Kamyi Lee, Artista Digital | Da música às cores

[dropcap style=’circle’] F [/dropcap] oi na infância que Kam Ying Lee teve o primeiro contacto com o mundo das artes. As aulas de piano marcaram a jovem local, que com o passar do tempo trocou as teclas do piano pelos média digitais. Aos 27 anos, encontra-se em Los Angeles, a tirar um mestrado em Média Interactivos para Performance, e foi nos Estados Unidos que mostrou ao público os seus últimos trabalhos.

“Sempre quis estar envolvida no mundo das artes desde a minha infância. Nessa altura, estava exposta principalmente à música porque aprendi a tocar piano. Mas com o passar do tempo desenvolvi um maior interesse pelas artes visuais, até que, na universidade, comecei a trabalhar com tecnologias digitais. Neste momento, a maior parte dos trabalhos que desenvolvo são focados nas componentes áudio e visual”, contou Kam Ying Lee, que tem como nome artístico Kamyi Lee.

Antes de ingressar no Instituto de Artes da Califórnia, e quando ainda estava no território, optou, primeiro, por se licenciar em Comunicação na Universidade de Macau. Uma licenciatura que encarou como a melhor opção para se preparar para o que antevia como a carreira: “Decidi estudar artes porque é através dessa forma que quero exprimir e as minhas ideias. Quero que as pessoas compreendam o que vejo e o que quero partilhar”, contou.

 

Design gráfico

Concluídos os estudos, Kam Ying Lee focou-se essencialmente no design gráfico, com a paginação de revistas locais, livros entre outros mais. “É uma área que sempre me interessou muito, ainda hoje me interessa, mas por agora estou mais focada nos meios digitais”, reconhece. “No fundo, o que tenho feito ainda está intimamente ligado ao design gráfico, só que estou a trabalhar com outros meios. Tenho um âmbito mais alargado, com outras plataformas”, frisou.

Foi neste período, entre 2013 e 2014, que através da participação no Festival de Artes de Macau envolveu nos espectáculos “Mapping: Fabricado em Macau I e II” e “Um Sonho de Luz”. Os primeiros espectáculos projectaram imagens, combinadas com elementos áudio, sobre a Praça do Tap Seac e Casa do Mandarim, o segundo, em que desempenhou a função de assistente de produção aconteceu com a projecção de imagens sobre as Ruínas de São Paulo.

“O espectáculo Um Sonho de Luz mudou um pouco a forma como vejo a zona das Ruínas de São Paulo. O projecto estava integrado no Festival de Artes de Macau, era uma grande equipa e tivemos cerca de 10 meses para prepará-lo. Envolveu muita pesquisa e isso permitiu-me ter uma melhor compreensão daquela zona”, reconhece Kam Ying Lee. “É uma das minhas zonas favoritas em Macau”, acrescenta.

 

Mudança para os EUA

Com o avançar do tempo, Kamyi sentiu necessidade de se desafiar, seguir o seu caminho e continuou a desenvolver técnicas de trabalho. Por esta razão, decidiu mudar-se para os Estados Unidos. Mesmo que implicasse ficar sem trabalhar durante algum tempo.

“Estava um bocado aborrecida em Macau, sentia que precisava de mexer um pouco com a minha vida e de me afastar para fazer um caminho meu. Também estou numa área em que nem sempre há projectos em Macau, por isso ir estudar para fora foi uma opção para me continuar a desenvolver”, sublinha.

O facto de ter um irmão mais velho, fez com que a família aceitasse com naturalidade a mudança: “Sou a segunda filha e o meu irmão tem assumido o principal papel financeiro. Tenho sido a mimada da família e por isso os meus pais deixam-me fazer o que quero, desde que mantenha a independência financeira”, admite, em tom divertido.

 

Saudades da Chuva

Mas se o aspecto profissional e educativo tem entusiasmado Kamyi, que em dois anos desenvolveu seis projectos, alguns dos quais integrados no mestrado, por outro lado, a residente de Macau, nascida em Hong Kong, admite que sente saudades do território.

“Tenho sempre muitas saudades, do ambiente da cidade, do mar, porque nos Estados Unidos vivo mais afastada do oceano, das pessoas e de falar cantonense de forma regular”, confessa, apesar de dominar fluentemente o inglês. “Nos primeiros tempos foi difícil encontrar pessoas que falassem cantonense, e ainda hoje não conheço muitas. Portanto, acaba por haver essa saudade”, justifica.

Nos últimos dias, com a passagem do tufão Ewiniar, ter saudades pode parecer estranho, contudo, Kamyi admite que depois de dois anos a viver quase num deserto, que se sentem bem nestas condições: “Tenho saudades da chuva, porque estou há dois anos quase numa zona de deserto e isso muda-nos perspectiva”, frisa.

Foi também a chuva que serviu de inspiração para a sua última instalação em Los Angeles, que teve com o nome: The Peach Blossom Land. O trabalho consistiu numa série de chapéus-de-chuva com luzes LED, numa sala escura, presos ao tecto, que as pessoas podia mover à vontade. A partir do movimento das pessoas, as luzes mudavam também de cor, variando entre o vermelho, azul e verde.

“A arte para mim tem de ser interactiva. É diferente ficar a apreciar um trabalho de forma passiva e poder mexer-lhe e interagir sobre ele. Para mim, é muito mais significativo envolver as pessoas”, explicou sobre o conceito. “Se estivermos de fora e virmos as pessoas a interagirem com a instalação, e eu fiz isso, há um significado especial. Para mim se fizer um trabalho e as pessoas não interagirem, não se envolverem, sinto que a exposição não está completa”, acrescentou.

 

8 Jun 2018

Elvis Mok, calígrafo e poeta | O artesão da escrita

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]icenciado em língua chinesa pela Universidade de Macau, Elvis Mok, de 36 anos de idade, é professor da caligrafia. A paixão surgiu por influência da família, revelou ao HM, especialmente porque o pai era professor de chinês. No entanto, a dedicação a esta arte só apareceu quando entrou na universidade. “No início não gostava muito de caligrafia chinesa, e só quando fui para a universidade é que me apercebi da importância de escrever os caracteres com exactidão”, contou.

As obras de caligrafia de Elvis Mok podem ser encontradas no “Tealosophy Tea Bar”, loja em que o menu é escrito pelo calígrafo e os copos de papel são ilustrados com um poema da sua autoria. A parceria com este estabelecimento foi motivada pela amizade entre Mok e o proprietário que nasceu de um interesse comum por cultura chinesa, há cerca de oito anos. Quando o amigo decidiu abrir uma loja de bebidas convidou Mok para escrever o menu. A poesia é outra das suas paixões apoiada pelo “Tealosophy Tea Bar” com a divulgação da colecção de poemas “A Cultura é Vida” que Kok usa para levar as suas mensagens aos clientes daquele estabelecimento.

Ensinar a escrever

Elvis Mok é também o fundador do Centro de Educação de Artes Hon Mak. Neste centro, lecciona cursos de caligrafia chinesa, enquanto a irmã, parceira neste projecto, é professora de pintura.

A ideia de criar o Centro de Educação de Artes Hon Mak foi concretizada após Mok ter deixado as suas funções de professor do ensino secundário, há três anos. No centro, o mestre dos caracteres ensina crianças, mas também adultos que na sua maioria são professores.

Para Elvis Mok muitos professores de chinês de escolas secundárias, apesar de não serem profissionais na arte da caligrafia, precisam de ensinar os alunos como escrever correctamente. Para isso, o calígrafo, nos cursos destinados aos professores, tem especial atenção no ensino da técnica.

O número de interessados em frequentar estes curso têm excedido as expectativas de Mok. A razão, referiu, tem que ver com a atitude dos pais das crianças que estão atentos ao desenvolvimento das capacidades de escrita na escola e fazem questão que os filhos escrevam os caracteres chineses com exactidão.

O professor considera ainda que o ensino da caligrafia é fundamental por poder potencializar o estudo em geral e por ser um bom instrumento para promover a capacidade de coordenação visual e manual das crianças.

Elvis Mok reconhece que a arte da caligrafia chinesa está cada vez mais distante da população, mas ainda está muito ligada à vida quotidiana das pessoas. Mok olha para o futuro com esperança, mas também com algum receio quanto ao avanço tecnológico e a sua repercussão nas formas mais tradicionais de escrita. “Se os estudantes nas escolas usarem o Ipad para escrever os trabalhos de casa relativos à caligrafia, será terrível”, diz.

Elvis Mok é também presidente da Associação de Poetas de Macau Outro Céu, uma plataforma criada em 2002 para se reunir os poetas locais. Um outro objectivo desta entidade é conseguir angariar fundos para publicar colectâneas dos trabalhos produzidos pelos seus associados. “Em Macau há poucas publicações locais, ou seja, muitas pessoas escrevem poemas mas as obras não são divulgadas por não existir uma editora que o faça”, disse Elvis Mok. O resultado é que alguns dos poetas locais acabam por recorrer a este tipo de serviço no exterior. Por outro lado, Mok considera que, mesmo que existam obras publicadas no território, há outros obstáculos a superar, como a falta de leitores.

1 Jun 2018

Raquel Dias, coordenadora na área cultural | Uma casa chamada Macau

[dropcap style=’circlr’]N[/dropcap]asceu em Moçambique, estudou em Portugal e em Inglaterra, mas a maior parte da vida passou-a em Macau. Uma terra que, apesar de não ser a sua, a faz sentir-se em casa. “Independentemente do que decidir para o meu futuro, vai ser sempre o meu poiso”, diz Raquel Dias.

“Foi só há pouco tempo que deixei de olhar Macau como um sítio de passagem”, uma visão que “marca também um pouco a maneira como nós nos relacionamos com a terra”, observa a jovem de 31 anos. “É um lugar onde investimos pouco – tanto financeira como emocionalmente – porque achamos sempre que vamos ficar por pouco tempo e depois acabamos por ficar uma quantidade de anos e não construímos nada”, realça Raquel Dias, que chegou a Macau em 1991.

Essa viragem teve os primeiros sintomas quando saiu de Macau: “Aos 16 anos decidi que queria ir para Portugal e chateei tanto a cabeça dos meus pais que fui para um colégio interno. Foi um momento marcante na minha vida, porque nunca me tinha questionado sobre a minha identidade e foi aí que começaram as minhas grandes dúvidas existenciais, porque percebi que era ‘mais ou menos portuguesa’ ou pelo menos não era portuguesa de Portugal”. “Foi a primeira vez que tive essa sensação de não ter terra”, embora, “às vezes, seja bom, porque ao sermos de lado nenhum podemos ser de qualquer lado”. “Foi um momento marcante, mas exacerbado também, claro, pelas hormonas da adolescência”, brinca.

Depois de Portugal, Raquel Dias foi estudar História e Antropologia para Inglaterra. Quando terminou o curso, regressou a Macau. A ideia era ficar um ano e voltar a Inglaterra, mas acabaria por deixar-se estar na terra onde cresceu até hoje.

Arregaçar as mangas

O primeiro emprego surgiu, pouco depois do retorno a casa, na Delta Edições, empresa que produz e distribui a Revista Macau. Foi a primeira experiência de várias do mesmo tipo, dado que trabalhou de seguida para diferentes projectos editoriais, incluindo as revistas Essential Macau, Macau Business e High Life ou no portal Live and Love Macau, da qual foi uma das fundadoras, actual Macau Lifestyle.

Pelo meio recebeu uma oferta do Wynn, que estava a preparar a abertura do Wynn Palace. “Fizeram-me uma proposta aliciante e acabei por ficar um ano e meio”, explica. Integrada na equipa de relações públicas, “fazia a edição do material escrito em inglês e também traduções ou ‘news clipping’, na verdade, um pouco de tudo”. “Eu não tinha ideia de que fazer a abertura de um casino era tão intenso e cansativo, pelo que acabei por sentir saudades e queria voltar para um projecto editorial”, recorda.

Depois do regresso ao mundo editorial, Raquel Dias decide embarcar numa nova aventura: “Comecei a trabalhar como freelance, a fazer tradução e interpretação simultânea de inglês-português e vice-versa, porque queria trabalhar para mim”. “Descobri que me dava imenso prazer e foi o que fiz durante algum tempo. Claro que era óptimo trabalhar por conta própria, mas também tem as suas desvantagens”, sublinha.

Foi, aliás, por essa razão, que aceitou de imediato uma oferta de trabalho na Fundação Rui Cunha, onde está desde Março como coordenadora da área de apoios socioculturais e filantrópicos. “Nem pensei duas vezes, porque já tínhamos falado antes”.

