Andreia Sofia Silva Grande Plano Manchete25 de Abril | A Revolução dos Cravos vista pela imprensa chinesa A queda do Estado Novo a 25 de Abril de 1974 foi noticiada pela imprensa de língua chinesa em Macau. Revelaram-se preocupações da comunidade, nomeadamente quanto à permanência do Governador Nobre de Carvalho em prol da estabilidade e bom ambiente de negócios, assim como o “status quo” de Macau no contexto da descolonização Os ecos da revolução do 25 de Abril de 1974 chegaram com atraso a Macau, mas isso não significou ausência de notícias nos dias seguintes, inclusivamente na imprensa chinesa local. O HM consultou algumas das notícias dos jornais chineses da época sobre este período, traduzidas para português por funcionários da Comissão de Censura à Imprensa (CCI), o organismo público que funcionou em Macau durante o regime ditatorial português. Este material está hoje à guarda do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa. A sua leitura permite não só perceber alguns dos acontecimentos que se sucederam à revolução, mas também as percepções e preocupações que a comunidade chinesa teve face ao que se passou em Portugal. Os chineses queriam manter a estabilidade e a continuação dos negócios. E se o Governador Nobre de Carvalho, no poder desde 1966, passava a estar, para muitos, conotado com o regime fascista, e, por isso, tinha de sair, a verdade é que muitos desejavam a sua permanência para garantir a paz social. Conforme se lê no livro “Macau nos anos da revolução portuguesa 1974-1979”, de Garcia Leandro, ex-Governador português, “os chineses de Macau procuravam, acima de tudo, estabilidade para poder dar continuidade tranquila aos seus negócios, e não desejavam conflitos ou desentendimentos com Pequim ou com Cantão”. A Administração era “fraca, muito mal apoiada tecnicamente e com fama de ser facilmente corrompida”, pelo que havia, no território, “fortes razões para o MFA [Movimento das Forças Armadas] local e para o CDM [Centro Democrático de Macau] quererem mudanças, principalmente pela corrupção permanente e pela sensação de excessiva fraqueza da Administração portuguesa, que parecia nada decidir sem consulta prévia aos representantes chineses”. As explicações do MFA Logo a seguir ao 25 de Abril, Macau recebeu a visita de dois representantes do MFA, nomeadamente o Major Rebelo Gonçalves e o próprio Garcia Leandro, para explicar a revolução e objectivos do MFA para Portugal e as colónias, não apenas à população como aos jornalistas. Um dos encontros, com os jornalistas locais, foi descrito pelo jornal Tai Chung Pou a 6 de Maio de 1974. “Rebelo Gonçalves recebeu os repórteres e narrou-lhes pormenorizadamente o golpe de Estado. No dia (do acontecimento), a canção ‘Quem manda é o Povo’ serviu de sinal de acção”. O tradutor da CCI atribuiu à canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, escolhida para ser a segunda senha da revolução na rádio, o nome “Quem manda é o Povo”, numa referência ao verso da letra “O povo é quem mais ordena”. A notícia prosseguia, citando Rebelo Gonçalves: este disse “que o golpe de Estado foi desejo do povo, pelo que alcançou êxito no período de um só dia”. Apoio a Nobre de Carvalho Caído o regime em Lisboa, e exilado Marcelo Caetano, depressa se colocou a questão sobre a permanência do Governador à frente dos destinos de Macau. Porém, Nobre de Carvalho recebeu apoio popular para continuar, como descreve uma notícia do jornal Si Man de 4 de Outubro de 1974. “Portugal não tenciona modificar o ‘status quo’ de Macau, disse um delegado português a comerciantes chineses. O referido delegado manifesta-se contente com a campanha pela recondução do Governador, promovida por diversos sectores sociais. No entanto, o senhor general Nobre de Carvalho já pedira a exoneração do cargo de Governador por motivos de saúde.” Além disso, criou-se um grupo “para a recolha de assinaturas a favor da recondução do senhor general Nobre de Carvalho no cargo de Governador de Macau”, e que foram entregues a Garcia Leandro, ainda na qualidade de oficial do MFA. Este recebeu “duas caixas contendo livros-cadernos com assinaturas”. Foram transmitidos “pareceres de entidades dos círculos industrial e comercial, na esperança de o senhor Governador poder permanecer em Macau, o qual dadas as suas largas experiências e conhecimentos dos condicionalismos, possa vencer as dificuldades resultantes do declínio económico que ora se verifica em todo o mundo”. Mas se era desejo de muitos a continuidade de Nobre de Carvalho, a saída de muitos funcionários públicos passou a ser conotada com a mudança de regime. Como é referido numa notícia do jornal Si Man de 11 de Maio de 1974. “O chefe dos Serviços de Saúde e Assistência, dr. António Joaquim Paulino, regressará no dia 27 do corrente mês a Portugal Continental, o que segundo consta, está relacionado com a queda do Governo de Marcelo Caetano. As autoridades competentes recusaram-se a fazer comentários sobre a partida do dr. Paulino.” O jornal acrescentava ainda: “Contudo, uma notícia de fonte fidedigna informou: Crê-se que o regresso inopinado para Lisboa do dr. Paulino, cuja comissão de serviço nesta província ainda não terminou, está relacionada com o golpe de Estado ultimamente registado em Portugal (continental). Segundo se diz, o dr. Paulino tem sido um simpatizante entusiástico do deposto Governo de Marcelo Caetano.” Ainda no início de Maio, permaneciam ainda muitas perguntas sem resposta, e o jornal Si Man associava a partida de Vasco Rocha Vieira do território, à época Chefe do Estado-Maior do Comando Militar, com a ausência de explicações para a situação política. “Já se passou uma quinzena após a ocorrência do golpe de Estado em Portugal sem que fosse completamente esclarecida a situação política daquele país. Apesar de Macau ser pouco afectada pelo referido acontecimento, o Chefe do Estado-Maior das Tropas Portuguesas estacionadas em Macau, Major Rocha Vieira, afastou-se ontem silenciosamente desta província, facto que levou muita gente a conjecturar e suspeitar que a Junta de Salvação Nacional que tomou conta do Governo português já tivesse começado a actuar em Macau.” As explicações de Ho Yin O jornal Tai Chung Pou noticiou, a 22 de Maio de 1974, que “alguns portugueses declararam em Hong Kong que estavam descontentes com as medidas tomadas pelo Governador e com o Governo de Macau”, tendo seguido “para a metrópole a fim de pedirem a concessão de liberdade aos portugueses de Macau”. Ho Yin, empresário e figura marcante da comunidade chinesa local, que dialogava directamente com o Governador em representação das autoridades chinesas, deu explicações numa sessão com “repórteres estrangeiros, assim como os de Hong Kong e Macau” sobre os acontecimentos de Abril. Estes “visitaram o sr. Ho Yin, pedindo-lhe opinião”, descreve o Tai Chung Pou. E, mais uma vez, Ho Yin apaziguou os ânimos, referindo que Nobre de Carvalho tinha toda a legitimidade para continuar como Governador. “Desde o golpe de Estado português, registado a 25 de Abril, Macau, dadas as suas circunstâncias especiais, tem-se sentido, até à presente data, muito tranquila, não sofrendo qualquer alteração. O sr. Governador, General Nobre de Carvalho, que se encontra em Macau há mais de sete anos, tem profundo conhecimento dos condicionalismos desta cidade, tendo resolvido muitos assuntos através de conversações e envidado grandes esforços para esta cidade”, disse Ho Yin aos jornalistas, segundo o relato do jornal. No mesmo encontro, questionou-se a possibilidade de dissolução da Assembleia Legislativa, proposta do CDM. Mas Ho Yin afastou qualquer mudança política brusca. “Sabe-se que o Centro Democrático de Macau, constituído por alguns portugueses, pediu a dissolução da Assembleia Legislativa e da Vereação Municipal [Leal Senado], assim como a remodelação de alguns serviços públicos. Alguns habitantes julgaram que as asserções do referido Centro afectariam a ordem social, mas vieram a saber que as mesmas se tratavam apenas de opiniões de um reduzido número de portugueses, quando a cidade se encontra ainda tranquila, decorridos alguns dias.” O jornal acrescenta que Nobre de Carvalho explicou publicamente “que a AL não seria dissolvida, pelo que a população de Macau se tornou despreocupada e confiou na prosperidade desta cidade”. Além disso, “os turistas provenientes de Hong Kong, assim como do estrangeiro, também acham que Macau se encontra tranquila e não está de modo nenhum afectada”, lia-se no Tai Chung Pou. O jornal Seng Pou noticiou também este encontro entre Ho Yin e os jornalistas, em que o líder da comunidade chinesa comentou os benefícios de um regime democrático. “Dadas as suas circunstâncias peculiares e devido ao facto de os portugueses e chineses se respeitarem reciprocamente e viverem em paz desde há muito, Macau não sofreu nenhumas repercussões resultantes do referido golpe de Estado português”, disse Ho Yin, frisando que “quanto à liberdade da palavra, a mesma tem existido sempre em Macau”. Porém, o empresário apelava a alguma contenção nas críticas políticas feitas. “A democracia e a liberdade que ora se verificam em Portugal Continental são felicidades para o povo português. E os portugueses e chineses têm vivido no passado em paz, esperando-se que tal continue a suceder no futuro. No então, as críticas sobre pessoas particulares ou sobre repartições públicas devem ser fundadas, visto que qualquer ataque irreflectido faria sobrevir complicações à questão, além de afectar a tranquilidade e prosperidade desta.” Macau sem descolonização Uma das questões emanadas do 25 de Abril de 1974 foi o processo de descolonização, mais urgente na chamada África portuguesa onde decorria a Guerra Colonial desde 1961. Desde logo, as autoridades esclareceram que Macau ficaria de fora desse processo, até porque “a República Popular da China teve o cuidado de, em 1972, no Comité de Descolonização da ONU, deixar bem claro que o futuro destas duas possessões europeias [Macau e Hong Kong] não faria parte da agenda das actividades daquele organismo, sendo o assunto tratado bilateralmente”, lê-se no livro de Garcia Leandro. Na edição de 11 de Setembro de 1974, o jornal Tai Chung Pou escreveu que “o Chefe da Repartição do Gabinete do Governo de Macau, Tenente Coronel Henrique Manuel Lages Ribeiro, apontou que uma notícia emanada da agência noticiosa Reuters fora mal interpretada, e que Macau tem uma posição peculiar”, pois “a maneira de resolver o seu futuro é diferente em relação a outros territórios ultramarinos portugueses.” Citam-se palavras de Almeida Santos, à data ministro português da Coordenação Interterritorial, que referiu “que seria permitido a todos os territórios ultramarinos portugueses escolher a forma de independência como meio para solucionar o seu próprio problema, com a excepção de Macau que, sendo um território muito especial, requer uma maneira também especial para solucionar o seu problema”. Na tradução desta notícia, acrescenta-se também uma nota escrita pelo próprio redactor da peça: “Isto quer dizer que não existe o problema da independência em Macau”. As visitas de Rebelo Gonçalves e Garcia Leandro a Macau decorreram em “finais de Maio, princípios de Junho” de 1974. Almeida Santos esteve em Macau em Setembro desse ano e foi nessa fase que Garcia Leandro foi escolhido Governador de Macau, tomando posse a 13 de Novembro desse ano.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteÓbito | Comunidade recorda capacidade de diálogo de Papa Francisco Foram 12 anos à frente dos destinos da Igreja Católica. O Papa Francisco morreu na segunda-feira de manhã aos 88 anos. Ainda participou nas celebrações do domingo de Páscoa no Vaticano, já bastante debilitado. A comunidade católica local recorda o seu legado de diálogo e capacidade de gestão de várias crises na Igreja Jorge Mario Bergoglio ficará para sempre conhecido como Papa Francisco. Faleceu esta segunda-feira aos 88 anos, horas depois de celebrar a sua última Páscoa perante uma multidão no Vaticano. O Papa Francisco não conseguiu sobreviver às complicações de uma pneumonia bilateral, que obrigou a um prolongado internamento há semanas. A notícia da morta do Papa Francisco correu o mundo e as mensagens de condolências e homenagem multiplicaram-se globalmente. A comunidade católica local não foi excepção. “Sem dúvida que a comunidade católica de Macau acarinhava muito o Papa Francisco, graças ao seu sorriso, sem dúvida que foi de um grande ensinamento para a comunidade local. As pessoas sempre demonstraram um grande carinho pelo Papa”, disse ao HM o padre Daniel Carvalho. O sacerdote destacou o facto de Francisco ter sido o primeiro Papa oriundo da América Latina, mais precisamente da Argentina, o que foi “uma grande novidade para a Igreja”. Contrariando a imagem austera do seu antecessor, Jorge Mario Bergoglio rapidamente conquistou a simpatia de crentes e não-crentes pela simplicidade e capacidade de diálogo com vários grupos sociais e minorias. “Foi um Papa que não se destacava pela sua intelectualidade, mas pelo trabalho pastoral. Demonstrou ser uma pessoa de muito diálogo, alguém misericordioso, e muito próximo das pessoas mais simples, sofredoras. Foi um Papa extremamente acessível, mostrando um lado da Igreja que a humanidade talvez não estivesse acostumada a ver. Uma Igreja mais próxima, missionária, aberta ao diálogo.” Questionado sobre o futuro líder da Igreja Católica, o padre Daniel Carvalho diz ser difícil apontar, para já, um possível nome. “A Igreja Católica tem hoje cerca de 120 cardeais, então quando acontece o conclave há sempre uma eleição, e o candidato que obtém dois terços dos votos é eleito Papa. É muito difícil acertar na figura que será o próximo Papa. Existem sempre várias possibilidades. É muito provável que seja alguém da linha do Papa Francisco, pois muitos dos cardeais actuais foram escolhidos por ele. Pode haver uma tendência de continuidade pelo mesmo pensamento”, frisou. Religião “para todos” Stephen Morgan, reitor da Universidade de São José (USJ), recordou as palavras do Papa Francisco em Lisboa, no ano passado, durante as Jornadas Mundiais da Juventude, quanto ao facto de “o catolicismo ser para todos, todos”. “Ele tinha capacidade de comunicar isso, e penso que também estava preocupado em assegurar que, aos mais altos níveis de governação, a Igreja fosse representativa e com alcance global.” Para Stephen Morgan, o Papa Francisco “tinha uma capacidade de comunicação e de ligação com as pessoas”, além de ter criado raízes entre a Igreja Católica em países da zona sul do globo. “Foram ordenados muitos cardeais em lugares como o Myanmar, Timor-Leste ou até Mongólia, numa espécie de reconhecimento da natureza global do catolicismo, e talvez seja algo que só alguém da América Latina, do sul global, poderia promover.” Ao longo de 12 anos de pontificado, o Papa Francisco fez uma aproximação à comunidade LGBT e teve de lidar com o escândalo dos abusos sexuais no seio da Igreja. O posicionamento de Francisco nesse campo é outro ponto destacado por Stephen Morgan. “Ele fez um enorme número de coisas em termos de governação interna da Igreja, criando mecanismos de responsabilização. Não tenho a certeza se a responsabilização já terá acontecido, mas esses mecanismos, na crise dos abusos sexuais ou de gestão dos bens da Igreja, foram realmente muito importantes. Ele tinha uma capacidade de se relacionar com pessoas ‘modernas’, devido ao seu estilo informal”, destacou o reitor da USJ. Quanto à futura liderança da Igreja Católica, também Stephen Morgan diz que há ainda muitas possibilidades em aberto, tendo em conta o elevado número de eleitores papais. Além disso, “uma das características do pontificado deste Papa foi o facto de não se ter reunido com os cardeais muitas vezes, sendo que os seus antecessores tinham tendência para reunir com os cardeais com muito mais frequência”. “O Papa Francisco não o fez, por isso não se conhecem verdadeiramente. Pode ser um conclave muito curto, com a maioria a dizer: ‘Não conheço ninguém, mas conheço esta pessoa’. Pode ser o Tolentino Mendonça, por exemplo. Pode levar muito tempo a que se conheçam”, explicou. Segundo a Al Jazeera, em Janeiro deste ano existiam 252 cardeais, sendo que 138 têm poder de eleição do novo líder da Igreja Católica. O novo Papa irá cumprir o 267º pontificado. Fala-se de vários nomes que poderão suceder a Francisco: além do português Tolentino Mendonça, há os cardeais Peter Erdo, Pietro Parolin, cardeal secretário de Estado; Peter Turkson, do Gana; Luís Tagle, das Filipinas; Mário Grech e Matteo Zuppi. “Vale a pena referir que cerca de 50 por cento dos actuais cardeais vêm do sul global. Por isso, a ideia de que o novo Papa possa ser um asiático ou africano, e não um latino-americano, é elevada. Mas quem sabe?”, deixa no ar Stephen Morgan. Próxima jornada O funeral do Papa Francisco será realizado dentro de nove dias e o conclave para eleger o seu sucessor dentro de um mês, anunciou ontem o Vaticano após a morte do pontífice. Este domingo, Francisco conseguiu falar, sentado numa cadeira de rodas, no âmbito da cerimónia de benção “Urbi et Orbi”: “Urbi”, por ser dirigida a Roma, e “Orbi”, por também se direccionar ao mundo inteiro. Na sua mensagem, lida por um assessor, denunciou-se a “desprezível situação humanitária” em Gaza, e foi feito um apelo ao cessar-fogo. O Papa Francisco alertou também para “o clima de crescente antissemitismo que se está a espalhar pelo mundo”. “Apelo aos beligerantes para que cessem o fogo, libertem os reféns e prestem uma ajuda preciosa às pessoas famintas que anseiam por um futuro de paz”, afirmou Francisco na mensagem. “A missão autodeterminada do Papa Francisco era transformar a Igreja Católica num ‘hospital de campanha’, no sentido de ir ao encontro das pessoas onde elas estão, sem as julgar, curando-as com remédios de graça. Por isso, muitos católicos amavam-no profundamente”, rematou Stephen Morgan. A Diocese de Macau emitiu ontem uma nota oficial sobre o falecimento do Papa, recordando que este “foi chamado à Casa do Pai no Vaticano, em Roma, aos 88 anos de idade”. “Ao longo de seu ministério terreno, o Papa Francisco proclamou ardentemente a infinita misericórdia de Deus, semeou esperança entre os fiéis, percorreu muitas terras e cuidou com ternura dos mais frágeis, tornando-se um modelo exemplar de liderança pastoral”, é referido na nota, a que se segue um comentário do Bispo Stephen Lee. “Neste tempo sagrado da Oitava de Páscoa, Dom Stephen Lee, Bispo de Macau, juntamente com todos os irmãos e irmãs em Cristo, eleva preces fervorosas pelo eterno descanso da alma do Papa Francisco e para que ele seja recebido na glória do Reino Celestial. Expressamos igualmente a nossa sincera gratidão pelas numerosas mensagens de condolências recebidas de todos aqueles que, com bom coração, partilham deste momento de luto”, é referido. A Diocese diz que vai anunciar as cerimónias memoriais do falecimento de Francisco. A nota dá ainda conta da cronologia da vida de Francisco, nomeadamente o nascimento, a 17 de Dezembro de 1936, em Buenos Aires, com o nome de Jorge Mario Bergoglio; e a entrada nos jesuítas em 1958, tendo sido ordenado sacerdote em 1969. Em 2001 foi ordenado cardeal, e cerca de 12 anos depois foi escolhido como Papa. Condolências de Pequim A China apresentou ontem condolências pela morte do Papa Francisco, aos 88 anos, e afirmou que pretende continuar a desenvolver as suas relações com o Vaticano. Francisco foi o primeiro papa sul-americano e jesuíta da história. “A China apresenta as suas condolências pela morte do Papa Francisco”, disse Guo Jiakun, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa. A Santa Sé e a China não mantêm relações diplomáticas oficiais, uma vez que o Vaticano é um dos cerca de dez países que reconhecem Taiwan. No entanto, em 2018, o pontificado de Francisco assinou um acordo histórico com o Governo chinês sobre a complexa questão da nomeação de bispos católicos na China. “Nos últimos anos, a China e o Vaticano mantiveram contactos construtivos e intercâmbios amigáveis”, afirmou Guo Jiakun. “A China está disposta a fazer esforços conjuntos com o Vaticano para promover a melhoria contínua das relações”, declarou.
