acrescentou Xi. “Tanto a China como a França são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que procuram uma política externa independente, salvaguardam a ordem internacional com os propósitos e princípios da Carta da ONU no seu centro, e defendem intercâmbios e aprendizagem mútua entre civilizações diferentes. A relação China-França torna-se todos os dias mais estratégica na actual situação. É nossa responsabilidade histórica compartilhada manter e promover a parceria estratégica China-França”, concluiu o presidente.

Xi propôs ainda que os dois países aumentem os contactos de alto nível e levem em consideração os interesses essenciais e principais preocupações de cada um com base nos princípios de respeito mútuo, confiança, entendimento e acomodação. Os dois países devem encaixar suas estratégias de desenvolvimento, disse.

Xi pediu aos dois lados que aprofundem a cooperação em energia nuclear, tecnologia espacial e outras áreas tradicionais, enquanto exploram a cooperação em novas áreas como produtos agrícolas, finanças e desenvolvimento sustentável, procurando ampliar ainda mais a “cesta” dos seus interesses comuns. O presidente também sugeriu que os dois países promovam comunicação e coordenação em assuntos internacionais e regionais, e procurem em conjuntos soluções pacíficas para os assuntos mundiais e regionais.

Relações saudáveis

Sobre as relações da China com a União Europeia (UE), Xi disse que a China está pronta para desenvolver uma relação de cooperação a longo prazo e estável com o bloco, e espera que a França continue a desempenhar um papel dirigente a este respeito e faça contribua mais para o comércio e investimento bidirecional China-UE. Procurar um caminho de desenvolvimento ecológico, de baixo carbono e sustentável, defendido no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, mantém-se em conformidade com a filosofia da China de promover progresso ecológico e o mais recente conceito de desenvolvimento do país. “A China cumprirá seriamente com suas devidas obrigações no acordo de acordo com seus próprios requisitos para o desenvolvimento sustentável”, acrescentou.

Concordando com as observações de Xi sobre os laços bilaterais, Macron disse que os dois países desfrutam de uma longa história de amizade e elogiou o relacionamento bilateral como o melhor na história. O lado francês “valoriza altamente a parceria estratégica abrangente França-China e considera a China como um importante parceiro de cooperação e uma importante força nos assuntos internacionais”, disse Macron.

O presidente francês acrescentou que está disposto a promover a cooperação com a China numa ampla variedade de áreas, incluindo economia e comércio, investimento, energia nuclear, produção de automóveis e alimentos.

“A França e a China compartilham posições semelhantes sobre as principais questões internacionais, e os dois países devem reforçar a comunicação e a coordenação dentro de tais marcos multilaterais como as Nações Unidas, para promover juntos a paz e a prosperidade mundiais”, concluiu Macron.

10 Jul 2017

Cimeira G20: Questão climática isola Donald Trump

À medida que os EUA vão perdendo protagonismo na cena mundial, às mãos do seu presidente, Xi Jinping foi talvez a figura central da cimeira, tendo-se desdobrado em contactos com diversos líderes.

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]íderes das principais economias do mundo romperam com o presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a política climática na cimeira do G20 no sábado, numa rara admissão pública de desacordo e um golpe na cooperação mundial. A chanceler alemã Angela Merkel conquistou seu objectivo principal na reunião em Hamburgo, convencendo os demais líderes a apoiar um comunicado único com promessas sobre comércio, finanças, energia e África.

No entanto, a divisão entre Trump e os demais 19 membros do grupo, incluindo países tão diversos como Japão, Arábia Saudita e Argentina, foi dura. “No final, as negociações sobre o clima reflectem a dissidência – todos contra os Estados Unidos da América”, disse Merkel a repórteres no fim da reunião. “E o facto de que as negociações sobre comércio foram extraordinariamente difíceis é devido a posições específicas tomadas pelos Estados Unidos”. No comunicado final, os outros 19 líderes tomaram nota da decisão dos EUA de retirar-se do acordo climático de Paris, declarando-a “irreversível”.

Por seu lado, os EUA tomaram uma atitude confrontacional dizendo que o país “se esforçaria para trabalhar em estreita colaboração com outros países para ajudá-los a ter acesso e usar combustíveis fósseis de forma mais limpa e eficiente”. Sobre o comércio, outro ponto delicado, os líderes concordaram que iriam “combater o proteccionismo, incluindo todas as práticas injustas e reconhecer o papel de instrumentos legítimos de defesa sobre esse tema”.

