Helena de Senna Fernandes sobre impacto da pandemia no turismo: “Já deixámos de fazer previsões”

A directora dos Serviços de Turismo confessou à agência Lusa que a constante alteração dos dados relativos à pandemia da covid-19 fez com que o Governo tenha deixado de fazer previsões. Helena de Senna Fernandes fala de um aumento do desemprego no sector e defende que a normalização do turismo em Macau só vai acontecer depois do surgimento da vacina contra a covid-19

 

[dropcap]A[/dropcap] normalização do turismo em Macau, território que em 2019 recebeu quase 40 milhões de visitantes, só será possível com uma vacina para a covid-19, disse à Lusa Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo. “Muitos países neste momento estão a testar as possíveis vacinas. Espero que as vacinas ajudem a dar confiança a recomeçar o movimento de turistas”, afirmou.

As indicações que têm sido dadas por diferentes fontes, explicou a responsável, apontam que a retoma de viagens é “muito condicionada pelo aparecimento de vacinas”. No início da semana, cientistas da Universidade de Oxford afirmaram que os resultados preliminares de testes a uma vacina contra a covid-19 mostraram que provocou uma resposta imunitária em centenas de pessoas. Após testes com cerca de mil voluntários iniciados em Abril, os cientistas disseram que a vacina produziu uma resposta imune dupla em pessoas com idades entre os 18 e 55 anos, que duraram pelo menos dois meses, refere o artigo publicado na revista Lancet.

Apesar destes resultados animadores, não só desta vacina, mas também de outras que estão a ser testado, Maria Helena de Senna Fernandes admitiu ser “muito difícil dizer quando essas vacinas com efeito vão ser produzidas e em que quantidade vão ser produzidas”.

Macau foi um dos primeiros territórios a identificar casos de covid-19, tem ainda as suas fronteiras praticamente encerradas. Por essa razão, o número de visitantes em Macau caiu mais de 90 por cento em Junho e 83,9 por cento no primeiro semestre, em relação a iguais períodos de 2019. “Em Junho só tivemos 22 mil turistas”, afirmou a responsável, lembrando os últimos dados oficiais, divulgados na segunda-feira. Antes da pandemia, reforçou, o número de turistas diário era muito superior ao registado em todo o mês de Junho.

“Já deixamos de fazer previsões” por causa das medidas que vão sendo actualizadas, disse, ao ser questionada sobre qual seria a aposta do número de visitantes até ao final do ano. Nos primeiros seis meses do ano visitaram o território 3.268.900 pessoas, quando no mesmo período de 2019 Macau tinha sido visitado por mais de 16,5 milhões.

“Mesmo com o teste nucleico é difícil de ter uma retoma em grande quantidade de turismo. Porque vai ser condicionado pelo número de testes que podem ser possíveis de fazer”, avançou.
Macau está a tentar reforçar o número de testes, mas esse número para já só chega a 7.500 pessoas por dia, disse.

“Vai ainda haver bastante dificuldade de muita gente ter acesso a testes”, explicou, reforçando: “não estou a prever grandes números de movimentos de turistas” porque ainda há muita gente que precisa destes testes para visitar as famílias no interior da China.

Só quando houver testes para estas pessoas é que se pode pensar numa normalização do movimento de turistas, detalhou Maria Helena de Senna Fernandes.

Desemprego a subir

Relativamente à taxa de desemprego, que já ultrapassou os três por cento, Maria Helena de Senna Fernandes disse que o impacto se verifica sobretudo no sector do turismo, considerado o pilar da economia do território. “A taxa de desemprego em Macau subiu durante os últimos meses. Sabemos nós que agora já ultrapassou os 3 por cento”, revelou, esperando que os dados não piorem no território que sofre dos efeitos sócio-económicos causados pela pandemia desde meados de janeiro de 2020.

Os últimos dados oficiais das autoridades de Macau, em finais de Junho, apontavam para uma taxa de desemprego até maio de 2,4 por cento, sendo que os números agora revelados pela responsável da directora dos Serviços de Turismo (DST) representam uma subida de mais de 0,6 pontos percentuais.

“Tivemos durante muito anos taxas de desemprego com menos de 2 por cento e esta subida já é violenta para muita gente”, sublinhou Maria Helena de Senna Fernandes, acrescentando que “todos os sectores foram afectados desta vez”.