Hoje Macau Grande PlanoPaíses reagem à morte do Papa Francisco, aos 88 anos O Papa Francisco morreu ontem às 7h35, hora europeia, na residência na Casa de Santa Marta, no Vaticano. O líder da Igreja Católica, de 88 anos, tinha estado recentemente internado, em estado grave, por complicações de uma pneumonia bilateral, mas recuperou a tempo de estar presente nas celebrações de domingo de Páscoa no Vaticano. Entretanto, vários líderes de países reagiram à morte de Francisco, um deles o Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta. Citado pela Lusa, Ramos-Horta referiu que não foram apenas os católicos que perderam com a morte do Papa Francisco, mas todas as religiões e a humanidade. “Todas as religiões, toda a humanidade, perdeu alguém de grande importância”, disse o Presidente timorense, numa mensagem de vídeo em tétum, a partir de Sofia, Bulgária, onde se encontra em visita oficial. Na mensagem, o também prémio Nobel da Paz, considera que o “Papa Francisco foi um dos papas com maior impacto na história do mundo”, que “abraçou os pobres, os frágeis”. “Um Papa que não hesitou em falar contra os poderes mundiais que promovem a guerra em vez da paz”, disse Ramos-Horta, lembrando que Francisco denunciou também os poderes que ignoram os pobres e exploram os mais fracos. O chefe de Estado timorense recordou também as palavras do Papa Francisco, quando terminou a visita a Díli, em Setembro de 2024. “Segurou na minha mão e disse para cuidarmos bem deste povo querido”, lembrou. Uma das últimas viagens feitas pelo Papa Francisco foi a Timor-Leste durante a qual esteve reunido com o Presidente timorense com as autoridades religiosas, sociedade civil e corpo diplomático acreditado no país. Aos timorenses pediu para continuarem a construir e a consolidar as instituições do país para que “estejam completamente aptas a servir o povo de Timor-Leste” e para que os “cidadãos se sintam efetivamente representados”. “A fé que vos iluminou e susteve no passado continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro”, disse o Papa, lembrando que agora Timor-Leste tem um “novo horizonte, com céu limpo, mas com novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver”. Índia reagiu Outro líder político que reagiu à morte do Papa foi o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que apontou Francisco como “exemplo de compaixão, humildade e coragem”. “Profundamente triste com o falecimento de Sua Santidade, o Papa Francisco. Neste momento de dor e recordação, transmito as minhas sinceras condolências à comunidade católica mundial”, afirmou Narendra Modi nas redes sociais. “O Papa Francisco será sempre recordado como um exemplo de compaixão, humildade e coragem espiritual por milhões de pessoas em todo o mundo. Desde muito jovem, dedicou-se a concretizar os ideais de Cristo. Serviu diligentemente os pobres e os oprimidos”, acrescentou. Modi acompanhou a sua mensagem com várias fotografias tiradas durante um encontro com Francisco, mostrando os dois abraçados, e agradeceu-lhe o “afecto pelo povo da Índia”, onde residem cerca de 26 milhões de cristãos. O líder indiano teve vários encontros com o Papa, o último dos quais em Junho passado, à margem da cimeira do G7 em Itália. Num encontro anterior, em 2021, o primeiro-ministro indiano convidou o pontífice argentino a visitar a Índia. Entretanto, nos EUA, houve também uma reacção à morte por parte do vice-presidente norte-americano, JD Vance. “O meu coração está com os milhões de cristãos de todo o mundo que o amavam”, escreveu Vance, que está actualmente de visita à Índia, nas redes sociais. “Fiquei feliz por o ver ontem [domingo], apesar de estar obviamente muito doente”, acrescentou, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP). O Presidente das Filipinas, o país com mais católicos na Ásia, lamentou hoje a morte do Papa Francisco e disse que os filipinos se juntavam ao luto pela perda do chefe da Igreja Católica. “Um homem de profunda fé e humildade, o Papa Francisco liderou não apenas com sabedoria, mas também com um coração aberto a todos, especialmente os pobres e esquecidos”, disse Ferdinand Marcos Jr. numa mensagem nas redes sociais. Com mais de 118 milhões de habitantes, as Filipinas têm mais de 78% de católicos e ainda muitos fiéis de outras confissões cristãs. “O Papa Francisco ensinou-nos que ser um bom cristão significa dar bondade e cuidado mútuo. A sua humildade trouxe muitos de volta ao seio da Igreja”, disse Marcos na mensagem de condolências citada pela agência de notícias espanhola EFE. “Ao lamentarmos o seu falecimento, honramos uma vida que trouxe esperança e compaixão a tantos e que nos inspirou a amarmo-nos uns aos outros como Cristo nos amou. É um dia profundamente triste”, acrescentou. A Catedral de Manila vai celebrar uma missa na terça-feira, às 09:00 locais, presidida pelo cardeal José Advincula, em honra de Francisco, que se tornou chefe da Igreja Católica em 2013.
Hoje Macau Grande Plano MancheteLAG 2025 | Hengqin terá um centro para comércio lusófono e hispânico Hengqin vai ter um centro para promover as relações comerciais com os países de língua portuguesa e espanhola. A novidade foi anunciada pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, na apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa para este ano O Governo anunciou, na sexta-feira, o estabelecimento de um centro para promover os serviços económicos entre a China e os países de línguas portuguesa e espanhola na vizinha zona económica especial de Hengqin. A ideia é proporcionar às empresas destes países serviços no “âmbito linguístico, jurídico, fiscal, de verificação da observância das normas, de formação, de arbitragem e de mediação”, referiu, na Assembleia Legislativa, o secretário para a Administração e Justiça de Macau, André Cheong Weng Chon. As palavras de André Cheong, no âmbito da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano relativas à pasta da Administração e Justiça, vão ao encontro do que o líder do Governo, Sam Hou Fai, anunciou na segunda-feira, ao declarar a intenção de “promover o intercâmbio e a cooperação”, através de Macau, entre a China e o universo de países de língua espanhola. O Fórum Macau foi criado em 2003 e, mais de duas décadas depois, o Chefe do Executivo decide alargar o foco aos países que falam castelhano. A cooperação deve incidir, como indicou na apresentação geral das LAG, entre outros sectores, nas áreas das finanças, cultura, turismo e comércio electrónico transfronteiriço. “São países próximos em termos de cultura e de língua, que fazem parte do mundo latino. E temos em conta as experiências do passado, a cultura, todo o sistema político, social desses países”, referiu André Cheong. Como uma tosta Notando que o novo espaço tem gestão mista, de Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada, o responsável disse ainda que o “centro de apoio comercial não se sobrepõe ao Fórum [de Macau]”. Na semana passada, Sam Hou Fai, o primeiro líder de Macau a dominar a língua portuguesa, sugeriu também que ia aproveitar uma visita a Portugal, prevista para depois das eleições legislativas portuguesas de 18 de Maio, para se deslocar a Espanha e “iniciar contactos”. A Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin é um projecto lançado por Pequim, em 2021, gerido conjuntamente pela província de Guangdong e por Macau, com uma área de cerca de 106 quilómetros quadrados. Persistem, porém, uma série de problemas nesta área especial, notou André Cheong, referindo “a insuficiência no desenvolvimento da economia real, a alta taxa de desocupação dos edifícios comerciais, bem como a falta de circulação de pessoas e de actividade comercial”. Na segunda fase da construção desta zona, disse o secretário, Macau e a província de Guangdong vão reforçar “a interligação de infraestruturas”, “a articulação das regras e mecanismos” e a “aproximação dos residentes de Macau e Hengqin”. IAM | Reforma pretende simplificar estrutura orgânica Depois das mudanças no conselho de administração do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), nomeadamente a saída de José Tavares do cargo de presidente, eis que vêm aí novas mudanças. Na sexta-feira, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, disse que “a actual organização institucional [do IAM] não satisfaz as necessidades de trabalho do próprio instituto nem corresponde às expectativas dos cidadãos”, pelo que a partir deste ano serão feitos “os trabalhos de reestruturação de forma faseada”. O objectivo é “racionalizar e simplificar a estrutura orgânica interna, ajustando as funções com base nos princípios da gestão centralizada, do reforço da coordenação e da simplificação dos procedimentos, no sentido de evitar a gestão por camadas e para aumentar a eficiência da gestão municipal do IAM”. Função Pública | Subsídio de nascimento passa a 6.580 patacas O secretário André Cheong anunciou na sexta-feira que o subsídio de nascimento para trabalhadores da Função Pública irá passar do índice 60 para 70, o que significa que passa a ser de 6.580 patacas. “A RAEM ajustou o subsídio de nascimento, mas não para a Função Pública, que se mantém no índice 60. Sugerimos que esse subsídio seja ajustado para 70, equivalente a cerca de 6.580 patacas”, disse. Recorde-se que o Governo anunciou também, nestas Linhas de Acção Governativa, a criação do subsídio para a infância, que deverá chegar a 15 mil crianças até três anos de idade. Estas crianças irão receber 1.500 patacas mensais, ou seja, 18 mil patacas por ano.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLAG 2025 | Governo quer criar plataforma integrada de formação profissional No debate sobre as Linhas de Acção Governativa para este ano, o Chefe do Executivo destacou a iniciativa de criar uma “plataforma integrada de formação profissional” para os jovens que têm dificuldade em encontrar o primeiro emprego. Dos 7.100 desempregados, cerca de 4.000 são jovens, destacou o governante Há desemprego estrutural em Macau e isso é “notório”. O deputado Ngan Iek Hang levantou a questão no debate de ontem sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) e exigiu medidas concretas ao Governo. “Muitos jovens têm dificuldades em encontrar trabalho na sua área de especialização, e muitos residentes apertaram o cinto e passaram a ser mais prudentes nos gastos. Como vai aperfeiçoar as medidas de apoio ao emprego com uma abordagem multidimensional, assegurando o emprego dos residentes?”, questionou. Sam Hou Fai, na sua estreita como Chefe do Executivo a apresentar as LAG e a debatê-las com os deputados, anunciou a criação de uma “plataforma integrada de formação profissional” que inclua secretarias do Governo, associações locais e empresas para disponibilizar cursos específicos consoante as necessidades do meio empresarial. “Actualmente, a taxa de desemprego está nos 2,4 por cento, são cerca de 7.100 desempregados, e quatro mil são jovens. Trata-se de um desemprego estrutural e é uma situação que surgiu nos últimos dois anos. Há muitos finalistas de cursos específicos, tal como medicina, que não conseguem encontrar emprego. Queremos contar com as empresas para que haja uma conjugação e uma plataforma integrada de formação profissional e desenvolvimento contínuo, para ver se é possível resolver esse desemprego estrutural por áreas”, disse. Sam Hou Fai acrescentou também que a proposta partiu do secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. “Temos também de contar com a tutela da secretária O Lam [Assuntos Sociais e Cultura], porque também tem a ver com a educação. Quanto à acreditação e certificação profissional, há que contar com a participação do Governo, associações e empresas, e a próxima etapa é criar essa plataforma integrada tendo em conta as experiências dos territórios vizinhos”, salientou. Atenção aos casinos-satélite Sam Hou Fai lembrou também o desemprego resultante do possível encerramento de casinos-satélite como exemplo da necessidade de cursos específicos consoante as necessidades da economia local. “Em relação aos casinos-satélite, teremos de ver em dois ou três meses para saber quais as necessidades dos desempregados e depois poderemos organizar acções específicas para determinadas áreas”, explicou. O objectivo da futura plataforma integrada de formação é “resolver o problema dos recursos humanos”, tendo em conta que a contratação de trabalhadores não-residentes “é só uma medida de apoio suplementar que vai ser alterada tendo em conta a transformação de Macau e a sua situação concreta”. O Chefe do Executivo lembrou as acções de formação que já existem entre o centro de formação da Federação das Associações dos Operários de Macau e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, e também com as operadoras de jogo. “Temos de ter em conta a estratégia de diversificação 1+4 e criar cursos que dão diplomas. Temos de contar com as empresas para que haja uma conjugação de esforços”, concluiu.
João Santos Filipe Grande Plano MancheteAL | Sam Hou Fai lança apoio à natalidade, mas alerta para receitas orçamentais Nas suas primeiras Linhas de Acção Governativa, Sam Hou Fai anunciou a criação de um novo “subsídio de infância” que vai atribuir até 18 mil patacas por ano a residentes permanentes com menos de três anos. No entanto, alertou para dificuldades económicas Nas primeira Linhas e Acção Governativa que apresentou à população de Macau, Sam Hou Fai anunciou a criação de um novo subsídio de infância que vai atribuir um máximo e 18 mil patacas por ano a crianças com menos de três anos. Na Assembleia Legislativa, o Chefe do Executivo revelou a criação de um novo apoio social e a actualização de outros, sublinhado que o Governo coloca o bem-estar da população como a grande prioridade. Apesar de apenas ter mencionado a “mitigação das preocupações da população” como a terceira prioridade das políticas deste Governo, atrás de outros aspectos como a diversificação da economia e da eficiência da governação na RAEM, Sam garantiu que a população é a primeira prioridade: “O bem-estar da população é fundamental. Este Governo persistirá em colocar os interesses da população em primeiro lugar e, tendo em conta os assuntos ligados ao seu dia-a-dia, empenhar-se-á em resolver os problemas reais mais prementes que a preocupam, com vista a responder às suas aspirações por uma vida de qualidade”, prometeu. Como parte desta política, Sam Hou Fai anunciou as alterações dos apoios que se destinam principalmente a promover o aumento da taxa de natalidade e a apoiar a população mais idosa ou com necessidades especiais. A nível da natalidade, a grande novidade foi a criação do “subsídio de assistência na infância” que vai atribuir a cada criança residente permanente com idade até aos três anos um montante de 1.500 patacas por mês, que pode chegar, no máximo a 18 mil patacas por ano. A este incentivo junta-se um aumento de 1.082 patacas do subsídio de nascimento, que sobe das actuais 5.418 patacas para 6.500 patacas. Também o subsídio de casamento sofre um aumento de 78 patacas, de 2.122 patacas para 2.220 patacas. Para os idosos Ao nível dos apoios para os idosos, o subsídio para idosos é aumentado em 1.000 patacas, subido do valor anual máximo de 9.000 para 10.000 patacas. Ao mesmo tempo, a pensão para idosos é actualizada de um valor mensal de 3.740 por mês para 3.900 patacas por mês, uma diferença de 160 patacas por mês. Como esta pensão é paga treze vezes ao longo do ano, o valor total máximo sobe 2.080 patacas, das actuais 48.620 patacas para 50.700 patacas. Em relação aos residentes com invalidez, o subsídio normal vai ser aumentado para 10 mil patacas por ano, face às actuais 9.000 patacas. O subsídio de invalidez especial tem um aumento maior, das actuais 18 mil patacas para 20 mil patacas, uma diferença de 2.000 patacas. Outra das novidades é uma actualização dos vales de saúde, que vai subir para 700 patacas, quando actualmente são de 600 patacas. Avisos à economia A nível da economia, embora sem nunca mencionar a nova guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o Chefe do Executivo avisou que a economia da RAEM não vai passar incólume, embora possa contar com o mercado do Interior. “Temos testemunhado, nos últimos anos, o agravamento do unilateralismo e do proteccionismo, a insuficiência de dinâmicas propensas ao crescimento económico mundial, bem como o aumento de imprevistos e incertezas” afirmou. “As mudanças profundas e complexas no ambiente interno e externo já se manifestaram e persistirão, pelo que Macau, como uma microeconomia fortemente virada para o exterior, não podia estar imune aos decorrentes impactos”, acrescentou. “Por tudo isto, não devemos subestimar as eventuais ameaças e desafios, antes, devemos ter sempre consciência dos riscos e um sentido de alerta, de modo a estarmos preparados para agir contra todas as potenciais ameaças”, alertou. Sam Hou Fai também reconheceu que as receitas correntes estão abaixo do previsto e que poderá haver necessidade de apresentar uma reformulação do orçamento da RAEM em vigor. Em termos do apoio à economia, o líder do Governo anunciou um plano de bonificação de juros de crédito bancário para pequenas e médias empresas, que vai permitir aos empresários obter o pagamento de até 4 por cento dos juros dos empréstimo, durante três anos, num valor máximo de 5 milhões de patacas. O máximos dos empréstimos totais bonificados não pode ultrapassar os 10 mil milhões de patacas. Cheques com “requisitos” Na apresentação de ontem, Sam Hou Fai referiu que os valores pagos nos cheques pecuniários vão manter-se, garantindo que o programa de comparticipação pecuniária deverá ser alvo de alterações, sem que tenham sido anunciadas quais. “Após a auscultação das opiniões de todos os sectores da sociedade, proceder-se-á atempadamente ao aperfeiçoamento de regime de comparticipação pecuniária, utilizando as poupanças nas despesas para incrementar o bem-estar dos residentes e promover o desenvolvimento da economia comunitária.” Na mesma sessão foi referido que o dinheiro é atribuído aos residentes “que preenchem os requisitos”, pelo que resta saber quais serão esses requisitos. Foco no terrorismo Nas LAG apresentadas ontem por Sam Hou Fai a segurança nacional teve um destaque menor face aos discursos de Ho Iat Seng. Ainda assim, foi indicado que para este ano vai ser estudada a reformulação da Comissão de Defesa de Segurança do Estado e vão ser pensadas novas leis, para combater o terrorismo. No âmbito do nacionalismo, enquadrado no capítulo da segurança nacional, foi explicado que o Governo vai apoiar ainda mais as associações tidas como patrióticas, ao mesmo tempo que se organizarão eventos para celebrar o 80º aniversário da vitória da guerra contra o Japão. Reforma à vista A nível da Administração Pública, o Chefe do Executivo anunciou que vai apresentar uma proposta para reformular o Instituto para os Assuntos Municipais. A proposta de lei deverá entrar na Assembleia Legislativa até ao final do ano. As mudanças não foram detalhadas, mas o grande objectivo passa por “simplificar a estrutura orgânica do Governo e elevar a eficiência do seu funcionamento”. Também a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública será reformulada este ano. Além disso, Sam Hou Fai prometeu que os funcionários públicos vão começar a fazer o juramento de lealdade à RAEM. PRINCIPAIS APOIOS SOCIAIS COMPARTICIPAÇÃO SOCIAL (Sem Alterações) 10.000 patacas para residentes permanentes 6.000 patacas para residentes não-permanentes . VALES DE SAÚDE (Aumento de 100 patacas) 700 patacas para residentes permanentes SUBSÍDIO DE NASCIMENTO (Aumento de 1.082 patacas) 6.500 patacas SUBSÍDIO DE CASAMENTO (Aumento de 78 patacas) 2.220 patacas REGIME DE PREVIDÊNCIA CENTRAL (SEM ALTERAÇÕES) 10.000 patacas (activação da conta para residentes qualificados) 7.000 patacas (nova medida: injecção especial para residentes qualificados) PAGAMENTO DA CONTA DA ELECTRICIDADE (SEM ALTERAÇÕES) 200 patacas por mês IDOSOS SUBSÍDIO PARA IDOSOS (aumento de 1.000 patacas) 10.000 patacas PENSÃO PARA IDOSOS (aumento de 160 patacas por mês) 3.900 patacas por mês (13 meses) FAMÍLIAS CARENCIADAS ÍNDICE MÍNIMO DE SUBSISTÊNCIA (SEM ALTERAÇÕES) 4.350 patacas por agregado por ano familiar com uma pessoa APOIO PARA ACTIVIDADES DE APRENDIZAGEM (SEM ALTERAÇÕES) Entre 300 e 750 patacas por mês APOIO PARA CUIDADOS MEDICOS (sem alterações) entre 1.000 e 1.200 patacas por mês PORTADORES DE DEFICIÊNCIA SUBSÍDIO DE INVALIDEZ (aumento de 1.000 e 2.000 patacas) 10.000 ou 20.000 patacas SUBSÍDIO PARA CUIDADORES (torna-se apoio permanente) (SEM ALTERAÇÕES) 2.175 patacas por mês. ESTUDANTES SUBSÍDIO DE AQUISIÇÃO DE MANUAIS (SEM ALTERAÇÕES) 3.500 patacas (ensino secundário) 3.000 patacas (ensino primário) 2.400 patacas ensino infantil) SUBSÍDIO DE PROPINAS PARA ESTUDANTES CARENCIADOS (SEM ALTERAÇÕES) 9.000 patacas (ensino secundário) 6.000 patacas (ensino primário), 4.000 patacas ensino infantil) SUBSÍDIO PARA A AQUISIÇÃO DE MATERIAL ESCOLAR (SEM ALTERAÇÕES) 3.300 patacas por estudante do ensino superior NOVOS APOIOS FINANCEIROS SUBSÍDIO DE ASSISTÊNCIA NA INFÂNCIA 1.500 patacas por mês, total de 18.000 patacas por ano SUBSÍDIO AO EMPREGO NA GRANDE BAÍA 5.000 patacas por mês, para residentes com menos de 35 anos empregados no Interior ESTÁGIOS NO INTERIOR DA CHINA 5.000 patacas por mês após conclusão de estágio
