António Trindade destaca problemas de execução da plataforma de Macau

O presidente da CESL Asia, empresa de capital chinês e português, apontou ontem dificuldades na utilização de Macau como plataforma económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa.

“Existem uma série de problemas. Não há uma economia muito grande entre Portugal e a China, não há uma relação muito importante directa da economia, e é uma pena, porque a China até foi quem lançou o conceito da plataforma”, disse António Trindade, que falava aos jornalistas à margem da abertura da 1.ª Exposição Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa (C-PLPEX), organizada no âmbito da Feira Internacional de Macau (MIF).

Fundada em 1987, a CESL Asia, empresa de matriz portuguesa em Macau, opera na área de serviços de alto valor na consultadoria e operação de infra-estruturas críticas, públicas e privadas, tendo adquirido em 2019, no Alentejo, o Grupo Monte do Pasto, o maior produtor português de bovinos.

Para já, na Ásia, o Monte do Pasto faz negócio apenas com Macau e Hong Kong. São ainda vários os obstáculos para chegar ao outro lado da fronteira, nomeadamente o facto de Portugal “não poder vender carneiro e vaca” à China.

A questão logística, continuou Trindade, é outro entrave, já que “não existe uma rede de logística directa entre Portugal e Macau, ou mesmo entre Portugal e Hong Kong ou Portugal e Ásia”. “Podia haver uma muito maior vontade, não é política nem dos conceitos, que estamos todos de acordo que faz sentido a diversificação, mas uma maior execução. Quando abriram os casinos, também se fizeram opções em Macau para dar aos casinos novas condições para se instalarem no mercado novo e fizeram-no em tempo recorde”, exemplificou.

Podemos entrar?

Para o empresário português, a solução aqui passa por “se focar na plataforma e na Grande Baía” – este é um projecto de Pequim para criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 80 milhões de habitantes e com um produto interno bruto (PIB) superior a um bilião de euros.

Na C-PLPEX, que decorre até 22 domingo, o Monte do Pasto vai apresentar a Autentico Foods, uma marca dada a conhecer há poucos meses em Portugal e que envolve outros empresários “que produzem igualmente produtos sustentáveis e ‘premium’, mas que não tinham marca própria nem exportavam directamente com marca própria”.

Um dos desígnios do novo plano, projecta António Trindade, é estabelecer um conceito de restaurante português “que seja internacionalizável”, à semelhança de outros países europeus. “Um dos problemas que nós temos [é que] a comida portuguesa é conhecida, mas não é exportada enquanto comida internacional, como vemos a italiana ou a espanhola”, disse.

20 Out 2023

António Trindade, CEO da CESL-Ásia, comenta visita de Ho Iat Seng a Portugal: “Esta amizade secular está pouco aproveitada”

Assume que a CESL-Ásia já é uma “empresa da plataforma” pela sua presença em Portugal, com o projecto de agro-pecuária do Monte do Pasto, mas António Trindade espera ver definido um plano de acção concreto para esta área na visita de Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, a Portugal. Falámos com o empresário antes da visita à AICEP, em Lisboa

 

É um dos empresários integrantes da comitiva que acompanha a viagem de Ho Iat Seng. O que poderá sair desta visita em termos concretos?

Estou com alguma expectativa. Temos várias actividades empresariais, mas o mais importante são as visitas do Chefe do Executivo que ainda não conhecemos e o teor das discussões que vão existir com os altos representantes do Governo português. A esperança é que se possa, pelo menos, saber quais são os avanços na construção da plataforma, da qual se fala há mais de uma década e que não tem expressão prática na vertente económica. Temos [CESL-Ásia] investimentos em Portugal e pensamos que as oportunidades são muito grandes, mas veremos se há avanços concretos a esse nível.

Quais as medidas que, a curto prazo, poderiam ser adoptadas para esse avanço?

Temos as questões do acesso ao mercado chinês, da logística aérea. As questões da logística marítima estão mais ou menos coordenadas, mas claramente em relação à logística aérea há faltas muito grandes para que exista uma plataforma. Temos ainda a questão financeira, que não nos afecta muito [à CESL-Ásia], porque temos já uma boa presença em Portugal, mas quando são projectos de Portugal fazemo-los em Portugal, quando são na China, temos de os fazer na China. Não há instituições e serviços financeiros [em Macau] para fazer esse trabalho. São necessárias conversações com o Governo Central e com Portugal para instituir a tal plataforma, uma alternativa ao que já existe. Caso contrário, as empresas vão para Hong Kong ou para o Luxemburgo, não faz sentido nenhum. Nas relações que temos com entidades chinesas e o Governo português nota-se que há muita vontade e até alguma surpresa face ao potencial que existe, porque Portugal tem uma posição única nos países emergentes. As empresas alemãs, por exemplo, vão para Portugal para irem para os países emergentes. A plataforma de Macau faz todo o sentido e tem viabilidade económica. Como se fizeram as concessões de jogo, tem de haver concessões sobre estas relações económicas especiais e não me parece que seja difícil constituir isso porque há vontade e interesse óbvio da China e de Portugal na plataforma de Macau.

Mas como funcionariam, na prática, estas concessões no contexto da plataforma?

Têm de se instituir e tem de se definir como vão ser estabelecidas e como serão atraídas as pessoas. São necessárias empresas com maior desenvoltura para poderem servir o mercado da Grande Baía. É isso que o Governo tem dito em relação aos casinos, que as novas concessões devem ir no sentido de apoiar a diversificação económica.

Tem de haver um plano estratégico para a plataforma que considera ainda não existir.

Claro. Porque é que são dados contratos a empresas chinesas que não são de Macau, por exemplo? Como é que a economia local se desenvolve? As empresas de Macau fazem só um determinado contrato? Há alguma complexidade [neste campo] e é algo difícil de fazer. Podem ser estabelecidas parcerias, mas [esse plano estratégico] tem claramente de ser feito. A CESL-Ásia cresceu sem ter grandes apoios ou direcção e temo-nos desenvolvido bem. Mas para que a nossa empresa, e outras, de Macau, tenham outra dimensão, é preciso que haja capacidade de desenvolver recursos. Por exemplo, fala-se muito do mercado das obrigações em Macau. Mas alguma vez se viram obrigações e investimentos para a plataforma, para desenvolver a economia da Grande Baía, para as relações com a lusofonia? Não se vê isso.

Na sexta-feira, quando foi ao hemiciclo, Ho Iat Seng falou precisamente sobre a expansão do mercado de obrigações, mas apresentou um discurso de prudência.

O mercado de obrigações é gerido pelo Governo de Macau e penso que tem toda a razão, a prudência deve ser mais do que muita. Mas pretende-se desenvolver esse mercado para a lusofonia e plataforma, e não para Macau. Esse mercado deve servir as empresas da Grande Baía, para que se atraia capital e para que se possa servir uma economia nova. Não é isso que está a acontecer. Pode-se desenvolver o mercado de obrigações com Portugal e não com o Luxemburgo ou Hong Kong. Fala-se que o mercado do Luxemburgo é mais desenvolvido, mas percebi que, fiscalmente, é mais eficiente fazê-lo directamente de Macau para Portugal. É tudo mais caro e complicado [pela via Luxemburgo], então porque não se faz directamente com Portugal? É só fazer com que as entidades financeiras portuguesas, chinesas de Macau se sentem à mesa e se possa estabelecer uma nova infra-estrutura. Mesmo as empresas chinesas que investem em Portugal não o fazem na perspectiva da plataforma, pois [esses investimentos] são marginais, feitos através do Luxemburgo, Madrid ou Hong Kong, e nunca através de Macau.

