Princess Mononoke 520 (I)

Na última cena do filme “Princess Mononoke” (“幽灵公主”),realizado pelo animador japonês Hayao Miyazaki, San escolhe ficar na floresta e Ashitaka decide voltar para a aldeia. Embora se amem, a moral da história é o respeito mútuo e a libertação do outro para que possa viver livremente as suas escolhas.

O final desta relação lembra-me uma série de televisão transmitida na China continental que se chamava “A História do Meu Melhor Amigo” (“流金歲月”). O protagonista é ´um bem-sucedido homem de negócios de meia-idade e a protagonista é uma estudante universitária que acabou de se formar. Um encontro casual provocou uma história de amor. Devido à diferença de idades, o herói acaba por deixar a heroína ir livremente atrás dos seus sonhos.

Mais tarde, a heroína casou-se e teve um filho. Quando o negócio do marido estava à beira de falir, o herói tomou a iniciativa de abandonar o seu próprio negócio e ofereceu-se para trabalhar com Director Executivo para o marido da sua amada e salvar a empresa. Também prometeu dar formação ao marido para que ele se tornasse um excelente patrão em três anos. No final, a heroína divorciou-se, mas o herói continuou a não querer casar-se com ela. Mais uma vez, deixou-a partir em liberdade. A heroína acabou por partir sozinha para Pequim para investir na sua carreira e a história acabou aqui.

A Princess Mononoke e a História do Meu Melhor Amigo exprimem coincidentemente dois pontos de vista sobre o amor. Em primeiro lugar, amar verdadeiramente significa ser feliz com a felicidade do outro. Quando ele está triste, nós também entristecemos, e desejamos sinceramente o melhor ao nosso amado. Em segundo lugar, o amor verdadeiro é livre. Os amantes não se sequestram nem se restringem uns aos outros em nome do amor, porque esse tipo de amor não é verdadeiro, mas uma espécie de controlo para satisfazer o amor-próprio. Esse tipo de amor acaba por aprisionar o outro numa jaula. Por conseguinte, a deixa famosa da Princess Mononoke é “Venho ver-te quando tiveres saudades minhas.”

O amor implica companheirismo mútuo, cuidado e apego. Companheirismo significa que os dois estão juntos e que se acompanham mutuamente. Cuidado significa que estamos disponíveis para o outro sempre que precisa de nós. Apego é lealdade ao amor. Companheirismo e cuidado requerem tempo e viver em comunhão é um bom alicerce. Só cuidamos e acompanhamos as pessoas que nos são queridas, não fazemos isso pelo outro. Isto é apego.

Companheirismo mútuo, cuidado e apego são elementos importantes que constituem o amor. A partir do momento em que estes elementos são estabelecidos, passam a integrar a vida dos amantes. Quando adoecemos, o outro cuida de nós incondicionalmente. Isto é cuidado. Se a doença for prolongada e o teu amor continuar a tomar conta de ti incondicionalmente, isso é companheirismo. Não te abandona quando estás doente. Isso é apego. Os amantes precisam de tempo para obter estes três elementos. Hoje podes andar e falar, não estás doente nem em sofrimento, por isso não podes compreender a importância destes três elementos.

Quando é que as pessoas ficam mais susceptíveis à doença? A resposta, claro está, é quando envelhecem, com a idade vamos contraindo vários problemas de saúde. Nos dias que correm, quantos casais ficam juntos desta forma? Só com verdadeiro companheirismo, cuidado e apego, choramos e rimos juntos e desejamos o bem um do outro. Como mencionámos no artigo da semana passada, uma das frases emblemáticas de Sean Lau Ching Wan (劉青雲) sobre o amor é: “um dia vais perceber que não queres viver um amor apaixonado, mas sim ter alguém que nunca desista nem nunca te abandone.”

Na próxima semana continuaremos a analisar as mensagens da Princess Mononoke e da História do Meu Melhor Amigo.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

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