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLiteratura | Dora Nunes Gago fecha trilogia de Macau com “Flores de Cinza” Dora Nunes Gago, escritora e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau, acaba de lançar um novo livro de poesia. “Flores de Cinza” encerra a trilogia de obras dedicadas a Macau, composta por “Floriram por engano as rosas bravas” e “Palavras Nómadas” Foram dez anos que se traduziram em muitas palavras. Tantas, que deram três livros, “Floriram por engano as rosas bravas”, com clara referência a Camilo Pessanha; “Palavras Nómadas” e, agora, “Flores de Cinza”. O novo livro de poesia de Dora Nunes Gago, docente e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau (UM), remete ainda para a Macau que perdura na sua memória e que, por isso, se traduz em palavras. Com a chancela da Húmus, o livro acaba de sair em Portugal, resultando dos “muitos poemas” escritos por Dora Nunes Gago no período em que esteve em Macau, experiência que a transformou numa autora publicada e premiada. Escrever poesia nesses anos de docência e vivência a Oriente acabou por ser a forma encontrada para lidar com rebuliços de Macau e as suas dinâmicas. “Talvez por ser um registo mais breve, uma forma de captar instantes, de os cristalizar, no meio de todo o bulício e surpresas de que Macau se veste. A Maria Ondina Braga referia na obra “Estátua de Sal”, escrita em Macau, por volta de 1963, que Macau é ‘terra de sono e poesia’. De sono não sei bem, sendo uma cidade que não dorme, mas de poesia, penso que será”, contou ao HM. “Flores de Cinza” chama-se assim porque foi buscar inspiração a um poema de Natália Correia: “(…) Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa / Passam por mim como alamedas de ciprestes / E a flor de cinza da juventude é uma aresta / Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres (…) / a galope num sonho com espuma nos dentes.” Dora Nunes Gago seleccionou os “poemas sobreviventes” dos restantes dois títulos da trilogia. “Houve os que se perderam, entre mudanças, viagens, blocos e cadernos perdidos.” Tal como todo o rebuliço próprio de Macau. Em “Flores de Cinza”, o território “é representado pelos rituais, as épocas simbólicas como o Ano Novo Chinês, que é aquele tempo festivo em que parece que o mundo renasce e se inventa”. Há também elementos que se transformam em poesia como os dumplings, os templos, a ilha de Hengqin, onde a autora viveu nos tempos em que deu aulas na UM. “O território está presente nas imagens, mas também na solidão e no silêncio que habita os poemas, todos eles curtíssimos. Neste livro, a minha obsessão pela síntese culminou”, descreve. Cada livro, uma mensagem Há poemas que falam por si só, outros que necessitam de ser explicados. E falando da trilogia que escreveu nos últimos anos, Dora Nunes Gago remete para o primeiro, onde se vai buscar o Simbolismo de Pessanha e onde se denota “o primeiro olhar sobre a Ásia e sobre Macau”. Aqui, não existe poesia, mas sim 24 contos, “muitos deles inspirados em histórias presenciadas, ouvidas ou lidas em jornais”. Já o premiado “Palavras Nómadas”, vencedor do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, no ano passado, contém 50 crónicas. “Foi o modo de achar um fio condutor para unir várias experiências e aprendizagens que teceram um fio condutor para a minha vida.” Eis que, no último livro da trilogia, se reúnem 55 poemas, organizados em três partes, nomeadamente “exílios, permanências e regressos”. São “uma síntese de todo o meu percurso”, destaca. “Flores de Cinza” é “talvez o livro mais autobiográfico dos três, pois enraíza-se em múltiplos sentimentos, numa espécie de instantâneos que configuraram os meus dias”, destaca a autora. Do prefácio, da autoria de Maria João Cantinho, lê-se que o primeiro da trilogia, “Floriram por engano as rosas bravas” é “um livro de contos breves, cujo título foi tomado de empréstimo a um belíssimo verso (e um poema) do melancólico Camilo Pessanha, em Clepsidra”. Enquanto “Palavras Nómadas” reúne crónicas que nascem “da sua vivência em Macau, bem como da sua vertente de viajante e aventureira, como precisou Onésimo Teotónio Almeida, de forma muito elogiosa”. Por sua vez, no terceiro, Dora Gago “muda o registo e encontramo-nos diante de uma escrita poética e sensível, construída por poemas breves”, lê-se. Maria João Cantinho entende ainda que o poema “Destino” é um dos mais belos em “Flores de Cinza”: “Na louca corrida / do galgo abandonado / solitário de existir, lamber as feridas da morte / na pele do poema.” Aqui, descreve-se “a escrita poética é apresentada como vertigem (‘na louca corrida’) movida por um impulso alegórico, em que a presença da morte emerge”, onde “o destino é certamente essa corrida desvairada em que a morte ronda os vivos e só o poema pode salvar ou redimir aqueles”, considera Maria João Cantinho. Para esta, “a escrita de Dora Nunes Gago contém uma dimensão reflexiva, abordando temas como a criação ou a passagem do tempo, entre muitos outros, e recorrendo a uma linguagem rica, tanto vocabular, como ao nível prosódico, na busca de efeitos que acentuem a tensão do poema”. “Exílios”, a primeira parte da obra, arranca com “Início”, nome simples para um poema curto: “Sigo as pegadas da memória / inscritas na areia do tempo / e sou navio / ancorado sem leme / nem alento”. Talvez marcado pela saudade e pela distância, encontramos “Ausência”: “Dançam cinzas solenes / silvando sopros de saudade, / céus / soletrados / no sangue / da solidão.” E como este livro é feito de idas e vindas, a obra termina com “Retorno”, como se de uma linha do tempo se tratasse: “Regressar a casa / tatuar montes e vales / na retina, / regar as flores de cinza / renascidas / nas frestas pedregosas / da esperança.” Dora Nunes Gago é natural de São Brás de Alportel e actualmente é docente no Instituto Politécnico de Setúbal. Sobre “Palavras Nómadas”, o júri do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, concedido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), considerou tratar-se de uma “obra de variadas e ricas observações concernentes aos lugares por onde transcorrem as viagens relatadas, com descrições de grande vivacidade sensorial, a que não falta o olhar íntimo sobre os lugares e as gentes, bem como a capacidade de captação do que se tem vindo a designar como ‘génie du lieu’”. “Numa prosa de grande fluidez, eivada de reflexões onde se cruzam percepções, memórias, cultura, literatura e história, a autora logra suscitar uma leitura aderente desde as primeiras páginas, cujo ritmo e interesse sabe manter ao longo da considerável extensão da obra”, referiu o mesmo júri.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLAG 2025 | Cheques, economia e Grande Baía devem ser apostas de Sam Hou Fai As Linhas de Acção Governativa para este ano são apresentadas na segunda-feira, marcando a estreia de Sam Hou Fai num dos mais aguardados momentos do calendário político local. As receitas do jogo e previsões económicas devem estar em cima da mesa, segundo José Sales Marques e Lou Shenghua. O futuro dos cheques pecuniários poderá ser outro assunto a ter em atenção Sam Hou Fai está há quase cinco meses no Governo e prepara-se para apresentar, na próxima segunda-feira, o seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. As grandes expectativas costumam residir nos montantes dos cheques pecuniários, os valores atribuídos em apoios sociais e demais previsões orçamentais, sobretudo depois de o território atravessou um duro período económico com a covid-19. As LAG 2025 deverão centrar-se nesses temas, e na integração de Macau nos vários projectos de cooperação a nível regional, como a ilha de Hengqin ou a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Cumprindo a tradição anual da política local, Sam Hou Fai fez a habitual ronda de auscultações às associações locais, a fim de saber as suas opiniões sobre as principais medidas a tomar. Ouvido pelo HM, o economista José Sales Marques espera clareza nas políticas anunciadas a nível económico. “Gostaria de ver estas LAG trazerem maior claridade quanto a políticas económicas e a visão para o futuro da RAEM. Falo de medidas de carácter estrutural, que estimulem a confiança do investidor privado, e que concretizem também as tais reformas da administração pública para aumentar a eficiência e eficácia”, destacou. Sales Marques disse ainda que “gostaria de ver claramente formuladas as posições e prioridades de Macau no seu relacionamento com países e regiões do mundo, incluindo medidas que levem a aprofundar o papel de Plataforma Sino-Lusófona e de base de diálogo multicultural”. Lou Shenghua, analista político e docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), disse que as principais ideias apresentadas estarão de acordo com aquilo que Sam Hou Fai apresentou no programa eleitoral. “A tónica poderá ser colocada na melhoria da eficácia da governação, na diversificação económica moderada, na construção da Zona de Cooperação de Hengqin e nas questões relacionadas com os meios de subsistência das pessoas”, disse o analista, frisando que “os cidadãos poderão estar mais preocupados com as questões relacionadas com os meios de subsistência”. E que programa apresentou Sam Hou Fai em Setembro do ano passado, quando se vislumbrou que seria o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo? Um programa que tem como “objectivo máximo satisfazer as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor” e a “orientação fundamental de implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e firme”. Não foi esquecida a importância da segurança nacional, referindo-se a necessidade de defesa “da soberania, segurança e interesses do desenvolvimento do país”. Sobre a RAEM, Sam Hou Fai disse querer erguer um “Macau alicerçado no Estado de Direito, dinâmico, cultural e feliz”. O então candidato único a chefiar o Governo prometeu melhorar a capacidade governativa da administração local. “Empenhar-nos-emos na elevação da capacidade e do nível de governação da RAEM, na mudança dos conceitos de governação, na optimização da forma de governação, na persistência de governação de Macau em conformidade com a lei, e no aprofundamento da reforma da Administração Pública e do sistema jurídico”. Assim, disse “optimizar as formas de governação, dar maior importância ao papel dos órgãos consultivos, dos especialistas e académicos, e das associações de amor à pátria e a Macau, auscultar amplamente as opiniões e sugestões dos diversos sectores, dos diferentes ramos de indústria e das diversas camadas sociais”. Resta saber o se as LAG vão trazer estes aspectos latos para o campo das acções e medidas concretas. Cheque mate Na segunda-feira, a agenda prossegue como habitual na apresentação de um relatório das LAG. Primeiro Sam Hou Fai irá à Assembleia Legislativa, a partir das 15h, fazer uma apresentação geral aos deputados das questões políticas e orçamentais essenciais para este ano, seguindo-se uma conferência de imprensa. No dia seguinte, é dia de debate no hemiciclo sobre o mesmo relatório, seguindo-se depois os debates sectoriais com todos os secretários até ao dia 30 deste mês. Um dos temas políticos que têm estado na ordem dia é o valor dos cheques pecuniários e se estes deixam, ou não, de ser atribuídos a residentes que vivem fora de Macau. Há analistas a defender a reformulação do programa, mas Sales Marques recorda que “o valor previsto para os cheques pecuniários na discussão do orçamento para 2025 é de 10 mil patacas para residentes permanentes”. “As receitas orçamentais previstas tiveram por base de cálculo uma previsão de receita bruta de jogo de 240 mil milhões de patacas à média de 20 mil milhões por mês. Acontece que as receitas efectivas obtidas até ao fim do primeiro trimestre do corrente ano ficaram aquém das previstas, com um desvio de menos cerca de quatro mil milhões de patacas. O Governo da RAEM já anunciou pela voz do secretário para a Economia que as receitas fiscais inscritas no orçamento em vigor podem não ser atingidas.” Tendo em conta estas previsões menos optimistas, referidas, aliás, pelo próprio secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, na última semana, Sales Marques acredita que, a haver ajustamentos nos cheques, serão “pequenos”. “Quanto ao método de distribuição, prevejo que continue a ser o mesmo”, rematou. Já Lou Shenghua acredita que “o plano de comparticipação pecuniária pode sofrer alterações”. “Em termos de montante, é provável que se mantenha o valor de dez mil patacas por residente, mas quanto à forma, poderá ser atribuído em vales de consumo”, referiu. No passado dia 1, o secretário Tai Kin Ip afirmou que as contas orçamentais estão ainda aquém do esperado. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”. Assim, foi deixado o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”. Jogo e outras histórias Relativamente ao sector do jogo, que continua a ter um peso predominante na economia, Sam Hou Fai confirmou há sensivelmente um mês que as concessionárias e os casinos-satélite têm até ao final do ano que preparar a transição para um modelo de exploração sem subconcessões. Ficará nas “mãos” das concessionárias decidir se vão ou não explorar estes casinos directamente. Para Sales Marques, esse dossier “preocupa diversos sectores da sociedade, não só pela questão do emprego dos seus trabalhadores, mas também pela repercussão que terá o seu encerramento nas zonas da cidade onde se encontram, sobretudo no comércio a retalho e na restauração, pequeno comércio em geral”. Assim, “será prudente evitar grandes choques na conjuntura actual”. “Tudo se fará para regularizar essas unidades nos termos da lei em vigor, sem provocar o seu encerramento imediato”, acrescentou. Já Lou Shenghua espera “haver espaço para negociação sobre a distribuição das receitas entre os casinos-satélite e as concessionárias”. Apesar das preocupações que residem no desemprego destas pessoas, Sam Hou Fai adiantou em Março, à TDM, que podem ser afastados esses receios. “Sei que os trabalhadores dos casinos-satélite estão distribuídos pelas empresas de jogo, portanto as operadoras têm a responsabilidade de os absorver ou de ter planos para estes trabalhadores”, frisou. Leis para que te quero Tendo em conta o historial de Sam Hou Fai na justiça, pois presidiu ao Tribunal de Última Instância desde o estabelecimento da RAEM, podem esperar-se algumas medidas novas na área do Direito. Sales Marques deposita a expectativas na criação de novos regulamentos “que sejam mais facilitadores ao funcionamento da economia”, bem “mais favoráveis ao ambiente competitivo de negócios desta região da Grande Baía, nomeadamente quanto à contratação de recursos humanos qualificados, condições oferecidas à sua estadia e o das suas famílias e regulamentos administrativos menos burocráticos”. Lou Shenghua acredita que este poderá, de facto, “prestar mais atenção à reforma jurídica”, embora esta “deva estar em conformidade com as políticas governamentais e acompanhar o ritmo dos tempos, não devendo ser reformada só porque sim”, salientou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLivro | Mark O’Neill conta a história dos europeus nos primórdios de Hong Kong “Europeans in Hong Kong” é o 18º e novo livro do escritor e jornalista britânico Mark O’Neill, que vive na região vizinha. Ao HM, confessa que começou por escrever a história dos irlandeses, mas o projecto acabou por se expandir. Como tal, focou-se nas histórias de europeus que deixaram a sua marca em Hong Kong, incluindo portugueses Hong Kong, a cidade da banca, das finanças e do comércio, um entreposto mundial durante séculos e uma porta de entrada para a China. Tem sido assim a região vizinha ao longo dos tempos, desde a sua instituição, em 1841. Desde sempre, Hong Kong foi um território internacional povoado por europeus de várias nacionalidades, muito mais do que os britânicos que administraram o território até 1997. Faltava contar a sua história, e Mark O’Neill, autor e jornalista britânico, a residir em Hong Kong desde finais dos anos 70, fá-lo agora com “Europeans in Hong Kong” [Europeus em Hong Kong], que inclui inclusivamente um capítulo sobre os portugueses. Em mais uma obra que acaba de sair para as bancas, o autor confessa ao HM que começou por escrever a história dos irlandeses em Hong Kong, cuja contribuição para o território “foi enorme”. Essa obra não chegou a ser publicada, nascendo depois a ideia de fazer algo maior. “Escolhi as figuras que deram os maiores contributos, especialmente a nível religioso, ou professores, escritores, grandes figuras do mundo dos negócios e aqueles cujos legados ainda perduram”, confessou. Mark O’Neill destaca que o grande contributo dos europeus na região vizinha deu-se na área educativa, mas não só. “O contributo mais duradouro foi dado pelas escolas, universidades, hospitais, lares de idosos, instituições de assistência social e algumas empresas. Embora se tratem de entidades que, actualmente, são geridas, em grande parte, por pessoas de Hong Kong, foram fundadas e alimentadas por europeus.” O autor explica que a história mais impressionante associada ao legado dos franceses surge na capa do livro. “No século XIX, as freiras francesas adoptaram dezenas de milhares de raparigas chinesas que tinham sido abandonadas e deram-lhes uma boa vida. Sem elas, as raparigas teriam morrido ou trabalhado como mão-de-obra infantil, empregadas domésticas ou prostitutas”, disse. Uma outra casa Questionado sobre as novas percepções que o livro pode trazer para o público em geral, Mark O’Neill entende que este está hoje “familiarizado com a história dos britânicos em Hong Kong, mas não com a história da Europa continental”. Assim, o autir diz esperar que “o livro os ajude a compreender a sua história, especialmente o seu contributo”. Em termos gerais, “nas primeiras décadas [da fundação de Hong Kong], os europeus eram, sobretudo, homens de negócios e missionários, tanto católicos como protestantes”. Depois, a região cresceu “como grande cidade asiática e, a partir dos anos 50, a comunidade expandiu-se”. “Actualmente, temos arquitectos, engenheiros, músicos, professores, donos de restaurantes, médicos, advogados, especialistas em arte e pessoas em todos os domínios da vida”, disse o autor. Outra figura de destaque em “Europeans in Hong Kong” é o padre jesuíta húngaro Laszlo Ladany, tido como o “maior observador da China em todo o mundo durante trinta anos”, e Anders Nelsson, “o cantor sueco e residente de longa data em Hong Kong, bem conhecido dos habitantes locais”, descreve-se na introdução da obra. “A maioria das pessoas pensa que Hong Kong foi construída pelos chineses durante os 150 anos de domínio britânico, o que não é inteiramente exacto. Como o leitor descobrirá, muitas das escolas, hospitais, instituições de assistência social, edifícios e empresas da cidade foram fundados e geridos por pessoas da Europa (definida aqui como ‘a leste de Calais’). Muitos viveram aqui toda a sua vida adulta e só regressaram ‘a casa’ quando a guerra ou a doença o obrigaram”, é descrito na mesma introdução. Mark O’Neill descreve também que os cemitérios de Hong Kong contêm vestígios dessa presença, pois “os europeus ficaram a gostar mais da cidade e das suas gentes do que da sua terra natal”. A presença europeia aumentou na região vizinha a partir de 1949, quando é fundada a República Popular da China, pois “o novo Governo chinês fechou as portas a estrangeiros, com a excepção de um pequeno número de pessoas provenientes de outros países socialistas”. Assim, “desejosos de permanecer na China e no mundo chinês, muitos europeus mudaram-se da China continental para Hong Kong”, é referido. O legado macaense O quarto capítulo é inteiramente dedicado à comunidade portuguesa e macaense de Hong Kong, tida como “pilar da sociedade” durante muitos anos. “Durante 150 anos, os portugueses foram, depois dos britânicos, a maior comunidade não chinesa em Hong Kong”, lê-se na obra, que traça o perfil de cinco personalidades e descreve dois clubes sociais, onde a comunidade se encontrava. No tocante às personalidades, é referido o exemplo de José Pedro Braga, o primeiro português a fazer parte do Conselho Legislativo, entre os anos de 1927 e 1937; Sir Roger Lobo, membro do Conselho Executivo entre 1967 e 1985; e o Comendador Arnaldo de Oliveira Sales, primeiro presidente do Conselho Urbano entre 1973 e 1981. “Os portugueses desempenharam um papel fundamental no Governo, nos bancos, nas profissões liberais e nas empresas comerciais. Viveram aqui durante muitas gerações. A maior parte dos expatriados ficava apenas o tempo da sua missão; quando se reformavam, partiam e regressavam à Grã-Bretanha ou a outro país da Europa. Os portugueses, por outro lado, tinham as suas próprias escolas, igrejas, clubes sociais e desportivos e a sua própria língua”, refere-se no livro. Relativamente à origem desta comunidade, descreve-se como uma “raça mista”, ou macaenses, mas também portugueses com origens asiáticas. “A sua história remonta a centenas de anos, aos primeiros tempos do comércio e da exploração portugueses. No século XVI, Portugal estabeleceu entrepostos comerciais e missões religiosas em Goa, Malaca, Macau e Nagasaki. Os colonos portugueses casaram com mulheres locais, criando uma população mista com raízes na Índia, na Malásia, na China e no Japão. Em 1639, o Governo japonês expulsou todos os estrangeiros e isolou o país do resto do mundo.” Macau surge intimamente ligado a esta comunidade, pois tornou-se, em meados do século XVI, “a base de Portugal na Ásia Oriental”, depois dos holandeses terem bloqueado Goa e conquistado Malaca. “Os macaenses começaram a formar-se como uma comunidade coesa – partilhando laços com Portugal, a religião católica, uma língua e uma cozinha comuns e um sentimento de distinção em relação aos portugueses coloniais e aos seus vizinhos chineses. Eram as únicas pessoas em Macau que falavam português e cantonês, o que lhes conferia um papel de intermediários essenciais para o bom funcionamento do Governo e dos negócios”, é explicado. O facto de “a fundação de Hong Kong ter devastado a economia de Macau” fez com que muitos macaenses tenham começado a mudar-se de armas e bagagens para uma zona com uma economia bem mais fulgurante. Afinal de contas, “a apenas 66 quilómetros de distância [Hong Kong] era o melhor porto de águas profundas a sul da China dentro das leis, administração e protecção militar no maior império do mundo”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEPM | Paulo Rangel garante aumento de apoio financeiro, após 11 anos de cortes Numa visita relâmpago a Macau, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal defendeu que a posição que o país mantém na União Europeia em nada afecta a relação com a China. Durante a visita de Paulo Rangel foi também anunciado que Sam Hou Fai deverá visitar Portugal durante o Verão Reuniu com Sam Hou Fai, com conselheiros das comunidades portuguesas, representantes associativos, instituições de ensino e empresários portugueses. Foi assim a visita de Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, na curta visita à RAEM, que decorreu na sexta-feira. Não faltaram ainda passagens pela Escola Portuguesa de Macau (EPM) e o Consulado-geral de Portugal no território. No final da tarde, Paulo Rangel deslocou-se ainda a Hong Kong para visitar a exposição “Estórias Lusas”, dedicada à comunidade portuguesa do território, patente no Museu de História de Hong Kong. Na China, Paulo Rangel marcou presença no Fórum Boao, em Hainão. Numa entrevista à TDM, o ministro assegurou que as relações de Portugal com a China mantêm-se boas, negando que o posicionamento do país nas tomadas de posição da União Europeia (UE) possa representar alguma espécie de entrave. “Quem achar que a presença de Portugal na UE é prejudicial para a relação de Portugal com a China, não percebe a relação de Portugal com a China e não percebe o papel de Portugal no quadro internacional. Percebo que algumas pessoas não compreendam, mas sinceramente temos de ver isso como mais valia. E isso é visto assim”, defendeu. Uma das vozes que criticou o posicionamento de Portugal em relação a matérias como a questão da Huawei e rede 5G foi Amélia António, advogada e presidente da Casa de Portugal em Macau. “A minha expectativa não é grande. Gostaria que o senhor ministro, depois de visitar a China, dissesse alguma coisa simpática, na medida em que as relações têm estado muito frouxas. Gostava de ver essa relação ser retomada da forma como era habitual e também que não fôssemos tão seguidores das posições da UE, de forma tão feroz, pois