Que temas foram abordados pela CESL-Ásia na reunião com a AICEP?

Não levámos temas nenhuns em específico. Já estamos em Portugal e somos, verdadeiramente, uma empresa dessa plataforma comercial. Não vimos à descoberta de nada e queremos apenas apoiar o desenvolvimento da plataforma.

O modelo de funcionamento da AICEP, nomeadamente em Macau, tem funcionado?

O que está por construir é esta amizade secular [entre Portugal e China] que tem um enorme potencial e está muito pouco aproveitada. Existem complementaridades óbvias, pois a China é um país exportador, industrializado, e Portugal é um país de serviços, e pode fazer como faz, por exemplo, a Volkswagen, que tem no país a Auto-Europa, são importadas peças e depois saem carros construídos. Pode ser feito o mesmo com a China através de Macau. Se os alemães fazem, porque não faz a China? Mas a escolha das empresas chinesas tem sido o Luxemburgo porque a plataforma em Macau não existe, mas pode existir, se se sentarem e o fizerem.

Esta visita tem um significado político e económico, pois Portugal é o primeiro país numa visita de Ho Iat Seng à Europa no pós-pandemia.

Não vou comentar política, não é a minha área. É, claramente, uma visita com um pendor económico muito grande. Há um enorme potencial, pois a China é claramente a segunda economia mundial, Portugal tem uma relação como nenhum país tem. A Alemanha, os EUA e a França são países concorrentes comerciais e tecnológicos com a China, mas Portugal é um prestador de serviços.

Jorge Valente: “Desta vez, a diversificação da economia de Macau é a sério”

O empresário macaense Jorge Valente falou com o HM após a reunião com o AICEP. Diz ser tempo de Macau “recuperar o tempo perdido” e, em Lisboa, apresentar as oportunidades existentes”. “Esta visita tem o foco na economia e o primeiro passo será anunciar que estamos de novo com as fronteiras abertas e que queremos não apenas recuperar o tempo perdido como economicamente ir para uma [posição] melhor”, assegurou Valente, para quem o segundo passo é “explicar que, desta vez, a diversificação da economia de Macau é a sério”. Deve, por isso, ser feita “a propaganda de Hengqin e da Grande Baía, explicando os detalhes [dos projectos]”. Na última fase, da execução, cabe mostrar que “a plataforma entre a China e os países de língua portuguesa está renovada com sangue novo e com renovado interesse por parte das empresas chinesas”. “É provável que venha a existir um enorme crescimento a curto prazo. Da parte dos países de língua portuguesa, parece há uma maior consciência de que se pode aproveitar a plataforma e nota-se um esforço desde a reabertura [da economia]”, frisou.

Lista de representantes de Macau inclui áreas de saúde, banca, cultura e negócios entre outras

António Trindade é um dos integrantes de uma comitiva de empresários bem representativa dos negócios e interesses locais, sem esquecer Hengqin. Além de Vincent U, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau, constam nomes como os de Frederico Ma, presidente da Associação Comercial de Macau, Fong Son Kin, presidente da Associação Industrial, Kevin Ho, presidente da Associação Industrial e Comercial de Macau e ainda Carlos Álvares, CEO do BNU que está presente na qualidade de presidente da delegação de Macau da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Destaque ainda para os nomes dos macaenses António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia, e Jorge Valente, empresário e presidente da Associação Sino-Lusófona da Indústria e Promoção de Intercâmbio Cultural. De salientar também a presença de representantes da Nam Kwong, da Air Macau e Hovione Macau, entre outras empresas. Em representação da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Henqgin surge uma lista de sete personalidades, onde se inclui o nome Nie Xinping, coordenador adjunto da comissão executiva da Zona e António Lei, director da Direcção dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona. O programa dos empresários arrancou na segunda-feira às 16h [hora de Lisboa] com uma visita à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). Ontem, foi dia de visitar a Quinta da Marmeleira, em Alenquer, um projecto de produção vinícola de um empresário chinês de Macau, Wu Zhiwei. Decorreram também reuniões com responsáveis do grupo Luz Saúde, um dos mais importantes do sector de saúde privado em Portugal, e com o grupo Sovena, ligado à área agrícola. Hoje, os empresários começam o dia com uma ida à Unicorn Factory [Fábrica de Unicórnios], em Lisboa, sendo o programa complementado com encontros, realizados amanhã, com a Fundação Champalimaud, a farmacêutica Hovione e o projecto de economia marítima “Nautical Portugal”. Sexta-feira, já no Porto, os empresários vão conhecer de perto a Corticeira Amorim e a Quinta da Boeira, outro projecto vinícola. De frisar que há mais duas visitas agendadas que não constam do programa oficial do IPIM, nomeadamente a de Ambrose So que reuniu com o ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, na qualidade de director-geral da Clean Energy Forum. Na quinta-feira a empresária Daisy Ho, líder da Sociedade de Jogos de Macau Resorts irá ser recebida pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, noticiou a TDM Rádio Macau. O HM contactou o Ministério do Ambiente no sentido de saber as principais conclusões do encontro com Ambrose So, mas o gabinete do Ministro Duarte Cordeiro recusou prestar qualquer declaração.

18 Abr 2023

MIECF | Plataforma entre China e lusofonia “não está a funcionar”

O presidente do grupo CESL Asia, António Trindade, critica a ineficácia da plataforma entre China e os países lusófonos, papel atribuído a Macau pelo Governo Central há quase 20 anos. Porém, o empresário português está optimista com o discurso do Executivo, salientando a aposta na sofisticação e na diversificação da economia

 

O presidente da CESL Asia, empresa de capital português e chinês, defendeu que o papel de Macau enquanto plataforma sino-lusófona “não está a funcionar”, sugerindo a criação de “uma cadeia virtual” de entidades com esse papel.

“Há qualquer coisa que não está a funcionar, não está a funcionar, embora toda a gente a elogie, [dizendo que tem] um potencial enorme, inclusivamente nós. Nós estamos a fazê-la funcionar, mas é só metade. Há muitas coisas que podiam funcionar melhor”, disse à Lusa António Trindade, referindo-se ao estabelecimento por Pequim, em 2003, de Macau como plataforma para a cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa (PLP).

“Então não há muitas empresas chinesas em Portugal a fazer actividade económica? E porque é que essas empresas não são as empresas de Macau”, questionou o presidente da CESL Asia, que falou à Lusa por ocasião da MIECF 2022 – Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau, que terminou ontem.

Trindade deixou outro exemplo: “Conhece alguma empresa auditora de Portugal que esteja em Portugal e Macau e que faça a plataforma? Zero”.

Cadeia virtual

A CESL Asia, sediada em Macau, tem cerca de 500 trabalhadores, com áreas de negócio que vão dos serviços às soluções tecnológicas. Começou este ano a comercializar em Hong Kong carne de vaca sustentável produzida no Alentejo, tendo também interesse no mercado do Interior da China.

