Startups | Portugal interessado no fundo sino-lusófono de tecnologia

Uma delegação de Macau, com representantes do Governo e de startups locais, está em Portugal para reunir com líderes de empresas portuguesas e participar na Conferência SIM, que termina hoje no Porto. Durante a visita foi assinado um protocolo que firma o interesse português no novo fundo sino-lusófono de tecnologia, gerido pela empresa estatal de Zhuhai Da Heng Qin Group

 

Diversas startups de Macau estão representadas numa viagem a Portugal esta semana, e cuja comitiva integra também representantes da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento de Turismo (DSEDT) e a Associação de Empreendedorismo e Inovação Macau, China e Países de Língua Portuguesa (AEIMCP). O objectivo passa por estreitar laços com os ecossistemas de empreendedorismo de Lisboa e Porto e reforçar o interesse de Portugal no novo fundo sino-lusófono de tecnologia destinado a apoiar startups, e que será gerido pela empresa estatal de Zhuhai Da Heng Qin Group.

Neste sentido, foi assinado na segunda-feira, em Lisboa, um protocolo entre a AEIMCP e a Nascente Value, “empresa portuguesa com vasta experiência na captação de investidores” e também em “aceleração do crescimento de pequenas e médias empresas (PME) e startups em Portugal e nos países de língua portuguesa, com foco em inovação e tecnologia de ponta”, é destacado num comunicado conjunto da AEIMCP e Nascente Value enviado ao HM.

O protocolo assinado na segunda-feira firma o maior acesso português ao novo fundo sino-lusófono de tecnologia. O documento foi assinado no âmbito de uma visita do grupo de Macau à Lispolis – Pólo Tecnológico de Lisboa.

A Nascente Value passa, assim, a ser “agente exclusivo para serviços de captação de investidores em Portugal, com foco no envolvimento de investidores no fundo” sino-lusófono, cujo nome oficial é “Da Heng Qin Sino-Luso Technology and Innovation Investment LPF”. Este “promove investimentos em empresas de inovação em ciência e tecnologia de alta qualidade nos países de língua portuguesa”, explica a mesma nota.

Assim, este protocolo vai permitir que a AEIMCP, enquanto entidade conectora entre Portugal e o fundo via Macau, e a Nascente Value, “reforcem o compromisso de apoiar startups, promover o investimento transfronteiriço e criar novas oportunidades de colaboração entre Macau, Portugal e outros países de língua portuguesa”.

Citado pela mesma nota, Marco Duarte Rizzolio, da AEIMCP, disse que este novo acordo mostra como a entidade, que também organiza o concurso “929 Challenge”, se compromete a “criar pontes para o crescimento global das startups, facilitando a entrada de startups portuguesas no mercado chinês através de Macau, bem como a expansão de startups chinesas para Portugal e para a Europa”.

Por sua vez, Rui Ferreira disse que “a assinatura deste protocolo é um marco importante para conectar ecossistemas de inovação e promover sinergias entre startups de Macau e investidores portugueses”. “Estamos confiantes de que esta parceria trará resultados significativos para ambos os lados”, acrescentou.

Ao HM, Rui Ferreira explicou que a assinatura do protocolo representa o culminar de um trabalho de cerca de um ano.

“Queremos promover um modelo de acolhimento de startups e empresas de Macau que pretendam entrar na Europa através de Portugal, e também nos países de expressão portuguesa, e vice-versa, ou seja, colocar, através de Macau, empresas destes territórios, mas sempre através de Portugal, no Oriente, a fim de obterem ligações mais facilitadas com o mercado chinês.”

Visitas mil

O grupo de Macau visitou vários pontos essenciais do sector de empreendedorismo português. Além da visita à Lispolis, considerada o “momento-chave para fomentar diálogos entre startups de deep tech e potenciais investidores, consolidando a visão de Macau como um hub de inovação e empreendedorismo com alcance global”, a comitiva passou pela Fábrica de Unicórnios, em Lisboa, e ainda pela consultora PwC.

