Órgão de disciplina do Partido Comunista Chinês investiga milionário que criticou Xi Jinping

[dropcap]O[/dropcap] órgão máximo de inspecção e disciplina do Partido Comunista Chinês abriu hoje uma investigação sobre um milionário que criticou diretamente o Presidente da China pela forma como geriu a epidemia do novo coronavírus. A Comissão de Inspecção e Disciplina anunciou que a investigação a Ren Zhiqiang foi aberta por supostas “violações graves da lei e da disciplina” do PCC, partido único do poder na China.

“Ren Zhiqiang está a ser sujeito a uma revisão disciplinar e a uma investigação pela filial da Comissão no Distrito de Xicheng [em Pequim]”, informou o órgão num breve comunicado. Citados pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, amigos do milionário do sector imobiliário “dizem ter perdido o contacto com Ren, de 69 anos, em 12 de março passado, após a publicação ‘online’ de um artigo escrito por ele a criticar a gestão da epidemia pelo Governo chinês”.

No texto, Ren refere-se ao Presidente da China, Xi Jinping, durante um encontro com 170.000 membros do PCC, em 23 de fevereiro, como um “palhaço que vai nu”, mas “determinado a passar por um imperador”.

“Embora estivesse a segurar alguns trapos na tentativa de encobrir o facto de estar nu, ele não conseguiu encobrir a sua ambição de ser imperador e de destruir quem o quiser parar”, aponta.

Sob a direcção de Xi Jinping, o PCC voltou a penetrar na vida política, social e económica da China, enquanto o poder político se centrou na sua figura, abdicando do processo de consulta coletiva estipulado por Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que abriram a China ao mundo nos anos 1980.

Ren considerou, no seu artigo, que a crise de saúde pública constituiu uma “crise de governação” e criticou a falta de liberdade de imprensa e liberdade de expressão no país asiático.

O comunicado difundido pela Comissão de Inspecção e Disciplina não refere o artigo, mas detalha que Ren é membro do PCC e foi diretor da empresa estatal Huayuan Real Estate Group.

Em 2016, Ren enfrentou uma retaliação disciplinar por afirmar que a imprensa chinesa representa apenas os interesses do Partido Comunista e não a voz da população, que foi “abandonada”.

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