Uma economia digital favorável ao crescimento e emprego

O presidente chinês Xi Jinping propôs sábado que os membros do Grupo dos Vinte (G20) construam uma economia digital que seja favorável ao crescimento e ao emprego. “Devemo-nos adaptar activamente à evolução digital, fomentar novos motores económicos, avançar nas reformas estruturais e promover o desenvolvimento integrado da economia digital e real”, disse Xi.

Para esse fim, propôs implementar a Iniciativa de Desenvolvimento e Cooperação de Economia Digital do G20 e o Plano de Acção de Nova Revolução Industrial, ambos adoptados no ano passado na cimeira de Hangzhou, na China.

O líder chinês pediu a todos os membros que lidem com os riscos e desafios para guiar a economia digital em direcção à abertura e abrangência, acrescentando que o bloco do G20 precisa expandir o acesso à economia digital e reduzir a disparidade digital entre o Norte e o Sul.

“Precisamos prestar atenção à produção digitalizada e ao impacto da inteligência artificial no emprego em diversas nações, e tomar políticas activas de emprego”, acrescentou.

O presidente chinês também pediu a todas as partes que criem um ambiente internacional favorável ao desenvolvimento da economia digital, integrem melhor as suas respectivas estratégias de desenvolvimento, e melhorem juntos o nível da aplicação digital. “Devemos procurar a construção de um ciberespaço pacífico, seguro, aberto e cooperativo, e explorar caminhos para desenvolver regras de comércio internacionais que sejam multilaterais, transparentes e inclusivas nos sectores digitais”, acrescentou ele.

Japão | Shinzo Abe sem espaço de regressão

Xi Jinping disse sábado que o Japão deve cumprir com a sua palavra nos assuntos relacionados com a História e Taiwan, e remover as distracções nas relações bilaterais com estratégias e acções concretas. Ao reunir com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, Xi também pediu ao Japão que aprenda com a história para garantir que as relações China-Japão avancem na direcção certa e tenham uma perspectiva mais brilhante.

Xi observou que “as relações amistosas firmes entre a China e o Japão não só concernem o bem-estar dos dois povos, mas também têm um impacto na Ásia e no mundo em geral”. A China e o Japão normalizaram suas relações diplomáticas há 45 anos depois de atingir importante consenso sobre a história, Taiwan e as Ilhas Diaoyu, entre outros assuntos. No ano que vem, as duas nações comemorarão o 40º aniversário da assinatura do Tratado China-Japão de Paz e Amizade.

O presidente chinês disse que os dois países devem promover o seu senso de responsabilidade neste momento e aproveitar as oportunidades na nova era dos laços bilaterais. “Apesar das voltas e reviravoltas, e outros testes severos nos últimos 45 anos, o desenvolvimento das relações Pequim-Tóquio proporcionou a ambos muitas ideias construtivas”, disse Xi.

“A confiança política é a premissa das relações China-Japão”, disse Xi, se referindo aos quatro documentos políticos e o acordo de quatro pontos que servem como os princípios orientadores dos laços bilaterais para tratar adequadamente dos assuntos relacionados com a história e Taiwan, entre outros. “Esses assuntos, vitais para a base política dos laços China-Japão, não têm nenhum espaço para concessão ou regressão. Caso ao contrário, as relações bilaterais sairão do curso certo e diminuirão o ritmo do desenvolvimento”, disse.

Por seu lado, Shinzo Abe disse que seu país está preparado para demonstrar acrescentar dinâmica nos seus laços com a China, pois os dois países, a segunda e a terceira maior economia do mundo, respectivamente, são actores influentes nos assuntos mundiais e regionais.

O líder japonês quer mais contactos de alto nível com a China, acrescentando que está disposto a promover a cooperação bilateral em áreas como economia e comércio, finanças, turismo, assim como a colaboração no projecto Uma Faixa, Uma Rota.

Abe também prometeu que sobre Taiwan, não há nenhuma mudança na posição do Japão definida na sua declaração conjunta com a China em 1972.

Diálogo com a Coreia do Norte

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou ao presidente norte-americano, Donald Trump, no sábado, a adesão da China à resolução da questão nuclear norte-coreana por meio de negociações, informou a agência de notícias estatal Xinhua. Xi disse que, ao mesmo tempo em que se formulam “respostas necessárias” à Coreia do Norte contra a resolução da ONU, deveria haver esforços intensificados para promover o diálogo, acrescentou a Xinhua. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter tido uma conversa “excelente” com o presidente da China, Xi Jinping, sobre questões como o comércio entre os dois países e a Coreia do Norte. “Deixando Hamburgo para Washington e a Casa Branca. Acabei de encontrar o presidente da China e tivemos uma reunião excelente sobre comércio e Coreia do Norte”, escreveu Trump no Twitter.

10 Jul 2017