É uma mulher de sete ofícios, mas “tudo um pouco por acaso”: “As coisas foram acontecendo, sem nada muito programado”. “Não sou historiadora, não sou antropóloga e também nunca achei que me pudesse auto-intitular de jornalista”, realça.

O que lamenta? Nunca ter voltado a Moçambique. “Nunca voltei a Moçambique e era uma viagem mesmo muito importante para mim, mas se calhar precisamente por essa razão ainda não arranjei tempo para a fazer”, diz. Acima de tudo, “queria voltar lá, gostava de conhecer uma das terras que também é minha”.

11 Mai 2018

Tony Lai, jornalista | Freelancer por acaso

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de mais de dois anos a exercer a tempo inteiro a profissão de jornalista, no final de 2014, aproveitando um período de instabilidade interna na revista em que trabalhava, Tony Lai decidiu fazer uma pausa na carreira. A paragem durou quatro meses e, pouco-a-pouco, sem que houvesse um planeamento, Tony acabou por se tornar jornalista freelancer.

“Durante essa pausa, que durou cerca de quatro meses, surgiu-me uma proposta para colaborar com outro meio de comunicação social. E, curiosamente, a seguir a esse momento, foram surgindo mais e mais propostas que fui aceitando. Foi assim que me tornei freelancer. Não foi algo que tivesse planeado, foi acontecendo”, recorda Tony Lai ao HM.

Apesar das eventuais limitações, a grande vantagem para o jornalista ao adoptar este regime é o facto de ter uma maior oportunidade de escolher as histórias em que realmente quer trabalhar. Por outro lado, consegue evitar alguns dos trabalhos mais rotineiros.

“As pessoas quando escolhem ser jornalistas procuram um trabalho sem rotina, que traz novidades todos os dias. Mas quando se trabalha a tempo inteiro, acaba por haver uma grande rotina, ao contrário do que se possa pensar”, considera.

“Depois de trabalhar um ano num sítio, quando se entra no segundo ano, cerca de 80 por cento dos eventos que é necessário cobrir são os mesmo do ano anterior. Quando os jornais seguem a agenda, não há muito de diferente. Esse aspecto torna o trabalho demasiado monótono. É por isso que prefiro a situação de freelancer. Tenho mais escolha”, justifica.

Vertente mais humana

Também neste regime, o jornalista colabora com diferentes revistas, o que lhe permite experimentar e trabalhar em diferentes registos. Quando escreve em inglês foca-se mais em assuntos económicos, quando escreve em chinês o registo é mais pessoal. E, neste capítulo, a prioridade passa por colaborar com revistas, mais do que os jornais.

“Gosto de trabalhar mais em revistas em chinês do que nos jornais em chinês. Muitas vezes os jornais têm uma linguagem muito próxima da utilizada oficialmente, isto é uma linguagem demasiado próxima dos comunicados de imprensa. No entanto, nas revistas podemos focar-nos mais nas histórias das pessoas, há uma vertente humana”, explica.

“Por exemplo, recentemente fiz uma história sobre o mercado imobiliário. Mas não me foquei nos elementos económicos, são as pessoas que vivem na cidade a contarem o que sentem. Acho que este tipo de trabalhos é mais interessante”, sublinhou.

Em relação à escolha pelo jornalismo, surgiu depois de um curso em Comunicação em Inglês na Universidade de Macau: “No final do curso, achei que o trabalho de jornalista se adaptava às minhas capacidades e optei por experimentar”, explicou.

Arte de comer

Além de escrever, o jornalista de 27 anos adora experimentar diferentes tipos de comida e cafés. Por este motivo, actualiza com regularidade as redes sociais com diferentes tipos de comida e petiscos, que vão surgindo pela cidade.

“Macau tem muitos locais para comer petiscos com qualidade. Não se pode dizer que são restaurantes porque servem principalmente snacks, não é um local para a refeição tradicional, mas a comida tem muita qualidade. O único problema são as rendas, que fazem com muitos destes locais com comida de qualidade tenham de encerrar”, considera. “O outro problema é quando os restaurantes se tornam demasiado populares. Acabam por receber muitas pessoas e torna-se difícil encontrar um lugar”, acrescenta.

Entre os locais onde mais gosta de petiscar está a pastelaria Lord Stow, em Coloane. “É um bom lugar em Macau que permite às pessoas relaxar e passear à beira-mar e olhar para Hengqing. Também não é muito caro, se compararmos com a Taipa ou o Cotai”, conta. No entanto, Tony explica que a melhor altura para ir é durante a semana: “no fim-de-semana tem muitos turistas. Mas durante a semana é mesmo mais calmo e até se pode ver as lojas locais a secarem o peixe”, diz.

Fascínio pela leitura

Outro dos grandes interesses do jornalista é a leitura. Por essa razão, não é difícil encontrar Tony Lai nas bibliotecas do território, principalmente na Biblioteca Central, na praça do Tap Seac.

“Gosto principalmente de ler romances, mas também livros com pequenos relatos das impressões dos autores sobre diversos assuntos, como comida, política, temas realmente muito diferentes”, afirmou.

Em relação às bibliotecas de Macau considera que têm melhorado muito nos últimos anos, mas que mesmo assim a oferta é limitada.

“Se formos a Biblioteca Central há uma oferta muito maior, mas as outras não têm assim tanta oferta. Claro que se podem pedir os livros, e eles depois são transferidos entre as bibliotecas, mas mesmo assim a oferta é limitada”, considera.

Por outro lado, Tony Lay considera que as revistas disponíveis para os leitores são de grande qualidade. O problema é a regularidade com que chegam as novas edições, mas sendo conhecedor do mercado, não culpabiliza as bibliotecas: “Não ficava surpreendido que os atrasos se ficassem a dever mesmo às revistas, que só ficam prontas mais tarde”, aponta.

27 Abr 2018

Helena Ramos, freelancer | Residente intermitente

[dropcap style=’circle’] Q [/dropcap] uando sobe o pano do Rota das Letras anda de um lado para outro de papéis na mão pelos corredores do edifício do antigo tribunal. Apesar da preferência pelos bastidores, todos a conhecem fora deles. Helena Ramos vem com regularidade a Macau, mas apesar de ter decidido desligar-se do Festival Literário no final da sétima edição, que terminou no final de Março, acabou por transformar-se numa “residente intermitente”. Novos projectos talvez continuem a trazê-la cá.

A primeira vez que desembarcou em Macau foi em 2013, ou seja, na segunda edição do Rota das Letras. “Quando cheguei fiquei louca com estas luzes e estes casinos todos e depois comecei a perceber um bocadinho melhor a segregação que existe e isso assustou-me. No primeiro ano sai daqui um pouco não desiludida com o festival, mas com Macau”, porque “achava que havia muito mais interacção entre culturas”. Essa primeira desilusão não a demoveu de continuar num projecto em que acreditava: “Afinal, o festival servia para isso mesmo, para aproximar as culturas, e pensei ‘vamos lá então tentar’”. Com o tempo, Helena Ramos não mudou totalmente de opinião, mas ter conhecido outras pessoas e perceber que “há, de facto, quem esteja particularmente interessado nessa mistura cultural” suavizou a primeira impressão. “Se estiveres com a mente aberta as pessoas não são assim tão fechadas. No início tive a impressão de que eram muito difíceis, porque nem olhavam para mim na rua nem me respondiam quando fazia perguntas e agora já não”, observa a freelancer.

A vida de Helena Ramos sempre girou à volta dos livros. Depois de ter ido estudar para estrangeiro, passando cinco anos em Espanha, regressou em 2004 a Portugal onde começou a trabalhar na ASA que, anos mais tarde, viria a ser adquirida pelo grupo Leya, altura em que recebe um convite para a Porto Editora. Foi, aliás, nesse “mundinho” que se cruzou com Hélder Beja, co-fundador e ex-director de programação do Rota das Letras, que mantinha um blogue sobre literatura. Ficam “grandes amigos”, pelo meio ganha vida o Festival Literário de Macau e Helena Ramos, sem possibilidade de vir a Macau, mas “com muito interesse” no novo projecto começa a participar à distância. “Comecei a trabalhar a partir de lá nos livros, a fazer traduções e a editar, porque é o que faço, mas depois percebemos que tinha de vir para aqui e coordenar os conteúdos e essas coisas todas”, conta a lisboeta de 41 anos que, embora não tenha vindo a Macau todos os anos consecutivos, era uma das pessoas mais antigas na equipa do festival.

Pelo meio, despediu-se para ser freelancer – faz tradução (de inglês e de espanhol) e edição. Contudo, o seu objectivo mantém-se: “abrir horizontes”. Um deles foi ir tirar o curso de Belas Artes (que ainda frequenta), após uma formação anterior em cinema. “O meu problema é que me aborreço imenso se fico só numa coisa. Então, estou sempre à procura de novas coisas o que, às vezes, é mau, porque não acabo uma e vou logo para outra, mas estou a tentar focar-me”, afirma.

Actualmente, tem outro vínculo com os livros, desta feita o novo desafio é escrever um, baseado na viagem de três meses que fez no ano passado, movida pela “vontade de sair” de Portugal. “Fui tipo Forrest Gump, mas a andar”, brinca Helena Ramos que apanhou um avião para Oslo e voltou a pé para Lisboa. “Foi um bocado à maluca. Fiz metade da Noruega, as montanhas todas, estive três semanas sem ver ninguém e para morrer várias vezes, porque eu nunca tinha feito isto, nem sequer sabia ler um mapa”, recorda. “Todos os dias perguntava-me o que estava a fazer ali e ainda por cima sozinha, mas aquele instinto de sobrevivência fez-me relativizar imenso as coisas do dia-a-dia que nos stressam e aprendi imenso sobre mim também”. Durante a viagem, apenas recorreu a dois meios de transporte: uma “bicicleta velha” que o desespero a levou a comprar e que a ajudou em parte do percurso, e um barco para fazer uma travessia de duas horas entre a Suécia e a Dinamarca.

Contar histórias é o que realmente lhe interessa, independentemente do formato, embora aprecie particularmente vídeo-arte, mas nada muito conceptual, porque gosta, acima de tudo, de levar a cultura aos cantos onde não chega. Na sua cabeça magica mil ideias. “No ano passado, quando tive um tempinho, comecei a fazer um trabalho aqui em Macau. Tirei umas fotografias e tenho, de facto, isso, além de que também já me disseram para fazer aqui uma exposição com os meus quadros e as minhas esculturas, mas fico um bocado envergonhada”.

“Embora tenha sido o meu último ano no Rota das Letras, tudo o que sejam projectos de cultura interessam-me e há vários em mente, a misturar culturas, e também a ver com a Ásia. Cá nos veremos outra vez noutros formatos”, promete.

 

6 Abr 2018

Ferdinand Choi, músico e compositor

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ascido e criado em Macau, Ferdinand Choi é um guitarrista e compositor que faz questão de mostrar a terra onde nasceu nos seus videoclips. Exemplo disso é o vídeo promocional da música “When I Have You”, gravado nas tradicionais palafitas de Coloane.

Arranha no inglês mas faz dele o seu instrumento de trabalho. O gosto pela música começou cedo, pouco depois de terminado o ensino secundário. “Acabei a escola secundária e comecei a aprender a tocar guitarra. Numa primeira fase não cantava, mas depois como gostava muito de tocar guitarra passei a fazer parte de uma banda. Nessa banda eu já fazia algumas canções mas não cantava, havia outra pessoa a fazê-lo.”

Hoje Ferdinand Choi vive da música e toca três vezes por semana no bar Mugs, um pequeno espaço localizado na zona da Praia Grande. “Toco algumas canções chineses, em inglês também, canções pop. Numa noite posso tocar uma ou duas canções minhas”, explicou.

Mas não só: o músico já tocou em vários bares de Macau e até participou, em 2016, num concurso de música na China.

Apesar de ter gostado da experiência, no continente deparou-se com a competição, uma vez que há muitos talentos nas mais diversas áreas musicais.

“Na China há muitos músicos e muita competição. Mas foi uma boa experiência, porque nunca tinha participado em nenhum concurso antes. Há muitos músicos na China, bastante diferentes dos de Macau. É mais difícil ser músico na China. Macau é um território pequeno e não há muitos músicos e compositores, então não há essa competição. Na China há uma grande variedade de bons músicos.”