Marco Duarte Rizzolio explicou ao HM os benefícios para Macau do périplo por Portugal. “Além do interesse no fundo sino-lusófono e na sua preparação, uma vez que vai ser lançado em breve, o nosso foco tem sido também as startups. Na visita à Lispolis os representantes das startups de Macau fizeram um ‘pitch’ [tentativa de angariação de investimento], apresentaram os seus produtos e tiveram uma sessão de networking com outras startups. A ideia é que as startups de tecnologia de Macau façam uma imersão no ecossistema de empreendedorismo em Portugal.”

Segundo Marco Duarte Rizzolio, a comitiva de Macau levou apenas a Portugal as startups com uma fase de negócio mais avançada, nomeadamente a Zence Object, fundada por Calvin Sio e que obteve um financiamento de 2,5 milhões de dólares do Fundo de Empreendedores do grupo Alibaba para a zona da Grande Baía. A Zence Object usa tecnologia patenteada para transformar resíduos orgânicos, nomeadamente folhas de chá, em produtos alternativos ao plástico e ao papel. A ideia é que estes produtos reciclados e transformados possam ser usados no dia-a-dia, como utensílios para a casa ou de decoração.

“Há startups em Macau que estão muito avançadas em termos de negócio e foram essas que trouxemos a Portugal. Queremos explorar novas oportunidades de internacionalização, para que explorem outros mercados, uma vez que estas startups já têm algum desenvolvimento. Queremos criar parcerias, para que estes representantes percebam como é o mercado e explorar possíveis clientes”, adiantou o representante da AEIMCP.

Por caminhos invictos

A comitiva de Macau está hoje no Porto para participar na “SIM Conference” [Startups & Investment Matching], onde “terá um stand próprio para apresentar projectos e conectar-se com investidores e possíveis clientes”. Este evento foi organizado pela entidade Startup Portugal, que convidou a RAEM a estar presente.

Também hoje será assinado um outro protocolo, desta vez entre a associação que organiza o concurso “929 Challenge” e a Startup Portugal. A ideia é, segundo Marco Duarte Rizzolio, “estimular a conexão do ecossistema de Portugal com Macau e ajudar no processo de internacionalização das startups dos dois lados, quer as portuguesas que se destinam à Grande Baía, através de Macau, quer as startups de Macau que vão para Portugal”.

O responsável não tem dúvidas de que o que falta em conhecimento, sobra em interesse. “Há um interesse muito grande na China, mas ao mesmo tempo há um grande desconhecimento. O ecossistema de startups em Portugal está muito mais ligado à Europa. Quando falamos com a Fábrica de Unicórnios, há meses, foi-nos dito que havia um grande interesse no mercado de Macau e da China, mas que faltava mais conhecimento. Por isso estas visitas a Portugal visam reforçar conexões e parcerias, porque o interesse é muito grande. Eles [Portugal] sabem que a China está a crescer imenso na área da tecnologia e da inteligência artificial, com o lançamento da DeepSeek, por exemplo”.

Segundo Rui Ferreira, a presença da comitiva de Macau na “SIM Conference” permitirá o acesso a “contactos privilegiados e mais alargados”, por se tratar de um evento de âmbito nacional. “Com esta visita conseguimos fazer duas coisas: iniciar a relação com a AEIMCP de forma mais formal e ajudar as empresas de Macau a ter conhecimento de parceiros e investidores. Queremos ainda apostar no trabalho para o futuro fundo sino-luso, no sentido de prepararmos as empresas com potencial de investimento”, disse.

Para Rui Ferreira, o mercado de Macau tem potencial “para ser usado como plataforma de intercâmbio de empresas, graças à ligação linguística, existindo no território condições para estabelecer toda a parte de acolhimento, apoio e intercâmbio com as entidades da China e criar um ecossistema”. Além disso, “será interessante Macau tornar num hub de inovação especializado nas áreas estratégicas”, que neste caso é a tecnologia.

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