temos aqui interesses muito especiais e temos uma comunidade portuguesa muito grande. A situação é diferente em relação a outros países da UE, e isso não deve ser perdido de vista”, disse ao HM antes da chegada de Paulo Rangel a Macau. A questão EPM Na entrevista concedida à TDM, Paulo Rangel comentou ainda a questão da EPM, frisando os pontos que não estiveram na agenda, nomeadamente as obras de ampliação das instalações. “Esta questão ainda não foi abordada. Há, aliás, várias questões que têm de ser detalhadas e resolvidas, e uma ou outra que não foram ainda postas em cima da mesa. Sabemos que há procura por isso, mas, e estou a ser totalmente transparente, é uma questão que não está ainda posta em cima da mesa.” Segundo a Lusa, Paulo Rangel anunciou também que o Governo aumentou o apoio financeiro à EPM, regressando ao nível previsto legalmente, após 11 anos de cortes. “Acabámos de fazer a reposição da contribuição portuguesa para a Escola Portuguesa de Macau, que (…) tinha sofrido um corte enorme”, disse Rangel na sexta-feira. O Estado português detém a maioria (51 por cento) do capital da fundação da EPM, mas desde 2014 que Lisboa apenas contribuía com 10 por cento das despesas da escola, uma decisão tomada no âmbito do programa de resgate financeiro de Portugal. O financiamento da EPM “está agora nos níveis legais outra vez e é a primeira vez ao fim de 11 anos”, anunciou. Pouco depois, o chefe da diplomacia portuguesa disse aos jornalistas que “já não havia razão nenhuma, sinceramente, para haver esse corte e ele manteve-se”. “Aumentámos cinco vezes esse valor [do financiamento da EPM], portanto isso é algo que é altamente significativo do empenho que nós temos”. “Há governos que realmente dão importância a Macau e à China e há outros que não dão, isto é uma coisa que tem que ser dita”, lamentou o ministro, apontando o dedo ao anterior executivo do Partido Socialista. A reposição do financiamento “é sem dúvida uma ajuda importante” para a EPM, que Rangel descreveu como tendo um papel fundamental para Portugal em Macau. “Também registamos com agrado (…) que nunca houve tantos alunos de português – e agora falo de alunos da comunidade chinesa – como há hoje em múltiplas escolas”, acrescentou o dirigente. “Significa que também a Região Administrativa Especial [de Macau] tem incentivado o ensino de português e o conhecimento de português, e isso é algo que só pode trazer boas relações entre os dois lados”, acrescentou Rangel. Sam em Portugal Do encontro com Sam Hou Fai, que decorreu também na sexta-feira, saíram algumas ideias e opiniões sobre “o intercâmbio e cooperação bilateral nas áreas judicial, económico-comercial, educação, entre outras”, aponta uma nota oficial do Gabinete de Comunicação Social. Sam Hou Fai levou para o encontro temas como “o desenvolvimento mais actual da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Henqing”, além de ter lembrado que “Paulo Rangel é o primeiro responsável ministerial estrangeiro que ele recebe após a tomada de posse como Chefe do Executivo, facto que reflecte as boas relações entre Macau e Portugal com uma história de longa data”. O Chefe do Executivo destacou ainda que depois de 20 de Dezembro de 1999, Macau, “com o forte apoio do Governo Central, tem insistido em manter o princípio de ‘Um País, Dois Sistemas’, preservando o sistema jurídico continental, a cultura e costumes tradicionais, bem como manter, activamente, a ligação e fomentar as relações com Portugal”. O governante disse ainda que “Macau tem aprofundado o papel de ponte e plataforma entre a China e os países lusófonos, impulsionando, de forma contínua, o estabelecimento de relações amigáveis nas diversas áreas de cooperação bilateral”. Outra novidade deste encontro foi a informação, avançada pelo próprio Sam Hou Fai, que “espera visitar Portugal num futuro próximo” sem que, no entanto, tenha sido anunciada uma data concreta. Rangel anunciou que o Chefe do Executivo de Macau deverá visitar Portugal “imediatamente antes de Agosto ou em Setembro”. “Há aqui claramente também um alinhamento das prioridades que é altamente simbólico”, disse o diplomata, à margem de um encontro com a comunidade portuguesa em Macau. Questionado sobre as restrições a portugueses no acesso ao estaturo de residente, Rangel disse que falou com Sam Hou Fai “sobre todas as questões que são relevantes para a relação entre Portugal e a RAEM”. “Mas, como se trata de um diálogo que está em curso, tenho o dever de dar a oportunidade a que possamos, com as questões que foram levantadas de uma parte e da outra, termos agora espaço e tempo para construirmos soluções”, acrescentou. Rangel disse que o “seguimento do diálogo” com Sam Hou Fai acontecerá numa reunião da Comissão Mista Portugal–RAEM, “que será organizada, em princípio, no segundo semestre aqui em Macau”. Paulo Rangel disse ainda, em entrevista à TDM, que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, “vai acontecer um pouco mais tarde”, precisamente devido à marcação de novas eleições no país. Inicialmente, o objectivo era que Marcelo Rebelo de Sousa viesse a Macau em Junho para comemorar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses. A visita deverá acontecer nos meses seguintes de Verão, previu Paulo Rangel. Encontros e desencontros Paulo Rangel teve ainda um encontro com representantes associativos locais, incluindo com o conselheiro das comunidades portuguesas. Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), aproveitou para falar da burocracia que ainda existe no relacionamento com a Caixa Geral de Aposentações (CGA). “Para despachar um processo de pensões de sobrevivência leva seis meses e depois a correspondência anda para a frente e para trás. Os bancos de Macau não têm IBAN, e isso, por exemplo, atrasa todo o processo. Sempre que um processo vai para a CGA, voltam a insistir que não tem o número de IBAN e o NIF [Número de Identificação Fiscal], que a maioria das viúvas receptoras das pensões de sobrevivência, chinesas, não têm em Portugal”, exemplificou. Manhão deixou ainda elogios ao político português. “Por pouco tempo que esteve aqui, mostrou preocupação. Gostei da presença do ministro”. Além disso, Francisco Manhão frisou que “em boa hora o Governo português nomeou Alexandre Leitão para cônsul”, lembrando também o bom trabalho do anterior cônsul português, Vítor Sereno. “O Consulado nunca esteve a funcionar tão bem como agora. As críticas feitas ao nosso cônsul são injustas. Houve associados nossos que me disseram ter ficado admirados por terem feito uma marcação e sido atendidos no dia seguinte”, salientou. Mais aposta na língua Outro ponto importante da visita de Rangel foi a promessa do reforço do ensino do mandarim em Portugal. “Com as autoridades chinesas fiz questão de dizer que nos vamos empenhar muito no ensino do chinês em Portugal”. Na capital chinesa, Rangel encontrou-se com o homólogo chinês, Wang Yi, antes de se reunir com o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, na ilha de Hainão, onde decorreu o Fórum Boao. “A situação hoje é muito melhor do que era há 20 anos (…). Já temos, de facto, uma capacidade de formação que não tínhamos de todo”, disse Paulo Rangel. A formação de pessoas fluentes em mandarim “é decisivo também para o nosso futuro”, mas “não é suficiente para os desafios que temos pela frente”, alertou. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteMNE| BIR de portugueses e EPM são temas a discutir com Paulo Rangel Durante a visita a Macau do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Amélia António e Miguel de Senna Fernandes querem discutir o fim da preferência de acesso ao BIR por portugueses. A presidente da Casa de Portugal em Macau associa essa matéria à posição de Lisboa na questão do 5G É mais uma visita de um governante português a Macau, mas a primeira de Paulo Rangel enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do Executivo de Luís Montenegro, numa altura em que o país se prepara para ir a votos em Maio, após a dissolução da Assembleia da República. Depois de um périplo pelo Interior da China, Paulo Rangel vai reunir com dirigentes associativos locais, no sentido de perceber problemáticas existentes relacionadas com a comunidade portuguesa. Ao HM, Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), defende que as dificuldades de obtenção de residência por parte de portugueses deve ser um dos assuntos prementes. “A minha expectativa não é grande. Gostaria que o senhor ministro, depois de visitar a China, dissesse alguma coisa simpática, na medida em que as relações têm estado muito frouxas. Gostava de ver essa relação ser retomada da forma como era habitual e também que não fôssemos tão seguidores das posições da União Europeia (UE), de forma tão feroz, pois temos aqui interesses muito especiais e temos uma comunidade portuguesa muito grande. A situação é diferente em relação a outros países da UE, e isso não deve ser perdido de vista.” Amélia António destaca o posicionamento que Portugal adoptou no caso da rede 5G e da Huawei, mas também “o desenvolvimento que houve em relação à vinda de portugueses para Macau, sujeitos ao blue card”. “Tenho a sensação que vem tudo na sequência desta política da UE face à China. Portugal deve ter uma posição no sentido de salvaguardar esses interesses.” Em declarações à Lusa, a responsável fez queixas semelhantes. “Estamos aqui, sofremos as consequências dessas relações [entre Portugal e China], boas ou más. Tivemos relações muito próximas durante muito tempo, o que se alterou com a covid. Ainda não vi as coisas voltarem a ser como eram, e penso que era importante o senhor ministro explicar qual é a posição”, declarou, referindo que Portugal não tem de “alinhar fielmente com tudo o que se diz na Europa e, sobretudo, nos Estados Unidos”, salientou. Antes da pandemia, lembrou a responsável, existia “comunicação permanente” e “muito intercâmbio” entre as autoridades portuguesas e chinesas. Hoje é perceptível um “endurecimento relativamente aos portugueses” em matéria de imigração em Macau, declarou Maria Amélia António, sublinhando, porém, não poder afirmar categoricamente se a posição está relacionada com “esse afastamento” entre a China e o Ocidente. As autoridades de Macau não aceitam desde o ano passado novos pedidos de residência no território para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território. Também Miguel de Senna Fernandes, advogado e presidente da Associação dos Macaenses, lamenta a situação da atribuição dos BIR. “Gostaria que o Governo da República portuguesa tivesse em conta a comunidade portuguesa no território, que enfrenta algumas dificuldades em relação à possibilidade de obtenção da residência. É um tópico que talvez possa ser abordado entre o Estado português e a RAEM, para haver uma maior flexibilidade para permitir que a comunidade portuguesa tenha maior acessibilidade ao direito de residência, como existia antes.” Para o causídico, “a RAEM não tem de, aleatoriamente, atribuir mais residências, mas é algo que corresponde apenas a um desejo meu”. “Naturalmente, que a RAEM tem as suas razões e Macau está diferente, e há outras comunidades que têm interesse em ficar no território. A comunidade portuguesa, por maior ligação histórica que tenha ao território, não deixa de ser mais uma comunidade, entre outras. Como portugueses que somos, gostaríamos que houvesse maior flexibilidade”, admitiu. O caso EPM Outro ponto que Amélia António e Miguel de Senna Fernandes querem ver abordado na visita de Paulo Rangel é a situação na Escola Portuguesa de Macau (EPM) e a falta de docentes. “Penso que deve ver a escola e tomar um pouco mais de consciência em relação à situação, embora a EPM não seja da área dele. Como membro do Governo é importante que perceba que esta situação tem sido mal conduzida, pois em Portugal tem-se ido atrás de algumas conversas que têm pouco a ver com a realidade e que só prejudicam. Se ele percebesse um pouco mais da situação, não seria mau”, disse Amélia António. Já Miguel de Senna Fernandes diz que é altura de o Executivo português deixar de olhar para a escola como mais uma instituição de ensino português no estrangeiro. “A EPM é sempre uma questão recorrente, e tudo depende de como o Estado português olha para a escola: se olhar como para qualquer escola portuguesa espalhada pelo mundo, isso é um erro. Não há comparação possível, pois a EPM surgiu num contexto muito especial.” Porém, à agência Lusa, Jorge Neto Valente, presidente da Fundação da EPM, foi categórico: a escola “não tem nada para pedinchar” a Paulo Rangel. “Não há choradeira, não temos nada para pedinchar, não temos nada para exigir, está tudo normal”, garantiu. O advogado e presidente da Fundação da EPM disse esperar que Rangel “leve uma correcta percepção da escola, para que serve, os objectivos que tem”. “É sempre bom ter conhecimento directo, é muito melhor que nos papéis”, sublinhou Neto Valente. “Temos de dar contas de que a escola está a cumprir o papel que se espera que desempenhe”, acrescentou o dirigente, recordando que o Estado português detém a maioria do capital da fundação da EPM. Ainda sobre o universo da EPM, Miguel de Senna Fernandes, que também lidera a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), sugeriu um olhar atento sobre o ensino do chinês na EPM. “Sempre advoguei que o cantonês deve ter estatuto. Porque os alunos, quando saem da escola, estão num mundo cantonês. Isto com todo o mérito que pode ter o ensino em mandarim”, referiu. “É uma questão que se deve colocar. É uma questão delicada, porque estamos a falar de uma língua oficial”, completou, referindo-se ao mandarim, língua oficial na China. O responsável, também vice-presidente da Fundação da EPM, admite que esta não é uma questão que gere consenso – “muitos pais não concordam com esta visão” -, mas sublinha que a aprendizagem do cantonês “é um veículo de integração”, já que se trata da língua dominante no território. Sim ao voto electrónico Também à Lusa vários líderes associativos defenderam a transição para o voto electrónico, salientando constrangimentos nas opções correntes para a emigração. “Desde que não se avance sem ser testado, estou integralmente de acordo. O futuro é esse e temos que apontar para aí”, sublinhou a presidente da CPM. Nas eleições legislativas, os portugueses no estrangeiro têm a possibilidade de exercer o direito de voto de forma presencial ou por via postal, enquanto nas presidenciais e europeias, a votação é presencial. Na opção por correspondência, o Governo envia para a morada indicada no caderno de recenseamento o boletim de voto e dois envelopes, um de cor verde e outro branco, que devem ser devolvidos ao Ministério da Administração Interna após preenchimento. A opção electrónica “pode oferecer maior segurança”, defendeu Maria Amélia António. “Com os consulados a funcionarem mal, no sentido de terem poucos funcionários, com o trabalho que têm, e em países onde estão muito longe dos sítios onde as pessoas moram, é muito difícil as pessoas irem votar pessoalmente. Também se tem provado que há muitas falhas nas garantias de receberem voto [via correio]”, acrescentou. A escolha electrónica é uma reivindicação de longa data do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Rui Marcelo, presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas da Ásia e Oceânia, que tem um encontro agendado com o ministro dos Negócios Estrangeiros português, disse que o “tema já faz parte da agenda” do CCP “há alguns anos e já foi abordado várias vezes e com vários governos”. “Com o avanço da tecnologia e a possibilidade de implementação de sistemas de segurança que possam garantir a segurança do voto – o que acontece hoje através da prestação de serviços noutras áreas também do Governo – estão criadas as condições para que possamos eventualmente evoluir para uma situação onde ele possa ser obviamente um complemento, mas não um substituto”, notou. Em Fevereiro, o Parlamento português aprovou uma resolução proposta pelo PSD para testar o voto electrónico na emigração. O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, sugeriu, em Dezembro, uma experiência piloto de voto electrónico nos círculos da emigração. O chefe da diplomacia portuguesa chega hoje a Macau depois de passar por Pequim e por Haikou, na província de Hainão, onde marcou presença no Fórum Boao. Em Macau, Paulo Rangel tem agendados encontros com o chefe de Governo local, Sam Hou Fai, bem como com os conselheiros das comunidades portuguesas, representantes associativos, instituições de ensino e empresários portugueses. Visita ainda a EPM e o Consulado-geral de Portugal no território. No final da tarde, o MNE segue para Hong Kong, para visitar “Estórias Lusas”, uma exposição dedicada à comunidade portuguesa, no Museu de História de Hong Kong. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande PlanoAPOMAC | Jorge Fão lamenta falta de pessoas para gerir associação A APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau vai novamente a eleições amanhã com uma lista única. Francisco Manhão concorre novamente para presidente, Jorge Fão para a assembleia-geral e Daniel Mendonça para o conselho fiscal. Manhão sugere a criação de uma “cidade satélite” só para idosos e pede actualização de pensões Aumentar as pensões de idosos seria “ouro sobre azul”. Enquanto isso não acontece, Francisco Manhão continua a lutar por essa e outras bandeiras destinadas a melhorar a vida dos residentes com mais idade, liderando novamente a lista candidata às eleições para a gestão da APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, que decorrem amanhã. A lista é única e os rostos pouco ou nada divergem dos anos anteriores: Jorge Fão continua a liderar a assembleia-geral, enquanto Daniel Mendonça concorre pelo conselho fiscal. Há apenas um novo nome no cargo de vogal do conselho fiscal. “É muito difícil encontrar pessoas disponíveis para fazer este trabalho voluntário. Eu e o Jorge gostaríamos de encontrar alguém que nos pudesse substituir, porque estamos há bastante tempo nesta associação. Somos idosos, mas temos energia. Enquanto tivermos força nas pernas para andar, vamos andando e tentar fazer o melhor possível pela APOMAC”, disse Francisco Manhão ao HM. Jorge Fão destaca o facto de a APOMAC estar prestes a comemorar 25 anos desde a fundação, salientando que existe, de facto, um problema de liderança, que se não for resolvido pode culminar no desaparecimento da associação. “Não estamos a ver o surgimento de outra lista com pessoas mais novas e capazes, de modo que oferecemos os nossos préstimos por mais um mandato e por aí fora, até onde for possível. Há um problema de liderança na APOMAC e noutras associações. A questão da APOMAC é mais séria, pois estamos de pé há 24 anos, aniversário que celebraremos em Maio.” Cidade satélite e pensões Numa lista que irá liderar a associação até 2028, o lema é “Somos Idosos, mas Enérgicos”, lê-se no programa de acção. No primeiro ponto, é indicado que o objectivo da equipa é “acompanhar a política do Governo e da Fundação Macau, com vista a ajustar as necessidades do nosso programa de acção ao longo deste mandato de três anos”. Além disso, pretendem “prestar os apoios necessários aos associados para que possam usufruir dos benefícios atribuídos pelo Governo da RAEM e outras entidades oficiais”. Um dos pedidos da lista ao Governo liderado por Sam Hou Fai é o aumento das pensões, que actualmente é de 3.740 patacas. O seria para a associação seria a actualização para quatro mil patacas mensais. “Seria bom que o Governo da RAEM pagasse mensalmente em média a pensão para idosos, a compensação pecuniária e o subsídio de velhice, ao invés de termos de esperar de três em três meses para receber a pensão para idosos, sete meses para receber a compensação pecuniária e dez meses para receber o subsídio de velhice. A média seria de 5.323 patacas, dinheiro que faz muita falta aos idosos”, disse ao HM. Outra ideia deixada por Francisco Manhão é da construção de uma cidade satélite só para habitações de idosos, no que seria um projecto de maior dimensão face à residência para idosos já construída pelo Executivo, na zona da Areia Preta. “Gostava que um dia o Governo da RAEM construísse uma cidade satélite para os idosos. Preocupo-me muito porque há muitos a viverem sozinhos, e com a construção dessa cidade satélite deixavam de ter problemas de solidão, podendo conviver entre si, além de se poderem disponibilizar serviços comuns a todos. A construção de edifícios altos é algo bom, mas para os idosos não é tão bom assim”, defendeu. Ainda assim, Manhão assegura que ser idoso em Macau é bem mais fácil do que em Hong Kong. “Hoje em dia, em Macau, os idosos vivem bastante bem, porque há muitos apoios sociais atribuídos a esse grupo de pessoas. Recursos suficientes Questionado sobre os pontos essenciais para tornar a APOMAC uma associação de maior dimensão, Francisco Manhão diz que “têm o suficiente”, lamentando, porém, o encerramento da clínica onde eram prestados aos idosos cuidados de saúde mais básicos. “Naturalmente que tínhamos o plano de poder desenvolver mais a nossa sede, mas pela falta do subsídio tivemos de encerrar a nossa clínica. Nesse contexto, tínhamos um programa para desenvolver essa área que teve de ser abandonado, e que teria beneficiado os nossos associados. Procuramos organizar mais palestras sobre saúde, porque o grupo da terceira idade precisa de saber mais sobre doenças e questões de saúde no geral, algo que pode gerar grandes preocupações.” Em termos políticos, Francisco Manhão, que até já foi candidato a deputado à Assembleia Legislativa, diz que a APOMAC é uma defensora do princípio de “Um País, Dois Sistemas”, pensado por Pequim para as regiões de Macau e Hong Kong. “Concordamos com a política nacional de ‘Um País, Dois Sistemas’, para que Macau possa ser um paraíso para nós. Até agora temos estado bastante bem em Macau, não temos problemas, mas gostaríamos que esse princípio continuasse.” Muita burocracia Um dos serviços prestados pela APOMAC passa pelo apoio burocrático a idosos na comunicação com a Caixa Geral de Aposentações (CGA), no caso dos antigos funcionários públicos que recebem a reforma de Portugal, ou o Fundo de Pensões de Macau. “Melhorou um pouco a comunicação com a CGA, mas a parte burocrática continua a ser muito difícil de lidar por parte dos nossos associados. Ainda há pouco tempo um dos nossos associados esperou mais de três anos por um reembolso de um montante que foi cobrado indevidamente”, exemplificou Francisco Manhão. Jorge Fão, por sua vez, salientou que a APOMAC é também bastante procurada por pessoas que não são sócias, incluindo da comunidade chinesa, para o tratamento de vários assuntos, como pedidos de subsídios ou papelada relacionada com funerais. Olhando ainda o programa de acção, a lista da APOMAC pretende também “organizar mais passeios turísticos à China continental, dando a conhecer a sua cultura e o sucesso do país”, bem como a promoção de “mais convívios, para que os associados se juntem periodicamente”. Bastante procurada pelo serviço de refeições, uma vez que na APOMAC pode comer-se alguns pratos de gastronomia macaense, a lista quer “melhorar, sempre que possível, a gestão da cantina”. Questionado se muitos idosos de Macau desejam, um dia, passar a reforma na China, numa altura em que a integração regional é, cada vez mais, uma realidade, Francisco Manhão admite que sim, embora muitos “prefiram ficar no território, por já terem aqui a sua vida enraizada, estando habituados aos usos e costumes de Macau”. “O Governo da RAEM tem feito muito trabalho para que se possam integrar na Grande Baía”, rematou.