António Trindade apontou dificuldades no acesso a este mercado e defendeu, nesse sentido, a criação de “uma espécie de regime de excepção, como já existe para o CEPA [Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Interior da China e Macau], mas especificamente para a plataforma”.

O CEPA, criado em 2003, estabelece um relacionamento semelhante a parceiros de comércio livre entre o interior da China e Macau.

“A burocracia pode ter razão de ser, em relação à plataforma é que não tem. Porque é uma empresa de Macau, não será muito complicado assegurar a sanidade, a qualidade do produto, a relevância, etc, embora seja uma empresa portuguesa, é uma empresa de uma empresa de Macau e da China, e a China tem carência de carne, de carne sustentável, de proteína animal”, reforçou.

Neste caminho em direcção ao interior do país, o responsável da CESL Asia defendeu o estabelecimento de uma “cadeia virtual” que englobe várias entidades “que se preocupem com Macau como plataforma”.
Trindade mostrou-se optimista com o futuro, realçando que hoje o “discurso do Governo é diferente, é de mudança, de sofisticação, de acrescentar valor”. “Ainda há dias o secretário para a Economia veio dizer: ‘não queremos ser conhecidos como um destino de jogo'”, lembrou, dizendo esperar que “se desenvolvam as empresas de Macau”.

Coisas da terra

O presidente da CESL Asia lamentou ainda as dificuldades em Portugal para investir no sector da agricultura, “o parente pobre da actividade económica”.

António Trindade começou por referir “dificuldades em levantar financiamento”, já que “os bancos têm dificuldades em investir na agricultura”. E explicou: “O banco é que tem de apresentar o projecto ao Governo para financiar, se eles quiserem financiar. Se não quiserem financiar e se eu tiver outras entidades que queiram financiar, não têm a garantia do Governo”. “Não faz sentido nenhum”, reforçou o empresário, questionando ainda se o financiamento serve “para apoiar os bancos ou a actividade económica”.

Fundada em 1987, a CESL Asia, empresa de matriz portuguesa em Macau, opera na área de serviços de alto valor na consultadoria e operação de infraestruturas críticas, públicas e privadas, tendo adquirido em 2019, no Alentejo, o Grupo Monte do Pasto, o maior produtor português de bovinos.

Ainda no que diz respeito aos obstáculos ao investimento no sector agrícola, o empresário disse que a CESL Asia “tem condições e vontade” para desenvolver no Monte do Pasto “aquilo que se chama o uso duplo do terreno para a agricultura, na perspectiva da agricultura – aumentar-lhe capacidade com energia solar”.

“Pois é muito difícil (…) Portugal precisa hoje de assegurar que os terrenos são usados para produção de alimentos, primeiramente, e depois perceber que não pode concorrer a produção de alimentos com a produção de energia solar, tem de trabalhar em conjunto”, explicou o responsável à Lusa.

“Um terreno de sequeiro na zona ali do Monte de Pasto para solar aluga-se por 1.500, 2.000 euros o hectare por ano, se for para a agricultura aluga-se por 50 a 100 euros. É completamente irracional”, completou.

12 Dez 2022

CESL Asia lança em Hong Kong carne sustentável do Alentejo

A empresa de Macau CESL Asia vai começar a comercializar em Hong Kong carne de vaca sustentável produzida no Alentejo, disse à Lusa o presidente António Trindade.

“Neste momento, está a chegar [a Hong Kong] o primeiro contentor, foi estabelecida uma parceria com os distribuidores locais e vai ser lançada agora” a marca de carne ‘True Born’, produzida pelo Monte do Pasto, sublinhou o empresário.

António Trindade salientou que, além dos desafios logísticos causados pela pandemia de covid-19, a ‘True Born’ “não é só uma marca nova, é uma área nova, que pouco existe no mercado” da região administrativa especial chinesa.

O Ministério da Agricultura anunciou em 2020 que seis empresas portuguesas, incluindo uma do Alentejo, estavam habilitadas a exportar carne de bovino para Hong Kong. A carne é produzida no Monte do Pasto, uma área de montado alentejano, em Cuba, no distrito de Beja, onde a empresa tem contribuído para aumentar o investimento e a produção económica da zona rural.

Cerca de 98 por cento da produção do Monte do Pasto é exportada, disse o presidente da CESL Asia, nomeadamente para Israel e outros mercados do Médio Oriente e do Norte de África.

A marca ‘True Born’ já é comercializada em Macau. António Trindade lamentou, no entanto, não ser ainda possível exportar para a China, algo que considera “incompreensível”.

Casas de pasto

Em 2019, Portugal assinou um acordo de cooperação para facilitar, através da simplificação de procedimentos, a exportação de produtos alimentares para a China, incluindo a carne de ovino e de bovino.

O Monte de Pasto anunciou na quarta-feira a aquisição da Herdade das Gregas de Cima, com 455 hectares, elevando para 4.200 hectares a área que a empresa vai dedicar a agricultura de regadio e pecuária sustentável.
António Trindade disse que a compra representa um aumento de quase 15 por cento na área disponível, o que irá permitir à empresa começar a apostar também na produção de carne de ovino.

As vendas do Monte do Pasto têm vindo a aumentar, tanto no que toca ao volume de carne como às receitas, “o que hoje em dia não é difícil, porque os preços estão a subir”, lembrou o presidente da CESL Asia.

Em 2021, “foram quase 50 por cento acima do que tínhamos planeado e este ano vai continuar a aumentar, menos porque nem sequer temos ainda capacidade para produzir mais”, admitiu o empresário.

13 Jun 2022

António Trindade, Presidente e Director Executivo da CESL-Ásia: “É preciso passar das palavras à implementação”

António Trindade não tem dúvida que a economia da Grande Baía tem um potencial “enorme” para Macau, mas sublinha que é imperativo passar das palavras aos actos e definir direcções claras sobre a Zona de Cooperação em Hengqin. Além disso, o Presidente da CESL-Ásia considera que Macau deve ser capaz de localizar soluções diferenciadoras e de “alto valor”, assumindo definitivamente o seu papel de Plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa

 

De que forma Macau pode ajudar o desenvolvimento económico da China através da Grande Baía?

A sustentabilidade é uma das coisas boas que a China começou a fazer há 30 ou 20 anos, quando decretou que, verdadeiramente, o desenvolvimento depende de factores relacionados com a sustentabilidade, como a energia, a eficiência energética e a disponibilidade de recursos para o seu desenvolvimento. Exemplo disso, são as questões relacionadas com a alimentação, que é um dos cavalos de batalha fundamentais do futuro. A riqueza de Macau, centrada no jogo, não se esgota aí. O que acontece é que Macau, só serve a economia chinesa e o desenvolvimento da China pode ser servido de muitas maneiras. A Plataforma é uma dessas formas de servir efectivamente o desenvolvimento da China. As grandes questões e virtudes do desenvolvimento chinês, passam pelo desenvolvimento da qualidade de vida e o combate à pobreza extrema, por exemplo. Que tem sido, de facto, um sucesso enorme, juntamente com o facto de se ter tornado na fábrica do mundo. Tudo isso, permitiu tirar da pobreza uma série de gente que passou para a classe média e média baixa e a quem foi dada educação. Vou à China desde meados dos anos 80 e a diferença é abissal. Em Portugal temos uma noção daquilo que a educação fez à sociedade, mas na China fez ainda mais. Há um salto enorme que fez com que a aplicação das novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, o Big Data e o Machine Learning, tivesse um impacto no desenvolvimento económico e social. Foi isso que retirou as pessoas da pobreza e as passou para a classe média. Ao mesmo tempo, podemos falar da transferência de uma enorme quantidade de pessoas do campo para a cidade e dos desafios a isso inerentes. Perante um admirável mundo novo, as novas tecnologias e a sustentabilidade têm permitido lidar com essa complexidade do desenvolvimento. Este é o paradigma e, para Macau, isto tem uma relevância enorme porque o que Macau faz há 500 anos é o trabalho da Plataforma, ou seja, a ligação do melhor dos dois mundos: o mundo ocidental e o oriental da China, que são fundamentalmente diferentes e que aqui funcionam.