Afirmando que deve ser um dos poucos músicos de Macau que consegue sustentar-se com os concertos, Ferdinand Choi considera que, no território, “é difícil ser músico a tempo inteiro”. “Neste momento vivo da música, talvez seja um dos poucos que em Macau vive só disso. Tenho vindo a compor algumas canções nos últimos tempos”, frisou.

O primeiro disco

O músico de Macau já se aventurou no mundo dos álbuns, tendo apostado na gravação de “Meet”. O projecto foi feito em Taiwan, dada a diversidade e maturidade do mercado musical da Ilha Formosa.

“Já tinha muitas canções escritas nessa altura e queria gravar um disco. Muitos incentivava-me a fazê-lo. Então decidi ir para Taiwan gravar o álbum. Lá é mais barato e o mercado está mais desenvolvido, temos muitas escolhas de locais onde possamos gravar, há mais produtores e engenheiros de som, com mais experiência do que em Macau.”

Macau começa agora a despertar para o mundo da música e há uma nova geração de músicos e cantores a nascer, bem como de estúdios de gravação. Ainda assim, Ferdinand Choi assegura que as empresas ligadas às indústrias do jogo e do entretenimento desconhecem os talentos locais do mundo da música.

“Os casinos, por exemplo, não sabem que em Macau também há músicos, e muitas vezes acabam por contratar cantores de Taiwan, Singapura e Malásia. Só agora é que começam a ter noção de que em Macau também há muitos músicos. Muitas vezes estas empresas trabalham em parceria com agências de artistas e nós não trabalhamos com elas.”

Ferdinand Choi aposta tudo na sua página de Facebook para mostrar o seu trabalho. Aliás, para quem começa uma carreira, as redes sociais podem ser uma boa ajuda, assegura. “Actualmente o Facebook é uma boa ferramenta para mostrarmos o nosso trabalho, as redes sociais no geral. Além disso acabamos por não gastar dinheiro com a promoção do nosso trabalho.”

Nos próximos tempos Choi sabe que quer continuar a tocar e a cantar, sendo que a aposta numa carreira mais internacional está nos seus planos.

“Quero participar em mais festivais de música na China ou em Taiwan, e até no estrangeiro. Quero tocar as minhas próprias canções. Talvez no próximo ano estarei a trabalhar no meu próximo álbum”, rematou.

16 Mar 2018

Pamela Ieong, intérprete-tradutora | Um gosto natural pelas línguas

[dropcap style=’circle’] Q [/dropcap] uando era criança, não sabia o que queria ser. À inoportuna pergunta respondia o que os professores queriam ouvir: médica ou advogada. Não tinha grandes ambições na altura, mas quando saiu da escola secundária começou a perceber melhor do que era capaz. “Gostava de aprender línguas e acabei por optar pela licenciatura em Estudos Portugueses na Universidade de Macau”, conta Pamela Ieong.

Embora interessada pelas línguas em geral (hoje domina quatro), ao pensar nas oportunidades, o português era o que “tinha mais vantagem” no contexto de Macau. O facto de o curso incluir um programa de mobilidade também foi uma aliciante. “Já sabia que podia fazer um intercâmbio no terceiro ano e, por isso, optei pela língua portuguesa”.

“No início foi difícil. Hoje acho que estou melhor”, brinca a jovem de 29 anos que trabalha a tempo inteiro como intérprete-tradutora no Instituto de Acção Social (IAS). “Não conhecia ninguém de Portugal ou de outros países de língua portuguesa. Antes de ir fazer a entrevista para a universidade pedi ajuda a uma amiga que, meses antes, tinha estado a aprender português no Instituto Português do Oriente (IPOR)”. “Ela ensinou-me a dizer o nome, em que escola andei, um conjunto de frases que depois usei na entrevista. Disse tudo o que aprendi com ela, o resto só em inglês!”

O verdadeiro primeiro contacto com o português aconteceu pouco antes de começar o ano lectivo, já que decidiu inscrever-se no Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesa, também na Universidade de Macau.

Quando chegou o terceiro ano do curso seguiu para Portugal, aproveitando a boleia do programa de intercâmbio. Esteve principalmente em Braga, mas também em Coimbra. “Gostei imenso da experiência”, enfatiza Pamela Ieong, que viu o seu gosto ser influenciado pela cultura do país mais ocidental da Europa.

O café figura como o exemplo mais evidente: “Em Macau é mau, mas lá experimentei e gostei. No meu antigo trabalho também bebiam muito e eu agora também bebo”. Numa incursão pelos doces também se deparou com a descoberta – não rara entre chineses de Macau – de que o pastel de nata “é totalmente diferente” e “come-se com canela”.

Depois de concluir os estudos, Pamela Ieong estagiou no Jornal Tribuna de Macau. Foi depois para o Instituto Internacional de Macau (IIM), o seu primeiro emprego, seguindo-se uma passagem pela Fundação Macau até se mudar, há três anos, para o IAS. “Os meus trabalhos foram sempre ligados à língua portuguesa”, explica, convicta de que a aposta foi acertada. “Não me arrependo. Além disso, o português já me deu muitas oportunidades para ir ver mundo”.

“Em Portugal, tinha vergonha de falar em público, mas depois de voltar ganhei mais confiança e participei num grupo de Toastmasters. Primeiro em inglês, depois em português. Ajudou-me muito e também fiz amizades com pessoas de países de língua portuguesa, como de Moçambique”, diz a intérprete-tradutora.

Pamela Ieong gosta muito do que faz, sobretudo porque esse ofício, de converter um mundo para o outro, “pode ser um bom instrumento para ajudar muita gente”. Esta ideia acompanha-a desde cedo, dos tempos em que ouvia os pais a narrarem-lhe as dificuldades que encontraram em fazer-se entender nos departamentos públicos quando chegaram a Macau.

À sua volta há uma verdadeira babel. No emprego trabalha com o português e com o cantonês; em casa fala em mandarim com o marido malaio; enquanto com o sogro, por exemplo, a conversa decorre em inglês. Nos tempos livres, gosta de ler: em casa mais em chinês, no serviço mais em português. “Tenho que dominar as duas línguas e também de ler muito para conseguir traduzir bem”, realça Pamela Ieong, fã da escrita de Mia Couto.

Deixar um dia a terra-natal é uma possibilidade em cima da mesa. “Queria ir para fora, mas acho que Macau é um sítio onde posso ter um bom começo. Dentro de alguns anos, se conseguir alguma oportunidade em Portugal ou no Brasil, por exemplo, talvez arrisque”, confessa.

“Se calhar mais Portugal, porque conheço”, reconhece a intérprete-tradutora que, em 2014, esteve durante três meses no Porto, onde fez serviço de voluntariado, enquanto acompanhava a irmã que, curiosamente, também foi atrás da língua portuguesa. “Foi escolha dela, não a forcei. Ela fez-me perguntas antes de decidir que curso tirar, não decidi por ela. Mas ela quer ser professora”.

9 Mar 2018

Vanessa Yam, cantora, designer gráfica e ilustradora: Artista dos sete instrumentos

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]edo começou a desenhar rabiscos no papel, a depositar imaginações em folhas soltas. Um gosto de infância que se transformou no anseio de uma carreira profissional.

Mais tarde veio o gosto pelas canções e por subir a um palco para mostrar a voz ao público. Vanessa Yam assume-se como uma artista multifacetada que gosta de cantar e que sempre quis ser pintora, mas que acabou por ser designer gráfica, licenciada pela Universidade de São José.

Há dez anos começou a dar os primeiros passos no mundo da música, tudo graças à participação, com um grupo de amigos, num concurso de busca de talentos. “Comecei a cantar quando estava na escola secundária e participei em algumas competições para cantores em Macau, com alguns amigos. Foi assim que comecei a dar os primeiros espectáculos. Por exemplo, em 2008, um compositor de Macau convidou-me a cantar uma canção sua para uma competição organizada pela TDM”, lembrou.

A voz é doce, a música, cantada em cantonês, soa romântica, com laivos de sonoridades mais pop. A imagem é forte, marcada por roupas e cabelos coloridos.

Hoje vai tentando solidificar uma carreira como cantora, apesar dos vários contratempos e desafios próprios de um território demasiado limitado. “Macau é um lugar muito pequeno para se ter uma carreira como cantora, porque a maior parte das pessoas só ouvem K Pop ou música pop feita em Hong Kong. No passado, os cantores de Macau não eram populares em Macau. É difícil construir aqui uma imagem como cantora”, contou ao HM.

Para colmatar a forte concorrência de outros cantores asiáticos, Vanessa Yam aposta nos meios digitais e em outras regiões. “Estou a tentar colocar a minha música em algumas plataformas na China e Taiwan, para ir em busca de novos públicos e para levar a música que se faz em Macau a outras áreas. Tudo para que saibam que em Macau também se faz boa música.”
Não apenas a sua carreira, mas a de outros jovens músicos, têm sofrido grandes desenvolvimentos nos últimos anos. “Este ano penso que a minha carreira na música melhorou bastante, e podemos notar que alguns cantores de Macau começaram a desenvolver mais os suas trajectos artísticos lá fora”, defendeu Vanessa Yam.

Como cantora Vanessa não para de pensar em novos projectos, e já tem um na calha. “Uma nova canção vai ser lançada em Março ou Abril. Para esta canção trabalhei em parceria com um compositor japonês. É uma música mais acústica, então não foi difícil fazer os arranjos, colocamos um ou outro instrumento. Para o futuro, estou a tentar encontrar um novo estilo para a minha carreira, e espero que o público goste.”

A menina dos acessórios

Quando não está em estúdio a gravar canções ou a compor, Vanessa Yam gere a sua própria marca de acessórios feitos à mão. Também gosta de mostrar a sua imagem, as suas roupas e maquilhagem nas redes sociais, à semelhança do que fazem muitos outros jovens.

“Os meus amigos inspiram-se nas roupas que visto e na maquilhagem que uso. Também estão interessados na minha imagem. Gosto de partilhar os meus desenhos em várias plataformas, como o Instagram ou o WeChat. Talvez deveria descrever-me a mim própria como uma artista diversificada.”
Vanessa Yam também tem uma predilecção para a ilustração, tendo criado uma nova marca para o efeito. Apesar de se considerar feliz no mundo das artes, a pintura propriamente dita não aconteceu na sua vida por pressão da família.

“Gostava de desenhar quando era criança, era algo que estava sempre a fazer. Comecei a querer ser pintora desde muito cedo, mas desisti deste sonho quando acabei a escola secundaria porque a minha família não queria que eu fosse uma artista, pensavam que não era bom para mim. No final falei com um primo e ele conseguiu convencer os meus pais.”

23 Fev 2018

Nuance U, Gestora de Marketing | Fascínio comunicativo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] gosto pela comunicação e o fascínio pelo desafio de encontrar a melhor estratégia para transmitir os valores de uma marca além das palavras, fazem de Nuance U uma apaixonada pela área do marketing. É por essa razão que a residente se dedica a esta área e à comunicação, desempenhando as funções de gerente de marca.

“É um campo muito interessante e que me fascina muito porque exige uma grande capacidade de planeamento e aptidão para adoptar as estratégias correctas. Este desafio de fazer as escolhas certas para ajudar a construir uma marca e transmitir os valores que pretendemos é mesmo muito fascinante. Foi por isso que decidi licenciar-me em marketing em comunicação”, contou Nuance U, ao HM.

Depois de completar o ensino secundário no território, Nuance licenciou-se em marketing, na Universidade de Macquarie. No entanto, o gosto pela escrita, outra das suas paixões, fez com que frequentasse o King’s College, em Londres, onde estudou a escrita jornalística.

Esta experiência na capital inglesa acabou por ser muito marcante para a residente de 30 anos, que se apaixonar pelo Reino Unido. Ainda hoje não tem dúvidas em apontar o Reino de Sua Majestade como o seu destino turístico preferido.

“Senti uma grande diferença em relação a Macau. É um local que tem uma cultura muito diferente em áreas que também aprecio, como a arquitectura e a arte. Foi um local muito interessante para estudar e viver porque tive acesso a experiências que em Macau não teria”, explica.

Sobre Londres, a gestora de marca destaca a gentileza dos britânicos no dia-a-dia: “As maneiras muito bem-educadas que as pessoas têm na sua rotina foi algo que me marcou. São aspectos culturais muito interessantes e diferentes que também me fizeram gostar de lá ter estudado e que me deixam sempre vontade de voltar”, sublinhou.