Andreia Sofia Silva Grande PlanoFórum Boao | IA, globalização e sustentabilidade em discussão Começou mais uma edição do Fórum Boao, em Hainão, onde serão discutidos temas como inteligência artificial, globalização, questões económicas actuais e desenvolvimento sustentável. O Chefe do Executivo da RAEM parte hoje para o evento, que tem como tema “Ásia no Mundo em Transformação: Rumo a um Futuro Compartilhado” Os cartazes a anunciar mais uma edição do Fórum Boao podem ser vistos um pouco por todo o lado em Hainão, a ilha chinesa que todos os anos acolhe o fórum internacional promovido por Pequim para discutir, com outros países, questões de natureza económica, comercial e de cooperação a vários níveis. A RAEM será representada por uma delegação oficial liderada por Sam Hou Fai, Chefe do Executivo, que estará na ilha entre hoje e amanhã. Liu Xianfa, comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China na RAEM, continua a integrar a delegação da RAEM como assessor convidado. A delegação oficial da RAEM é composta ainda pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, e pela chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, Chan Kak. Durante a ausência de Sam Hou Fai, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, exercerá, interinamente, as funções de Chefe do Executivo. O Fórum Boao para a Ásia 2025 termina na sexta-feira e tem como tema “Ásia no Mundo em Transformação: Rumo a um Futuro Compartilhado” [Asia in the changing World: Towards a Shared Future], e, segundo uma nota divulgada pelo gabinete do Chefe do Executivo, foca-se em quatro áreas essenciais, sendo uma delas “reconstruir a confiança e promover a cooperação num mundo em rápida transformação”. Seguem-se objectivos como “incentivar o crescimento e reequilibrar a globalização para um desenvolvimento inclusivo” ou “modelar o futuro e implementar aceleradamente os objectivos do desenvolvimento sustentável para responder de forma mais eficaz aos desafios globais”. Por sua vez, o quarto objectivo diz respeito a uma área bastante actual: a inteligência artificial (IA). Pretende-se, assim, “explorar as potencialidades e intensificar a aplicação e a governança da IA para um desenvolvimento motivado pela inovação”. Segundo o jornal nacional Diário do Povo, são esperados para este ano mais de dois mil participantes oriundos de 60 países e regiões, realizando-se 50 fóruns, ou grupos de discussão, em torno dos objectivos acima enunciados. Espera-se ainda 1.140 jornalistas para a cobertura do evento. As previsões de um Fórum As principais conferências do Fórum Boao incluem discussões sobre a economia chinesa e mundial, nomeadamente em “Diálogo de Alto-Nível: A Reforma da China e Previsões Económicas” e “Construção de uma Economia Mundial Aberta: Desafios e Soluções”. Segue-se “Melhoria da Construção da Capacidade Digital & Colmatar o Fosso entre o Digital”, bem como “Desbloquear o Grande Potencial dos Acordos Regionais de Comércio Livre”. Entre os restantes painéis constam também conversas sobre as potencialidades da IA em “IA: Como Garantir um Balanço entre a Aplicação e a Governança”. Os países irão também abordar a questão da governança global na relação com a Organização das Nações Unidas (ONU), em “Diálogo de Alto-Nível: Governança Global depois da Cimeira da ONU do Futuro”. Mas os fóruns de discussão arrancam com algumas previsões feitas no relatório lançado no contexto do Fórum Boao, intitulado “Asian Economic Outlook and Integration Progress”. Uma das previsões é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do continente asiático deverá crescer 4,5 por cento este ano, reportou a Xinhua. “Apesar da crescente incerteza económica global, a Ásia continua a ser um motor de crescimento fundamental para a economia mundial”, afirma o relatório. Além disso, em termos de paridade do poder de compra, o rácio do PIB da Ásia, dentro do total mundial, deverá aumentar do registo de 48,1 por cento no ano passado para 48,6 por cento este ano. Por sua vez, o relatório descreve que a situação geral do emprego e salários “está a melhorar na Ásia”, prevendo-se uma taxa de desemprego de 4,39 por cento para este ano, inferior à taxa global de 4,96 por cento. O “Asian Economic Outlook and Integration Progress” também destaca os investimentos estrangeiros na Ásia, descrevendo-se que a China e a ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático “são as economias mais apelativas da Ásia”. Além disso, refere-se que a dependência do investimento directo estrangeiro (IDE) interno e externo das economias asiáticas na própria região atingiu 49,15 por cento em 2023. Do ponto de vista da dependência bidirecional do IDE na Ásia, a China continuou a ser a economia mais dependente dos fluxos de IDE asiáticos, seguida pela Indonésia, com as suas taxas de dependência superiores a 80 por cento e 75 por cento, respectivamente. O relatório também apontou que a China continua a ser o centro das cadeias globais de valor de produção, descrevendo-se que, desde 2017, o comércio global de bens intermédios tem estado mais dependente da China do que da América do Norte. Em 2023, a dependência global da China para bens intermédios era de 16 por cento, em comparação com 15 por cento para a América do Norte. As fricções comerciais provocadas pelos Estados Unidos em 2018 não elevaram a sua posição nas cadeias de valor globais da indústria transformadora, acrescentou o relatório. Desta forma, descreve-se também o avanço da Ásia ao nível das tecnologias verdes emergentes, uma vez que tal é “impulsionado por fortes capacidades industriais e apoio político”. Assim, o continente parece estar a posicionar-se “como um líder potencial em materiais avançados relacionados com baterias ou produção de plásticos biodegradáveis”. A China, o Japão e a República da Coreia dominam a cadeia de abastecimento global de tecnologia de baterias de lítio, um factor considerado crucial para a electrificação dos transportes, sublinha o relatório. Entretanto, a China está na vanguarda da indústria de hidrogénio verde em expansão na Ásia, sendo a região responsável por quase 70 por cento da capacidade mundial de electrolisadores de hidrogénio, revela também o mesmo relatório. Uma ilha ecológica Segundo uma reportagem da Xinhua, a ilha de Hainão, que acolhe o Fórum Boao, é “pioneira no desenvolvimento com baixas emissões de carbono”, nomeadamente pelo recurso a energia fotovoltaica. “Na ilha de Dongyu, na província de Hainan, no sul da China, a zona de demonstração de emissões quase nulas de carbono está a redefinir a harmonia entre a humanidade e a natureza – remodelando a vida moderna através da integração de tecnologia de ponta com o desenvolvimento sustentável”, descreve-se. Mas há mais novidades tecnológicas, como o uso de “um simples código QR que desbloqueia uma experiência de café com zero emissões de carbono, e onde um braço robotizado prepara café com recurso a energias limpas”. Há também a aposta na reciclagem, pois “um avançado cubo de reciclagem separa os materiais, convertendo-os em ‘pontos de carbono’, que podem ser trocados por prémios ecológicos”. A zona que acolhe o Fórum Boao tem uma área total de 190 hectares, onde foi feita uma aposta em “três estratégias-chave”, nomeadamente a “renovação de edifícios ecológicos, utilização de energias renováveis e transportes ecológicos”. A renovação da zona em prol de apostas mais sustentáveis terá começado em 2022, sendo Boao a prova de “como a inovação tecnológica e a renovação urbana podem moldar um futuro com baixas emissões de carbono, abrindo caminho para o desenvolvimento sustentável, particularmente nas regiões tropicais de todo o mundo”, descreve a Xinhua. Ainda segundo a mesma reportagem, “um dos principais pontos fortes da zona reside na capacidade de produção de energia”, produzindo-se actualmente “cerca de 32 milhões de kWh de eletricidade verde, quase o dobro da sua procura de 17 milhões de kWh”. Por sua vez, “a energia excedente é introduzida na rede, contribuindo para uma poupança anual de 7 720 toneladas de recursos de carbono negativo”, segundo disse à Xinhua Ouyang Qinglun, director-adjunto do departamento de engenharia da COSCO SHIPPING Boao Co.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteHistória | Lara Reis, professor do Liceu de Macau, recordado em Lisboa O antigo professor do Liceu de Macau Fernando Lara Reis foi recordado nas “Conferências da Primavera”, do Centro Científico e Cultural de Macau, pela historiadora Celina Veiga de Oliveira. Natural de Leiria, Lara Reis lutou na I Grande Guerra Mundial e viveu na Avenida da República, na vivenda que hoje alberga a casa da Cruz Vermelha de Macau Fernando Lara Reis nasceu em 1892 e faleceu em 1950. Ao longo de uma vida recheada de acontecimentos e testemunhos históricos, o homem natural de Leiria foi militar e professor no Liceu de Macau, acabando por fazer do território a sua casa. A vida de Lara Reis foi recordada recentemente nas “Conferências da Primavera” do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) pela historiadora Celina Veiga de Oliveira, ela própria antiga docente no território. Na sessão, a historiadora, que venceu o Prémio Identidade do Instituto Internacional de Macau (IIM) de 2024, recordou o “professor, benemérito, impulsionador das artes”, e dono de “um conhecimento invulgar”. “Era natural de Leiria e viveu em Macau até à sua morte. Frequentou o liceu de Leiria, o Colégio Militar, ingressando depois na Escola do Exército. Na I Grande Guerra Mundial esteve em Elvas, tendo partido depois para Angola, em 1915, quando se enfrentava a ameaça alemã sobre as colónias portuguesas em África. Em 1917 embarcou para França, integrando o Corpo Expedicionário Português, como observador-aviador.” Lara Reis nunca foi piloto como desejava, tendo dedicado grande parte da sua vida ao ensino e a Macau. “Em 1919, Lara Reis foi dar aulas para o liceu de Macau. Aproveitou para fazer uma longa viagem de circum-navegação, saindo de Portugal, de Lisboa, indo até aos Estados Unidos da América, atravessou todo o território e depois foi para o Japão, descendo para Hong Kong e até Macau. Foi professor, em Macau, de desenho, trabalhos manuais e ginástica até ao fim da vida”, destacou Celina Veiga de Oliveira. A historiadora levou para a sessão alguns testemunhos escritos deixados por outras figuras de Macau que escreveram sobre Lara Reis, nomeadamente Monsenhor Manuel Teixeira no livro “Liceu de Macau”. Este referiu nunca ter encontrado “nenhum professor que tivesse servido o liceu com maior dedicação”. “Era um professor metódico, rigoroso, cuja formação militar não foi alheia certamente a estas características. O que verdadeiramente sobressaía era a sua veia artística, pois Lara Reis preocupava-se sempre em apurar o sentido estético dos alunos e abrir os seus horizontes mentais. Isto no tempo em que Macau era uma pequena cidade. Sempre que era possível, fazia excursões culturais com os alunos a Hong Kong, e em Macau levava-o a visitar exposições que ele organizava e também exposições de artistas portugueses e estrangeiros que ele patrocinava”, recordou. Celina Veiga de Oliveira destacou ainda as palavras deixadas pelo escritor Henrique de Senna Fernandes numa entrevista, sobre “uma das maiores qualidades de Lara Reis”, que “além do rigor e da disciplina, era a consideração pelos alunos, não distinguindo ricos dos pobres”. O professor Lara Reis foi “um entusiasta promotor de festas que serviam para a obtenção de propinas destinadas a alunos carenciados”, e a “ele se deve a iniciativa da criação da Associação Escolar do Liceu, de que foi o primeiro presidente”. Esta associação organizou no antigo Canídromo “festas desportivas do fim do ano em que os alunos executavam os mais difíceis exercícios”. Obra feita em Macau A historiadora destacou também “outro aspecto da dedicação ao território” por parte de Lara Reis. O leiriense “participou na I Grande Guerra Mundial e tal levou-o a interessar-se por todos os que foram incorporados nesse conflito, tendo fundado a Liga dos Combatentes da Grande Guerra e mandado construir no Cemitério de S. Miguel Arcanjo o monumento onde repousam os corpos dos combatentes”. Além disso, “outra faceta da sua personalidade era o gosto pelas viagens, pois não tinha família e, assim, partiu para o mundo”. “Visitava museus, escolas de arte e fotografava tudo o que via, tendo criado um espólio com 32 volumes que é hoje património de Leiria”. Celina Veiga de Oliveira não esqueceu a antiga vivenda “Sol Poente”, localizada na zona da meia-laranja, nomeadamente a Avenida da República, e que foi a casa de Lara Reis, mais tarde doada à Santa Casa da Misericórdia de Macau para ali “ser instalada uma clínica anti-cancerosa que foi a primeira instituição do género no espaço colonial português”. Hoje essa vivenda serve de casa à Cruz Vermelha de Macau, sendo que nas suas paredes pode encontrar-se uma pedra com a seguinte mensagem: “Neste edifício legado pelo rotário Fernando Lara Reis à Santa Casa da Misericórdia de Macau, foi instalada por iniciativa do Rotary Clube de Macau o primeiro centro de luta anti-cancerosa desta cidade no dia 15 de Abril de 1951.” “Mudança de ares” Quando Fernando Lara Reis vai para Macau, os tempos políticos são conturbados, com a agitação política que se vive na China depois da queda do império e a revolução republicana de 1911. “Nos anos 20 viveram-se no território as ondas de choque nacionalistas vividas em Cantão que, por vezes, assombravam o pacato enclave português, mas que nunca mexeram com o quotidiano. A Administração portuguesa garantia uma aparência de normalidade, e eram habituais as festas no Natal, Ano Novo Chinês, as festividades religiosas da comunidade católica e da população chinesa.” Celina Veiga de Oliveira lembrou que, no final da década de 20, Lara Reis decidiu transferir-se para Goa, uma viagem que só iria acentuar a sua pertença a Macau. “No fim dos anos 20, ele sentiu que estava na altura de mudar de ares e pediu para ser transferido para o Liceu Afonso de Albuquerque, em Pangim, e esteve lá entre 1941 e 1945, aproveitando para conhecer a Índia, e conheceu todo o país. Este interregno goês serviu para reforçar as saudades de Macau, para onde regressou em 1945 retomando a actividade liceal. Em 1948 foi a Portugal pela última vez, com licença graciosa e já doente, escolhendo Macau para ser a sua última morada”, recordou. Celina Veiga de Oliveira recordou também as palavras de Orlando Cardoso, que no artigo “Macau e o Oriente na vida de Lara Reis” falou do homem que se deslumbrou com Macau “a partir do momento em que, às 8 horas da noite de 23 de Outubro de 1919, avistou pela primeira vez o Farol da Guia, um pouco antes de se instalar no ‘New Macao Hotel’ e sorver de sentidos atentos os sons, os cheiros e as luzes desta porta de uma imensurável e fantástica Ásia que ele iria descrever até à exaustão”. Esses testemunhos de Lara Reis constam “num notável conjunto de livros de viagens que jazem praticamente inexplorados em todas as suas potencialidades de investigação nas prateleiras do Arquivo Distrital de Leiria”, e que foram investigados pelo próprio Orlando Cardoso. No mesmo artigo, este refere um texto do jornal “Notícias de Macau” de 17 de Janeiro de 1950, sobre Lara Reis: “O professor austero e adorado; o turista tenaz e minucioso; o militar que combateu e consagrou a memória dos que a seu lado tombaram no campo da luta; o amigo sincero e firme; o companheiro amável e bem humorado; o cavaqueador que, por si só, era pessoa para sustentar, durante horas, a animação da conversa em qualquer meio social; o celibatário ferrenho que, apesar disso, não desdenhava toda e qualquer oportunidade de desferir os seus galanteios, sempre gentis e inconsequentes a qualquer palminho de cara que lhe desse no goto”. Tendo em conta os poucos estudos que existem sobre Lara Reis e o espólio que deixou, Celina Veiga de Oliveira deixou uma sugestão: “que o CCCM obtenha o índice detalhado do arquivo de Leiria, de modo a que seja possível a pesquisa para eventuais investigadores interessados”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteContratação pública | Novo regime “está no bom caminho”, diz advogado Marco Caldeira, advogado e professor auxiliar convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, defende que a proposta de lei de contratação pública, em análise na especialidade no hemiciclo, está “no bom caminho”, no que diz respeito à tentativa de “promover a transparência e concorrência e apostar na digitalização”. O tema foi discutido na última semana no Centro Científico e Cultural de Macau A proposta de lei de contratação pública, actualmente em análise na especialidade na primeira comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL), foi um dos temas abordados nas “Conferências da Primavera”, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), na última semana. O autor da palestra, o advogado e docente Marco Caldeira, teceu elogios ao diploma pela sua tentativa de reforma e inovação em vários aspectos. “Embora não sendo perfeita, a proposta de lei em discussão justifica-se pela necessidade de actualizar legislação que foi aprovada há quatro décadas. Trata-se de uma proposta que parece apontar no bom caminho, havendo um esforço de codificar o regime, promover a transparência e a concorrência e apostar na digitalização”, defendeu o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) ao HM. Além disso, Marco Caldeira entende que o diploma, e o conteúdo proposto pelo Governo, visa “seguir aquilo que são as boas práticas adoptadas na Europa e no Ocidente, em geral”. “É também muito louvável o facto de a proposta ter sido elaborada na sequência de um procedimento sério e participado de consulta pública, que deu oportunidade aos operadores económicos e entidades contratantes de identificarem deficiências na legislação vigente e apresentarem sugestões”, acrescentou Marco Caldeira. Na sessão do CCCM, o docente da FDUL apontou ainda ser “louvável a preocupação [demonstrada, no diploma] com a concorrência e transparência dos procedimentos”, e também “o foco na formação na utilização de bases de dados, bem como a aposta na centralização”. O docente entendeu ainda que, nesta proposta de lei, o regime português “pode ajudar, pois a prática seguida em Portugal, e as evoluções legislativas, têm ensinamentos úteis que, com as devidas adaptações, podem ser transpostos para Macau”. Pontos positivos Na apresentação no CCCM, Marco Caldeira destacou vários aspectos positivos da actual proposta de lei, nomeadamente “a determinação expressa da inaplicabilidade a certos contratos”, ou o facto de estarem estabelecidos “princípios fundamentais da contratação pública”. Exige-se, ainda, com a nova lei, “qualificações aos candidatos e concorrentes” de concursos públicos, existindo também “a clarificação e uniformização dos tipos procedimentos de contratação pública”. Cria-se, assim, um “regime de contratação centralizada”, além de se regulamentarem “critérios de adjudicação” nos concursos, prevendo-se ainda a criação de um website exclusivo para a área da contratação pública. Marco Caldeira chamou ainda a atenção para a real necessidade deste diploma, pois a contratação pública estava legislada com diplomas variados, incluindo dois decretos-leis de 1984 e 1985, que estabeleciam, respectivamente, o regime de despesas com obras e aquisições de serviços, e o processo de aquisição de bens e serviços. Tais diplomas estavam “desfasados da realidade” de Macau, mesmo que o decreto-lei de 1984 tenha sido revisto em 2021, considerou o docente. Marco Caldeira considerou também que o processo de revisão deste diploma tem sido “moroso”, pois a consulta pública realizou-se entre 6 de Novembro de 2018 e 4 de Janeiro de 2019, tendo sido elaborado um relatório posterior, mas a verdade é que a proposta de lei está em análise na especialidade desde Dezembro de 2023, tendo sido votada na generalidade a 11 de Janeiro do ano passado. O que tem de mudar Na mesma sessão, o causídico e professor universitário realçou ainda os pontos já abordados pela primeira comissão permanente da AL quanto às mudanças necessárias para legislar na área da contratação pública. Impunha-se “consagrar expressamente os princípios jurídicos fundamentais, como a economia, eficiência e eficácia, bem como a publicidade e transparência”, existindo ainda “uma falta de regulação das políticas de contratação pública”. Havia ainda a “necessidade de promover a