Então, considera que Macau deve apostar no desenvolvimento tecnológico?

Em Macau nunca se desenvolveu tecnologia. Macau não tem dimensão nem mercado e nada disso faz parte do seu maior potencial. O grande potencial de Macau está na adaptação, ou melhor dizendo, na personalização das soluções. Ninguém pensava ser possível que Macau fosse capaz de absorver os biliões de investimento estrangeiro que recebeu [devido ao sector do jogo] e que houvesse a capacidade de construir milhões de metros quadrados dos mais sofisticados edifícios do mundo e produzir serviços dos mais avançados que há, a nível técnico, energético e na
restauração. O pior é que corremos o risco de perder esse conhecimento porque não existe retenção. O que é relevante avaliar não é a tecnologia, porque a tecnologia não é inventada em Macau, mas sim a sua aplicação, ou seja, o valor que é criado. As pessoas não têm noção do que é preciso para alimentar os 40 ou 50 mil empregados directos que trabalham diariamente nos resorts, nem o que são aquelas cantinas do pessoal, que trabalham 24 horas por dia. São verdadeiras cidades que existem lá em baixo com vários serviços, que servem o propósito de produzir a economia de biliões que é Macau. E o que é que disto se retém em Macau e se transmite para a Grande Baía? O que é que disto se vende para o mundo exterior? Articular e responder a estas questões deve ser o papel da Plataforma. Ultimamente, fala-se muito em lavagem de dinheiro e em tudo o que há de negativo no progresso dos últimos 20 anos, mas então e a parte positiva? O positivo é que Macau pode, de facto, ser a Plataforma, tirando partido daquilo que aprendeu com as soluções que tem vindo a criar.

De que forma é que a pandemia tem afectado a CESL-Asia e o crescimento da Grande Baía?

O cancelamento do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF) é um exemplo desse efeito. O propósito da MIECF é servir a economia chinesa, quer com transferência de know-how e tecnologia, quer com a exportação de tecnologia. Se não há interesse não se faz. É uma pena porque nós achamos que tem um interesse muito grande e Macau era onde estavam as maiores referências mundiais em termos de sustentabilidade. O MIECF é das coisas mais importantes que aqui se passavam e tem uma história de mais de 20 anos mas, infelizmente, nunca foi posto no contexto de servir as economias e o desenvolvimento social e a sustentabilidade dos Países de Língua Portuguesa [PLP], dos países emergentes, da Europa e da Grande Baía. Se fosse colocada nesse contexto, tornava-se muito mais atractivo, pois o objectivo aqui não passa apenas por se vender mais uns autocarros eléctricos. Macau tem poder económico para comprar, e deve, adoptar ou escolher soluções locais. Actualmente, Macau não tem empresas locais. Não se desenvolveu know-how local para adaptar soluções. Hoje, ninguém compra tecnologia por si só, compra soluções. O mundo virou-se para as soluções e Macau é uma solução há 500 anos. A razão porque Portugal e a China têm uma relação de sucesso é porque apresentam soluções de valor acrescentado para ambas as sociedades e nações. O mundo desenvolveu-se a um ponto (…) em que, hoje, o dinheiro, não é o maior recurso disponível para o desenvolvimento. O recurso mais importante para o desenvolvimento são as soluções, porque o dinheiro é universal.

Que papel pode Macau desempenhar no desenvolvimento da Grande Baía e de que forma a Grande Baía pode desenvolver o tecido empresarial local?

Macau precisa de se reorientar para servir o desenvolvimento da Grande Baía nas áreas em que é capaz e em complementaridade com tudo o que existe. Macau não vai competir com Hong Kong, a ideia é precisamente a inversa. Ou seja, pretende-se alcançar a complementaridade na diversidade, em ambos os sentidos. A China tanto precisa de exportar soluções, como de comprar soluções de valor acrescentado. Portanto, as soluções têm de ser adaptadas ao mercado e é isto que Macau deve e pode fazer de uma maneira clara. Se o fizer com o mesmo empenho com que fez a modernização do sector jogo, acho que estamos a falar de uma economia potencial muito maior do que a dos casinos. Isto quer dizer que temos escolher o que vamos fazer, nomeadamente, aquilo que me parece ser extremamente óbvio: Macau vai ter de se concentrar no modelo de desenvolvimento da China e na inovação, apostando nas soluções que vão singrar daqui a 10 ou 20 anos. A CESL-Ásia, como empresa de serviços, pensa o que é que vai servir não só hoje, mas daqui a 10 anos. Não nos interessa nada fazer coisas como se fazia há 20 anos, não retendo conhecimento e existindo hoje o maravilhoso mundo novo da inteligência artificial, que funciona para tudo e que cria uma série de desafios, mas, principalmente, permite democratizar o desenvolvimento. A democracia na perspectiva mais abrangente possível torna-se acessível a toda a gente.

Como é que se criam essas soluções?

Temos que arranjar maneira de as encontrar. Na transformação a que estamos a assistir no sector do jogo, coloca-se a mesma questão. A passagem de uma solução de jogo para outra, tem custos inerentes e, esse custo, vai ser, por exemplo, acabar com os casinos satélite. Vai ser pior? Acho que não, mas vai custar. Agora temos de encontrar um custo que seja razoável. É como tratar uma doença difícil. Como é que vamos manter a nossa qualidade de vida? Não vale a pena morrermos todos. Macau tem de encontrar soluções dessas e considero que não é tão complicado quanto isso. Acho que Macau deve definir e apoiar com clareza soluções que se traduzam em mais valias, apostar nas PME e em empresas inovadoras e com provas dadas. Agora, as pessoas têm de continuar a comer. Não podemos deteriorar a qualidade de vida das pessoas de Macau e tem de ser economica e socialmente eficiente. Temos que escolher empresas com valor, atraí-las e dar-lhes as condições.

O que falta para Macau começar a assumir um papel relevante na Grande Baía?