Em termos de viagens, a gerente de marcas confessa ainda o sonho de visitar os Estados Unidos de América: “Quando escolho os locais que visito tenho o cuidado de optar por destinos com um contexto históricos e com uma arquitectura que acho que me vai impressionar. Por isso, neste momento, quero muito ir aos Estados Unidos”, admitiu. “Tenho muita curiosidade em passear por Nova Iorque e viver o ambiente cosmopolita de Manhattan”, frisou.

Viciada em livros e informação

Além de viajar, nos tempos livres Nuance gosta de frequentar os cafés locais, onde não dispensa a companhia de um livro ou dos portais de informação anglo-saxónicos: “Se tenho mais tempo livre, gosto muito de ir para os cafés ler. E felizmente Macau tem muitos espaços interessantes que permitem ler com tranquilidade”, afirmou.

“Também passo muito tempo a ler informação. Gosto de aceder com frequências aos portais da imprensa estrangeira, como da BBC, do jornal New York Times ou mesmo da CBN”, apontou.

A gerente de marca também não dispensa a visita aos grandes casinos do território, onde gosta de relaxar nos Spas e, por vezes, fazer compras. O piano, que aprendeu a tocar desde pequena, é também uma companhia para os momentos mais relaxantes.

“Uma das coisas que gosto muito de fazer em Macau é ir aos Spas. Temos a sorte de ter no território as grandes cadeiras de hotéis que trazem Spas com grande qualidade. É muito importante para relaxar bem os músculos”, explicou.

Sobre Macau há dois aspectos que apaixonam Nuance: a convivência entre as culturas oriental e ocidente e o ambiente de Hac Sá: “Tenho memórias muito boas da Praia da Hac Sá. Gosto muito da venda dos churrascos na rua. Também tem os restaurantes portugueses onde a comida é deliciosa. Por outro lado, não posso deixar de mencionar que é o local onde o ar é mais puro”, sublinhou.

9 Fev 2018

Viru Badwal, professor de Yoga: “Fazer yoga é estar mais vivo”

[dropcap]N[/dropcap]ão é difícil entrar no Macao Fitness e, dentro de uma sala envidraçada, deparar com um professor que faz parecer simples, autênticos contorcionismos. Trata-se de Viru Badwal, o professor de yoga que veio da Índia e está encantado com Macau.

A modalidade que agora está na moda, sempre foi uma constante na vida deste mestre, mesmo sem o saber. “Sou da Índia, de uma região situada no norte do país, Rishikesh. É uma região espiritual, onde não há indústrias e é conhecida por ser o berço do yoga”.

Não admira que a modalidade tenha constado desde sempre da vida de Viru Badwal, mesmo que não tivesse dado por isso durante muitos anos. “O yoga estava em todo o lado diariamente e não era necessário dar-lhe nome. É uma forma de estar na vida, não precisa de ser falada ou ensinada”, começa por contar ao HM.  “Desde criança que quando acordava começava o dia com a minha mãe a fazer orações e meditação e à noite fazíamos o mesmo”, ilustra.

Depois do 12º ano e com a entrada na universidade é que percebeu que existia um curso especial desta modalidade, ou “forma de estar na vida”, como prefere chamar. Mas ainda não foi nessa altura que assumiu o yoga para a vida.

Escolheu o curso de comércio e negócios. “A opção por uma área comercial foi simples, existiam muitos empregos no sector”. Mas quando começou o curso e logo no primeiro ano, havia uma disciplina de desporto e uma das modalidades era o yoga. “Optei por esta modalidade e os professores gostaram da minha prestação, achavam que fazia as coisas bem e escolheram-me para avançar para níveis superiores”, conta. “Acabei por participar três vezes em campeonatos nacionais”, recorda.

Se em pequeno o yoga não tinha nome e era integrante dos actos do dia a dia, na faculdade passou a ser um desporto e só depois é que veio o resto, “o mais importante, a filosofia”.

Acabou a licenciatura na área comercial e não hesitou em tirar o curso especial de yoga.  

De aluno exemplar a professor da modalidade não foi um trajecto evidente nem fácil. “Uma coisa é praticar, outra é ensinar”, diz.

Foi depois de todo este processo que a modalidade teve um verdadeiro sentido para Viru. “Yoga significa mudança com o tempo”, diz. “Aprendi que o yoga é uma coisa interna que começa pelo corpo com o exercício físico. Trabalhar o nosso corpo reflecte-se no nosso estar e para mim o yoga é isso mesmo, mudar com o tempo, mudar por dentro através do exterior. É estar consciente destas mudanças”, explica o professor.

Viver mais

É esta consciência que permite aquilo a que Viru chama de “viver mais”. A razão é simples: “porque temos mais noção do que se passa tanto dentro de nós como à nossa volta. Vivemos mais portanto”.

Para o mestre é importante que as pessoas saibam estar “aqui e agora”. Com isso, aponta, conseguem estar mais atentas e perceber melhor o mundo que as rodeia. “Por exemplo, aqui no trabalho, pode não parecer, mas acabo por perceber, à entrada de cada aula, a forma como cada um dos meus alunos coloca as sapatilhas à porta e as meias lá dentro ou ao lado, depois, como olham e falam e entendo como estão. Dá-me uma percepção muito mais rica, é como se estivesse mais vivo”, refere. Mais, diz, o yoga também ensina a gentileza do trato, facto de quem é a personalização. Viru Badwal é o mestre do sorriso e das palavras ditas de forma doce.

Macau, uma cidade maravilhosa

Em 2007 saiu da Índia e foi para a Malásia. Daí, veio para Macau. Para descrever o território Viru não usa muitos adjectivos. Apenas um: “espetacular”.

“Quando cá cheguei, a primeira vez em 2008, vinha com medo principalmente por causa da língua. Naquela altura ainda não havia muita gente a falar inglês. Mas com o tempo isso foi mudando e o que sinto agora é que as pessoas aqui são bastantes felizes. Talvez seja pelo facto da cidade ser pequena e com uma situação económica muito boa”, explica.

Por outro lado e para justificar esta sua percepção do território, Viru Badwal recorre à situação da terra natal. “Onde nasci, não há muitas oportunidades de emprego e há muita pobreza. Mesmo comparado com Malásia, Macau é muito melhor. As pessoas são mais simpáticas e há muito mais segurança”, aponta.

Para o professor de yoga, o facto de cada vez mais pessoas se interessarem pela prática desta modalidade nos últimos anos não é surpresa. “Fazem-no porque é bom, porque se sentem bem. É simples”, refere. 

Por outro lado, o yoga “é um espaço onde as pessoas têm oportunidade de relaxar e de colocar a mente em paz por momentos”.

2 Fev 2018

Sugar Lam, assistente de deputado | Nos bastidores da política

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]onhou ser jornalista, fez a licenciatura em jornalismo em Macau, mas um dia tropeçou no trabalho desenvolvido pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Foi há cinco anos que descobriu o mundo da política e que se tornou assistente do deputado José Pereira Coutinho, no hemiciclo desde 2005.

Sugar Lam estagiava no canal de televisão da empresa TV Cabo, chamado Macau Cable TV, mas decidiu aceitar um novo desafio. “Quando escolhi o meu curso na universidade, pensei que poderia ser jornalista. Mas depois tive contacto com a ATFPM. O deputado falou-me do trabalho que realizavam e comecei a fazer o trabalho de visita aos idosos. Nessa altura fui convidada para trabalhar” contou.

Natural de Fujian, Sugar Lam chegou ao território em 2005, ano que o deputado foi eleito pela primeira vez para o hemiciclo. “Aprendi muita coisa com ele [Pereira Coutinho], sobretudo ao nível das questões sociais e de como ajudar as pessoas a resolver os seus problemas, sempre na ligação com o Governo ou com empresas privadas”, contou ao HM.

O seu trabalho diário passa por tratar de papelada, estabelecer a comunicação com os media e, sobretudo, ouvir aqueles que se dirigem à ATFPM para pedir ajuda.

“Todos os dias recebemos muitos pedidos de ajuda relacionados com a área da saúde, habitação, e às vezes há muitas pessoas que vêm ter connosco porque não conseguem arranjar um trabalho, ou então têm problemas com os directores das empresas onde trabalham”, exemplificou.

Mudança de ideias

Quando era estudante Sugar Lam achava que Macau era o local perfeito, gerador de emprego para todos e de uma boa qualidade de vida. Contudo, a sua visão sobre o território que a acolheu depressa mudou quando começou a ter contacto com realidades mais escondidas.

“Quando comecei a trabalhar aqui percebi que havia muitos problemas, porque muita gente não consegue comprar uma casa, ter dinheiro para resolver os seus problemas de saúde. Estas pessoas conseguem ter algum dinheiro do Governo, mas muitas vezes são rejeitados no acesso a casas sociais, porque não cumprem os requisitos.”

Sugar Lam confessou que se sente frustrada quando não consegue ajudar todos os que se dirigem à ATFPM. “Quando alguém nos pede ajuda e nós não podemos ajudar é triste, porque não podemos mudar nada na situação da pessoa. Lidamos com casos de pessoas muito doentes, por exemplo.”

Ser assistente de um deputado há muito que mudou a sua visão: a ideia de que existiria em Macau um Governo com políticas perfeitas, que chegam a todos de igual forma, há muito que se desfez.

“Fazemos coisas diferentes todos os dias e percebo que Macau ainda tem muitos problemas por resolver, sobretudo na área da saúde, habitação e trânsito.”

A assistente do deputado José Pereira Coutinho destaca sobretudo os problemas sentidos por pessoas da sua idade. “Os jovens não conseguem comprar uma casa e acabam por não casar, porque não têm um sítio onde viver. A qualidade de vida em Macau diminuiu bastante e penso que os jovens não têm muito futuro aqui”, assegurou.

Sugar Lam destaca ainda o aumento evidente da poluição e de uma maior necessidade de limpeza das ruas. “A nossa cidade precisa de ter um melhor meio ambiente, mais limpo, é um local que fica muito sujo, uma vez que recebe muitos turistas.”

Quando não está a acompanhar os trabalhos desenvolvidos pelo deputado Sugar Lam assume gostar de viajar por diferentes países, bem como fazer compras.

26 Jan 2018

Eva Mok, fotógrafa | Lente para a realidade

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]va Mok é a fotógrafa de Macau que se dedica essencialmente à captura de imagens de rua e de arquitectura. Com 35 anos, foi há apenas cinco que resolveu mudar de vida. Deixou a cadeira de escritório onde trabalhava na como administrativa com a empresa responsável pelo espectáculo “The House of Dancing Water”, e dedicou-se à fotografia, actividade que na altura ainda era completamente nova, e em que a câmara não passava do vulgar telemóvel.

Uma das escolhas de Eva Mok é a fotografia de rua à qual prefere chamar de humanista. Para a fotógrafa, trata-se de alargar o conceito e estende-lo ao que mais gosta de fazer. “Capturar imagens capazes de reflectir culturas e hábitos do quotidiano de um lugar em particular é uma experiência muito enriquecedora e é o que mais gosto de fazer”, diz ao HM. Por outro lado, a fotografia é um bom instrumento capaz de reflectir a cultura de uma comunidade”, considera.

Macau está incluído. “Apesar de ser a terra natal e o espaço que melhor conhece, continua a ser um lugar onde se encontram imagens únicas”, diz. Pessoalmente, prefere os bairros antigos e as festividades tradicionais para registar. A razão, aponta, é reflectirem as particularidades de uma situação ou de uma história.

No entanto, quando se fala de rua de quotidiano as dificuldades num território familiar são acrescidas. “As situações são mais difíceis de identificar porque é a minha própria cultura”, aponta Eva Mok. É a falta de surpresa que está na base desta dificuldade até porque “quando se vai para o estrangeiro e se entra no desconhecido estamos mais atentos a tudo e as imagens aparecem com mais facilidade”, diz.

Cada lugar, sua particularidade

Além da fotografia, Eva Mok é apaixonada pelas viagens. Depois de deixar o emprego voo para a Europa. Passou pela Rússia, viveu em Portugal e não deixou de conhecer a França, o Reino Unida, a Itália ou a Suíça. Pela Ásia, a Tailândia está nas suas preferências e há uma razão: “É muito fácil fotografar as pessoas na Tailândia. Olham-nos com um sorriso e deixam que registemos o que fazem”, explica.

Já me Macau, se se tratarem de situação em que está implicada a venda de um produto, os comerciantes pedem para que se compre de modo a deixarem-se fotografar. Às vezes, entro numa loja e sinto que as pessoas não querem ser fotografadas e às vezes até me dizem coisas do género “se não me compra nada porque é que eu hei de deixar que fotografe”, comenta.