transparência nos procedimentos de contratação pública” e assegurar “uma maior protecção da concorrência leal”. Verificava-se também “a falta de regulamentação rigorosa e explícita sobre a composição e funcionamento das comissões de avaliação das propostas” submetidas a concurso público, além de haver “falta de exigências explícitas sobre as qualificações e capacidades dos candidatos e concorrentes nos procedimentos de contratação”. Outras lacunas apontam para a “insuficiência de regulamentação e transparência nos procedimentos de avaliação e adjudicação”, ou “falta de regulamentação explícita sobre situações de apresentação de propostas com um preço anormalmente baixo”. Era ainda necessário “aperfeiçoar o regime sancionatório e de fiscalização”, bem como apostar na “regulamentação que promova o desenvolvimento da contratação electrónica”. Diz o Executivo Olhando para a nota justificativa sobre a proposta de lei, submetida pelo Executivo à AL, lê-se que um dos grandes motivos para a sua apresentação foi mesmo a dispersão legislativa que se verificava e o desajustamento face à actual realidade. “A parte nuclear desses diplomas foi elaborada em meados dos anos 80 do século passado, encontrando-se em vigor há mais de 30 anos. Uma parte significativa do disposto nos outros diplomas legais já apresenta uma evidente divergência relativamente às necessidades do desenvolvimento socioeconómico actual de Macau, à eficiência da gestão da Administração pública e ao reforço da transparência e fiscalização”, lê-se. Segundo o Executivo, “dado que a contratação pública envolve a utilização do erário público, torna-se essencial rever esses regimes, a fim de ir ao encontro das necessidades da sociedade dos nossos dias”. Assim, nesta proposta de lei, “regulamenta-se, de forma integrada, o processo e regime de despesas com obras e aquisições de bens e serviços”, mantendo-se algumas disposições de uma lei de 1999, por se entender que “as disposições relativas ao regime de empreitadas de obras públicas têm um elevado grau de especialização e se apresentam ainda eficazes”. Pretende-se, com a nova lei da contratação pública, “garantir a justiça, imparcialidade na avaliação das propostas”, definindo-se “expressamente critérios de ajudicação e determinando-se de forma rigorosa as normas de conduta dos trabalhadores e membros das comissões de abertura e avaliação de propostas” submetidas a concurso, para que “excerçam as suas funções de forma imparcial e íntegra”. Prevê-se, assim, “que as entidades contratantes devem publicitar, de forma adequada, os elementos informativos relativos aos procedimentos de contratação pública”. São eles “os que estão relacionados com o concurso público, os esclarecimentos prestados, a rectificação de documentos, a prorrogação do prazo para a apresentação de propostas, as causas para a não adjudicação, a decisão de anulação do procedimento e a decisão de adjudicação”. A fim de garantir a concorrência leal, o Governo quer garantir que todas as entidades interessadas em participar num concurso tenham “o mais amplo acesso” a todos os procedimentos, proibindo “todos os actos, acordos ou práticas susceptíveis de impedir, falsear ou restringir a concorrência”. Além disso, existe o “princípio da imparcialidade”, que determina que “o programa de procedimentos, caderno de encargos ou outros documentos, elaborados pela parte contratante, não podem conter qualquer cláusula destinada a favorecer ou prejudicar um determinado interessado”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCharles William Ricou e a história da aviação em Macau Célia Reis, historiadora e docente, encontra-se a desenvolver um projecto de investigação em torno dos primórdios da aviação em Macau e foi esse o tema que levou às “Conferências da Primavera” na segunda-feira, com a sessão “A aviação e navegação aérea em Macau nos anos 20 – um processo de inovação colonial”. Célia Reis falou de um período em que a aviação começou a ser importante para a China, por questões de segurança, e começa também a ser pensada para Macau. Neste processo, há uma personalidade cujo nome importa reter, um francês nascido em Hong Kong: Charles William Ricou, um piloto formado em engenharia e em aviação. Este começou a equacionar, a partir de Novembro de 1919, a possibilidade de “estabelecer uma carreira aérea entre Macau, Hong Kong, Xangai, Filipinas, Java, Índia”, contactando com entidades governamentais locais para a obtenção de facilidades e acordos. Célia Reis explicou que Ricou pretendia formar duas companhias aéreas, a “Far East Aviation Company”, com “uma ligação bastante mais alargada, chegando até Manila”, e outra para ligar Macau, Hong Kong e Cantão, com o nome “Macau Aerial Transport Company Limited”. Esta empresa “foi constituída em Hong Kong, com um capital de 50 mil dólares, e tinha como sócios fundadores personalidades de Macau, como Humberto de Avelar, Rodrigues dos Santos, Francisco Nolasco e Francisco da Silva”. A historiadora disse ainda na apresentação que a ideia “era completar o resto do capital necessário com acções de baixo valor para que pudessem ser compradas por todos [os habitantes] em Macau”. “Chega mesmo a haver o apelo por parte do conselho de administração da companhia para que os macaenses subscrevessem o capital, mostrando que a empresa era extremamente importante para os habitantes de Macau, realçando-se o seu valor patriótico, de solidariedade para com o progresso”, acrescentou. “Várias vozes demonstraram nessa altura que o sucesso comercial da companhia, no início, poderia ser pouco ou nenhum, embora se pensasse que a empresa poderia vir a ter alguns lucros, tendo a capacidade de servir de transporte ao correio aéreo. Porém, essa capacidade de transporte seria extremamente limitada, pois o número de objectos de correio a transportar de Macau eram 24 cartas por dia”, adiantou Célia Reis. Na altura pensava-se que Macau seria pioneira, pois “seria o primeiro território a Extremo Oriente a ter uma companhia de aviação”, algo que “traria mais visitantes e aumento do comércio”. O Governo de Macau, então liderado pelo Governador Correia da Silva, “cede aos apelos da companhia, concedendo várias facilidades, como a permissão de construção de um hangar provisório num terreno público que estava vago ou de infra-estruturas de acesso ao mar”. Além disso, foi permitida “a isenção do pagamento do imposto sobre o armazenamento do combustível”. Assim, Macau chegou a ter hidroaviões e 21 aviadores americanos contratados pela companhia. “Considerava-se que era o maior carregamento de material aéreo exportado pelos Estados Unidos da América (EUA), todo trazido para Macau.” Depois, a companhia tenta organizar-se, “chegando a pedir espaço na ilha da Taipa, concebida para ter hangares definitivos, embora tenham existido concessões provisórias”. Nesse contexto, recordou a historiadora, “houve subsídios, um contrato para o transporte de malas postais”, para que se “permitisse um desenvolvimento da navegação aérea”. Impasses até ao fim Em Maio de 1920 surgiu uma nova convenção mundial na área da aviação, à qual Portugal adere, o que faz com que a “Macau Aerial Transport Company Limited” tivesse de ser nacionalizada. O projecto chega a avançar, mas depressa recua. “A companhia aérea acede, portanto, a nacionalizar-se com a condição de obter um subsídio, e ter quatro aviões disponíveis para o serviço militar em Macau, caso fosse necessário. A questão da defesa estava sempre presente. Começou depois a haver algum desentendimento entre as condições exigidas pela companhia e aquelas que o Governador entendia serem necessárias. Além disso, o Governo de Macau precisava da autorização de Lisboa para o funcionamento da companhia aérea. Lisboa demora muito a responder, mas depois diz que o Governador pode avançar, e este começa a negociar com a companhia. Porém, começam a surgir vozes em Lisboa que vão fazer com que as coisas mudem.” Tal passa pela ideia de que os EUA estariam a demonstrar interesses ocultos através do estabelecimento da companhia. “[Em Lisboa] receia-se que esta seja a forma encontrada de uma companhia de aviação americana instalar-se em Macau, território português, por vias diferentes.” Primeiro, Lisboa proíbe, recuando-se nas negociações, sendo que o Governador seguinte, Rodrigo Rodrigues, “não está de acordo com a companhia, entendendo que não será viável”, o que leva a que todo o projecto e diálogo fiquem suspensos. Célia Reis destacou ainda que “o Governo de Correia da Silva passou por várias dificuldades nestes anos, em termos de segurança”, tendo ocorrido “incidentes muito graves na relação entre Portugal e a China”. “Por essa razão, o Governador considerava que ter aviões era extremamente importante porque, neste momento, a China também estava a recorrer à aviação. As autoridades de Portugal, porém, consideravam que os aviões de Macau não teriam nenhuma importância, comparando com o conjunto de aviões que teria a China ou mesmo o Japão. Quando se dá permissão para a constituição da companhia aérea em Macau, Lisboa entende que o território estava numa situação preocupante e poderia ter aviões com funções militares, mesmo que fossem poucos”, explicou a historiadora. O projecto cairia, porém, por terra.
Hoje Macau Grande PlanoA horta de Almerindo em Timor-Leste pode ser regada de Portugal ou Inglaterra A horta do timorense Almerindo Fernandes em Lautém, a 231 quilómetros a leste de Díli, pode ser regada de Portugal ou de Inglaterra, após o engenheiro civil ter aplicado novas tecnologias ao setor agrícola. Almerindo Fernandes, 30 anos, é licenciado em engenharia civil e durante anos trabalhou em projetos de construção de estradas rurais, mas o ‘bichinho’ pela agricultura falou mais alto e hoje é dono da primeira ‘smart farm’ de Timor-Leste. Em Lautém, Almerindo Fernandes tem cerca de dois hectares de terreno, onde plantou beringela, tomates e outros vegetais, que rega através de um sistema de irrigação inteligente, que controla através de uma plataforma no telemóvel. “Significa que em Portugal ou em Inglaterra podemos regar a horta com o telemóvel. É o mundo moderno, o mundo da tecnologia, da digitalização. É a oportunidade de usar a tecnologia, usar o telemóvel para regar a minha horta”, afirmou à Lusa. “É uma grande oportunidade de utilizar a tecnologia para modernizar as produções agrícolas”, salientou. Com cerca de 1,3 milhões de habitantes, o setor agrícola em Timor-Leste é vital para a economia do país, mas a produção é baixa e não acompanhou o crescimento da população. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, mais de 70% da população timorense vive em áreas rurais e a maioria pratica agricultura de subsistência. Almerindo Fernandes iniciou a atividade em 2017 com o dinheiro que foi poupando enquanto trabalhava como engenheiro civil e hoje vende a sua produção para o programa da merenda escolar, para as forças armadas e para os mercados do seu município. “Até agora era uma atividade privada, mas o Governo está a apoiar para a expansão do projeto aos restantes municípios do país”, explicou Almerindo Fernandes. O apoio foi conseguido depois de ter apresentado o projeto ao vice-primeiro-ministro, ministro coordenador dos Assuntos Sociais e ministro do Desenvolvimento Rural e Habitação Comunitária, Mariano Assanami Sabino, que acabou por o contratar como técnico especializado para levar o conceito ao resto do país. “O Governo reconhece a criatividade dos jovens e de todos os cidadãos que têm iniciativas criativas. É uma grande oportunidade e o Governo está a apoiar a transformação da horta num centro de formação de jovens”, explicou Almerindo Fernandes. Na horta, Almerindo Fernandes já tem a trabalhar quatro pessoas em permanência e depois contrata outros para plantar, apanhar os legumes e fazer a manutenção, e ao mesmo tempo dá formação aos jovens que estudam agricultura. Agora, segundo o engenheiro civil, a horta serve também para fazer experiências para melhorar o sistema, ou seja, para a tornar mais eficiente e eficaz, com “pouco gasto e maior rendimento”. “É o princípio da modernização, aumento da produção, mínimo custo é o objetivo do sistema da horta inteligente e é uma teoria que temos de adaptar em Timor para desenvolver o país”, disse.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteIC | Lançado livro sobre as raízes históricas da Rua das Estalagens “In Search of Its Roots – An Illustrated History of Rua das Estalagens” é o nome da obra bilingue, lançada em formato digital, que conta a história desta rua histórica de Macau, revelando os negócios que sobreviveram à passagem do tempo. A produção esteve a cargo da Sociedade de Artistas de Macau, com o apoio do Instituto Cultural e da Sands China A história serpenteia pela Rua das Estalagens desde finais do século XIX. A estreita artéria sempre foi palco de um intenso reboliço social e comercial e foi onde Sun Yat-sen, considerado o pai da China moderna e da revolução republicana, abriu farmácias e drogarias, sobretudo a partir de 1893. Ao longo dos anos, a Rua das Estalagens, no Porto Interior, foi um exemplo vivo do comércio, sendo que os governadores portugueses foram, progressivamente, expandindo a rua, composta por edifícios do estilo chinês e templos, como o Templo do Bazar e Templo da Deusa Noi Wo. Todos estes pedaços de história se contam agora na publicação digital “In Search of Its Roots – An Illustrated History of Rua das Estalagens”, obra produzida pela Sociedade dos Artistas de Macau e de autoria de Siguo Chen nos textos e ilustrações de Shirley Lu. Os responsáveis pela edição são o Instituto Cultural (IC) e a operadora de jogo Sands China. Segundo uma nota de imprensa da Sands China, o livro, em chinês e inglês, pretende “destacar o passado fascinante da histórica rua de Macau e a beleza do seu legado”, contendo entrevistas com figuras ligadas à rua, sejam comerciantes ou moradores. Pretende-se, deste modo, levar “residentes e visitantes a redescobrir a preciosidade das lojas centenárias e o património cultural da rua através de histórias lendárias”, para que estes possam “alargar a sua compreensão sobre a transformação do bairro e dos seus habitantes”. O conteúdo do livro resulta de “conversas próximas com representantes de associações, entidades empresariais e residentes do bairro”, tendo como fonte dezenas de histórias orais que facilmente se podem perder se não forem registadas. Esta obra não fica encerrada no mundo digital, tendo sido impressa para constar nas bibliotecas públicas de Macau e escolas, a fim de “promover o sentido do património cultural e realçar os laços mútuos entre as pessoas de Macau”, pretendendo ser “um recurso comunitário valioso para aprofundar a compreensão e a apreciação de Macau e da rua”. 200 anos de história Um dos destaques dado no livro é ao sector têxtil que sempre predominou na Rua das Estalagens. No capítulo intitulado “Two Centuries of Prosperity: Spinning a Legacy in the Textiles Trade” [Dois séculos de prosperidade: A construção de um legado no comércio de têxteis], lê-se que “a Rua das Estalagens sempre foi um centro para a indústria têxtil”. Nos anos em que o sector têxtil tinha uma maior presença no território, entre as décadas de 70 e 90, “a rua albergou mais de 20 lojas com produtos de fábrica, incluindo três espaços da Loja de Fazendas Veng On”. “Em seu redor existiram 30 negócios relacionados com estas lojas, como alfaiates, lojas de roupa, lojas com produtos ocidentais e lojas de ornamentos para funerais, o que trouxe reputação à rua”, lê-se ainda. Na Rua das Estalagens “o comércio de tecidos tem mais de 200 anos”, aponta o mesmo texto. Outros capítulos do livro falam da presença do revolucionário republicano em Macau, em “The Starting Point of Sun Yat-sen’s Story” [O Ponto de Partida da História de Sun Yat-sen] ou estórias de personalidades ligadas à rua e ao seu comércio. Na conclusão da obra, refere-se que depois da transição, a rua “enfrentou novos desafios: a crise financeira global, a epidemia da SARS, a covid-19 e a incerteza da economia, deixando novamente a necessidade de renovação”. “No passado, os negócios floresceram, por si só, graças ao trabalho árduo e resiliência. Mas hoje em dia a comunidade junta-se com uma visão partilhada, planeando de forma activa [o desenvolvimento da rua] com o apoio do Governo de Macau e as empresas de resorts integrados. Com estes esforços, existe um sentido de esperança que a Rua das Estalagens recupere brevemente a sua antiga vitalidade, estando pronta para uma nova era de prosperidade”, é apontado. Visão institucional A presidente do IC, Deland Leong Wai Man, apontou que o livro resulta do “esforço ponderado para alargar a discussão em torno da preservação e revitalização [da rua]”, segundo a mesma nota de imprensa. “Espera-se que a renovação da rua inspire mais pessoas a tomar conhecimento dos bairros históricos de Macau e a participar na sua preservação, combinando ideias e recursos para garantir que a cultura e a história da cidade continuem a prosperar durante gerações”, disse ainda. Por sua vez, Wilfred Wong, presidente-executivo da Sands China, defendeu que “a Rua das Estalagens é um microcosmo da própria Macau, um lugar onde uma história rica se encontra com um futuro moderno”. “As paredes das suas ruelas testemunharam a transformação de Macau, e as suas histórias e pessoas merecem ser recordadas, pois são fontes preciosas do património cultural de Macau. O nosso esforço para publicar o livro foi possível graças à colaboração da nossa equipa local para realizar entrevistas com proprietários de lojas históricas, criar ilustrações e tirar fotografias, entre outros trabalhos”, frisou. Fachadas novas Recorde-se que esta publicação surge depois de ter sido anunciado pelo Governo a actuação da Sands no plano de revitalização da Rua das Estalagens, nomeadamente com o “Programa de Recrutamento de Empreendedores para a Rua das Estalagens”, lançado em Abril do ano passado. A operadora de jogo explica que os sete negócios seleccionados para a iniciativa “têm vindo a abrir por fases, trazendo energia para a zona juntamente com outros novos negócios, proporcionando uma plataforma para jovens empresários ambiciosos poderem realizar os seus sonhos”. Além disso, a operadora de jogo pretende revitalizar as fachadas das lojas “com desenhos que realçam as suas características, ressoando a história da rua e da cidade”. Para esta iniciativa, a Sands também tem colaborado com a Sociedade de Artistas de Macau, sendo que os desenhos serão criados por dois jovens artistas locais, Lei Chek On e Sit Ka Kit. “O objectivo é que, com um esforço colectivo como este, a comunidade possa redescobrir a história da rua e aprender sobre as suas histórias e lojas passadas através das interpretações visuais destes artistas locais de Macau e das suas percepções do território”, lê-se. Siguo Chen, o autor do livro, é um jornalista veterano com uma carreira de mais de 60 anos que tem estado profundamente ligado à área de media tanto em Macau como em Hong Kong.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteSun Yat-sen | Assinalado centenário da morte do “pai da China moderna” Sun Yat-sen faleceu a 12 de Março de 1925. Figura incontornável da história política da China moderna e pai do movimento que levou à queda do regime imperial, Sun Yat-sen foi ontem celebrado em Guangzhou, onde nasceu, Pequim e Taiwan O primeiro presidente da China pós-imperial e considerado o pai da era moderna do país, Sun Yat-sen, foi recordado ontem na China continental e em Taiwan, no 100.