Euro 2020 | Inglaterra recebe Dinamarca na 2.ª meia-final

Com o Euro perto do fim, muitos não acreditavam que dinamarqueses e ingleses pudessem chegar tão longe. Os nórdicos só garantiram o apuramento no último jogo da fase de grupos. Os Três Leões, mesmo com a vitória frente aos alemães, não se mostraram tão perigosos quanto os outros gigantes europeus. Ambas as equipas têm pela frente uma oportunidade única para colocar fim ao rótulo de não favoritos e voltarem ao sucesso de outrora

 

Por Martim Silva

Não há como sentir saudade se não houver distância e Dinamarca e Inglaterra não se encontravam, em Mundiais ou Euros, desde 2002 quando disputaram os oitavos de final do Mundial desse ano. Os ingleses levaram a melhor, tendo vencido os nórdicos por uma margem de 3-0. Desde então defrontaram-se, em competições oficiais, apenas duas vezes e para a Liga das Nações. Um empate a zeros e uma vitória dinamarquesa por 1-0, poderia levar a equipa de Kasper Hjulmand a colocar-se na posição de favorito, visto que os dois encontros realizaram-se no final de 2020.

Mas com a goleada da equipa de Gareth Southgate frente à Ucrânia, para os quartos de final do Euro, por 4-0 e o 4.º lugar no ranking FIFA das selecções, os ingleses são claros favoritos no embate das meias finais.

Para os vermelhos e brancos, há muito fardo emocional do seu lado. A queda de Christian Eriksen, à frente do povo dinamarquês, podia ter feito da equipa de Hjulmand um mero participante que no fim da fase de grupos ia, simplesmente, para casa. A Dinamarca quer repetir o feito de 1992, quando conquistou o Euro, e não deixar que o colapso de Eriksen seja uma nuvem negra a pairar sobre a cabeça dos jogadores. O espírito e a resiliência que os nórdicos demonstraram depois do acontecimento foi a base do sucesso que se vê hoje. “Eu acredito no carácter da minha equipa e no amor e compaixão que temos recebido dos nossos adeptos, algo que nos dá asas. Estamos a jogar com o coração do Eriksen. Acreditamos fortemente em nós e iremos lutar.”, referiu o seleccionador dinamarquês que também rejeitou comparações à equipa de 1992. “Não quero falar mais de 1992. Eram tempos diferentes, o Euro era diferente e o futebol era diferente. Nós queremos escrever a nossa própria história.”.

Do outro lado, os ingleses estão bem cientes do perigo dinamarquês. Os pupilos de Southgate também fizeram grande parte dos jogos do Euro em terreno caseiro e sentem a pressão do país nos ombros. Inglaterra não levanta um troféu desde o Mundial de 1966 e muitos acreditam que este possa ser, finalmente, o ano da glória inglesa. Mas de acordo com o seu treinador, os cuidados terão de ser redobrados porque do lado nórdico não há só qualidade futebolística. “Eles estão nas costas de uma onda de emoção, com toda a certeza, e essa é uma força poderosa que vem a Wembley. Essas coisas têm um impacto no nosso pensamento. Mas eu sei que os nossos jogadores estão no seu melhor quando estão calmos a jogar outro jogo e a pensar de forma clara.”, referiu Gareth Southgate.

Chave do sucesso

No seguimento de ambos os jogos dos quartos de final, Dinamarca e Inglaterra tiveram desempenhos vitoriosos. Os nórdicos passaram por algumas dificuldades frente aos checos, especialmente nos momentos finais, e os ingleses tiveram um triunfo confortável. Ambas as equipas têm jogadores capazes de desbloquear a partida, mas as tropas de Southgate têm sido um autêntico monstro a defender. Inglaterra é a única equipa da prova que ainda não sofreu qualquer golo. A baliza do guardião Jordan Pickford tem estado fechada a sete chaves.