Falta claramente haver um farol em termos de política, porque o plano da Grande Baía define claramente aquilo que se vai fazer, nomeadamente em termos de apoio às pequenas e médias empresas e da conversão da industria chinesa para exportação e importação com os PLP, através de Portugal. Isto, porque Macau sozinho não consegue ser Plataforma porque não tem recursos suficientes e a capacidade necessária. Com Portugal podemos atingir os outros países emergentes e os PLP. Agora, como é que a partir de Macau se consegue servir a economia chinesa? Não é preciso ir muito longe para identificar pontos de melhoria. Por exemplo, no nosso caso, não conseguimos exportar para o mercado chinês e nós estamos a desenvolver uma coisa [projecto do Monte do Pasto] que é altamente inovadora em vários aspecto, nomeadamente na produção de comida sustentável e do desenvolvimento rural. Em relação ao desenvolvimento rural, Portugal e a Europa têm mais 10 ou 20 anos de experiência do que a China. O Monte do Pasto tem conseguido atrair atenção para o Alentejo profundo, que é uma das zonas menos desenvolvidas económica e socialmente, criar uma economia local que vale 30 milhões de euros e reter população com qualidade de vida. Pelo seu modelo de desenvolvimento, a China não pode continuar a levar pessoas para a cidade. A Europa já fez isso há mais de 20 anos e a China tem não pode continuar a tirar pessoas da pobreza do campo e levá-las para a cidade. Estas soluções têm de ser adaptadas e é isso que Macau pode fazer. Ou seja, estabelecer uma direcção clara e mecanismos de desenvolvimento. Para atrair as empresas para Macau é preciso criar condições para elas virem para cá e dar-lhes acesso ao mercado português ou ao chinês. Portanto, Macau tem um papel a desempenhar nisto tudo e não é pequeno, porque a economia da Grande Baía é enorme. Não vejo o Governo ou as associações profissionais ou industriais a estabelecer ligações ou a perguntar a Portugal ou às cidades da Grande Baía: “então mas afinal o que é que nós podemos fazer para vos ajudar?”. Ou seja, estabelecer soluções de negócio que, como em todas as outras, tem um papel de valor acrescentado para Macau, que paga impostos e retém conhecimento. Por exemplo, a CESL-Ásia paga mais de 100 milhões de patacas em salários. É uma grande contribuição. Imagine o que isto não será [e os proveitos que isso poderá trazer para a economia de Macau] se houver um nicho da economia da Grande Baía que, de facto, passa por aqui.

Considera então que falta dizer claramente qual a direcção a seguir?

Tem que haver direcção. Macau não é uma economia livre, ao contrário do que se possa eventualmente pensar. Macau é uma economia pequena em que, quando se dá uma concessão para o jogo, a economia é precisamente essa, está ali. No contexto actual, é o jogo, que tem que ajudar a desenvolver empresas locais. Não são os fornecedores e outras actividades económicas que vão alavancar a tal diversificação económica que se pretende alcançar.

Qual a importância para Macau e para o tecido empresarial do território, da criação da zona de cooperação aprofundada entre Macau e Guangdong em Hengqin?

Aqui na CESL-Ásia estamos convencidos de que há na Ilha da Montanha um potencial de valor maior do que a economia de jogo, só que é preciso passar da palavra e das políticas para a implementação e, como é lógico, esse processo ainda é um processo político. Falta estabelecer as relações entre Macau, a Ilha da Montanha, Zhuhai, Cantão e Pequim, definir de que forma é que a Zona de Cooperação se vai coordenar em relação ao que vão fazer as outras zonas económicas especiais, [como Zhongshan] e a sua integração com as economias das próprias cidades da Grande Baía. Mais concretamente sobre Hengqin, o que acontece é que se está a criar aquilo que parece óbvio, ou seja, um espaço que eu imagino que seja mais direccionado para o apoio a soluções de serviços dedicadas a ajudar as economias da Plataforma. No entanto, ainda não existe uma solução, porque faltam soluções financeiras e detalhes mais precisos sobre as áreas de actuação e a integração entre as várias entidades. No entanto, se me perguntar quais são os nossos parceiros chineses, eu digo que não temos nenhum. Nós conseguimos estabelecer soluções por nós próprios, mas parcerias não. Alguma razão haverá, mas são razões que nos são externas. Infelizmente, até hoje, não conseguimos convencer ninguém, apesar da bondade, do apoio e do reconhecimento de que somos uma grande empresa e um grande sucesso.

Porque é isso acontece?

O problema é que as empresas estatais ou privadas vão para Portugal sem vir a Macau. O engraçado é que há empresas que vão a Portugal e só depois vêm a Macau. Daquilo que vi, isto acontece porque essas empresas não têm mais vantagens do que as que nós temos em fazê-lo através de Macau. Resumindo, o valor existe, mas é preciso que haja clareza em dizer o que deve ser apoiado ou promovido. Não podemos estar a competir com empresas estatais ou concessionárias em Macau, como a CEM ou os casinos. É preciso encontrar soluções de parceria. Quando se quer encontrar uma solução para a China, as empresas vão continuar a ir para Hong Kong primeiro e não vêm a Macau. Continua a faltar o papel de Plataforma, quando há vantagens em relação a Macau.

Como é que a Grande Baía pode contribuir para a diversificação económica de Macau?

A diversificação económica tem que ser local. Macau tem que desenvolver as empresas locais. É como em Singapura. Quais são as empresas em Macau que tiveram sucesso nos últimos 20 anos como produtoras de valor e de serviço? Não há, mas acho que não é sonhar muito. Devia haver liderança no processo e essa liderança tem que ser um misto entre o Governo e os privados, porque o Governo não se pode meter na execução destas coisas e Macau não tem os recursos suficientes. Devemos ser capazes de atrair soluções exteriores. Veja-se o que aconteceu com o sector jogo. Pode dizer-se o que se quiser, mas as entidades exteriores é que criaram valor. Quem são as grandes referências do sector do jogo moderno em Macau? O Galaxy, Venetian, Wynn, MGM, tudo o que veio de fora. Isto não quer dizer que elas não sejam localizáveis. Basta ver que actualmente o Governo está localizar partes importantes do sector do jogo. A economia não é Macau. Estamos aqui para servir a China e a servir o exterior e, para isso, é possível utilizar soluções portuguesas ou alemãs. É preciso localizar. Contam-se pelos dedos das mãos as empresas industriais da China que têm acesso aos mercados emergentes e europeus. Não há aqui uma clara oportunidade? Não é isto que é a Plataforma? A Plataforma não é estar a produzir tecnologia em Macau. Isso não existe. Claro que ajuda e pode contribuir, mas estamos a falar da economia daqui a 20 ou 30 anos. O que estamos a falar é de localizar soluções. Um exemplo. Fui júri num evento espectacular de startups portuguesas e brasileiras, que o Governo de Macau organizou. O vencedor foi uma empresa que descobriu uma solução para eliminar gorduras e foi uma vitória unânime por parte dos júris. O Governo de Macau anda a tentar levar o projecto para a China e não compreendo porque razão não se começa por tentar aplicar esta solução em Macau. Até porque os esgotos de Macau estão cheios de gordura. O problema da gordura e dos óleos que saem da alimentação e são despejados para o esgoto são um dos problema de Macau e aquela é a solução óbvia ou, pelo menos, deve ser aqui testada. Tivemos um trabalho dos diabos para procurar e seleccionar o projecto, toda a gente arregalou os olhos com a solução, que ainda por cima é polivalente, mas não foi testada aqui. Mas será que é assim tão difícil criar novas empresas? Não é, ainda por cima há soluções para o fazer. Quer na China, quer em Portugal essas soluções existem. Em Macau é preciso desenvolver a economia própria e as empresas. Estou a falar de empregar 400 ou 500 pessoas, dedicá-las à plataforma e ao conhecimento, dedicá-las a trazer tecnologias e soluções exteriores e localizá-las

Em que fase considera estar o desenvolvimento do projecto da Grande Baía?

