V Centenário da morte de Fernão de Magalhães

Descobrira o Estreito para passar do Atlântico ao Pacífico e a 26 de Novembro de 1520, já nesse oceano com três naus iniciou a travessia, crendo ser a sua imensidão dois terços menor e daí, a fome e escorbuto a dizimar a tripulação. Em 16 de Março de 1521 avistou o Arquipélago Poente, chamando-o de São Lázaro devido à rápida convalescença dos homens, de novo com acesso a boa água doce, vegetais frescos e fruta, trocadas por bugigangas à passagem por as inúmeras ilhas. Quando aportou em Mazaguá (Massava) a 28 de Março, o intérprete Henrique no seu malaio compreendeu a fala local e estabeleceu entendimento e como prova de amizade, à delegação foi oferecido um lauto banquete. Quebravam assim o forçado jejum de Quaresma, apesar de ser Sexta-feira Santa. Ao inteirarem-se estar próximo do destino, a saúde da tripulação ressuscitou, tal como o ânimo de Fernão de Magalhães ao entender encontrar-se a Norte das Molucas.

No Domingo de Páscoa saía da nau pela primeira vez o capitão-mor para assistir à missa realizada na praia, onde se colocou o altar. Em cortejo triunfal, à frente com pompa iam os porta-bandeiras em trajes cerimoniais, seguindo o imponente Fernão de Magalhães envergando uma reluzente armadura. Realizadas as celebrações, imitando os indígenas os gestos, logo ali todos se converteram. Tamanha adesão entusiasmou-o a procurar novos fiéis e territórios para a coroa espanhola e daí chegar à ilha de Cebu, maior e de mais importância, a 7 de Abril. Para aportarem foi exigido o pagamento da taxa, mas um mercador muçulmano ali a negociar, conhecendo a fama guerreira dos europeus, desaconselhou o Rei Humabon a afrontá-los, pois sofreria terríveis consequências. Dez dias depois, numa grandiosa cerimónia converteu-se o rei e o povo. Embriagado com os sucessos e para provar a sua invencibilidade, Magalhães assumiu o comando de uma acção a obrigar o vizinho regedor de Mactán Lapulapu a pagar tributo ao Rei de Cebu, já súbdito de Carlos V. Prescindindo de ajudas, com apenas sessenta homens em três batéis atravessou o pequeno estreito e foi atacar os milhares de nativos que na praia os esperavam com dardos e lanças de bambu.

Estava maré baixa e uma barreira de pedras impossibilitou a aproximação dos botes à costa, ficando sem distância suficiente para a varrer à chegada com tiros de arcabuz e bestas. Assim desembarcaram para a água quarenta e nove soldados com pesadas armaduras e no penoso caminhar para terra logo sobre eles caiu uma multidão com pedras, setas e lanças, irada ao ver as suas cabanas incendiar. Rodeados e com dificuldades de manobra, apesar de matarem alguns com lança e à espada, muitos iam conseguindo feri-los pelos pontos vulneráveis das armaduras. Vendo a batalha perdida, ordenou o embarque e para travar a perseguição, deixou-se para trás com mais seis que o vieram socorrer e na água combateram, possibilitando aos outros escapar e recolherem aos batéis. Reconhecido o chefe inimigo, sobre ele viraram todas as atenções, o que permitiu a fuga aos já feridos companheiros, sem possibilidade de ajudar o capitão-mor. Sobre Magalhães caíram com grande ferocidade os guerreiros e após lhe acertarem com uma seta no rosto, colérico este trespassou a lança no corpo do atirador, mas ela ficou presa e sem conseguir desembainhar a espada, por ter o braço direito ferido, ficou desarmado. Derrubaram-no e caindo de bruços, sem se levantar devido ao peso das vestes e ferimentos, ficou indefeso à mercê dos nativos.

A 27 de Abril de 1521, sacrificando a própria vida para proteger e salvar os companheiros, morria Fernão de Magalhães na ilha de Mactán, Arquipélago de S. Lázaro (hoje Filipinas). Numa luta não sua e sem interesse para a importantíssima viagem que realizava, com ele morreram oito homens, sendo-lhe cortada a cabeça e colocada sobre uma lança como troféu.

Perdida a áurea de invencibilidade, o desânimo instalou-se na tripulação. Não se ponderou fazer uma expedição de retaliação e apenas se procurou conseguir, em troca de sinetas, contas de vidro e veludos, resgatar o cadáver de Fernão de Magalhães, o que até isso foi recusado.

Desastre total

Desapareceu , lamentou o fidalgo aventureiro italiano de Vicenza António Pigafetta, autor de uma das crónicas da viagem e que em Mactán saíra ferido por uma seta envenenada.

Sem capitão-mor, de volta a Cebu foram então os cargos redistribuídos, mantendo-se Serrano capitão da Concepción, agora com a chefia da armada, voltando Barbosa a capitão da Trinidad e a nau Victoria capitaneada por o português Luís Afonso de Góis.

Duarte Barbosa logo para si tomou o escravo Henrique, que segundo o testamento de Fernão de Magalhães, por sua morte ficaria livre. Mal tratado, para se libertar Henrique urdiu um plano com o Rei de Cebu, desacreditado da invencibilidade dos intrusos e também descontente com o comportamento dos europeus, que piorou com a falta de Magalhães. A ideia era usar o manjar preparado para receber o capitão-mor após a vitória e convidar os espanhóis para um banquete, a homenagear o defunto e entregar-lhes os presentes.

A 1 de Maio de 1521, em Cebu comparecendo 26 da tripulação, confiantes e sem temor saltaram para terra, seguindo a confraternizar. O convite para alguns entrarem na zona de vegetação mais densa e uma estranha movimentação observada por Gómez de Espinosa, levou-o a avisar João Lopes de Carvalho. Ambos se esgueiram para o batel e foram para a nau capitã, ficando aí alerta. Mal subiram a bordo, logo se ouviu grande gritaria em terra e confirmada a emboscada, Carvalho levantou a âncora, aproximando a nau da costa à distância do tiro das bombardas. Na praia apareceu conduzido Serrano, atado e ferido, suplicando que parasse o fogo para lhe pouparem a vida e questionado sobre os outros, referiu terem sido todos degolados, excepto Henrique, que se juntara aos ilhéus, segundo narrou Pigafetta, que da nau assistiu. Sem dar ouvidos, Carvalho mandou içar as velas e deixou o seu compadre capitão Juan Rodriguez Serrano em terra. Assim, nesse dia 1 de Maio de 1521, em Cebu morreram mais de vinte tripulantes, entre os quais Duarte Barbosa, cunhado de Magalhães.

A 6 de Maio de 1521 chegava a Sevilha a nau San Antonio, que durante a travessia do Estreito a 8 de Novembro 1520 desertou da armada, trazendo preso o capitão Álvaro da Mesquita, e sob comando de Jerónimo Guerra retornou ao porto das Muelas com 55 tripulantes; já o patagão que vinha nessa nau não resistiu à viagem.

Não muito longe do Arquipélago de S. Lázaro, na China por essa altura o Imperador Zhengde falecia a 20 de Abril de 1521, o Embaixador Tomé Pires saía de Beijing e na costa ocidental do Pacífico, a 27 de Junho os mercadores portugueses enfrentavam numa batalha naval a armada imperial chinesa. Jorge Álvares, o primeiro português que em 1513 viera de barco à China, ficou ferido e onze dias depois falecia a 8 de Julho de 1521 na ilha de Lin Tin, no delta do Rio das Pérolas.

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