Não obstante, o ataque dinamarquês não tem tido escassez de golo. O avançado Kasper Dolberg, que desde que assumiu a titularidade tem marcado sempre, e o lateral Joakim Mæhle formam uma dupla jovem e perigosa e com pontaria afinada. Há ainda o atacante Yussuf Poulsen e o médio criativo Mikkel Damsgaard a formar um ataque capaz de marcar a qualquer equipa.

Do lado inglês, Harry Kane tem, finalmente, encontrado o fundo das redes adversárias e mostra ser um verdadeiro líder dentro de campo. Raheem Sterling e Jadon Sancho mostraram todo o seu talento frente à Ucrânia. O lateral Luke Shaw também tem estado à altura dos seus companheiros, tendo feito duas assistências no último jogo.
O embate entre ambos está marcado para a madrugada de 7 para 8 de Julho às 3h de Macau. Será jogado no estádio de Wembley, palco que receberá também a final da competição.

Bandeira gay confiscada em Baku

Após sucessivas polémicas, por causa da UEFA e do governo da Hungria, em torno da bandeira que representa a comunidade LGBT, em pleno jogo entre Dinamarca e República Checa em Baku, no Azerbaijão, dois adeptos dinamarqueses trouxeram para o estádio a bandeira em questão, mas esta foi removida por oficiais da UEFA.
Kristoffer Føns, um dos sujeitos que mostrou a bandeira, falou ao canal público da Dinamarca, o DR, sobre o sucedido. “Um guarda oficial veio ter comigo e tirou a bandeira das minhas mãos. Antes de ir para Baku sabia que íamos para um sítio onde os direitos humanos não são importantes. Tinha tido algum cepticismo acerca do Mundial (2022) ser jogado no Catar e pensei que seria um hipócrita se nada fizesse.”.

Após o encontro, e de acordo com a claque de adeptos da Dinamarca, a bandeira regressou à posse de Føns mas a UEFA, em comunicado, negou qualquer tipo de envolvimento na situação. “Nunca instruímos os stewards em Baku, ou em qualquer outro estádio, para confiscarem bandeiras de arco-íris. Assim que a UEFA soube do incidente, contactámos o nosso delegado e o nosso segurança no estádio para investigarem e clarificarem o assunto junto dos stewards locais.”, esclareceu o organismo que tutela o futebol europeu.

Thomas Delaney divulgou daltonismo em 2018

A Dinamarca tem surpreendido tudo e todos dentro e fora de campo neste Euro 2020. É especialmente fora das quatro linhas que os dinamarqueses têm encontrado exemplos de superação e onde tem residido o sucesso da caminhada europeia. Depois do jogo contra a República Checa, que apurou os nórdicos para as meias finais da competição, Thomas Delaney marcou um golo e foi eleito Homem do Jogo. Apesar da sua qualidade dentro de campo, o médio do Borussia Dortmund defende também outras cores, a dos daltónicos.

Em 2018, e segundo uma reportagem da BBC focada no daltonismo dos jogadores do Mundial desse ano, o nome de Delaney foi o mais sonante. No dia que a Dinamarca viajava para a Rússia para entrar em estágio, o médio dinamarquês telefonou para a estação de rádio dinamarquesa DR P3 para mostrar o seu apoio perante um jovem daltónico que, momentos antes, tinha dito à mesma estação de rádio não ter conseguido distinguir as cores das equipas no jogo amigável entre Dinamarca e México.

Depois de se identificar no início da chamada como Thomas e jogador da Dinamarca, Delaney explicou a sua situação. “Eu sou vermelho-verde. Eu diria que não é tão mau, mas acontece. No outro dia, dentro do campo, foi um pouco difícil ver quem estava na minha equipa e quem estava na outra.”, confessou o médio

No mesmo artigo, Kathyrn Albany-Ward, fundadora do grupo Colour Blind Awareness, enalteceu o exemplo do médio. “Ele é o primeiro jogador ao mais alto nível, ainda a jogar, que admitiu ser daltónico. Acho que ele não se apercebeu das implicações positivas daquilo que fez.”. A Dinamarca continua a ser motivo de inspiração para muitos.

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