Na Europa as pessoas são mais reservadas, refere, pelo que, muitas vezes, escolhe dedicar-se à fotografia de arquitectura. “Também gosto muito de registar os edifícios característicos dos lugares e a Europa é muito boa para isso. Tem igrejas e monumentos incríveis que são um desafio para qualquer fotógrafo”, refere.

Um gosto recente

A fotografia apareceu quase por acaso e não há muito tempo. “Comecei com a fotografia no final de 2012″, conta. Cansada do trabalho que tinha que sentia “não trazer mais nada de novo” e depois de viajar para Portugal duas vezes em que teve oportunidade de percorrer o país foi juntando uma série de imagens tiradas com telemóvel. Os elogios por parte dos amigos fizeram com que se interessasse cada vez mais pela imagem. O resultado, uma dedicação total. “Comecei a perceber que gostava realmente de capturar imagens e tratei de ter formação na área com a frequencia de cursos”, explica.

Trabalhar em Macau como fotógrafa é sempre “uma luta” principalmente se não se trabalha no sector comercial. “Eu só faço fotografia de rua e de arquitectura e é muito difícil sobreviver com o que faço, mas se fotografasse  eventos ou casamentos seria mais fácil”, diz.

A venda de impressões é quase impossível. “Macau não tem essa cultura e se se tratam de artistas menos conhecidos qualquer valor que se peça é sempre considerado como “demasiado caro”, mas se forem trabalhos de artistas de renome ninguém se queixa dos preços, por muito altos que sejam”, lamenta. “É um grande desafio tentar vender as minhas fotografias” e a solução pode passar por ter de pensar em arranjar alternativas de modo a subsistir. “Estou a pensar em ter alguns trabalhos como free-lancer”, revela. Para já espera ainda ter oportunidade de conseguir uma exposição.

12 Jan 2018

Iris Ieong, tatuadora no Wonderland Tattoo Studio: “O Governo não liga aos tatuadores”

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de se licenciar em recursos humanos, Iris Ieong viu-se numa encruzilhada profissional entre a estabilidade e a paixão. Desde dos 10 anos de idade que tinha um fascínio pela tatuagem, portanto, não foi de estranhar que a paixão prevalecesse. Como resultado, tornou-se tatuadora profissional e abriu o “Wonderland Tattoo Studio”, em Macau, em Setembro deste ano.

Quando terminou o curso, Iris Ieong já trabalhava a tempo inteiro numa empresa, apesar de já tatuar alguns clientes fora do horário de expediente. Colorir peles era algo que fazia nos tempos livres mas, finalmente, decidiu seguir a sua paixão e tornar-se tatuadora profissional.

“Passar o dia sentada num gabinete não é algo que eu queria. Na altura não foi uma decisão fácil de tomar porque tinha trabalho estável que me pagava todos os mês e não era preciso administrar tudo sozinha”, recorda a tatuadora. Um dos momentos chave para Iris Ioeng foi a primeira tatuagem que fez, com um tatuador do Interior da China que acabaria por lhe dar algumas dicas sobre a arte que viria a abraçar. Apesar de ter aberto o estúdio há apenas quatro meses, a tatuadora de 25 anos de idade já tem três anos de experiência a colorir corpos.

Questionada sobre quando surgiu o seu interesse por tatuagem, lembrou que havia sido uma criança fortemente influenciada por cultura estrangeira. Como tal, logo aos 10 anos perguntou à mãe quando podia ter uma tatuagem, algo que só viria a acontecer aos 20 anos.

“Depois de ter feito a primeira tatuagem, parece que fiquei viciada, foi algo de maravilhoso”, recorda.

Telas de pele

Sem formação artística, Iris Ieong sentiu alguma dificuldade no início da aprendizagem para tatuar. Porém, os maiores obstáculos foram os pais que reagiram muito mal à primeira tatuagem que fez. “A minha mãe nunca pensaria que eu ia fazer uma, mas depois da primeira apercebi-me que não ia conseguir mentir à minha mãe e decidi contar-lhe a realidade”, explica.

A vontade da jovem foi recebida com alguma desilusão por parte dos pais. “Há pessoas das gerações mais velhas que acham que o acto de tatuar é uma forma de violência contra a própria pessoa”, contextualiza.

No entanto, depois de estudar a técnicas e de ter conseguido obter alguns resultados positivos, ou seja, tatuagens bem feitas a mãe passaria a aceitar melhor a vocação da filha.

Hoje em dia, Iris Ieong acha que a sociedade em geral tem uma atitude mais aberta em relação à tatuagem, e muito mais pessoas entendem que se trata de uma forma de arte.

A tatuadora tem algumas dificuldades em caracterizar os clientes que visitam o seu estúdio, uma vez que não são apenas jovens, mas também pessoas de meia idade e mães de família.

Quando às características de um bom tatuador, Iris Ieong entende que “é preciso ouvir os clientes, porque são eles que vão ter a tatuagem na pele, por isso é preciso respeitar as suas opiniões”, sublinha jovem. A tatuadora acrescenta que outra virtude fundamental é a paciência.

A jovem de 25 anos acha que o Governo tem muitos aspectos a melhorar no que toca à profissão que escolheu. No momento em que a tatuadora solicitou licença para trabalhar junto das autoridades, descobriu que o Executivo não tinha regulamentos preparados para tatuadores. “Acho que o Governo não presta atenção aos trabalhos de tatuadores, porque se calhar pensa que há poucos serviços desse género em Macau”.

De acordo com Iris Ieong, no território não existem regulamentos para fiscalizar o trabalho dos tatuadores que operam em Macau, algo muito lamentável uma vez que a existência de regulamentos seria útil para melhorar este tipo de profissão. A ausência de legislação leva a que “qualquer pessoa que tenha máquinas de tatuagem possa tatuar em Macau”. Face a esta realidade, a tatuadora espera que sejam elaborados regulamentos de forma a que os clientes tenham acesso aos melhores serviços.

29 Dez 2017

Dorothy Ng, Instagramer da conta “Cooking B”, “Uma história real e linda”

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu e cresceu em Hong Kong mas as ligações com Macau estiveram sempre presentes na sua família. Dorothy Ng é uma jovem que estudou gestão mas que optou por seguir uma tendência comum nos dias de hoje: tem um trabalho a tempo parcial como gestora da conta “Cooking B”, na rede social Instagram. Na “Cooking B” a gastronomia local ganha especial destaque. Lá entram todo o tipo de pratos, desde comida portuguesa a coreana, passando pela japonesa e até tailandesa. Pelo meio há fotografias de viagens e momentos pessoais que Dorothy decide partilhar com os seus seguidores.

“Estudei gestão mas não fui boa nos estudos, sobretudo na matemática. Os números só me dão dores de cabeça”, contou ao HM. “Mais tarde formei-me no curso de fotografia e, aproveitando o meu interesse por comida, decidi abrir uma conta no Instagram.”

Até agora o projecto tem corrido bem. “Gosto de apresentar coisas boas para os meus seguidores e o seu apoio é a maior motivação para encontrar os melhores ângulos de diferentes pratos. Macau foi classificada como cidade gastronómica pela UNESCO e fiquei feliz com isso, acho que Macau merece.”

Cada fotografia merece uma especial atenção por parte de Dorothy Ng. “Isto é uma coisa que faço nos meus tempos livres, mas não é fácil tirar uma foto que me faça ficar satisfeita logo à primeira.”

Dorothy Ng lamenta que vários restaurantes mais tradicionais tenham fechado portas por não conseguirem pagar as rendas altas, um local onde costumava fotografar bastante. Contudo, nem só de comida se faz a conta “Cooking B”.

“Além de ser um meio para emitir informações ou opiniões é também uma plataforma para interagir com as outras pessoas. Também partilho experiências de viagens, como a que fiz no ano passado à Coreia do Norte. Foi uma viagem inesquecível”, recordou.

A nostalgia

Dorothy Ng considera-se uma pessoa caseira. “Gosto de arrumar a casa e ir aos mercados. Cozinho todos os dias e conheço melhor os alimentos, e distingo logo a qualidade da comida e sei o processo de preparação dos pratos.”

Apesar de ser natural de Hong Kong, Dorothy Ng sente-se ligada a Macau e considera que neste pequeno território a gastronomia é semelhante, mas com um “estilo nostálgico”.

“Macau é como uma terra natal, porque a minha mãe nasceu cá e a minha avó é de cá também. Sempre ouvi a minha avó contar histórias sobre a Macau antiga e a freguesia de São Lourenço, onde residia. Como tenho cá família decidi ficar por algum tempo para conhecer a cidade”, apontou.

A criadora do projecto “Cooking B” recorda mesmo a história de vida da avó que a remete para a Macau de outros tempos. “A minha avó tem mais de 85 anos e casou com um rapaz rico de Macau quando tinha 20 anos. As histórias de romance são sempre assim, um rapaz rico casa com uma rapariga jovem e bonita. Essa história é real e linda e os meus avós sempre recordaram os tempos em que viveram em Macau. Daí sempre ter tido vontade de ver como está a cidade hoje.”

Dorothy Ng confessa que sempre teve uma grande paixão pela comida. “Uma das primeiras inspirações foram as receitas da minha avó, que são um segredo na minha família (risos). Ela cozinha muito bem e sabe os sabores que combinam melhor, acho que herdei este talento dela.”

Ainda assim, a sua maneira de cozinhar acabou por ser ligeiramente diferente. “Ela gosta mais de comida tradicional chinesa enquanto as minhas receitas têm elementos ocidentais. É como se fosse uma comida de fusão”, referiu.

15 Dez 2017

Anita Yu, relações públicas, “A vida dos animais é tão importante quanto a dos humanos”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m novo desafio. Foi com esta mentalidade que Anita Yu, residente em Hong Kong, se mudou em Janeiro de 2010 para Macau. Na altura, a decisão foi motivada pela vontade de provar que era capaz de viver sozinha, sem estar dependente da família. O facto do seu contrato de trabalho também estar a chegar ao fim, ajudou a tomar a decisão. Hoje, passados quase oito anos, a relações públicas mostra-se muito feliz com a experiência.

“Ainda me recordo que quando anunciei aos meus amigos que me ia mudar para Macau de forma permanente, que algumas das resposta que ouvi foram: ‘Não acredito’, ‘Não consegues viver sozinha’ ou ‘Vais regressar muito depressa’”, recordou Anita Yu, ao HM.

“Como odeio que coloquem em causa as minhas decisões, prometi logo que ia adaptar-me e que iria mostrar às pessoas que me provocaram que seria bem sucedida. Sou o tipo de pessoa que assim que toma uma decisão, se mantem fiel ao plano. Bem… nesse aspecto acho que me podem considerar teimosa,” considerou.

A resolução de se mudar para o território foi bem ponderada, isto porque embora tenha nascido em Hong Kong, os pais de Anita são emigrantes de Macau. Por essa razão, a relações públicas sabia bem o que ia encontrar.

“Estava acostumada a viajar duas vezes por ano para Macau, na altura do Versão e do Natal para encontros familiares. Estava familiarizada com a cidade desde pequena”, admitiu.

Enquanto residente em Macau, o espaço de um ano foi suficiente para que a Anita decidisse que queria ficar mesmo no território: “Depois de ter passado um ano no meu trabalho, apercebi-me que a cidade é um bom local para viver. Macau não é só jogo e casinos, é uma cidade muito rica nas áreas das artes e cultura, com uma herança patrimonial muito significativa e com comida deliciosa”, defendeu.

Em relação às pessoas da RAEM, Anita considera que são muito afáveis e calorosas. “Gosto muito da forma como as pessoas aqui resolvem os problemas e como são capazes de se dedicar a uma missão com um sentido colectivo. O melhor exemplo, e o mais óbvio, foi a forma como nos ajudámos após a passagem do tufão Hato”, considerou.

O melhor dos dois mundos

Se por um lado, Anita reside em Macau, por outro, sempre que pode aproveita para regressar às origens. Um ambiente que lhe permite mais facilmente relaxar. “Eu gosto muito de Macau, mas Hong Kong é o lugar onde estão as minhas raízes. O amor da família é essencial. Acho que para todos nós é necessário sabermos onde procurar este amor incondicional, principalmente quando nos sentimos perdidos e cansados. Tenho a sorte de ter uma família grande e muitos amigos à minha volta em Hong Kong”, explicou, a residente de 35 anos.

