O Rei das Moscas

[dropcap]A[/dropcap] tese posta a circular de que a Terra era plana, não “achatou” a curva da sua evidente redondez e robustez, pois que sempre aquilo que é círculo encerra em seus flancos muita vida e memória dela. De tal ordem que sentimos que existiu por aqui como em muitos outros territórios, altares para sacrifícios infantis, só que não sabemos onde, quando, em que épocas, mas estando em Maio, e seguindo Fátima, talvez possamos levantar este ténue véu que matou duas crianças e condenou outra a prisão perpétua. No entanto, o registo tem toda a razão de ser, e a manifestação de tal ocorrência só poderia ser ali.

Estes acontecimentos nunca se dão com adultos, ou porque não os vêem, ou por ninguém os ver, ou muito simplesmente pela razão que uma criança é a terna quimera do juízo humano que não pode ser equiparado a mais coisa nenhuma. Por incrível que pareça, este mês fecundo é palco de desaparecimentos súbitos de crianças, e ainda há aquela história que circula na boca das gentes «comer criancinhas ao pequeno almoço» que pensam ser importada, mas que se pode basear numa memória profunda de meros ritos sacrificiais.

Oriana era uma princesa islâmica que um senhor raptou ao tempo da reconquista cristã e lhe deu umas terras a que hoje chamamos Ourém, os Mouros Fatimistas que habitavam nos seus reinos de então, perto estariam da princesa e como tal houve sempre uma íntima ligação ao Crescente como em todas as coisas cultas e ocultas que dele nos escapou. Por outro lado, o calendário islâmico é lunar, treze, é o número dos ciclos anuais da Lua, e talvez aqui possamos ir mais fundo e retirar alguns ritos do Médio Oriente de fertilização das terras, e comecemos pelo culto de Baal, uma prática dos cananeus que sacrificavam crianças em nome da sua divindade. Era um estranho ser com cabeça de Bezerro, os seus grandes adversários, os hebreus, designaram-no por «Baal- Zebude» Senhor das Moscas. Zebudu, que dá origem a Belzebu, hebreus e este culto são toda uma saga de combate, e vai tornar-se o primeiro grande marco civilizador em memória da libertação infantil. Estas terras de Canaã, ficavam na Palestina, aquela que depois foi conquistada e deu a célebre imagem de Abrãao que acaba de vez com tais horrores, mas, ainda hoje, muitos povos árabes da Palestina e não só – como fenícios e cartagineses – têm a remota memória do Deus Baal quando sacrificam os seus filhos na sua luta armada.

Os mitos são como os vírus, recebem mutações, mas se os enfrentarmos iremos sem dúvida encontrar reminiscências comuns- e Nazaré ali tão por perto – naquilo que se pensa ser afinal uma povoação de natureza fenícia onde ainda hoje se pode encontrar na região algumas dessas marcas. Que o Sol dance no seio desta natureza lunar, é mais uma miragem da própria Lua, que mudando, não dança, e muita da que para ali anda tem cabelos compridos e longa memória. Quando o chão fala os seres não sabem dizer nada e só as crianças são a consciência perfeita de realidades tão grandes que a todos supera. Há no entanto o carácter profundamente redentor de uma imagem que é o arquétipo da mãe bela, da boa mãe que não existia nas suas vidas, e se esta Senhora – a Fatimista- a filha de Maomé, aqui, ela é aquela mãe cujo culto não desfeito a fez fugir para salvar o seu filho a quando da morte dos primogénitos, ela projecta ainda o símbolo das mães que sofreram a tragédia dos filhos para os fundos ritos infanticidas.

E para mais, a designação de Cova para esta realidade torna-se uma inquietante desconfiança acerca do que terá podido, eventualmente, ter-se passado ali algures… que uma cova, não é uma gruta, muito embora ambas tenham sido grandes mortalhas. Mas também aqui podemos encontrar os Mistérios Eulisianos, de Maio a Outubro, Perséfone que fora raptada por Hades permanecia com a sua mãe nestes tempos faustos, e também de mês a mês, o que perfaz um ciclo lunar, há aqui um programa intensamente construidor de segredos, e apenas um se alonga para a quase quarentena, que é o que vai de 13 de Junho a 19 de Agosto, e as quarentenas como bem sabemos são tempos mais desérticos, talvez aquele da ausência de Moisés que descendo transfigurado por luz estranha encontra no sopé da sua montanha um reavivar do velho culto a Baal. Podemos não nos dar conta mas esta foi uma longa luta de Lei absolutamente civilizadora. Só que não anda como desejava alguém, numa Terra plana, e sim, redonda, que tal como a Roda da Fortuna vai e vem nos longos caminhos da eternidade.

Há, no entanto, e ainda, um “sagrado” instinto do deus cornígero na Península Ibérica, vindo da influência mediterrânica, todo um labirinto que nos leva ao Minotauro e aos locais onde devorava as vítimas, altares que estão no mundo, e, como outrora, são governados por multidões que giram em volta de crianças mortas. Fina D´Armada terá nesta saga a mensagem mais ficcional, e, a sua abordagem é outro documento para o vasto interesse na matéria, que o local das transformações são áreas muito sensíveis de captação energética…

Estamos naquilo a que se chamou o «Triângulo Místico Português» por perto brotam abóboras de quarenta quilos e outras grandiosidades vegetais, um trilho se singulares manifestações cuja azinheira acompanha a Cova da Iria até Grândola, dando um forte indicativo de que seja ela a Árvore da Vida.

Acreditei sempre nas crianças. No antigo deserto não havia árvores, e as oferendas eram feitas sem recurso a uma visão suspensa que as acalentava e sorria. E mesmo assim, ela não quis deixar de lhes mostrar como era, quando lhes deu a ver a visão do Inferno.

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