ANIMA | Zoe Tang eleita presidente da associação para os próximos dois anos

Tiago Alcântara
Billy Chan está de saída do cargo de presidente não executivo da ANIMA após dois anos de mandato marcados por alguns conflitos internos. Sem conseguir reunir consensos, Billy Chan passou a testemunho a Zoe Tang, que fala da “pior situação” financeira de sempre da ANIMA devido à situação pandémica

 

“A ANIMA é a minha segunda casa”. É desta forma que Zoe Tang fala ao HM do novo compromisso que estabeleceu com a associação de defesa dos direitos dos animais que conseguiu manter o seu legado desde a saída de Albano Martins, hoje presidente honorário.

As eleições para os novos órgãos dirigentes da ANIMA decorreram no passado domingo e resultaram na eleição de Zoe Tang como presidente não executiva, assinalando a saída de Billy Chan do cargo.

“Trabalho na ANIMA há mais de dez anos e espero continuar a dinamizar o objectivo da criação da ANIMA, para que continuemos a providenciar serviços para os animais de rua com a mesma filosofia [do início do projecto]. Não apenas eu, mas os candidatos da lista que estão na minha equipa, sendo que alguns colegas trabalham também na ANIMA há muitos anos”, apontou.

Para já, a missão da lista eleita é desenvolver “campanhas específicas e actividades sociais ou culturais, com o compromisso de providenciar tratamentos adequados que preservem a dignidade dos animais abandonados”. Para os cães e gatos abandonados, a ANIMA quer continuar a disponibilizar serviços de veterinário.

Zoe Tang diz-se disposta a continuar o trabalho de muitos anos apesar dos desafios que a esperam. “Nas eleições de 2020/2021, assumi a posição de CEO e vice-presidente, o que não é um trabalho fácil. Por vezes, trabalhei mais de 20 horas diárias a tratar de assuntos relacionados com a ANIMA. Mas, felizmente, esse trabalho sempre teve o apoio da minha equipa”, assumiu.

A associação depara-se com severas dificuldades financeiras, à semelhança de outras associações de defesa dos direitos dos animais. Encontrar dinheiro para as actividades diárias continua a ser um dos grandes desafios.

“O apoio da nossa sociedade e o financiamento das operações, sobretudo para pagar comida para os animais, despesas médicas e manutenção do canil e gatil são os nossos grandes desafios. Com o desenvolvimento da pandemia, não apenas nós, mas todos os negócios enfrentam as mesmas difíceis questões.”

O financiamento dos casinos, grande apoio para muitas actividades de cariz social, também diminuiu. “As doações baixaram de 400 ou 300 mil patacas para apenas 80 mil patacas por casino e no ano passado nem todos os casinos fizeram donativos. Felizmente, recebemos 70 por cento das cinco milhões de patacas, ou seja, 3.5 milhões, da Fundação Macau (FM), há duas semanas, o que vai permitir pagar as nossas dívidas de Janeiro que são, aproximadamente, de 1.6 milhões de patacas. São despesas relacionadas com veterinários, salários de dois meses dos funcionários e fornecimento de comida para os animais.”

A ocorrência de um novo surto veio piorar a situação, já de si débil. “Os subsídios da FM de cinco milhões de patacas não são suficientes para a ANIMA se manter este ano. O nosso orçamento para 2022 é de cerca de 8.8 milhões de patacas. A nossa situação financeira nunca foi tão má, e estes três anos têm sido difíceis para todos nós porque não paramos de trabalhar para salvar animais.”

Zoe Tang recorda que, no início deste ano, chegou a ser anunciado que a ANIMA ia deixar de resgatar animais abandonados na rua devido a dificuldades financeiras, mas um mês depois retomaram o trabalho habitual. “Não temos escolha”, confessa.

Terreno à espera

Questionada sobre a concessão do terreno que a ANIMA ocupa na zona do Pac On, um dossier que se arrasta há muito tempo, a presidente não-executiva revela outra situação de difícil resolução. “Estamos à espera da concessão definitiva, mas temos uma área com cães que deve ser destruída antes que o processo avance. Temos nesse local cerca de 33 cães e, se não encontrarmos um sítio para a sua deslocação, ou se não pudermos pagar por um terceiro abrigo, o processo não irá para a frente. O Governo sabe disso”, frisou Zoe Tang.

Para os próximos meses, a ANIMA vai continuar a apostar nos mesmos mecanismos de recolha de fundos, de sócios ou adoptantes. A pandemia originou o cancelamento de muitas actividades.

