Perspectivas VozesMacau no Ano da Serpente e o Turismo de Massas Jorge Rodrigues Simão - 13 Fev 2025 (Continuação da edição de 6 de Fevereiro) A área que vai do Largo do Senado até à Rua de S. Domingos, Rua da Palha, Travessa do Bispo e Travessa da Sé devia ser minuciosamente planeada em termos turísticos e gastronómicos devendo as lojas ali situadas destinadas à culinária chinesa, macaense, portuguesa e internacional e os restantes espaços serem explorados por lojas de interesse turístico e recomendadas pelos Serviços de Turismo de Macau. Só desta forma Macau honrará a distinção de ter sido considerada Cidade Criativa na área da Gastronomia pela UNESCO e se produzirá em parte a tão almejada diversificação económica. Outros tipos de planeamento urbano à actividade turística e roteiros gastronómicos devem ser igualmente criados em outras zonas de Macau, Taipa e Coloane. O turismo de massas altera a paisagem social de qualquer destino. Em Macau, o afluxo de milhões de turistas todos os anos transformou os costumes e tradições locais. A população local, que é significativamente mais pequena do que o número anual de turistas, vê as suas práticas culturais e estilo de vida ofuscados pela crescente comercialização da região. O equilíbrio entre a preservação da identidade cultural e a satisfação do turismo de massas é complexo. O anterior Chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, defendia iniciativas que promovessem o turismo cultural, com o objectivo de mostrar o rico património de Macau a par das suas atracções modernas. Estes esforços incluem projectos de conservação do património e promoção do artesanato local, permitindo aos residentes interagir com os turistas de forma autêntica e respeitosa. Por outro lado, o sentimento local pode ser um desafio, uma vez que alguns residentes expressam frustração com a presença esmagadora de turistas. A crescente população de turistas cria aglomeração nos espaços e instalações públicas, levando à insatisfação dos habitantes locais. A resolução destas tensões é essencial para manter uma coexistência harmoniosa entre residentes e visitantes. O impacto ambiental do turismo de massas é outro aspecto crítico que merece ser discutido. A rápida urbanização de Macau conduziu a alterações ecológicas notáveis. A construção de resorts e casinos resultou na perda de habitats e no aumento da poluição. O aumento do número de turistas diários contribui para a produção de resíduos (onde os ratos vão proliferando e invadindo também as lojas no Centro Histórico incluindo as que servem alimentos) e para a utilização excessiva dos recursos locais, o que suscita preocupações de sustentabilidade. Os esforços recentes iniciados pelo governo de Macau centram-se na atenuação destes efeitos negativos através de regulamentos ambientais e iniciativas ecológicas. Com o objectivo de promover práticas de turismo sustentável, as propostas incluem o incentivo à utilização de transportes públicos (insuficientes e onde os utentes são encaixotados por empregados das concessionárias na Praça Ferreira do Amaral e motoristas como se de gado se tratasse aos gritos e onde as malas de grande porte dos turistas ocupam o lugar dos utentes e os ferem por vezes sem que ninguém proíba tal prática) e a promoção de iniciativas de construção ecológica para novos empreendimentos. Estas políticas reflectem uma consciência crescente da necessidade de preservar o ambiente de Macau a par das suas ambições económicas. Várias personalidades influentes moldaram a paisagem turística de Macau. Entre elas encontra-se o saudoso Dr. Stanley Ho, uma das figuras mais proeminentes da indústria dos casinos e um dos principais arquitectos da transformação de Macau num centro global de jogo. A sua visão e investimentos tiveram um impacto duradouro na região, levando à construção de vários marcos que são agora sinónimos do turismo de Macau. Além disso, os líderes dos sectores público e privado são cruciais na promoção de práticas de turismo responsável que os residentes exigem. Os profissionais da hotelaria e gestão do turismo devem defender estratégias sustentáveis para equilibrar o crescimento económico e a conservação do ambiente. Os seus esforços devem contribuir para as discussões em curso sobre a manutenção de um modelo de turismo viável face às mudanças na dinâmica do mercado. As perspectivas sobre o turismo de massas em Macau variam muito entre as partes interessadas. Os funcionários do governo enfatizam frequentemente os benefícios económicos, vendo o turismo como um motor vital para o crescimento. Promovem políticas que atraem investimentos e operadores turísticos, argumentando que estas medidas criam oportunidades de emprego e melhoram as infra-estruturas. Por outro lado, os residentes locais podem ter uma percepção mais crítica do turismo. Salientam os efeitos negativos na sua qualidade de vida, incluindo a diluição cultural e o aumento do custo de vida. As suas vozes ilustram a necessidade de uma abordagem mais inclusiva do desenvolvimento do turismo que dê prioridade à participação e ao feedback da comunidade. Do ponto de vista empresarial, os operadores do sector do turismo são apanhados entre as necessidades dos turistas e as preocupações da comunidade local. Embora se esforcem por atrair visitantes, têm também de considerar a sustentabilidade a longo prazo das suas operações. Se o sentimento local continuar a azedar, isso pode acabar por pôr em risco os seus negócios. Olhando para o futuro, Macau enfrenta vários desafios de desenvolvimento. A pandemia da COVID-19 teve um impacto dramático no turismo global, incluindo em Macau, onde o número de visitantes caiu significativamente desde o início de 2020. As estratégias de recuperação devem agora alinhar-se com os objectivos de desenvolvimento sustentável. O governo está a explorar a diversificação para além do jogo e do turismo de massas, promovendo o turismo cultural, os eventos desportivos e as atracções familiares como vias alternativas. Com a retoma das viagens, Macau tem a oportunidade de reconceptualizar o seu modelo de turismo. A adopção de iniciativas de ecoturismo e culturais pode ajudar a atrair um maior número de visitantes. Estratégias de marketing inovadoras que realcem o património cultural único e a beleza natural de Macau podem aumentar a sua atracção e, ao mesmo tempo, atenuar os aspectos negativos do turismo de massas. A colaboração sectorial entre os organismos governamentais, as comunidades locais e o sector privado será crucial para moldar uma paisagem turística futura que beneficie todas as partes interessadas. O envolvimento das populações locais no planeamento do turismo e na tomada de decisões pode criar um sentido de propriedade partilhado, conduzindo, em última análise, a um quadro turístico sustentável e inclusivo. A relação entre a evolução cultural de Macau e o fenómeno do turismo de massas revela uma dinâmica multifacetada e complexa. O ano da Serpente serve de reflexo ao crescimento e transformação neste contexto. Embora o turismo de massas tenha gerado benefícios económicos significativos, também apresenta desafios relacionados com as consequências sociais, ambientais e culturais. Para garantir uma abordagem equilibrada, as partes interessadas devem trabalhar em colaboração para navegar nos meandros do desenvolvimento do turismo, assegurando que Macau mantém a sua identidade única, ao mesmo tempo que beneficia economicamente. À medida que a paisagem turística evolui, a adopção de práticas sustentáveis e a promoção do envolvimento da comunidade serão fundamentais para preservar a essência de Macau para as gerações futuras.