Ainda sobre a ocupação dos tempos livres, quando não vai para Hong Kong, Anita gosta de ir a festas, nadar e fazer caminhada.

“O stress faz parte da nossa vida profissional, acho que é uma coisa inevitável. Felizmente existem soluções simples que nos podem ajudar: ir a festas, nadar ou fazer caminhada. Nesse aspecto, Coloane é o pulmão da cidade e tem os melhores trilhos. Acaba por ser o melhor local da cidade para mim”, considerou.

Em relação a viagens, a relações públicas adora viajar para a Tailândia, porque considera que o país dos sorrisos “é um verdadeiro retiro que permite estar em contacto com a verdadeira natureza”.

Outra das grandes paixões de Yu são os animais e a sua cadela Daw Daw, que em cantonês significa pequeno feijão. Um amor que nem sempre foi correspondido.

“Para ser sincera, eu tinha muito medo de cães, depois de quase ter sido mordida, em pequena, por um cão enorme. Só que depois conheci esta cadela da raça golden retriever, que é muito meiga e paciente. Só com ela é que consegui tocar, pela primeira vez, num cão”, confessa.

“Adoro animais. E desde Janeiro deste ano que deixei de comer carne. É a minha forma de amar e proteger os animais. Mas gosto especialmente de cães porque dedicam o seu afecto sem reservas e sem expectativas. Os cães têm personalidades muito semelhantes à minha”, sustentou.

É por isso que num futuro próximo, Anita Yu tem intenções de se dedicar durante mais tempo a realizar trabalho voluntário para ajudar animais: “Acho que todos nascemos com uma missão. A minha é ajudar as pessoas a compreender que a vida dos animais é tão importante quanto a dos humanos”, concluiu.

1 Dez 2017

Natasha Stankiewicz, bailarina e instrutora de aerial arts: “Coloane ajuda-me a respirar”

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]atasha Stankiewicz está quase a completar uma década, um aniversário redondo, desde que saiu da Polónia para se fixar em Macau. Quando chegou era uma jovem de apenas com 21 anos e com uma cidade completamente nova à sua disposição, onde não era difícil encontrar diversão e espanto. “Havia sempre sítios para ir, coisas a acontecer e com Hong Kong muito próximo ia lá com frequência”, conta.

Nos primeiros tempos, a bailarina confessa que as suas relações sociais se cingiam a estrangeiros, “não tinha grande conexão com os locais”. Algo que seria alterado através da arte a que se passou a dedicar e que partilhou com os locais.

Enquanto bailarina, Natasha Stankiewicz participava em vários espectáculos onde tinha de dançar suspensa em fitas, uma modalidade coreografada que se chama aerial. As suas performances aguçaram a curiosidade do público de Macau e foi frequentemente abordada para dar formação. E assim nasceu a Aerial Arts Association Macau.

Através da organização que fundou, Natasha Stankiewicz passou a integrar-se mais com os locais de origem chinesa. “Podemos ter uma língua diferente, mas ao trabalharmos juntos reparei que a cultura não é assim tão distinta, que no fundo somos todos iguais”, conta.

Hoje em dia, através da associação, a bailarina e instrutora começou a envolver-se cada vez mais com as pessoas treinam na associação de forma a poder servi-las melhor.

Através da prática do aerial, a polaca consegue motivar e ir de encontro às necessidades das pessoas. “O Governo diz que os trabalhos de gestão devem ir para os locais, mas eles nem sempre estão orientados para isso. Portanto, as nossas actividades agora destinam-se a fornecer qualidades de liderança, confiança, motivação e mostrar às pessoas que não é preciso ter medo de maiores responsabilidades.”

Respirar fundo

Os treinos de Natasha Stankiewicz resultam, com frequência, na participação dos formandos em espectáculos que acontecem em Macau. Para a instrutora, o aerial é também uma questão de superação, de ultrapassar medos e encontrar forças onde antes estavam fraquezas.

“Ao princípio, os treinos eram orientados apenas para pessoas com formação em ballet, ou artes circenses, era muito intensas em termos físicos”, conta. Porém, com o aumento da popularidade do ioga, e do exercício físico entre a população, Natasha Stankiewicz conseguiu demonstrar que “o aerial é para toda a gente”.

“O objectivo é chegar a um patamar mais elevado e as pessoas perceberem quais as suas limitações e a forma de as contornar”, explica a instrutora.

A bailarina entende que através desta actividade os instruendos ganham capacidades que se podem traduzir em melhorias na forma como desempenham as suas profissões, mesmo em empregos sedentários de escritório. A ideia de superação está fundada no mantra “quem consegue fazer aerial consegue fazer tudo”.

Outra das metas das aulas que Natasha Stankiewicz ministra é a busca do autoconhecimento. A própria bailarina, precisa de momentos de recolhimento, algo que, apesar de gostar do rebuliço da cidade, encontra apenas na tranquilidade de Coloane. “É um sítio onde se pode parar, que me ajuda a respirar e a sair da maluquice que é Macau”, conta. Estes momentos de recolhimento e introspecção são para a bailarina uma forma para se encontrar e reflectir sobre a sua vida. “No meio do barulho não há espaço para pensarmos em nós próprios, por isso, às vezes, preciso de silêncio”, reflecte a polaca.

Com quase dez anos de Macau, Natasha Stankiewicz não só deslumbra no palco e no ar, como ensina os locais a ganharem asas e voar.

25 Nov 2017

Ricardo Lopes, advogado e praticante de artes marciais, “No Kung Fu encontrei as respostas que sempre procurei”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Oriente sempre esteve presente na vida de Ricardo Lopes, tanto em casa, como na busca de uma espiritualidade longe dos padrões ocidentais. Movido pela necessidades de controlar a sua energia, o lisboeta procurou um escape que lhe desse equilíbrio. Encontrou no Kung Fu To’A, uma vertente iraniana da arte marcial, a harmonia e as respostas que há muito procurava. “Não tinha qualquer afinidade com o Kung Fu, ou qualquer outra arte marcial”, conta o advogado de 42 anos, apesar de ter visto os filmes do Bruce Lee durante a infância.

Depois de assistir a uma sessão do Mestre Guilherme Luz, a vida de Ricardo Lopes mudou. Encontrou uma forma de encarar a arte marcial mais holística, virada para o interior, para o centro da pessoa, uma fonte de equilíbrio que ficava muito além da manifestação física, da parte da defesa pessoal.

“Encontrei as respostas que sempre tive desde muito novo, respostas que não encontrei na família, na sociedade, na religião, em lado nenhum”.

Apesar da vertente do Kung Fu que pratica ser oriunda do Médio Oriente, as suas origens estão na China. Além disso, o advogado também teve família a viver em Macau. “Cresci a ouvir histórias de cá, em minha casa sempre se fez Minchi, sempre vivi com estes sabores e fragrâncias orientais”, conta.

O fascínio por Macau foi algo presente na vida de Ricardo Lopes, inclusive quando tirou o curso de Direito, chegou a  sugerir à sua mulher, na altura namorada, que viessem viver para Macau, algo que não se materializou.

Apesar da distância, o jurista “devorava as notícias” do território de uma forma instintiva, mas a distância mantinha-se. Situação que a crise económica viria alterar, apesar de não ser imediatamente. Em 2012/2013 veio ao território para algumas entrevistas de emprego e acabou por ficar por cá.

Nunca tinha cá estado, mas assim que chegou sentiu-se verdadeiramente em casa.

Identificação total

“Nunca cá tinha estado, não tinha cá família nem conhecia ninguém”, revela. Depois do primeiro impacto de descoberta de algo completamente novo, Ricardo Lopes sentiu “uma enorme conexão com Macau, uma ligação forte a isto tudo, às ruas, aos nomes das coisas, às pessoas e à forma como convivem”.

Perdia-se pelas ruelas de Macau, tropeçava em jogos de Mahjong à porta de lojas e nada lhe parecia estranho, tudo lhe soava familiar e de acordo com as histórias que ouvia desde criança.

Chegou ao território com a ideia romântica do Oriente, apesar da realidade não ser bem assim, mas ainda conseguiu encontrar o velho romantismo que fez com que se identificasse totalmente com a cidade.

Encontrou por cá vestígios da arte marcial que o completava quando deixou Lisboa para trás, em especial nos movimentos harmoniosos das pessoas que praticam Tai Chi na rua. “Olhava e interpretava a parte espiritual dos gestos daquelas pessoas, a verdadeira conexão interna dos movimentos, a ligação entre o físico e o emocional”, conta. Um contraste completo com o reboliço do dia-a-dia que impele as pessoas a correrem de um lado para o outro.

No entanto, deixou em Portugal a ligação ao Kung Fu Ta’O, algo que não encontrou em Macau. O mais aproximado que conseguiu foi um instrutor de Wushu de Hong Kong, que visita Macau semanalmente.

Hoje em dia, Ricardo Lopes treina no Yoga Loft. Apesar de deixar bem vincado que não é um mestre, quem estiver interessado a treinar a variante de Kung Fu pode fazê-lo às quartas-feiras, pelas 19h30. “É um treino partilhado daquilo que aprendi”, conta.

Através da arte marcial, Ricardo Lopes desenvolve a parte física para moldar o interior, uma prática que o ajuda a manter-se centrado. “O Kung Fu ajuda-me a estar mais presente, a não ter receios ou ansiedades, a estar mais atento e tranquilo”, um equilíbrio que o ajuda na vida pessoal e profissional e que tem todo o gosto em partilhar.

17 Nov 2017

Iris Sio, licenciada em marketing e professora: “Ensinar crianças é muito fascinante”

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ascida em Macau, há 23 anos, Iris Sio adora explorar novos caminhos e nesta fase prepara-se para rumar a mais uma aventura. Depois de se ter licenciado em marketing, na Universidade de Macau, Iris está a preparar-se para reunir as últimas forças e saltar para o sonho de se tornar professora de estudantes com necessidades especiais. Um objectivo que surgiu na vida da jovem, após ter começado a dar aulas de inglês para crianças.

“Quero mudar o rumo da minha vida e ser professora a tempo inteiro. Comecei a dar aulas de inglês, em regime de part-time, já há algum tempo e tenho grande satisfação com este trabalho. Ensinar crianças é muito fascinante porque têm sempre a capacidade de nos surpreender, adoro esta experiência”, afirmou Iris Sio, ao HM.

“O mais interessante de trabalhar com os mais novos é que podemos ensinar de uma maneira mais dinâmica. Mais importante do que as notas, é a evolução e aquisição de conhecimentos. Assim, sem a pressão de exames, ensinamos de uma forma mais lúdica e eficaz. É mais fácil para os nossos alunos evoluírem se sentirem que estão a fazer algo de que gostam muito”, acrescentou.

Antes de poder dedicar-se a pessoas com necessidades especiais, Iris Sio vai aprofundar os conhecimentos sobre o ensino. Posteriormente, vai procurar especializar-se no ramo do ensino para pessoas com necessidades mais específicas.

“O ensino especial é um processo de procura, porque falamos de pessoas que muitas vezes têm problemas no sistema escolar tradicional. Por isso, acredito que o nosso grande desafio passa por ajudá-las a explorar os talentos que possuem e onde podem fazer a diferença”, explicou.

“Para o ano espero começar a mudar a minha carreira, começando a frequentar algumas das formações dos Serviços de Educação. Depois vou ponderar frequentar um curso para o ensino especial, talvez no estrangeiro. Uma boa formação no exterior poderia ser uma mais-valia com a aquisição de conhecimentos muito mais especializados”, frisou.

Nesta altura Iris Sio ainda trabalha ligada à área do marketing, porém admite fazer uma saída, pelo menos, temporária. Uma decisão motivada pelo facto do trabalho não lhe permitir explorar tanto o lado criativo tanto quanto desejava.

“Sou uma pessoa extrovertida e sempre achei que o marketing seria uma área que se adequaria à minha personalidade. No entanto, depois de ter trabalhado na área, a verdade é que os casos que estudamos nos livros são muito mais interessante do que a realidade” disse a jovem.

“O problema também tem a ver com o mercado de Macau, que é pouco original e foca-se demasiado na venda de produtos e bens materiais, em vez de transmitir mensagens fortes, que nos permitem ser mais criativos”, considerou.

Contacto com o português

Nascida em Macau, Iris optou por estudar português no IPOR durante algum tempo. Para melhorar os conhecimentos fez mesmo um curso intensivo em Lisboa durante um mês. Porém, admite que para conseguir dominar a língua deveria ter investido mais.