º aniversário da sua morte. Em Pequim, realizou-se uma “breve e solene cerimónia” de homenagem a Sun no parque de Pequim que tem o seu nome. Autoridades e “pessoas de todos os sectores da sociedade” estiveram presentes, guardaram silêncio e fizeram três vénias em frente à sua estátua, informou a agência noticiosa oficial Xinhua. A Academia Chinesa de História elogiou o vulto político na sua conta de Weibo, descrevendo-o como “um grande herói nacional, um grande patriota e um grande precursor da revolução democrática da China”. A cidade de Guangzhou, capital da província de Guangdong, onde Sun Yat-sen nasceu, inaugurou na terça-feira uma exposição de objectos antigos relacionados com o homem que foi um dos promotores da revolução que derrubou a dinastia Qing (1644-1911). O edifício memorial de Sun Yat-sen na cidade acolheu a primeira apresentação de um musical baseado na juventude do revolucionário. Em Guangzhou, onde também existe uma universidade com o nome de Sun Yat-sen, exibe-se essa exposição, que inclui objectos como o relatório do exame de graduação de Sun Yat-sen no College of Medicine for Chinese, em Hong Kong, do ano 1892. Destaca-se ainda a certidão de casamento entre Sun Yat-sen e Soong Ching-Ling, em 1915, mulher que seria, mais tarde, vice-presidente da China durante o Governo de Mao Tse-tung, abraçando o comunismo. Na mesma exposição pode também ver-se o busto em bronze do próprio Sun Yat-sem, feito por ordem do amigo japonês Umeya Shokichi, em 1929. O “pai” da China moderna foi também recordado em Taiwan, com uma cerimónia junto ao memorial de Sun Yat-sen, em Taipé, onde foram depositadas flores e manifestar respeito. Duplas lembranças Apesar de ter fundado, em 1919, o Kuomitang, que viria a ser o principal rival do Partido Comunista Chinês (PCC), Sun é lembrado tanto na China continental como em Taiwan. O Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado declarou que Sun Yat-sen “procurou a unidade nacional e a revitalização da China ao longo da sua vida”, apelando ao mesmo tempo aos “compatriotas de Taiwan para se juntarem a nós na herança do seu legado” e para se “oporem à secessão” da ilha. Nascido em 1866, Sun estudou medicina em Hong Kong – então uma colónia britânica – e, depois de liderar várias revoltas, ganhou notoriedade como líder revolucionário e como força motriz de uma tentativa de modernização do país. Em 1911, a Revolução de Xinhai conduziu à queda da dinastia Qing e Sun Yat-sen foi nomeado presidente provisório da nova República da China em Janeiro de 1912, mas rapidamente cedeu o poder ao principal líder militar do país, Yuan Shikai, que, longe de consolidar os ideais republicanos, dissolveu o parlamento em 1914 e proclamou-se imperador em 1915, anulando grande parte do progresso democrático pelo qual Sun tinha lutado. A partir de então, continuou a promover o seu ideal de uma China unificada e republicana, reorganizando o KMT e procurando apoio internacional para a sua causa. Em 1923, estabeleceu uma aliança com o recém-fundado PCC e recebeu o apoio da União Soviética para reforçar o movimento político. No entanto, não conseguiu consolidar um governo estável antes da sua morte em 1925. Uma vida de luta Na obra “As Irmãs Soong – A Mais Velha, a Mais Nova e a Vermelha”, da autoria de Jung Chang, descrevem-se alguns detalhes da vida de Sun Yat-sen antes de abraçar a causa revolucionária e a forma de como saiu da casa dos pais, em Guangzhou, em busca de uma vida melhor. O local de destino foi o Havai, que a 4 de Julho de 1894 se declarou como república, acontecimento que, segundo o livro, “ajudou a moldar a China de hoje”. “Um chinês radical, de 27 anos, Sun Yat-sen, desembarcou no arquipélago e entrou num mundo onde a palavra ‘república’ estava em todas as bocas”, descreve-se. Na China, a agitação contra o poder do império tornava-se forte. A república “era um novo conceito”, pois “a monarquia era o único sistema político que a China conhecia”. “Na época, o país era governado pela dinastia manchu”, sendo que os manchus “não eram naturais da China, mas tinham conquistado o território em meados do século XVII”. “Como não perfaziam mais de um por cento da população, eram considerados uma minoria de governantes estrangeiros e nunca lhes faltara oposição dos rebeldes nativos Han. Sun era um deles”, descreve-se na mesma obra. Sun Yat-sen era “um homem baixo, moreno e de traços bem proporcionados e agradáveis”. A sua aldeia natal, Cuiheng, tinha solos impróprios para a agricultura, o que proporcionava “uma vida de miséria extrema” a quem lá vivia. Como tal, a família do revolucionário não escapou as condições adversas. Na sua primeira fuga do contexto de pobreza, Sun foi para Hong Kong, encontrando abrigo junto da Escola Diocesana e Orfanato de Rapazes, aceitando depois um casamento arranjado pela família como chamariz para regressar à aldeia. Sun Yat-sen casou com Mu-zhen, teve filhos, mas foi uma figura ausente e algo despreocupada face às responsabilidades familiares, viajando pelo mundo a procurar apoios para a revolução que desejava para a China. A obra de Jung Chang descreve como o percurso de Sun se ligou ao pai das “três irmãs”, Ei-ling, May-ling e Ching-ling. Charlie Soong financiou e apoiou Sun Yat-sen nas suas causas revolucionárias, sendo que uma das filhas, Ei-ling, chegou a ser secretária do republicano. Este, apesar de casado, terá feito tentativas de aproximação amorosa e Ei-ling, mas acabou por ter uma relação com Ching-ling, que foi nacionalista, mas que mais tarde abraçou o comunismo, sendo conhecida como a “irmã vermelha”. Ching-ling foi também, conhecida como a “Madame Sun Yat-sen”, mas à altura da morte de Sun Yat-sen, já o relacionamento entre ambos tinha esfriado. Depois do estabelecimento da República Popular da China, Ching-ling foi vice-presidente do país, entre os anos de 1949 e 1954, e depois entre 1959 e 1975, além de ter sido vice-presidente da comissão permanente da Assembleia Nacional Popular. Passagem por Macau De resto, a vida de Sun Yat-sen cruzou-se com Macau várias vezes, onde viveu um curto período de tempo, ao contrário da mulher, Mu-zhen, e os filhos que permaneceram no território mais tempo. Para recordar o curto período em que o republicano viveu no território, à época sob administração portuguesa, foi construída a Casa Memorial do dr. Sun Yat-sen, onde se “testemunha a curta, mas significativa estadia em Macau no início do século XX quando, fugindo ao poder dos mandarins imperiais, tentava movimentar as forças suas apoiantes, a fim de implantar um novo regime na China”. “Em Macau recebeu apoio de alguns amigos que ao tempo eram ilustres e influentes figuras da vida social e política macaense”, lê-se ainda na descrição do museu. Outro detalhe interessante da revolução republicana de 1911 prende-se com a proximidade de datas face à instauração da República em Portugal, que aconteceu a 5 de Outubro de 1910. Macau, no meio dos acontecimentos na China e Portugal, só teve conhecimento de que a Monarquia Constitucional havia caído em Lisboa graças ao envio de um telegrama publicado em Boletim Oficial a 10 de Outubro de 1910, alterando-se o governador nesse contexto. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePsicologia clínica | Os benefícios e riscos da introdução da IA A inteligência artificial está aí para ficar e o seu uso no campo da psicologia começa a ser falado. Recentemente, o deputado Lam Lon Wai defendeu a sua utilização e, em Portugal, a Ordem dos Psicólogos criou a plataforma “PsIA”, que permite detectar sintomas. Nuno Gomes e Goreti Lima, dois terapeutas que trabalham com residentes, falam dos benefícios, riscos e potenciais usos da tecnologia Perceber se emoções podem resultar em doenças do foro psicológico é algo que já é possível fazer com recurso à inteligência artificial (IA). O assunto começa a discutir-se em Macau ainda de forma tímida, nomeadamente através do deputado Lam Lon Wai, que em Fevereiro interpelou o Governo sobre a necessidade de aplicar ferramentas de IA em casos clínicos com jovens. O HM falou com dois psicólogos clínicos que trabalham com residentes de Macau, de forma presencial ou à distância, sobre os benefícios e riscos de apostar na IA. Nuno Gomes, psicólogo numa clínica local, diz que a IA “é, para já, uma ajuda, e será sempre”. “A IA é um processo irreversível e é inevitável que abranja todos campos da nossa vida, e neles está a psicologia e ajuda às pessoas. Mas venho de um campo da psicologia que é a Escola Humanista, que tem por base a relação com o paciente, e por isso não vejo grandes benefícios, para já, da utilização da IA, porque nas relações humanas a IA não entra”, defendeu. Nuno Gomes acredita que a IA pode ajudar na fase de diagnóstico, embora pense que “o psicólogo vai ser sempre a personagem central”. “A IA pode ser uma vantagem em Macau para as pessoas que têm dificuldades em pedir ajuda. O uso da IA bem definido, até em termos éticos, poderá ser bastante útil para o início de uma terapia. Porém, neste momento não temos condições para o uso da IA ao nível de uma terapia mais completa e de fundo”, disse. Nuno Gomes recorda ainda que para quem deseje falar com alguém, a IA “pode dar a sensação de que não estamos sozinhos e que está alguém do outro lado”. Trata-se de uma sensação que é ainda “estranha”, mas que “no futuro deixará de o ser, porque a IA vai fazer parte dos nossos dias”. O psicólogo acredita que a IA “poderá funcionar desde que seja eticamente bem regulada, podendo ajudar em terapias breves, mas sempre como complemento de um processo maior”. Goreti Lima, que já viveu em Macau, continua a fazer psicologia clínica à distância com residentes que vivem no território. É mais céptica em relação ao uso da IA, defendendo que a relação humana é sempre fundamental para um acompanhamento de qualidade. “A terapia faz-se na relação e estas aplicações não contemplam isso. Acho muito bem que possamos utilizar a IA para diagnosticar, ver sintomas, mas isso também podemos fazer com um livro ou artigo. O ChatGPT já nos diz algumas coisas na área da psicologia, possíveis análises dos sintomas. A IA ajuda nesse processo, mas depois o resto funciona na relação terapêutica. É por isso que as pessoas gostam mais de um psicólogo ou outro. Depois há a questão ética, os dados são armazenados como? Vão para onde? As pessoas podem confiar?”, questiona. Recomendações em Portugal Numa interpelação escrita dirigida ao Governo da RAEM, o deputado Lam Lon Wai questionou se vai existir “cooperação” entre departamentos governamentais, empresas tecnológicas e instituições académicas locais no uso da IA na área da saúde mental. Porém, Goreti Lam lamenta que deputado “não fale na figura do psicólogo”. “Os académicos têm uma experiência diferente dos psicólogos e terapeutas, que adquiriram essa experiência em termos práticos. Isso desenvolve-se ao longo do tempo. Todas essas questões têm de ser pensadas na hora de aplicar a IA. A IA pode identificar o que a pessoa tem e até técnicas a utilizar, mas depois há que ter em conta condições deontológicas. A avaliação tem sempre nuances consoante o contexto social da pessoa, e isso nunca é analisado na IA, ou então é de forma insípida”, acrescentou. Portugal é um dos países onde a aplicação da IA na psicologia começa a ganhar alguma forma, ao ponto da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) ter criado a ferramenta online “PsIA”, que permite enunciar uma série de sintomas e chegar a um diagnóstico. Os dados pessoais parecem ficar protegidos com a introdução, no website, do número do Cartão de Cidadão, com a Chave Móvel Digital. Além disso, a OPP criou um manual de boas práticas, intitulado “O factor humano na inteligência artificial – Recomendações estratégicas para a sustentabilidade”, que refere que existem “terapeutas virtuais que conseguem identificar, na comunicação com as pessoas, dificuldades emocionais que facilitam a educação psicológica deliberada”, além de potenciarem “a aprendizagem de técnicas e competências que visam, por exemplo, a redução da ansiedade”. Além disso, o documento da OPP conclui que “alguns estudos sugerem que estes chatbots, desenvolvidos com base em modelos terapêuticos validados, podem ser eficazes na redução de sintomas depressivos e, inclusive, que algumas pessoas estabelecem com eles um vínculo semelhante ao de uma relação humana”. Porém, “estas evidências não se encontram consolidadas e questões relacionadas com a segurança (de pessoas e dados), a eventual dependência das tecnologias e a responsividade do apoio prestado face a diferentes dificuldades psicológicas não se encontram esclarecidas”, lê-se ainda. Relativamente ao PsIA, é referido no website da OPP que “em questões muito específicas ou complexas não deve ser utilizado em tarefas que requeiram julgamento e avaliação especializados, análise técnica profunda ou aconselhamento profissional”. É ainda esclarecido que as respostas fornecidas baseiam-se “nos documentos e informações disponíveis” até ao dia 31 de Julho do ano passado, além de que a PsIA “não substitui de forma alguma o papel de um psicólogo ou de quaisquer actividades de supervisão”. No caso de Hong Kong também começam a surgir algumas soluções, o que motivou, aliás, a interpelação do deputado Lam Lon Wai. É o caso da Hollo, uma aplicação de telemóvel desenvolvida em ligação com a Universidade de Hong Kong (UHK) e que pretende “tornar os cuidados com a saúde mental mais acessíveis aos pacientes, plataformas de serviços e organizações”. A Hollo usa o poder da IA e tecnologias para levar práticas clínicas estandardizadas a um outro nível de produtividade, inteligência e conectividade digital. Segundo Cameron van Breda, CEO e co-fundador da Hollo, a empresa pretende ser “uma ferramenta facilmente acessível em momentos de stress, oferecendo análises e sugestões de amizade para melhores exercícios da saúde mental”. Em termos práticos, “foca-se nos jovens dos 12 aos 24 anos, funciona em inglês e chinês e introdu-los à terapia e práticas de aconselhamento através de actividades de ‘mindfulness’ e jogos diários”, lê-se no website da UHK. Quase na mesma Questionado sobre o panorama da saúde mental de Macau, Nuno Gomes entende que persiste “algum conservadorismo e desconhecimento não só naquilo que é a IA e as áreas onde se pode aplicar, mas também daquilo que a psicologia pode fazer”. “A psicologia está cá para ajudar pessoas e no contexto de Macau não há ainda esse entendimento. Esse estigma impede muitas pessoas de procurar ajuda e a IA pode dar esse apoio. No entanto, a população mais velha desconhece ainda muito o funcionamento da IA, mas os mais jovens vão recorrer cada vez mais a este tipo de plataformas”, disse. Em termos gerais, “o panorama da saúde mental pouco mudou desde a pandemia”, pois “no geral, as pessoas não sentem necessidade de expressar emoções e desde pequenas que são encorajadas a guardar as emoções, que quando são más e guardadas muito tempo, começam a fazer mal. As pessoas não sabem como exprimi-las por vergonha ou culpa”. Goreti Lima também entende que na área da saúde mental há ainda algum desconhecimento em Macau.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteArquitectura | Liu Jiakun venceu prémio Pritzker 2025 Liu Jiakun venceu o prémio Pritzker deste ano. O arquitecto natural de Chengdu foi escolhido pela obra “coerente”, em paz com a natureza e o mundo envolvente. A organização do prémio destaca o “percurso que não foi linear nem esperado”, e os projectos de arquitectura com “respostas convincentes” em termos ambientais Na obra de Liu Jiakun é o cidadão que manda, sem linhas fixas ou barreiras, conjugando o antigo e o moderno. Mas acima de tudo, sobressai uma espécie de coerência. O arquitecto chinês, nascido em 1956 na província de Chengdu, venceu prémio Pritzker deste ano, distinção descrita frequentemente como o Nobel da arquitectura. Com o anúncio desta semana, foi acrescentado o ponto que faltava para consagrar o talento de um homem que viveu e trabalhou numa China em transformação e que, por pouco, não desistia da arquitectura. Aliás, segundo a informação oficial do prémio Pritzker sobre Liu Jiakun, o seu percurso “até à arquitectura não foi linear nem esperado”. A mãe era médica interna no Chengdu Second People’s Hospital e foi por lá que passou grande parte dos seus dias durante a infância. Nos anos em que a China vivia intensamente o Maoísmo e depois durante o processo da Reforma e Abertura, Liu passou por todas as transformações políticas e sociais à medida que ia crescendo. Frequentou o programa para “jovens instruídos” na área da agricultura, e depois o Instituto de Arquitectura e Engenharia de Chongqing, mais tarde chamado de Universidade de Chongqing, em 1978. “Como num sonho, apercebi-me, de repente, que a minha vida era importante”, disse, segundo a informação oficial do prémio Pritzker. O atelier em nome próprio, Jiakun Architects, só surgiu em 1999 na sua cidade natal, Chengdu, a capital da província de Sichuan. Sobre si e o seu trabalho, Liu Jiakun disse: “Aspiro sempre a ser como a água – a permear um lugar sem ter uma forma fixa própria e a infiltrar-me no ambiente local e no próprio sítio”. “Com o tempo, a água solidifica-se gradualmente, transformando-se em arquitectura e talvez mesmo na forma mais elevada da criação espiritual humana. No entanto, mantém todas as qualidades desse lugar, tanto as boas como as más”, acrescentou. Sobre a atribuição do Pritzker, o júri considerou que o arquitecto chinês soube inovar, mantendo o lado mais tradicional que a profissão pode ter. “A identidade tem tanto a ver com o indivíduo como com o sentido colectivo de pertença a um lugar. Liu Jiakun revisita a tradição chinesa sem abordagem nostálgica nem ambiguidade, mas como um trampolim para a inovação. Criar uma nova arquitectura que é simultaneamente um registo histórico, uma infra-estrutura, uma paisagem e um espaço público notável”, refere a organização. Compromisso espacial Construir casas ou edifícios pode ser muito mais do que a simples edificação, estabelecendo um compromisso com o espaço e o meio ambiente. Para o júri do Pritzker, “num contexto global em que a arquitectura se esforça por encontrar respostas adequadas a desafios sociais em rápida evolução, Liu Jiakun deu respostas convincentes que também celebram a vida quotidiana das pessoas, bem como as suas identidades comunitárias e espirituais”. Ainda segundo o júri, “através de uma obra notável de profunda coerência e qualidade constante, Liu Jiakun imagina e constrói novos mundos, livre de qualquer constrangimento estético ou estilístico”. “Em vez de um estilo, desenvolveu uma estratégia que nunca se baseia num método recorrente, mas sim na avaliação das caraterísticas e exigências específicas de cada projecto de forma diferente. Ou seja, Liu Jiakun pega nas realidades actuais e manipula-as ao ponto de oferecer um cenário totalmente novo da vida quotidiana. Além do conhecimento e da técnica, acrescenta senso comum e sabedoria à caixa de ferramentas do designer”, acrescenta-se. A nota que apresentou o prémio refere que o arquitecto consegue projectar “um ambiente construído que está frequentemente a ser puxado em direcções opostas”, repensando “os fundamentos da densidade através da coabitação, criando uma solução inteligente que equilibra as forças opostas em jogo”. O júri descreve também que “através de uma obra notável de profunda coerência e qualidade constante, Liu Jiakun imagina e constrói novos mundos, livre de qualquer constrangimento estético ou estilístico”. Os maiores projectos O comunicado do Pritzker deste ano destaca o projecto “West Village”, em Chengdu, classificado como “transformador”, onde Liu Jiakun soube “reformular o paradigma dos espaços públicos e da vida em comunidade”, “inventando novas formas independentes e partilhadas de viver em conjunto, em que a densidade não representa o oposto de um sistema aberto”. O arquitecto criou, aqui, um espaço que permite “a adaptação, a expansão e a replicabilidade”. Destacam-se ainda “museus subtis e memoráveis” por si criados, como é o caso do Suzhou Museum of Imperial Kiln Brick ou o Shuijingfang Museum, também em Chengdu. Por sua vez, no Memorial Hu Huishan, em Chengdu, o arquitecto “compreende que a identidade é uma questão de memória colectiva e pessoal, elevando brilhantemente a perspectiva individual a um elemento fundamental da criação de lugares, a fim de reavivar uma dimensão comunitária”. Licenciado em 1982, Liu fez parte da primeira geração de alunos responsáveis por parte dos grandes projectos da chamada “Nova China”, já com Deng Xiaoping ao leme do Governo Central. No início da carreira, esteve ligado ao Instituto de Investigação e Design Arquitectónico de Chengdu, uma entidade estatal, tendo-se deslocado a Nagqu, no Tibete, onde viveu dois anos na década de 80. Sobre esse tempo, o arquitecto recordou a sua “maior força na altura parecia ser o meu medo do nada, além das capacidades de pintura e escrita”, desbravando livros e escrita à noite, quando não projectava. A carreira na arquitectura esteve quase a ser posta de lado até ao momento em que Liu Jiakun viu a exposição individual de arquitectura de Tang Hua, um antigo colega da universidade, no Museu de Arte de Xangai, em 1993. Tal “reacendeu a sua paixão pela profissão e alimentou uma nova mentalidade de que também ele se podia desviar da estética social prescrita”, descreve o júri do Pritzker. Para Liu, “a arquitectura deve revelar algo – abstrair, destilar e tornar visíveis as qualidades inerentes às pessoas locais”, tendo “o poder de moldar o comportamento humano e criar atmosferas, oferecendo uma sensação de serenidade e poesia, evocando compaixão e misericórdia, e cultivando um sentido de comunidade partilhada”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePequim | “Duas Sessões” arrancam hoje com foco na economia O mês de Março é sinónimo de movimentações políticas em Pequim, com a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, que começa hoje, e a sessão da Assembleia Popular Nacional, que se inicia amanhã. Nas reuniões serão discutidas metas e planos políticos e económicos para este ano, sem esquecer a evolução do panorama internacional Começa hoje mais uma sessão da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), em Pequim, enquanto que para amanhã está agendado o arranque da Assembleia Popular Nacional (APN). Os dois acontecimentos são os mais importantes do sistema político chinês, materializando o sistema de representatividade política do país, contando com a participação de delegações todas as províncias e regiões da China, incluindo as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. A CCPPC tem, como o nome indica, um carácter consultivo, enquanto a APN é o mais importante órgão legislativo do país. As chamadas “Duas Sessões”, com periodicidade anual, chamam a atenção de todo o mundo porque é nessa altura que o Governo chinês apresenta as suas metas económicas e principais medidas políticas para o resto do ano. Segundo a agência estatal Xinhua, os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) do país é um dos pontos que mais atenção atrai, mas as “Duas Sessões” “também irão servir para lançar algumas luzes sobre a política externa da China, algo particularmente notável num cenário global turbulento e em rápida mudança”. Até ao dia 11 de Março, data prevista para o encerramento dos trabalhos, definem-se objectivos, calendários e políticas essenciais, moldando “a direcção política do país” num “ambiente doméstico e global complexo e desafiante”, lê-se ainda na Xinhua. Olhemos, então, para aquilo que poderemos esperar em matéria de valores do PIB. “À medida que a economia chinesa se orienta para o desenvolvimento de alta qualidade, o PIB não é a única medida da economia, mas continua a ser um indicador importante. Em 2024, a China atingiu o seu objectivo de crescimento económico de cerca de cinco por cento, graças, em grande parte, a uma série de medidas macroeconómicas significativas, introduzidas para compensar a pressão da recessão económica”, lê-se. Esperam-se, assim, “políticas mais concretas para estimular a actividade económica”. Segundo a Xinhua, a “China deu já sinais de mudança na sua orientação macroeconómica”. “Na última Conferência Central do Trabalho Económico, em Dezembro, os responsáveis políticos comprometeram-se a aplicar políticas macroeconómicas mais proactivas em 2025”. Foi decidido, assim, a adopção de uma “política monetária ‘moderadamente flexível’, o que representa um afastamento significativo da abordagem ‘prudente’ adoptada nos últimos 14 