Tóquio | Funeral de Estado de Shinzo Abe marcado por protestos

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O líder japonês assassinado em Julho, Shinzo Abe, foi sepultado ontem num funeral de Estado com honras militares, numa cerimónia acompanhada por apoiantes mas contestada pela oposição que se manifestou nas ruas de Tóquio.

Na cerimónia oficial esteve presente a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, o príncipe Akishino do Japão e outros dignitários japoneses e estrangeiros. O funeral começou com a viúva, Akie Abe, vestida com um quimono tradicional negro junto à urna de madeira com as cinzas do ex-primeiro-ministro decorada com fitas douradas e púrpuras.

Os soldados, com uniforme de gala branco, transportaram depois as cinzas para um pedestal decorado com a banda militar a tocar o hino nacional (Kimigayo) antes de ser observado um minuto de silêncio.

Foi exibido um filme com imagens que retratam Abe como político, incluindo um famoso discurso parlamentar de 2006, como primeiro-ministro, as visitas que efectuou às zonas afectadas pelo tsunami de 2011 e outros momentos políticos e sociais, como a promoção dos Jogos Olímpicos de Tóquio/2020.

Ontem, a cidade de Tóquio manteve-se sob fortes medidas de segurança durante a cerimónia oficial sobretudo na zona onde decorreu o funeral de Estado perto do centro de artes marcial Budokan.

Contrastando com a cerimónia de Estado, foram organizadas manifestações de protesto no centro de Tóquio, que tentaram alcançar a zona onde decorria o funeral com cartazes que demonstravam oposição. “Shinzo Abe não fez absolutamente nada”, disse à Associated Press (AP), Kaoru Mano, um manifestante presente no protesto.

Os principais partidos da oposição boicotaram as cerimónias fúnebres oficiais, criticando os organizadores por estarem a promover “o nacionalismo” e os valores “imperialistas” de antes da Segunda Guerra Mundial.

O facto de o funeral de Estado ter sido decidido e organizado sem que o assunto tivesse sido debatido no Parlamento reforçou as críticas da oposição.

Dinheiro sujo

O primeiro-ministro Kishida foi igualmente criticado em virtude da controvérsia que se prolonga há várias décadas sobre as ligações estreitas entre Abe e o Partido Liberal e Democrata com a Igreja da Unificação, instituição acusada de controlar dirigentes políticos através de “donativos”.

O homem que foi acusado de ter assassinado Abe afirmou que levou a cabo o assassinato por causa das ligações de Abe com a Igreja da Unificação.

O autor do crime culpou a igreja de ter “roubado” dinheiro à própria mãe e de lhe “ter corrompido a família”, arruinando-lhe a vida. “As eventuais ligações entre o Partido Liberal e Democrata e a Igreja da Unificação são encaradas pelos japoneses como a maior ameaça à democracia”, escreveu recentemente Jiro Yamaguchi, professor de Política na Universidade Hosei citado pela AP.

O avô de Abe, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, ajudou a Igreja da Unificação, original da Coreia do Sul, a implantar-se no Japão. Para a oposição, o funeral que decorreu ontem prova a relação entre o partido no poder e a igreja.

“O grande problema foi não ter havido um processo de aprovação” (do funeral), disse Shin Watanabe, reformado que se manifestou ontem em Tóquio em protesto contra o funeral de Estado.

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