“Antes de optar pelo marketing, cheguei a admitir estudar português. Contudo acabei por considerar que não era o caminho que realmente queria seguir. Mesmo assim tive aulas de português no IPOR. Gosto de desafios e acho que ter alguns conhecimentos da língua pode ser útil. Até porque é uma das línguas oficiais de Macau”, afirmou.

“Reconheço que não é uma língua fácil porque é muito diferente do chinês. Por exemplo, são muitos os tempos verbais utilizados e depois existe a questão do género. Saber se devemos utilizar o género masculino ou feminino é mesmo muito complicado”, considerou.

Sobre a aventura em Lisboa, revela que foi uma experiência muito interessante, mesmo que muitas vezes não fosse compreendida quando falava na língua de Camões: “Lisboa foi uma experiência engraçada porque embora o meu português fosse muito básico, conseguia usar algumas palavras ou expressões mais simples. Mas às vezes as pessoas não me compreendiam e tinha de falar em inglês ou usar os gestos, uma forma de comunicação muito universal”, recorda divertida.

De volta a Macau, Iris admite que sente saudades da cidade antiga, mesmo que agora se sinta confortável. “Na altura não havia tanta multidão, hoje é quase impossível ir para algum sítio e não haver muita gente”, aponta.

É por esta razão que a jovem de 23 anos acaba por regularmente ir a Coloane fazer caminhadas, à procura de uma “maior tranquilidade” entre os espaços verdes.

10 Nov 2017

Perfil | Jacinto Ng, engenheiro civil

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] engenheiro civil, nascido em Macau, mas que optou por seguir a vida em Inglaterra. Com 24 anos, Jacinto Ng fez o mestrado na Universidade de Surrey e recorda que o desejo de ir para o estrangeiro pode ter nascido das conversas que ouvia dos pais, enquanto criança.
Curioso, acabou por viajar para Inglaterra e prosseguir lá a sua formação. Afinal, “só assim poderia perceber como é que seria viver fora de Macau”, diz ao HM.
Ao chegar e do que recorda, Jacinto Ng notou de imediato que as cidades inglesas são mais calmas do que Macau. “As lojas estavam localizadas no centro e fechavam as portas, geralmente, por volta das seis da tarde. À noite não havia muito para fazer”, refere.
Quando lá chegou, por ter um nível de inglês ainda muito baixo, não conseguia perceber bem o que se passava à sua volta, nem comunicar o que queria. Só um ano depois, com a mudança para Londres, é que se começou a integrar.

Rumo à experiência

Hoje em dia, trabalha como assistente de engenharia numa empresa de consultoria. Jacinto Ng tem a seu cargo a concepção para as instalações básicas de prédios residenciais.
Apesar de ter estagiado em Macau e ter tido a oportunidade de ficar no território onde nasceu, Jacinto Ng optou por regressar ao Reino Unido. A razão, aponta, é a possibilidade de um “enriquecimento cultural e profissional que o convívio e trabalho em Inglaterra proporcionam”.
Mas, nem tudo foram rosas. Ao optar por trabalhar em Inglaterra, o primeiro passo, o de conseguir emprego, “foi complicado”. “A engenharia civil é uma área com muita concorrência”, recorda. Mas, depois de várias tentativas e alguns falhanços, conseguiu.
Do ambiente laboral que tem, não pode dizer melhor. “Sou bem acolhido e há muito o espírito de entreajuda”, diz. Outra vantagem, considera, é o facto de não ter um trabalho que lhe proporcione stress. “Quando temos projectos a entregar, o stress sente-se perto dos prazos de entrega, mas antes disso, trabalhamos sem muita pressão e de modo planeado”, explica o engenheiro civil.

Casa encontrada

Mas a vida também é lazer e, mesmo que ligada ao trabalho, Ng já tem uma estrutura social montada. “É comum saírem para conversar e trocar impressões sobre a actualidade”, diz.
Esta proximidade com os colegas que se transformam em amigos deve-se ao facto de ser uma empresa pequena, explica. “Há muitas vantagens em não trabalhar em empresas de grande dimensão. Aqui, porque se trata de uma empresa com poucas pessoas, posso ter uma relação mais estreita com os meus colegas”, ilustra.
Depois de um dia de trabalho, os colegas e amigos são a companhia para uma ida a um bar, os adversários de um jogo de futebol ou os companheiros ideias para um barbecue.

Regresso distante
Jacinto Ng não tem, para já planos para regressar a Macau. Para o engenheiro, continua a ser fundamental adquirir mais experiência profissional, e mesmo de vida no estrangeiro. Tratam-se de factores que, considera, podem vir a ser muito relevantes no futuro. “Num futuro mais distante, vou querer regressar, até porque se trata do lugar onde nasci e onde tenho família”, refere quando pensa no que fazer a longo prazo. “Mas, só depois de bem preparado. Quero trazer a minha experiência e conhecimento para o território de modo a melhorar a qualidade de vida das pessoas”, confessa.
Para já, Jacinto Ng está “num país com mais liberdade e ideal para quem gosta de visitar museus e conhecer a história”. Outra vantagem, tem que ver com a natureza. “Em Inglaterra há paisagens muito bonitas e muitos espaços verdes onde dá para fazer caminhadas”, diz.
Apesar de longe, o engenheiro civil não deixa de apontar algumas qualidades de Macau. “Mesmo sendo uma região muito pequena, é sempre mais fácil sair à ruas com os amigos e há sempre muitos eventos a acontecer”, elogia.

3 Nov 2017

Filipe Chan, intérprete e tradutor: “Os portugueses falam de tudo”

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]resceu numa Macau da qual existem poucos vestígios, visíveis apenas ao olhar mais atento. Hoje em dia, Filipe Chan, com 37 anos, ainda consegue sentir alguma dessa velha cidade que o viu crescer, evocando as brincadeiras em torno do Jardim Vasco da Gama. “Aquela zona junto ao Lago Sai Van, a Avenida da República, ainda se pode sentir um bocado da antiga Macau”, conta o intérprete num exímio português.

Filipe recorda-se dos tempos, antes da construção da Torre de Macau, em que a vista do lago se estendia desimpedida até ao rio. “A paisagem sem aquela torre fica na memórias das pessoas”, recorda.

Cresceu, sobretudo, com crianças de origem chinesa e macaense e lembra com ternura os passeios dados nos riquexós que se encontram, ainda hoje, perto do Hotel Lisboa. Esses passeios de recreio eram algo muito familiar, hoje em dia funcionam mais como uma oportunidade para turistas tirarem selfies.

O português entra na vida do tradutor através de um curso que lhe surgiu no caminho, sendo que, até à altura, a única ligação que tinha a Portugal era o padrinho português da sua mãe. Ainda não lhe passava pela cabeça seguir uma carreira profissional baseada na língua de Camões. “Como os meus pais não dominavam o português, pensei que era bom para eles terem um filho que conhecesse a língua”, explica.

O momento em que estreitou contacto com colegas lusos foi na altura em começou a estudar para o teste de português. “Não percebia muito bem, tinha muitas dúvidas e tentei entrar mais na cultura e língua para conseguir perceber as obras que tinha de estudar, como “Os Maias” e “Viagens da minha terra”.

Rodear-se de dicionários não estava a resultar, faltava-lhe o poder de expressão, o entendimento. Os colegas com raízes europeias ajudaram-no a compreender melhor as subtilezas linguísticas de Eça de Queiroz e Almeida Garrett. Pode-se dizer que Filipe Chan entrou no português pela porta grande dos clássicos, tendo mais tarde dado uma guinada para manifestações de portugalidade mais populares.

Garagem da vizinha

Mais tarde Filipe entraria a fundo naquilo que é ser português, ou seja, tornou-se um adepto e seguidor do campeonato português de futebol. A sua primeira simpatia foi para o Futebol Clube do Porto, mas mais tarde mudaria para o Sporting. “A partir daí procurei conhecer um pouco mais de Portugal, mas nessa altura ainda não tinha lá ido nenhuma vez”, algo que faria uma mão cheia de vezes.

Numa altura em que não havia tanto dinheiro para sair à noite com os amigos, saídas que não dispensa hoje em dia, Filipe ficava no sofá colado ao ecrã a vibrar com um campeonato a meio mundo de distância. “Antigamente a TDM dava dois jogos por semana”, lembra. Apesar de gostar muito de futebol, o intérprete não se deixa afectar muito, sendo-lhe difícil de compreender o exagero a que o fanatismo desportivo chega. Porém, acha curioso a forma apaixonada como os portugueses falam de futebol.

“As pessoas chegam a irritar-se umas com as outras por uma questão de rivalidade clubística, ou por causa de um penálti mal marcado”, diz. Apesar de estar familiarizado com a forma como o sangue de um adepto ferrenho ferve, Filipe Chan acha incrível como é possível “pais e filhos zangarem-se ao discutir o desempenho de um árbitro, ou um lance duvidoso”.

Outra manifestação profundamente “tuga” à qual sucumbiu foi a música de Quim Barreiros, também mostrada pelo mesmo amigo que o convenceu a ser portista por uns tempos. “A primeira música que ouvi foi ‘A garagem da vizinha’, põe o carro, tira o carro, achei muito cómico e procurei mais músicas”, conta. Quando por vezes não compreendia onde estava o trocadilho, perguntava ao amigo que se prontificava a explicar-lhe.

As viagens são um dos prazeres que não dispensa, em particular à Europa. Os seus países preferidos são Itália, França e, claro está, Portugal. “As pessoas são muito simpáticas, principalmente quando começo a falar português. Ficam com muita curiosidade como alguém asiático fala a sua língua”, conta.

Durante as idas a Portugal, que já vão em cinco, aproveita para degustar a gastronomia lusa. “Gosto de bacalhau, lulas, polvo e, especialmente, marisco”.

Na relação com “tugas” destaca a forma aberta como se relacionam com o outro. “Os portugueses falam de tudo, mesmo as coisas mais íntimas, os chineses só o fazem com amigos mais próximos”, compara.

27 Out 2017

António Leong, fotógrafo amador, “Tirar fotografias é como escrever um diário”

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]o Largo do Lilau até aos jardins de Lou Kau vão uns meros passos de distância. A história que vive em cada pedra da calçada portuguesa permanece desde um tempo distante. Tal também acontece em São Lázaro, lugar de cultura e de arte e, afinal de contas, de religião: é lá que existe uma igreja e onde se faz anualmente a tradicional festa do São João.

Estes são os lugares preferidos de António Leung para fotografar. Capturar imagens através da lente é apenas um passatempo, revelado nas redes sociais, como o Facebook ou Instagram. Por norma, António Leung vai visitando a sua cidade e capturando aquelas imagens que mais lhe tocam o coração.

“Gosto de ‘viajar’ na cidade através do meu motociclo”, disse ao HM. A fotografia surgiu na sua vida há pouco tempo.

“Por volta de 2012 começou o meu interesse em tirar fotografias. Primeiro comecei por tirar fotos na minha hora de almoço ou depois do serviço, quase todos os dias. Não sou um fotógrafo profissional e tiro fotos como um hobbie”, contou.

Na sua página “Antonius Photoscript” contam-se histórias através de imagens que quase dariam para um qualquer guião. Até porque andar de máquina ao peito já faz parte da rotina diária de António.

“Tenho um outro trabalho a tempo inteiro. Para mim, tirar fotografias é como escrever um diário todos os dias.”

Nas suas imagens cabe uma Coloane soalheira com o seu mercado, as portas vermelhas, as Ruínas de São Paulo no silêncio da noite, uma Macau cheia de uma luz que não vem dos casinos.

Num território onde o turismo é a principal actividade económica, e não apenas por causa do jogo, o património acaba por aparecer na maioria das imagens de António. O próprio reconhece que, antes deste hobby, nunca reparou nos velhos edifícios que os portugueses deixaram, ou nas antigas fachadas tipicamente chinesas.

“Macau fez um grande esforço para preservar o património, mas antes de começar a tirar fotos nunca tinha notado que tínhamos uma grande presença histórica. Acho que é bom que os jovens conheçam melhor a história e a cultura desta cidade”, apontou.

Português desde a primária

António Leong não fotografa só a sua terra, mas também outras. As diferenças culturais que existem, e também em termos de espaço, fizeram-no olhar para as particularidades do território.

“Fui ao Butão em Junho e levei, pelo menos, três a quatro horas para andar de um ponto turístico ao outro. Mas em Macau podemos visitar todos os pontos turísticos a pé, e, além disso, há uma mistura de diferentes culturas”, frisou.