No sector do turismo, detalhou, houve um grande efeito, porque está praticamente parado há mais de seis meses. “Agências de viagens, guias turísticos, condutores de autocarros de turismo. Toda esta gente quase não teve possibilidade de ter qualquer emprego durante vários meses”, disse.

Recomeçar o sector do turismo, principalmente através do mercado interno, tem sido o objectivo do Governo de Macau, que, com os vistos individuais chineses suspensos, vê-se agora obrigado a focar-se no consumo dos próprios residentes para alavancar o sector chave de Macau.

As autoridades de Macau, recordou Maria Helena de Senna Fernandes, ofereceram cartões de consumo aos residentes, uma medida criada para relançar a economia. Um primeiro montante de três mil patacas foi atribuído aos mais de 600 mil residentes, para ser gasto em Maio, Junho e Julho. A partir de Agosto, os residentes voltam a receber mais cinco mil patacas. “Vai ajudar o sector em grande”, apostou a responsável, salientando que o principal beneficiário foi o sector da restauração.

Com as fronteiras ainda praticamente encerradas para visitantes, o Governo de Macau lançou também, a 5 de Junho, a aplicação ‘Macau Ready Go’, que integra as promoções oferecidas por várias indústrias, empresas e lojas. Em paralelo, está em vigor a isenção do imposto turístico durante seis meses e foi criado o plano de turismo doméstico “Vamos Macau”, que contempla 25 roteiros, 13 comunitários e 12 de lazer, com os residentes a receberem 560 patacas caso participem em duas excursões.

Uma campanha que vai “até finais de Setembro”, afirmou a directora da DST, data em que espera que o turismo proveniente do exterior possa recomeçar. “Julgo que a partir daí vamos ter turistas a voltar”, afirmou.

Promoção com foco na pandemia

A entrevista abordou também as novas campanhas promocionais dos Serviços de Turismo, cuja mensagem vai centrar-se na promoção de Macau enquanto destino seguro, sem casos activos e ou registo de um surto local.

Depois da pandemia, as pessoas vão alterar a forma como planeiam as suas viagens e o que procuram, afirmou Maria Helena de Senna Fernandes: “Em vez de só avaliar um destino com as atracções turísticas, também vão pensar em viagens porque esses destinos podem dar confiança em termos de protecção”.

Por essa razão, a mensagem para o exterior será agora completamente diferente, frisou.
“Antigamente só pensávamos em promover Macau com o património, a gastronomia, com o que é que as pessoas podiam usufruir e quais as atracções turísticas que as pessoas podiam ter acesso”, explicou a responsável pelo turismo da capital mundial dos casinos.

“Depois da pandemia temos de dar em primeira mão confiança para viagens para Macau. (…) Já estamos a fazer muitas novas mensagens, vídeos de promoção de Macau durante os últimos meses, alguns deles, de facto, como é que Macau está a controlar a situação da pandemia e quais são as medidas que estão implementadas (…) e os efeitos dessas medidas”, detalhou a directora dos Serviços de Turismo.

Apesar desta ‘nova imagem’ que está a ser partilhada pelas autoridades do turismo de Macau, a responsável admitiu que “neste momento ainda muitas pessoas têm medo de viajar, sobretudo viagens de longo curso”. “As pessoas vão pensar três vezes antes de viajarem”, afirmou Maria Helena de Senna Fernandes, admitindo ser “difícil saber até quando este efeito vai continuar”.

“Até voltar ao nível antes da pandemia ainda vai demorar mais alguns anos”, apostou.
Até porque, acrescentou, o grande mercado de Macau, o da China continental, ainda não retomou o turismo para fora e, mesmo o turismo entre províncias, só recomeçou há cerca de uma semana.
Para já, o foco da promoção do Governo estará centrado na China. “O interior da China vai ser o primeiro mercado que podemos trabalhar”, salientou Maria Helena de Senna Fernandes.

“Hoje em dia, o mercado onde podemos trabalhar está muito condicionado pelas medidas de migração que estão neste momento a ser implementadas em todo o mundo”, explicou a responsável pelo turismo de Macau, sublinhando que agora é necessária “flexibilidade para trabalhar em diferentes mercados”.

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