“Acredito que a ANIMA vai ficar numa melhor situação depois da pandemia, mas agora enfrentamos uma situação muito séria. Apelamos a todas as pessoas que nos ajudem com os custos operacionais”, rematou.

A aposta de Zoe Tang à frente da associação passa, acima de tudo, por mais acções educativas de consciencialização sobre os direitos dos animais. Além disso, é esperada “uma solução que possa reduzir o número de cães e gatos abatidos pelo Canil Municipal”, tendo em conta que a ANIMA sempre trabalhou de perto com o Instituto para os Assuntos Municipais.

“Temos feito vistorias às casas dos candidatos que querem adoptar um animal do Canil Municipal, para garantir que a casa é segura o suficiente para receber um novo animal e para aconselhar o adoptante nos cuidados a ter. A adopção suave é uma das muitas soluções para as quais a ANIMA tem ajudado.”

Actualmente, a associação tem à sua guarda cerca de 400 cães e 300 gatos. “Estes números vão manter-se inalterados por muito tempo, pois a seguir a uma adopção há outro animal que precisa ser resgatado. Temos ainda mais de 500 cães e gatos abrangidos pelo Programa Especial de Protecção Animal. São animais que vivem fora do nosso abrigo, na rua ou em estaleiros, mas que estão sob responsabilidade de voluntários.” Mesmo recebendo comida e tratamentos, cabe à ANIMA financiar estes cuidados.

“Reformas eram necessárias”, diz Billy Chan

Ao fim de um mandato de dois anos, Billy Chan está de saída do cargo de presidente não executivo da ANIMA, sendo substituído por Zoe Tang, que até então liderava a comissão executiva da associação de defesa dos direitos dos animais. Ao HM, Billy Chan fala em alguns problemas internos. “Houve muitos acontecimentos e tempos desafiantes na ANIMA nos últimos dois anos. As reformas eram necessárias para manter a continuação do trabalho e permitir o desenvolvimento sustentável da associação.”

Além disso, “ocorreram conflitos entre membros da equipa”. “Diria que não fui bem-sucedido a convencer os membros da direcção mais seniores, incluindo Albano [Martins], destas mudanças. Disponibilizei-me como voluntário para a direcção, incluindo outros voluntários, mas não consegui um consenso. Não fui tido em conta para este novo mandato”, adiantou.

Ao HM, Albano Martins confirma a existência de problemas internos. “Propus Zoe Tang como presidente. O mandato terminou no final de 2021 e as coisas foram-se arrastando até às novas eleições. O Billy sairia porque era vice-presidente há muitos anos, mas fez questão de ser presidente. Poucas reuniões de direcção foram realizadas, havia uma comissão executiva para as decisões não serem bloqueadas.”

“Esperava que o Billy apresentasse uma lista de consenso, mas pelos vistos ele nem contactou os colegas. Nos últimos meses senti que havia uma espécie de atrito, porque o Billy Chan, que é não executivo, queria começar a interferir na vida da comissão executiva. É ainda meu dever fomentar o aparecimento de uma lista, mas as pessoas não queriam trabalhar com ele. Duas trabalhadoras que eram membros da comissão executiva pediram a demissão em Junho, porque as interferências dele levantaram muitos problemas e as pessoas não se sentiam confortáveis”, acrescentou.

FM dá 5 milhões

Mesmo que a Fundação Macau (FM) tenha atribuído um subsídio para este ano no valor de cinco milhões de patacas, a vida financeira da ANIMA continua a não ser fácil. “A tranche do ano passado, de 500 mil patacas, só foi entregue em Maio [deste ano], ou seja, muito tarde. A ANIMA foi acumulando muitas dívidas e as pessoas sentem muito stress. Uma lista única é importante, mas o Billy não fez contactos. Ele não está a par das questões da ANIMA, que são muito complexas.”

Sobre a continuação do trabalho com Zoe Tang, Albano Martins fala de uma “boa solução”, mas lamenta que “no final dos últimos meses [do mandato] houvesse tentativas de controlo da parte executiva por uma pessoa que não era da área executiva”.

A associação tem agora na direcção membros que são trabalhadores da ANIMA, o que permite garantir a fiscalização do trabalho feito pela restante equipa.

Questionado sobre a situação da ANIMA com o panorama de surto pandémico, Albano Martins mostra-se apreensivo. “A situação vai piorar. Se houver trabalhadores infectados, quem vai tomar conta dos animais? Pela política de zero casos do Governo, as pessoas são enviadas para casa. É o Instituto para os Assuntos Municipais que vai fazer esse trabalho? É preciso bom senso em tudo isto”, rematou.

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