António estudou português desde a escola primária, apesar de ter confessado que não falava a língua de Camões há muito tempo. Na universidade, acabou por estudar engenharia civil, algo completamente diferente da área que abraça nas horas vagas.

Não que goste propriamente do curso que tirou. “Naquele tempo não tínhamos muitas escolhas”, referiu.

Para o futuro, António Leong gostava de desenvolver novos projectos relacionados com a fotografia. “Gostaria de trabalhar com outros criativos locais, tal como estilistas, e criar esse cruzamento. Também gostaria de fazer photo stories dos residentes”, concluiu.

20 Out 2017

Vitória Man, organizadora de eventos: “Escrever é outra forma de fuga”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sua personalidade leva-a a experimentar vários percursos e caminhos, sem se decidir exactamente qual aquele que gosta mais. Nascida em Macau, Vitória estudou Direito em Portugal, tendo feito a licenciatura e o mestrado na mesma área. Depois trabalhou em Angola como directora comercial de uma empresa. De regresso a Macau, Vitória tem estado ligada a coisas tão variadas como a organização de eventos, traduções para filmes ou de poesia.

O facto de fazer coisas tão diferentes traz-lhe uma espécie de conflito interno. “Às vezes sinto-me estranha, porque não sei qual é a minha vida real e a vida de fuga. É uma grande confusão, especialmente aqui em Macau. Tenho mais amigos estrangeiros do que chineses”, contou ao HM.

Vitória Man assume que a sua personalidade tem várias valências. “Quando estou no trabalho penso nas coisas de forma prática, não gosto de usar o meu lado artístico. Mas quando saio do trabalho vejo um filme ou faço mais projectos criativos, aí sinto-me melhor.”

O contacto com a língua portuguesa surgiu devido ao curso de Direito, mas muito antes disso Vitória tinha tido os primeiros contactos com o idioma de Camões. Em criança, chegou a viver no Panamá, onde o pai falava espanhol e tinha amigos portugueses e macaenses.

Olhando para a Macau dos anos 90, o contacto com a cultura portuguesa também era muito mais fácil do que agora. “Era como se vivesse em Lisboa. Estava sempre com portugueses e macaenses e ouvia muitas línguas diferentes.”

Em Macau também se sobrevive

As vivências que experimentou em Angola e Portugal fizeram-na ter diferentes perspectivas de vida. “Estes três lugares são para mim muito diferentes. Costumo dizer que Portugal é para viver, Luanda é para sobreviver e Macau está no meio.”

Para Vitória, em Macau também se sobrevive, sobretudo aqueles que são do meio artístico. “Quem está aqui e trabalha na área da criação tem de sobreviver. É quase uma tradição de Macau, as pessoas não são muito criativas. Agora isso está melhor, desde que chegaram mais estrangeiros e desde que estudantes de Macau foram para outros países estudar.”

Em Angola, apesar da pobreza generalizada da população, a necessidade de sobrevivência não representa tristeza.

“As pessoas não têm uma vida fácil, mas não pensam tanto e são alegres. Não têm dinheiro então não pensam tanto sobre coisas como ciúmes. Se tiverem umas bebidas e comida, já ficam contentes.”

Lá Vitória Man teve um contacto estreito com o mundo empresarial. “A minha vida diária era tratar de negócios e lidar com empresários. Ao fim-de-semana ia a casa da minha amiga portuguesa, para relaxar um pouco. Mas todos os meus amigos eram empresários ou consultores financeiros.”

Uma vida bastante diferente daquela que levou em Portugal, onde teve contacto com pessoas do meio artístico, quase de forma espontânea.

“Tenho boas memórias, porque quando estava na Europa estava sempre a conhecer pessoas novas. Graças a Deus conheci muitos artistas e fotógrafos, tive uma vida muito interessante. Sair com fotógrafos ou artistas era um tipo de fuga para mim, porque gosto muito de arte e de escrever.”

O lado da escrita

Quando está triste, Vitória Man escreve, tratando-se de um outro acto de fuga. “Escrevo poemas, porque gosto. E sobretudo quando estou triste tenho de escrever, é outra maneira de fuga. Os meus poemas estão muito ligados à natureza humana, e recentemente tentei escrever poemas relacionados com o feminismo nas cidades modernas. Passei por cidades diferentes e sinto que as pessoas nessas cidades têm mentalidades diferentes.”

Apesar de gostar de arte, Vitória Man garante que fez a sua formação superior em Direito, porque gosta da lógica. “Quando tenho de resolver um caso sinto-me satisfeita, porque tenho de recorrer aos códigos. Em Macau qualquer pessoa que queira ser bem sucedido no Direito tem de falar bem português, é uma língua que me faz sentir mais calma”, aponta.

13 Out 2017

Natália Io, estudante de português: “Gosto muito de bacalhau com natas”

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando chegou a Portugal sentiu-se “Lost in Translation”. Natália Io já tinha contactos com a língua em Macau, de onde é natural, mas foi para o outro lado do mundo que decidiu ir aprender melhor o idioma que está na moda. Em Portugal há três anos, Natália recorda ao HM os primeiros dias no país onde o sol é um privilégio.

“Achei logo que os portugueses eram muito próximos uns dos outros, porque a minha senhoria e colegas de casa cumprimentaram-me com beijinhos na cara. Sei que isso é um costume português, mas no início não estava nada habituada.”

Nos primeiros dias, o português era uma língua estranha, as expressões não tinham compreensão. “Pedia muitas vezes para as pessoas repetirem o que me diziam. Às vezes via expressões estranhas e perguntava às minhas colegas de casa o que significava aquilo. Elas eram simpáticas e explicavam-me. Com o tempo habituei-me à vida aqui.”

A estudante depressa se habituou ao clima, mas sobretudo à boa comida. “Sempre ouvi dizer que em Portugal as pessoas comiam sempre batatas, mas quando cheguei percebi que também comem arroz, massa e feijão. Gosto muito de bacalhau com natas, bacalhau à Brás, feijoada e arroz de marisco”, exemplifica.

Apesar de querer ficar em Macau, por ser a terra onde nasceu, Natália Io gosta de viver na terra das praias. “Gosto do ambiente aqui, é confortável e adequado para viver. A natureza também faz parte dos meus gostos, e gosto muito dos monumentos, que são magníficos.”

Natália só tem uma coisa a criticar: os portugueses gostam de aproveitar a vida e fazer as coisas de forma mais lenta. “Comparando com Macau as pessoas em Portugal têm um ritmo de vida mais lento, e para mim isso é bom, porque dá para aproveitar a vida. Mas no trabalho isso não é muito bom, uma vez que a eficiência e a produtividade das pessoas no local de trabalho pode aumentar.”

Uma longa viagem

Um dia, em criança, Natália encontrou-se com um amigo do interior da China que lhe perguntou se, em Macau, toda a gente falava português. “Quando ele me perguntou isto fiquei logo a sentir alguma coisa, e pensei que, se o português era língua oficial, talvez tivesse de aprender a falar um pouco.”

Na escola secundária, Natália Io acabaria por escolher o idioma como opção. “Felizmente tive um professor muito bom, ele tinha muita paciência connosco e assumia responsabilidades. Então aí fiquei cada vez mais interessada em aprender e quis melhorar.”

Natália estudou dois anos numa universidade e só mais tarde é que tomou conhecimento das bolsas de estudo disponibilizadas pelo Governo. Tinha chegado a altura de ir mais longe.

“Fiquei muito contente e surpreendida. Aqui em Portugal temos boas condições para aprender a língua, e depois do curso quero ficar mais tempo para me qualificar para ser professora.”

Pintura nos tempos livres

Quando não estuda a ligação entre caracteres e o alfabeto ocidental, Natália Io pratica caligrafia chinesa, por ser “uma maneira de relaxar e reduzir o stress”.

“Às vezes vou beber um café como fazem os portugueses, e comer algo. Se tiver uns feriados ou dias de férias vou visitar outras cidades portuguesas ou outros países, para que possa conhecer culturas diferentes e ver melhor o mundo.”

Apesar de já estar habituada a um estilo de vida europeu, Natália Lo quer regressar à terra de todas as oportunidades.

“Prefiro viver em Macau, porque foi onde nasci, onde tenho a minha família e amigos. Tenho um sentimento de pertença muito forte. Macau é um sítio onde posso fazer muitas escolhas e facilmente encontro as minhas comidas favoritas.”

Portugal é, para Natália, o sítio ideal para estudar, onde tem o seu espaço e onde aprende algo novo todos os dias. “Vou aos supermercados, ao banco, aos cafés e restaurantes, e encontro sempre palavras novas que uso no dia-a-dia. Esta é a maneira que mais gosto para aprender o idioma.”

6 Out 2017

Jacinta Zhang, estudante de português | Das línguas à gestão

[dropcap style≠’circle’]“[/dropcap]Estudar português trouxe-me uma experiência diferente para a minha vida.” A frase é de Jacinta Zhang, licenciada em Estudos Portugueses pela Universidade de Macau que, após a conclusão do curso, decidiu mudar de rumo. Hoje Jacinta está em Lisboa a frequentar um mestrado em Gestão e Estratégia Industrial na Universidade de Lisboa. A aprendizagem da língua de Camões foi um primeiro passo importante.

Jacinta é da cidade Handan, da província de Hebei, na China. Viveu em Macau quatro anos e deixou de ser uma menina que pouco ou nada sabia sobre o território. Hoje, Jacinta é uma jovem que sabe mais coisas sobre Macau e que diz adorar esta região do sul da China.

Foi graças a um amigo que Jacinta decidiu vir estudar para a RAEM, pois ouviu dizer que se tratava de um território multicultural. Além disso, cedo percebeu que aqui poderia aprender melhor o português, pelo facto de existir uma comunidade portuguesa e ser ainda língua oficial. Isso fê-la deixar a sua terra natal.

O primeiro contacto com o português fez-se não tanto por gosto, mas mais por necessidade. Jacinta Zhang percebeu que o idioma é um dos mais procurados no mercado e juntou o útil ao agradável: afinal, a aluna de mestrado já tinha um interesse natural pela aprendizagem de outros idiomas que não o seu.

Dificuldades e truques

Para aprender uma língua completamente diferente, Jacinta Zhang considera que não há propriamente um método a seguir. É preciso falar muito português, ouvir muito a língua, e aproveitar ao máximo a cultura. No dia-a-dia a estudante costuma ler jornais portugueses ou ver vídeos portugueses e brasileiros no Youtube.

A decisão de estudar gestão e não aprofundar os estudos de português surgiu quase de imediato, tendo optado por usar a licenciatura em Estudos Portugueses como uma “ferramenta”. A aluna já tinha estado em Lisboa e isso fê-la perceber melhor o que queria fazer e diminuiu as possíveis dificuldades que iria sentir caso se mudasse para a capital portuguesa.

Jacinta já pensou desistir do mestrado, pois gestão da estratégia industrial é uma área com a qual nunca teve contacto. Nos primeiros meses recorda que não entendia quase nada do que os professores diziam nas aulas. Foi a única aluna que não dominava o português de forma nativa, tendo sentido muito stress quando tinha de fazer trabalhos de grupo, onde analisava vários casos de administração em empresas.

A aluna depressa teve de arranjar soluções, como comprar livros em mandarim. Além disso, teve a ajuda dos amigos e colegas, e também dos pais, algo essencial para que não desistisse do curso logo no início.

Das saudades

Apesar de ter saído de Macau, Jacinta Zhang assume ter saudades deste pequeno território onde deixou boas amizades e espera um dia poder voltar. Aqui aprendeu mais sobre a cultura ocidental e adoptou outros pontos de vista. Gostou logo da comida local e considera que, aqui, os residentes têm acesso a pratos de todo o mundo.

O facto de Macau ser um território pequeno trouxe-lhe um sentimento de proximidade, o que a ajudou nos primeiros tempos, pois não dominava o cantonês.

Face ao futuro, e uma vez que lhe falta apenas um ano para acabar o mestrado, Jacinta Zhang não se arrepende de ter estudado português, por, através desta língua, poder vir a obter muitas vantagens.

O seu país está a apostar nas relações comerciais com os países de língua portuguesa e Jacinta gostaria de fazer parte dessa estratégia. Nos próximos anos, a mestranda afirma que vai continuar a aprender sempre mais e mais, para que possa ser um símbolo dessa ponte que se está a construir com países como Portugal, Angola, Brasil ou Cabo Verde. Os conhecimentos sobre administração de empresas também terão de ser aprofundados, admitiu.

29 Set 2017