Ao nível do plano de desenvolvimento da Grande Baía, é na China e em Hong Kong que eu vejo que se estão a desenvolver soluções de uma sofisticação considerável, mas em Macau ainda estamos no princípio. Macau é muito pequeno e, por isso, é fácil fazer tudo o resto. Macau veio de uma mono-economia dedicada a uma actividade e, por isso, estamos em processo básico de desenvolvimento. Em seis meses, num ano ou dois anos, Macau pode criar uma economia desenvolvida. É só precisa vontade. Com os recursos que Macau tem e a vontade da China isso vai ser possível. É lógico que vai ser preciso criar essa economia, mas acima de tudo é preciso criar relações específicas com a China e com Portugal. Não estamos a falar da amizade que existe, mas sim da formação de quadros que têm acesso ao mercado português e europeu. Portugal tem muito a fazer para descobrir a própria importância que tem como plataforma económica para a Europa, para os EUA e para os mercados emergentes. Este papel de Portugal tem muito que se lhe diga, porque não há muitos países no mundo em que os auditores, os advogados e os bancos têm relações directas com economias emergentes. Não há. Como é que isto não é valorizado por Portugal, tanto quanto devia ser? Sobretudo, quando a prestação de serviços à economia chinesa ou à economia da Grande Baía tem um potencial enorme.

Na sua opinião, que passos importantes foram dados ultimamente para que o projecto da Grande Baía se concretize na sua plenitude?

Houve evolução. Em relação a Macau começou-se a falar numa zona de cooperação em Hengqin, mas o que é que esta zona vai fazer? É preciso perceber, porque os agentes económicos têm que entender o que é que se passa. Temos genericamente a percepção de que se vai conseguir alcançar os objectivos, mas o processo todo de estabelecimento daquela zona ainda está limitado precisamente à zona, está-se a fazer lá algumas habitações e outras coisas. No entanto, ainda não se sabe o que vai ser feito em termos de economia, infraestruturas, os impostos, o financiamento e como é que se importa e exporta. Também não se sabe como será possível chegar ao mercado interno. Há muitas soluções que já existem na perspectiva do acordo do CEPA (Closer Economic Partnership Arrangement) que só precisam de ser adaptadas para produzir um incentivo brutal para criar uma economia de grande escala, por exemplo, no sector agro-alimentar. A carne, o azeite e outros que possam produzir valor acrescentado aqui. É preciso criar a cadeia de valor económica e estabelecer o que é que Macau retém e a Ilha da Montanha retém. É preciso tomar decisões, como acontece actualmente na área do jogo: “só pode haver seis concessionárias”. Tem que se saber quais são as áreas que são de alto valor e que precisam de ser desenvolvidas. Por exemplo, a medicina tradicional chinesa, qual é o papel que se pretende? É para Macau ou para a Grande Baía? O que é que acrescenta para a China ou para o mundo? É para exportar? Se é esse o objectivo, o que é que se está a fazer para exportar? Qual é a relação disto com a indústria farmacêutica portuguesa ou com a medicina tradicional que se faz em África, por exemplo em São Tomé, ou no Brasil, onde Portugal tem um Centro de Medicina Tropical?

Que cidades da Grande Baía têm maior potencial de futuro?

Todas as cidades da Grande Baía têm as suas particularidades, mas sinto que o mais importante é saber o que é que essas cidades pensam de Macau. Se pensam que Macau acaba em si mesma não vão querer vir nem exportar nada para cá, apesar de haver cerca de 30 milhões de turistas por ano que vêm aqui fazer refeições durante a sua visita.  Mas, o caso muda de figura se for para aceder ao mercado mundial ou importar know-how e soluções para ser integradas ou importar capital e financiamento. Fala-se no sistema de obrigações, mas em Macau estamos ainda na infância. Não existe ligação nenhuma com Portugal ou com os sistemas financeiros europeus. Será que as leis de Macau estão a ser desenvolvidas à imagem do sistema português, a pensar na integração com a Europa ou, de outra forma, a pensar na integração com o sistema de Hong Kong? Qual é a origem dos fundos que vão ser atraídos, quais são as exigências e o que é que a gente pode oferecer em termos de acesso ao mercado chinês que necessita do capital? O que importa em relação às várias cidades é que, em vez de olharem para Macau como um concorrente ou um impedimento, olhem para Macau como uma forma de ir além das soluções que já têm em termos de qualidade e quantidade. Macau não se pode ficar por oferecer soluções secundárias ou piores que as de Hong Kong. Estas soluções têm de ser altamente diferenciadoras e têm que criar alto valor. Não é muito difícil fazê-lo, porque Macau tem a tradição de ter soluções. Basta pensar que, em Macau não existe uma entidade certificadora de produtos chineses para as normas europeias.

Há muito potencial, mas falta dar o último passo?

Esse passo que falta não é inocente. Falta porque não é prioritário ou não é visto como uma vantagem e pessoalmente acho que é uma pena, porque o potencial é enorme. Imagine-se o valor das exportações chinesas para a Europa, que é o segundo mercado depois dos EUA, e das quais Macau poderia beneficiar. Se um décimo, um quinto ou até mesmo uma fracção desse negócio fosse feito através de Macau seria uma riqueza enorme. Somos 500 mil pessoas que nos últimos 20 ou 30 anos têm uma percentagem relevante de formação académica superior. Espero que essas pessoas não estejam no Karaoke.

Qual o papel que a comunidade portuguesa pode ter no desenvolvimento de Macau na Grande Baía?

O papel da comunidade portuguesa é tão importante como o papel da comunidade chinesa. Se virmos bem, qualquer pessoa das elites de Macau, quando vai a Pequim, Shenzhen ou a Cantão, fala da importância da Lusofonia e da amizade com os portugueses. Mas como é que esta amizade se traduz em valor? Temos que produzir profissionais que possam perceber em Macau, aquilo que vão precisar de explicar às empresas chinesas sobre o que se passa em Portugal. Quando vim para Hong Kong em 86, percebi, pela primeira vez, que o valor da personalidade e da identidade é algo que temos de lidar em contexto de complexidade e multiculturalidade. Não é muito difícil, mas é preciso haver essa consciência. Quando as pessoas chegam a Macau têm de olhar para os profissionais de Macau, tal como diz o plano da Grande Baía, como aqueles que têm a experiência de aplicar o conhecimento de forma única, neste caso sobre o mundo lusófono. Não o conhecimento que está acessível a todos e que é dos médicos, dos advogados e dos engenheiros. A aplicação desse conhecimento é local e o nosso local é a Plataforma, ou seja Portugal, Angola, Moçambique e a Europa. É em Macau que bebemos vinho português e café expresso. O resto não é nosso. É uma coisa que nós gostamos, mas não é a nossa identidade. Isto é Macau e é a China. O facto de um chinês beber um expresso não lhe retira a sua identidade, como é óbvio. Antes pelo contrário. Eu revejo-me nos chineses quando vou a Portugal. Vim de África, fui para Portugal e depois para Hong Kong e sou valorizado pelas pessoas por aquilo que sou. Não por quanto consigo imitar os costumes dos que lá estão.

