Ex-motoclista Mike Silva é a favor de uma academia para jovens locais

O Grande Prémio de Macau de 2020 foi o primeiro em cinquenta e três anos sem corridas de motos no programa. Para o retirado piloto local Mike Silva, que nos anos 1970s e 1980s venceu por várias ocasiões no Circuito da Guia, os tempos agora são outros e para trazer novos talentos locais para motociclismo são precisas várias iniciativas com apoio das entidades oficiais

 

Antes da presença habitual de pilotos provenientes de Portugal no Grande Prémio, algo que aconteceu pela primeira vez em 1986, existiam dois pilotos lusófonos que somavam vitórias nas corridas de motos do Grande Prémio: Belmiro Aguiar de Macau e Mike Silva de Hong Kong. Se o macaense cedo se dividiu entre as corridas de duas e quatro rodas, o português residente na antiga colónia britânica teve uma longa carreira no motociclismo, incluindo participações em vários grandes eventos internacionais, como Ilha de Man TT, North West 200, Grande Prémio da Malásia, Grande Prémio de Penang, para além de provas nas Filipinas, Tailândia e Hong Kong.

O Grande Prémio de Macau de Motos nasceu em 1967 e quatro anos depois, em 1971, foi realizada a primeira corrida de apoio para motos, chamada de “Corrida de Motocicletas (Handicap)”. Esta tradição de ter mais que uma corrida de motos no programa durou até 2003, ou 2007 se contarmos com as cinco edições da corrida das scooters.

O ano passado, quando ficou claro que as estrelas internacionais de “Road Racing” não iriam visitar Macau, a possibilidade de realizar uma corrida de motos para os pilotos da região não terá sido sequer colocada em cima da mesa.

Estas corridas de suporte permitiam aos pilotos das motos locais ganharem experiência no Circuito da Guia antes de competirem com os “gigantes” no Grande Prémio de Motos. Com a regulamentação da prova a apertar, a presença dos pilotos locais das motos no evento desapareceu. Aqui e ali, ouvem-se vozes a pedir que estas corridas se voltem a realizar. Mike Silva considera que “seria bom”, mas admitiu ao HM que “é algo que não acontece há muito tempo. Penso que actualmente não haverá um número suficiente de novos e bons pilotos, de Macau e de Hong Kong, para fazer uma boa corrida”.

O ex-piloto português, que corria com a licença desportiva de Hong Kong, acredita que “talvez existam bons pilotos nas provas de mini-motos de Macau – pilotos oriundos de Hong Kong, de Macau e da China – e alguns que correm em provas no circuito de Zhuhai. Contudo, num circuito de estrada difícil e de elevadas velocidades como o Circuito da Guia, o desafio é totalmente diferente”.

Mudam-se os tempos…

Retirado das lides, o ainda residente de Hong Kong reconhece que os tempos mudaram e o risco dos desportos motorizados é agora visto doutra forma pela sociedade. “As gerações mais novas são mais protegidas pelas suas famílias e têm menos desportos e hobbies perigosos à sua disposição”.

Por outro lado, a evolução espectacular da tecnologia, aliada aos progressos feitos em termos de segurança, trouxe consigo uma outra realidade. “O custo da preparação das motos de corridas é hoje muito mais oneroso, comparado com o que era antes”.

Academia para jovens era um bom começo

Com os critérios de selecção a serem ainda mais rigorosos, desde 2012 que não há pilotos de motociclismo da RAEM no Circuito da Guia. Para contornar este cenário que não deverá sofrer alterações nos próximos anos, Mike Silva considera que é preciso implementar uma série de iniciativas com o aval do poder de decisão.

“Seria necessário o apoio dos organismos oficiais, como a HKAA ou o AAMC, apoio dos importadores de motos e bons patrocinadores”, explica Mike Silva. “Uma Academia de Corridas de Motociclismo para jovens talentos deveria ser montada. Uma classe de 300cc e organizado um troféu monomarca, similar à Asia Talent Cup, em vários e diferentes circuitos, permanentes ou citadinos”.

“Uma Academia de Corridas para a nova geração de pilotos seria benéfico”, reconhece o ex-piloto do Grande Prémio de Motos de 1975 a 1985. “Deve existir um objetivo de fazer com que alguns dos melhores pilotos locais participem e ganhem em campeonatos ou séries internacionais de renome”.

Currículo invejável

Mike Silva foi uma presença habitual nas corridas de suporte de motos do Grande Prémio de Macau entre 1974 a 1989. O motociclista português venceu a Corrida de Iniciados em 1974 e depois de três subidas ao pódio na corrida dos Seniores, Mike Silva voltou a vencer no Circuito da Guia em 1981, precisamente na corrida dos Seniores. No seu currículo ainda consta um nono lugar à geral no Grande Prémio de Motos, em 1981, e um terceiro lugar na corrida de Superbikes, também conhecida por Corrida de Motociclos Senior, de 1987.

“O Circuito da Guia é o meu favorito. É a minha corrida caseira”, relembra o ex-piloto da Suzuki e Yamaha. “Todos os anos no final do Grande Prémio, não podia esperar pelo ano seguinte. Alguns anos, nem toquei na mota durante o ano todo, devido compromissos no trabalho e família, mas tão ansioso de voltar a pilotar e correr de mota em Macau que lá ia eu. Era incrível”.

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