anos”, descreve a agência. Neste encontro foram ainda definidas “nove prioridades fundamentais”, sendo a primeira “o aumento do consumo”. Desta forma, espera-se que, nas “Duas Sessões”, a “China dê ênfase à procura interna como principal prioridade económica”, sendo que, este ano, se espera “que as actualizações de equipamento em grande escala e os programas de troca de bens de consumo sejam promovidos com maior intensidade e num âmbito mais alargado”. É indicado que “a China irá utilizar de forma activa a margem de manobra para um défice mais elevado e aumentar a emissão de obrigações especiais das administrações locais”, além de “continuar a emitir obrigações do tesouro especiais com maior prazo e aumentar os pagamentos de transferências do Governo Central para as administrações locais”. As “Duas Sessões” irão revelar mais detalhes neste sentido. IA em destaque Ainda no plano económico, a Xinhua descreve como o Presidente Xi Jinping sublinhou noutras ocasiões “as principais prioridades, como o apoio ao crescimento do sector privados”, “a aceleração do desenvolvimento da economia digital” e ainda o aprofundamento da abertura do país. Os membros da APN “irão analisar o orçamento anual e o plano de desenvolvimento do Governo”, esperando-se ainda “propostas e sugestões relacionadas com a inteligência artificial (IA)”. Aliás, este é “um dos principais pontos de interesse para os observadores da China”, a par dos valores do PIB. Importa salientar que, neste campo, o país tem procurado marcar pontos e ganhar um crescente posicionamento no mercado com a criação da plataforma DeepSeek. Segundo o jornal Global Times, empresas chinesas como a Tencent, Baidu e BYD integram a DeepSeek nos produtos e serviços que disponibilizam, sendo que “alguns governos locais também anunciaram colaborações com modelos IA da DeepSeek para melhoria dos serviços públicos”. “Muitos planos relacionados com a IA mencionados em relatórios de trabalho dos governos provinciais [da China] centram-se na construção de plataformas de inovação, na promoção de uma integração mais profunda da indústria e na melhoria dos quadros políticos. É importante notar que a ascensão de plataformas como a DeepSeek reflecte o compromisso da China em assumir a liderança nos avanços tecnológicos e um maior foco estratégico no cultivo de talentos e na existência de um ambiente propício à inovação”, lê-se. As “Duas Sessões” constituem ainda “uma plataforma crucial para legisladores e conselheiros políticos apresentarem sugestões e promoverem um amplo consenso sobre o desenvolvimento nacional” na área da IA, sendo que “alguns deles são executivos de empresas e investigadores de renome”. PIB: a manutenção Ainda no que diz respeito ao PIB chinês, uma análise de Neil Thomas e Jing Qiang, do Asia Society Policy Institute, defende que as “Duas Sessões” deverão revelar “uma agenda ainda mais em prol do crescimento do que em relação ao ano passado, com objectivos aproximados de cinco por cento para o crescimento do PIB, de quatro por cento para o rácio do défice fiscal no PIB e de dois por cento na inflação em termos de consumo”. “Deverão ser também introduzidas medidas para aumentar o consumo e encorajar o sector privado em matéria de inovação”, escrevem os autores. A mesma análise do Asia Society Policy Institute destaca também as medidas económicas de prevenção e combate ao desemprego, um problema que tem afectado a economia chinesa nos últimos tempos. “A China irá anunciar também os objectivos anuais para os novos postos de trabalho nas áreas urbanas e a taxa de desemprego urbano. No ano passado, Pequim fixou estes objectivos em 12 milhões de novos postos de trabalho e 5,5 por cento de taxa de desemprego, e os números deste ano serão provavelmente semelhantes”, é referido. No que diz respeito ao consumo interno, pretende-se que a China seja, cada vez mais, “um hub para lançamento de produtos, turismo de Inverno e que tenha uma ‘economia de prata’ com foco na área da restauração para uma população mais idosa”. Ainda segundo a análise do Asia Society Policy Institute, “outras prioridades incluem reequilibrar as regulações de plataformas económicas, estimular a actividade económica nas pequenas cidades, uma maior integração na área da Grande Baía e expandir o investimento nas indústrias marítimas”. Atenção ao investimento As “Duas Sessões” decorrem com Donald Trump de regresso à Presidência dos Estados Unidos da América e certamente que esse ponto irá marcar a agenda externa das reuniões em Pequim ao longo da semana. Mas ainda no tocante à economia, as autoridades chinesas vão procurar apresentar e discutir medidas que possam manter a atracção de investimento estrangeiro no país, após o lançamento do “Plano de Acção para a Estabilização do Investimento Estrangeiro”, no passado dia 19 de Fevereiro. Verifica-se, aqui, uma “mudança estratégica na abordagem de Pequim, afastando-se dos benefícios fiscais e subsídios e dirigindo-se à liberalização de sectores específicos, à racionalização da regulamentação e incentivos ao re-investimento”, apontam os mesmos analistas. Assim sendo, Pequim pretende “enquadrar as empresas estrangeiras no quadro regulamentar da China para as transformar em partes interessadas a longo prazo, tornando a expansão local mais atractiva do que a reafectação de capitais para outros mercados”. Os analistas esperam também que as “Duas Sessões” revelem políticas concretas nesse sentido. Sam Hou Fai em Pequim O Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, está em Pequim desde ontem para assistir à cerimónia de abertura da terceira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), que decorre amanhã. Sam Hou Fai estará na capital chinesa até quinta-feira desta semana. Segundo um comunicado do Gabinete de Comunicação Social, Sam Hou Fai será substituído pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, que passa a exercer, interinamente, as funções de Chefe do Executivo. Na 14ª APN será feita a revisão do relatório de trabalho do Governo e a análise ao relatório sobre a implementação do plano anual de desenvolvimento económico e social nacional para 2024. Na agenda inclui-se ainda a análise ao projecto de desenvolvimento económico e social nacional para este ano. Será também analisado o relatório sobre a implementação dos orçamentos central e locais para 2024, bem como os projectos de orçamentos central e local para 2025.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEconomia | Viagens à China aumentam devido a diversidade e preços baixos Ir à China nunca foi tão fácil, rápido e barato. Dois residentes de Macau de nacionalidade portuguesa revelam ao HM o que os leva a atravessar a fronteira com frequência, principalmente ao fim-de-semana. Diversidade cultural, preços baixos e maior qualidade de serviço em bares e restaurantes fazem toda a diferença As pequenas e médias empresas (PME) de Macau têm enfrentado, desde a reabertura de fronteiras no período pós-pandemia, enormes dificuldades para recuperar o negócio, sobretudo as que estão mais afastadas das zonas turísticas. Numa altura em que viajar para a China se tornou extremamente fácil e barato, dois residentes explicam porque preferem deslocar-se com frequência à cidade vizinha de Zhuhai, ou mesmo a Shenzhen, e consumir lá ao invés de ficarem em Macau. Opções como jantar fora, apanhar um táxi ou beber um copo ficam bastante mais baratos, além da possibilidade de conduzir fora do território tornou essa opção mais frequente. Mas o comércio electrónico também contribuiu para a queda do consumo a nível local, asseguram. Nelson Moura, jornalista e residente de nacionalidade portuguesa, vai a Zhuhai sempre que tem um fim-de-semana livre ou feriados. Chega a ir entre três a quatro vezes por mês. “Os custos são mais reduzidos no Interior da China, e depois há o factor novidade. Nunca foi tão fácil para um residente não chinês de Macau ir à China. Antes precisava de pedir um visto, tinha um prazo reduzido e isso limitava muito as minhas idas, e escolhia sempre sítios mais longínquos, num contexto de viagem turística. Os residentes locais já podiam ir à China antes, mas a conveniência actual, com as fronteiras organizadas e desenvolvidas, sobretudo Hengqin, com a ligação ao Metro Ligeiro, permite ligações mais fáceis”, contou ao HM. Desde que a China flexibilizou a política de vistos e aumentou a oferta de circulação fronteiriça, viajar para o país deixou de ser encarado como uma grande viagem. “Como estrangeiro a residir em Macau, ir à China era um pouco como ir de viagem a outro país asiático. Na pandemia não saímos praticamente de Macau, mas agora desde que a política de vistos para portugueses foi flexibilizada, passa a ser possível ir à China sempre que quisermos”, destacou Nelson Moura. “Tenho a mesma facilidade que um residente chinês tem, e passou a ser uma opção viável ir passar os fins-de-semana e feriados à China, conhecendo sítios diferentes. A comida é um terço do preço do que é praticado em Macau, tem mais qualidade, com produtos frescos, as ofertas de acolhimento são melhores. Macau é uma óptima cidade, mas depois de três anos de pandemia sabe muito bem sair daqui sempre que queremos. É uma opção mais conveniente agora do que antes.” Nelson Moura considera ainda que “para a comunidade chinesa de Macau e Hong Kong existe uma maior conveniência de viagens”, pois “há muitos residentes a conduzir todos os fins-de-semana para a China só para irem às grandes superfícies comerciais, que permite comprar grandes quantidades de comida”. “O tráfego perto da fronteira das Portas do Cerco ou ponte HKZM está a um nível nunca antes visto. Há a opção de poder conduzir na zona de Grande Baía o que é bom para cidades pequenas e caras como são Macau e Hong Kong”, adiantou. PME, o eterno problema Do lado de Macau as associações ligadas ao sector comercial da comunidade chinesa clamam por socorro, pedindo mais medidas como o Grande Prémio do Consumo, ou mesmo cartões de consumo, ou seja, mais campanhas e iniciativas para que os residentes possam comprar mais em Macau com descontos ou apoios. Uma das últimas vozes a mostrarem preocupação sobre este cenário foi Stanley Au, presidente da Associação de PME de Macau. À TDM Canal Macau, o responsável defendeu que nas próximas Linhas de Acção Governativa o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, tem de mostrar medidas eficazes para evitar encerramentos e, consequentemente, mais desemprego. “A situação mais urgente e actual é o encerramento das empresas. Acredito que a população viu muitas lojas encerradas em diferentes bairros do território. Às vezes, na mesma rua, há mais lojas encerradas do que abertas. Além disso, o maior problema é que Macau está a enfrentar um abrandamento económico contínuo. Se não resolvermos este problema, a sociedade não melhora”, acrescentou. Porém, segundo Nelson Moura, será sempre difícil combater a atracção do consumo da grande China. “O comércio local de Macau é uma questão complicada. Nota-se uma grande redução de consumidores, sobretudo aos fins-de-semana e dias em que as pessoas têm tempo para sair da cidade.” O comércio electrónico acaba por potenciar também uma redução do consumo a nível local. “Os residentes sabem que encontram mais e mais barato lá fora. Há empresas chinesas de comércio electrónico, como o Taobao, que permitem compras de toda a China para Macau sem encargos de transporte, o que reduziu o consumo interno. As pessoas vão às lojas ver o que querem comprar para depois o fazer no Taobao. Não sei como é que se pode contornar essa tendência. É o capitalismo a funcionar”, explicou Nelson Moura. O residente chama também a atenção para o facto de agora ser mais fácil usar plataformas de pagamento online na China com cartões estrangeiros ou de bancos de Macau, nomeadamente através do MPay. Nelson Moura acredita que as PME locais só se aguentaram tanto tempo por estarem numa espécie de circuito económico fechado. “Os negócios locais viveram um pouco numa economia de ilha, e sobreviviam pelo facto de o mercado de Macau se ficar pelo território, sem as pessoas poderem sair tanto. Agora que passou a haver a concorrência com o que a China tem para oferecer, as empresas sofrem porque não oferecem, muitas vezes, o serviço com tanta qualidade e a um preço tão atractivo. Sei que a situação em Hong Kong é semelhante.” “Curtir” na China O macaense Miguel Rosa Duque sempre trabalhou em Macau e passou no território grande parte dos dias da semana, mas desde que começou a dar aulas em Zhuhai a sua vida passou a fazer-se mais do outro lado da fronteira. Destaca as saídas nocturnas bem mais baratas, bem como a oferta de restauração. “Macau não tem variedade e as pessoas fartam-se pelo facto de o território ser pequeno. Temos hotéis e restaurantes, mas são caros porque as rendas são caras. Face à China, em termos de preços, a diferença é como entre o céu e a terra. Dou um exemplo: para apanhar um táxi das Portas do Cerco para a universidade onde dou aulas são 40 minutos de viagem, 28 quilómetros, e pago cerca de 60 a 80 renminbis. É baratíssimo. Em Macau, das Portas do Cerco até Coloane pagamos 150 patacas ou mais, a diferença de preços é enorme.” Miguel Rosa Duque conta que as idas à China no seu círculo de amigos se tornaram tão frequentes que até criaram um grupo na rede social WhatsApp para facilitar passeios em grupo. “Prefiro mil vezes ir para a China só para me divertir. Tenho muita variedade de bares e discotecas e em Macau está tudo morto. Uma massagem para duas pessoas custa 600 renminbis, em Macau custa o dobro. Não falo de massagens em hotéis sequer. O serviço ao cliente é muito melhor na China, com mais atenção aos clientes, mais atenciosos, além de que é tudo mais barato. Se gastarmos 1000 patacas numa noite em Macau, na China gastamos 400 renminbis e somos tratados como reis. A variedade é infinita em termos de restaurantes. Macau não dá para competir”, contou. Miguel Rosa Duque conta que tem amigos que, mesmo com carro em Macau, acabaram por adquirir outra viatura com matrícula chinesa que deixam estacionada no parque de estacionamento junto à fronteira, por ser mais barato alugar um lugar para estacionar. O macaense entende que entre as PME locais e o comércio na China “não há competição possível”, sobretudo com as plataformas de venda online. “As pessoas já não vão às lojas aqui, há mil escolhas e dá para comprar a partir de casa. A minha namorada raramente vai ao supermercado, faz tudo online, por exemplo”, acrescentou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEnsino | Universidades chinesas sobem em ranking por disciplinas As universidades chinesas subiram no “World University Rankings by Subject 2025” em várias áreas, apesar de em artes e humanidades a Ásia continuar aquém de outros continentes. Em 11 disciplinas analisadas, como Direito, Gestão e Economia, a China e Singapura constam nas 50 melhores, enquanto Hong Kong destaca-se em Estudos de Educação O mais recente ranking mundial do ensino superior por áreas do saber da Times Higher Education, o “World University Rankings by Subject 2025”, conclui que as universidades do Interior da China têm subido para posições de topo, embora a Ásia continue a posicionar-se uns lugares aquém nas áreas das artes e humanidades. Foram analisadas, no total, 11 áreas académicas. “Artes e Humanidades”, “Negócios e Economia”, “Ciências da Computação”, “Estudos de Educação”, “Engenharia”, “Direito”, “Ciências da Vida”, “Medicina e Saúde”, “Ciências Físicas”, “Psicologia” e “Ciências Sociais”. Conclui-se, segundo uma nota oficial do Times Higher Education (THE), que “China e Singapura aparecem entre as 50 melhores em todas as 11 disciplinas”, com destaque para a Universidade de Pequim e Universidade de Tsinghua a subirem, respectivamente, para o quarto e sexo lugares nas disciplinas relacionadas com “Negócios e Economia”. Aliás, “o melhor desempenho da Ásia regista-se nas áreas de gestão e economia”, com “as suas principais universidades a continuar a ter dificuldades em competir a nível mundial no domínio das artes e humanidades”. “As preocupações com a ‘crise’ nas humanidades parecem estar destinadas a continuar este ano, mas a análise do THE revela a contínua importância para as instituições de elite”. Tendo em conta a análise a 11 áreas académicas, a região vizinha de Hong Kong destaca-se em nove, sobretudo na área da Educação, onde também a Universidade de Pequim e Tsinghua obteve bons resultados. “A Universidade Nacional de Singapura ocupa novamente a nona posição em Engenharia, entrando no top 10 das ciências físicas – a primeira instituição da Ásia a consegui-lo – em 10º lugar”, lê-se ainda. Citada pela mesma nota, Simon Marginson, professor na Universidade de Oxford, uma instituição que costuma liderar os rankings a nível mundial, disse que o desempenho da Ásia nesta classificação mostra “o mundo multipolar do ensino superior” existente hoje, com uma maior amplificação “da capacidade académica nacional”. “Neste contexto, ao longo do tempo, a posição relativa dos países da Anglosfera e da Europa Ocidental tem de diminuir, não porque a sua qualidade absoluta esteja a diminuir, mas porque o campo de comparação está mais preenchido com outros países a surgirem”, afirmou. O mesmo responsável apontou ainda que “os sistemas do ensino superior da Ásia Oriental e do Sudeste Asiático melhoraram nas últimas duas décadas devido ao crescimento do número de estudantes, ao aumento do financiamento público, a uma organização e gestão mais orientadas para o desempenho e a políticas de internacionalização selectivas”. Uma das áreas onde se destaca uma melhor posição das universidades asiáticas é nos Estudos de Educação, tendo mostrado “uma força notável, com três universidades no top 10, com a Universidade de Hong Kong em sexto lugar, a Universidade de Tsinghua em sétimo lugar e a Universidade de Pequim em oitavo lugar”. Além disso, o THE mostra que a Universidade Chinesa de Hong Kong fez “progressos significativos”, passando da 19ª para a 11ª posição. Por outro lado, a Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia de Taiwan (Taiwan Tech) obteve “a pontuação mais elevada em termos de qualidade da investigação”. Porém, a liderança global vai para a Universidade de Stanford, “ultrapassando a Universidade da Califórnia, Berkeley, demonstrando um desempenho excepcional tanto no ensino como no ambiente de investigação”. China sobe em Direito Olhando para a área do Direito, não existe actualmente, segundo o ranking do THE, melhor lugar para estudar do que a Universidade de Stanford, que alcançou a “excelência no ensino e no ambiente de investigação”, seguindo-se a Universidade de Harvard, com “desempenho excepcional na investigação” e, em terceiro lugar, a Universidade de Nova Iorque, “com a pontuação mais elevada em termos de ambiente de investigação”. Destaque, nesta área, para a entrada da Universidade de Pequim na 14ª posição, em parte devido à boa classificação “no ensino e no ambiente de investigação”. De frisar que, no que respeita ao Direito, foram classificadas 389 instituições de 48 países e territórios, com recurso a 18 “indicadores de desempenho rigorosos”. Na área do Direito, são analisadas especialidades como Direito Constitucional e Administrativo e o exame a estruturas e enquadramentos de governação, ou ainda Direito Internacional, onde se inclui sistemas e tratados jurídicos globais. Conhecimento capital A China também se destaca na área dos Negócios e Economia, liderada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). A Universidade de Pequim subiu para o quarto lugar, acompanhada por outras 20 universidades chinesas que melhoraram as suas posições na tabela. Nesta área foram analisadas 990 instituições de 85 países e territórios, com a atenção a focar-se na qualidade do ensino e investigação em disciplinas como liderança estratégica, negócios internacionais e desenvolvimento organizacional, bem como finanças empresariais ou econometria. No que diz respeito às ciências sociais, a China surge, de facto, mais abaixo, na lista das 20 melhores, novamente com a Universidade de Pequim em 16º e a Universidade de Tsinghua em 20º. Aqui, a liderança cabe ao MIT, passando a Universidade de Stanford para o terceiro ligar e depois a Universidade de Oxford, com “um desempenho excepcional no ensino e ambiente de investigação”. A London School of Economics and Political Science continua a ser uma instituição integrante do Top 10, ocupando agora o nono lugar. Foram analisadas 1.093 instituições de 100 países e territórios em disciplinas como Comunicação e Estudos dos Media, Política e Estudos Internacionais, incluindo Estudos de Desenvolvimento, Sociologia, Geografia e Antropologia. A China subiu também na disciplina de Ciências da Computação com a Universidade de Pequim a passar do 16º para o 12º lugar. Nesta área, lidera a Universidade de Oxford, atingindo a sua maior pontuação de sempre. MIT lidera em artes O MIT passou a estar à frente da Universidade de Stanford, assumindo o “primeiro lugar nas artes e humanidades, bem como em negócios, economia e ciências sociais”, mesmo que seja reconhecido primeiramente “pela especialização nos domínios da ciência, tecnologia, engenharia e matemática”. Segundo o ranking, é agora “o melhor local para estudar artes – com pontuações elevadas em cada um dos cinco pilares subjacentes à metodologia, em especial a qualidade da investigação e a perspectiva internacional”. Nas 11 disciplinas do ranking THE, “Stanford ficou em primeiro lugar em estudos de Educação, Direito e Psicologia, a Universidade de Harvard ficou em primeiro lugar em Engenharia e Ciências da Vida”. A única instituição local que consta no ranking do THE por disciplinas é a Universidade de Macau (UM), mas em lugares bastante mais abaixo do top 10: na área das ciências computacionais, está no grupo das 126-150 melhores do mundo, posição semelhante ocupada na área da Educação e Engenharia. Na área do Direito, por exemplo, a UM está no grupo das 176-200 melhores, enquanto nas Ciências da Vida está entre as 151-175 melhores.