22 Abr 2022

António Trindade, Presidente e Director Executivo da CESL-Ásia: “É em Macau que a gente se entende”

António Trindade considera que só será possível alcançar a sustentabilidade, se Macau for capaz de reter o conhecimento produzido ao longo dos anos. Para o CEO da CESL-Ásia, o Governo deve decidir urgentemente qual o caminho para a diversificação económica. Além disso, defende que a plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa só existe no papel, quando na realidade ainda se impõem “barreiras artificiais”

 

Depois de décadas de experiência acumulada, que posição ocupa hoje a CESL-Ásia em Macau?

A empresa tem hoje quase 500 pessoas. No ano passado, tivemos quase 650 milhões de patacas de faturação só com serviços. Do zero a isso, em 30 anos, não é brincadeira, além de que somos uma empresa de referência em Macau. Empregamos muita gente de alto valor. Temos a experiência que poucas empresas no mundo têm em áreas como a gestão de património, de activos e manutenção de operações. Nem toda a gente compreende que a sofisticação de certas operações em Macau é única no mundo. Edifícios como os resorts no Cotai podem ter entre 100 a 150 mil pessoas a entrar e a sair por dia e 20 mil funcionários. Nós operamos uma lavandaria que trata diariamente entre 120 e 130 toneladas de lençóis e roupa, incluindo a lavagem e transporte. No mundo não há nada parecido e isto é de uma sofisticação enorme. Por exemplo, quando o aeroporto abriu em 1996, montámos um sistema de gestão de infra-estruturas, em funcionamento há cerca de 27 anos, que é uma coisa única no mundo. De cada sistema de lâmpadas, motor e peças que compõe uma infra-estrutrura sofisticada como esta, criámos uma base de dados. Isto não é só informação, é conhecimento que acumulamos há 30 anos.

Um dos destaques recentes da CESL-Asia é o lançamento da plataforma Ortux. Em que se materializa esta solução?

Há três ou quatro anos começámos a desenvolver a nossa própria plataforma de apoio e gestão que se chama Ortux e, no fundo, sofistica o tratamento de dados e é útil para o nosso pessoal. O nosso pessoal pode usar a plataforma para gerir equipas e comunicar sobre trabalho que tem de fazer, ajudando a reprogramar o serviço e a oferecer bem-estar a cada pessoa. O nosso sistema tem a diferença de enquadrar as questões financeiras. Esta solução é para ser usada por qualquer pessoa, desde os que asseguram o funcionamento adequado dos espaços, até aos proprietários que precisam saber custos e graus de eficiência.

Como é que essa informação pode ser utilizada para garantir a sustentabilidade das operações ou de um território como Macau?

A nossa experiência não é intangível porque temos a informação. Ao fim de 30 anos, temos milhares de terabytes de informação. O nosso sistema combina tudo e sabe o que pode acontecer em determinadas situações. Isto permite melhorar a qualidade de vida, aumentar o ciclo de vida, a utilidade das infra-estruturas e reduzir custos. Aí entramos na questão sobre o que é a sustentabilidade e como é que ela se consegue alcançar. Temos de usar a experiência acumulada e ter valores éticos. Hoje fala-se muito no desperdício, a questão não é nova. Estamos a gerar informação e temos capacidade para a processar. Há hoje pessoas capazes de analisar os dados e existe muito mais capacidade de computação, o que nos leva à inteligência artificial. Isto traduz-se em projecções que aumentam a sofisticação da previsibilidade e o aumento da qualidade de vida. A informação por si, só serve quem precisa de a utilizar. É um desafio grande porque a inteligência artificial, o Big Data, as cidades inteligentes não resolvem coisa nenhuma. Este é que é o problema.

Considera que o rápido desenvolvimento de Macau tem implicado acções contraproducentes ao nível da sustentabilidade?

É um desafio interessante porque, como sabemos, Macau desenvolveu-se inegavelmente nos últimos anos a nível económico, mas com uma iniquidade muito grande. Mas, quem é que tem acesso aos recursos, aos terrenos, à criação de valor e aos empregos que são úteis? Não estamos só a falar do bem-estar dos funcionários, mas sim da própria sustentabilidade das empresas, porque as empresas que não oferecem perspectivas de carreira, não estão a reter conhecimento e não estão a conseguir aplicar conhecimento no seu desenvolvimento, sobretudo porque Macau é uma terra de serviços.

Em Macau faz-se tábua rasa do conhecimento adquirido, mesmo em situações em que já se deram passos importantes?

Acontece muito porque as pessoas querem esconder o passado. Há dificuldade em lidar com factos. Veja-se, por exemplo, o que se passa, não só em Macau, mas em todas as sociedades modernas com as questões importantes de privacidade e informação. Hoje em dia é impossível fugir a isso. Na minha perspectiva, o Big Data tem um grande potencial de melhoria da qualidade de vida de cada um e não há nenhum trade-off a fazer ao nível da protecção de dados.

Que medidas ou incentivos podem ser criados para tornar Macau mais sustentável?

O maior desafio da sustentabilidade é sempre o Governo e o próprio Governo tem consciência disso. Os maiores contributos para a sustentabilidade e a para qualidade de vida das comunidades são os seus hábitos, a educação, a maneira de consumir, de produzir e acrescentar valor. Nestas comunidades inclui-se o Governo que é o líder principal disto tudo. Isto traduz-se, por exemplo, no facto de o Governo ter reconhecido recentemente a existência de problemas gravíssimos a nível ambiental quando, quem os denunciava anteriormente, eram grupos externos, nomeadamente a própria CESL-Ásia. O Governo diz que estamos a despejar mais de metade dos esgotos para a natureza, ou seja, a cada duas vezes que despejamos o autoclismo, uma vai directa para o mar. Pela primeira vez em 20 anos, o Governo, está finalmente a reconhecer isto. É uma verdade óbvia. A outra questão, também reconhecida pelo Governo, é a necessidade de diversificar a economia. O crescimento passou a significar regressão. Por cada mesa de jogo que se põe a mais em Macau, está-se a tirar produtividade às outras mesas de jogo. Isto é a insustentabilidade da vida real. A maioria das questões da sustentabilidade são resolvidas pelas comunidades e individualmente por cada um de nós, através dos nossos comportamentos.

Como é que se envolve a comunidade nessa mudança de paradigma?

Estamos a falar de qualidade de vida e de assegurar que amanhã a nossa pegada ecológica é menor. Muitos Governos ainda acham que se está a falar de compromissos e sacrifícios, quando é exactamente o contrário. Para isto acontecer, os Governos, as pessoas e as empresas têm de trabalhar em conjunto é o que faz sentido em termos económicos. Macau tem de começar a reter a riqueza que produz, no sentido de desenvolver a sua comunidade. Veja por exemplo os empregos que foram criados em Macau. Há 20 anos não havia muita gente formada em Macau, agora há muitas dezenas de milhares.

O tecido empresarial não é capaz de absorver essas pessoas qualificadas?

Não é só o tecido empresarial, é a sociedade toda. Desde o Governo às empresas. Nós oferecemos carreiras porque estamos a reter conhecimento e experiência e a usar esse conhecimento para acrescentar valor e ser competitivo no futuro e no imediato. Isto é o grande desafio que encontramos em Macau.

Como dever ser concretizada diversificação económica de Macau?

