Emergência climática

O “Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas” (IPCC sigla em inglês), organismo das Nações Unidas, publicou recentemente um relatório onde se afirma que o mundo actual enfrenta efeitos adversos provocados pelo aquecimento global. O gelo do oceano Ártico está a derreter e o nível das águas está a subir, desencadeando alterações climáticas muito acentuadas. A Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau já tinha alertado para a possibilidade de mudanças climáticas radicais em 2021, esperando que os residentes se pudessem preparar com a devida antecedência. As chuvas intensas e as inundações na China, na Índia e na Indonésia verificadas nos últimos dias, bem como as temperaturas anormalmente elevadas e os fogos ocorridos na Europa e nos Estados demonstram que se a humanidade não enfrentar com seriedade a emergência climática, investigando a fundo as causas que a provocam, o planeta pode vir a enfrentar uma calamidade.

No entanto, as alterações políticas radicais são tão destrutivas quanto as alterações climáticas.
Nos últimos dias, pudemos assistir nos noticiários às mudanças radicais em curso no Afeganistão. Milhares de pessoas desesperadas precipitaram-se para o Aeroporto de Cabul, logo após os talibãs terem assumido o controlo do país. Imagens de vídeo mostraram várias pessoas a correr na pista de deslocagem e a treparem para entrar num avião da Força Aérea dos Estados Unidos. Alguns caíram quando o avião levantou voo e morreram. Qualquer pessoa com um mínimo de empatia com o próximo não quer assistir a desgraças como esta. A pergunta que agora se impõe, é se alguém vai pôr termo a esta situação? Será que algum dia se tentaram evitar as situações dramáticas que recorrentemente se registaram ao longo da História?

O número de pessoas que morre no mundo devido a conflitos políticos não é seguramente inferior ao número das que morrem devido às alterações climáticas e à covid-19.

Proteger o ambiente e promover a ecologia são medidas cruciais para combater as alterações climáticas extremas. Da mesma forma, é necessário manter a paz e a estabilidade nas sociedades e assegurar uma política ecológica equilibrada a todos os níveis.

No início de Junho, Hong Kong e Macau sofreram anomalias climáticas e políticas. Em termos climáticos, embora não tenhamos assistido à passagem de nenhum super tufão, ambas as regiões emitiram sinal de chuva intensa preto em diversas ocasiões, tendo acontecido as inevitáveis inundações. O surto de covid-19 verificado em Macau desencadeou mais um golpe na já fragilizada economia da cidade. Todos os residentes vivenciaram uma experiência inesquecível: a testagem universal ao ácido nucleico. Por outro lado, o excelente desempenho dos atletas de Hong Kong nas Olimpíadas de Tóquio não fez esquecer o impacto provocado pelas alterações legislativas. Mais de 90.000 residentes de Hong Kong emigraram, o que não é um bom indicador sobre a satisfação da população. Com a implementação do novo sistema eleitoral de Hong Kong e o episódio da desclassificação de candidatos à Assembleia Legislativa de Macau, é inevitável que a afluência às urnas, quer em Hong Kong quer em Macau, seja menor do que nas eleições anteriores.

Para criar uma atmosfera de harmonia social, não podemos banir, mas sim dialogar e comunicar. Nem todos os residentes de Hong Kong concordam com os pontos de vista e com as acções do jornal Apple Daily, do Sindicato dos Professores de Hong Kong, nem com a Frente dos Direitos Civis, mas estas instituições e organizações desapareceram num curto espaço de tempo devido à “Lei da República Popular da China de Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong Kong”. A súbita supressão destas instituições resultou de medidas um pouco excessivas, e também algo prejudiciais para a reconciliação social. Com a entrada no séc. XXI, os frutos nascidos dos esforços pelas reformas e pela abertura que a China fez nos últimos 50 anos não devem ser destruídos pelos métodos que foram empregues nas sessões de luta durante a Revolução Cultural.

Sinto falto do caracter chinês “和” (paz/harmonia) que aparecia nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008. Só quando as pessoas agem de uma forma “平和” (moderada) , “和平” (a paz) emerge em condições climáticas adversas.

Será que o caracter “和” (paz/harmonia) também irá aparecer nos próximos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim? Ou será afectado por condições climáticas muito severas? Não sou profeta, mas sim uma pessoa que anseia pela paz e que está determinada a trabalhar arduamente para a alcançar.

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