Não há nada mais fatal do que um serviço e o jogo é um serviço que tem que mudar. Temos uma ideia geral de como vamos diversificar e o Governo deu-nos nota do sistema financeiro. Faz sentido porque vai servir a economia da China. A minha opinião ponderada é que a economia de jogo não é a economia de maior valor para Macau. Não tenho dúvidas que a sabedoria indicaria para a necessidade de pegar na ideia da Plataforma, que não é de hoje. A Plataforma existe há pelo menos 500 anos. É aqui, em Macau, que a gente se entende e que e, nos últimos 20 anos, apesar de muitos acharem impossível, foram criados edifícios como os resorts e meteram-se cá 30 milhões visitantes por ano. Alguma coisa altamente sofisticada está a ser feita e isto é um valor intangível que traduz a direcção definida do Governo. Da mesma forma que o Governo criou um sistema de jogo altamente valioso, pode criar outro sistema.

Que outros caminhos podem ser seguidos?

O Governo só tem de definir [o caminho], porque depois é quase impossível errar. O papel que Macau pode ter para acrescentar valor à Grande Baía, basta o Governo definir com a China. Se é para apostar no sector financeiro, é preciso dizer o que não há em Hong Kong, o que falta às empresas chinesas e o que elas precisam que Macau faça é estabelecer vantagens de acesso aos mercados exteriores. E aqui já existe a Plataforma e a Lusofonia. Macau tem que olhar para os dois lados.

Há então a necessidade de apontar um caminho mais claro?

Claro, sem dúvida. Precisamos de uma perspectiva de valor. Em Macau diz-se que a economia é livre, mas não é tão livre como isso. A economia de Macau é dominada pelo jogo, mas o jogo resulta de uma concessão. Se isto acaba temos de encontrar uma solução para saber onde vamos aplicar o conhecimento e as capacidades que temos e com que sentido. Para que o sistema financeiro se desenvolva, vai ter que ser criada uma economia de serviços mais sofisticada e outras infraestruturas.

Porque não há mais empresas a apostar na Plataforma?

Há quantos séculos a actividade económica entre Portugal e a China é negligente, apesar da amizade secular e da criação de tanto valor de cooperação? Alguma coisa os dois beneficiaram, mas é completamente desproporcional ao potencial que isto tem.  Faz algum sentido que para fazer um investimento em Portugal só exista um banco em Macau, o BNU? Ainda hoje não existe infra-estrutura. A Plataforma não existe. Só existe no conceito, mas não é difícil de construir. O Governo tem os mecanismos para gerir as actividades económicas e as empresas chinesas são empresas estatais que funcionam como veículos da política económica. Não é muito difícil liderar um processo e estabelecer uma cadeia de valor nova altamente promissora.

Porque ainda existem estes constrangimentos?

Isto não é um constrangimento. O constrangimento é artificial. O Governo de Macau tem poder e capacidade para estabelecer a Plataforma e diversificar a economia. Deus queria que o faça. Agora, para o fazer tem que ser com a mesma intenção e sabedoria com que estabeleceu o maior e mais sofisticado mercado de jogo do mundo. Os técnicos, engenheiros e advogados que Macau formou nos últimos 15 anos estão a tratar de questões de crime, de cobrança, em vez de estar focados a criar conhecimento para a Plataforma. Alguma coisa tem sido feita no âmbito fiscal, como acordo da dupla tributação com Portugal. Mas isso são coisas pontuais e não contribuem para criar a Plataforma ou servir a economia da Grande Baía.

Depois do investimento no Monte do Pasto, os objectivos têm sido cumpridos apesar da pandemia?

Passámos razoavelmente bem pela pandemia, porque o Monte do Pasto é uma actividade com um nível de sofisticação pouco comum. Exportamos para mercados como o de Israel, onde cumprimos com requisitos de clientes exigentes e padrões religiosos como o Halal ou Kosher. Antes de investir eu próprio tive um debate duro sobre como é que uma empresa que se preocupa com sustentabilidade ia apostar em gado. A conclusão foi muito simples, pois existe a perspectiva de multiplicar valor através da aposta na sustentabilidade alimentar. Escolhemos Macau e começamos a desenvolver a nossa oferta de carne sustentável. Estamos a olhar para as coisas de uma perspectiva completamente diferente e a perguntar qual é o nosso contributo para a Humanidade. O negócio vem depois. No entanto, é impensável não termos autorização para exportar esta carne de alto valor para a China. Se as pessoas de Macau podem comer porque é que as de Zhuhai não podem? Estamos a falar das tais barreiras artificiais que podiam ser facilmente resolvidas.

Na sua opinião, qual o futuro de Macau na Ilha da Montanha, quando até o Chefe do Executivo disse que, em breve, o Governo Central vai dar uma prenda a Macau?

Acho que o Chefe do Executivo está a querer dar um sinal positivo para o futuro e a assumir um compromisso de que as coisas vão melhorar. Hoje a situação é stressante, na medida em que estamos aqui fechados, mas a vida em Macau é uma maravilha. O Chefe do Executivo está a dizer que há um futuro em Hengqin, mas vai ter de dizer que futuro é esse. Hengqin é uma infra-estrutura para um processo de criação de valor que nós, na nossa economia, e o Governo, temos de fornecer, principalmente, à economia chinesa, atraindo os agentes externos que se queiram relacionar. A ideia de Hengquin representa o compromisso assumido sobre a diversificação económica e a redução do peso que o jogo tem na utilização dos recursos de Macau. Ficamos à espera que o Chefe do Executivo nos diga o que precisa de nós, onde vamos poder acrescentar valor e quem serão os nossos clientes.

18 Ago 2021

Cólera | Cheoc Van pode ter sido contaminada com esgotos não tratados

[dropcap]O[/dropcap] caso de cólera detectado na água da praia de Cheoc Van pode estar relacionado com o mau tratamento dos esgotos no território, alertou na sexta-feira o presidente da CESL Ásia, citado pelo Macau Daily Times.

António Trindade, CEO da empresa de energia e ambiente local, suspeita que existe uma relação entre a recente análise positiva à bactéria e a falta de tratamento das águas dos esgotos que são descarregadas no mar.

Segundo a publicação, o responsável da CESL afirmava em entrevista no início de 2019, que “mais de 80 por cento das águas do sistema de esgotos em Macau é despejada sem tratamento nas águas costeiras”. E terá lembrado agora que as autoridades sanitárias têm como confirmar ou despistar esta afirmação, bastando “analisar os germes do lixo recolhido ou dos esgotos tratados nas diversas estações da cidade”. Se compararem esses resultados com a estirpe encontrada na praia, na semana passada, vão saber de onde provém a contaminação.

Mesmo que parte da água seja tratada antes de se proceder à descarga dos efluentes, esta poderá não estar livre de perigo, como entende António Trindade, já que Macau “continua hoje a aplicar níveis de segurança datados de 1992 para gerir e tratar os resíduos líquidos”. Esta “é uma situação de terceiro mundo” para um território que tem uma das “mais ricas economias do mundo” e “recebe dezenas de milhões de turistas a cada ano”, comentou ao Macau Daily Times, acrescentando que, “não podemos aceitar esses riscos”.

Uma epidemia de cólera pode ser desencadeada através de contaminação da água ou de alimentos por parte de agentes infectados ou de fezes. A doença pode espalhar-se rapidamente em regiões com tratamento ineficaz de esgotos e de água potável, associadas a condições de higiene precária.

29 Jul 2019