200 anos de Vieuxtemps

[dropcap]H[/dropcap]enri Vieuxtemps passou os dois últimos anos da sua vida em Mustapha, na Argélia, para onde se tinha mudado em 1879, e onde estavam instalados a sua irmã e cunhado, dando continuidade ao seu trabalho criativo, e compondo, pese embora frustrado pela sua incapacidade de tocar o que escrevia, os seus dois últimos concertos para violino,: o Concerto para Violino n.º 6 em Sol Maior, Op. 47 e, logo a seguir, o Concerto para Violino n.º 7 em Lá menor, Op. 49. A decisão de se instalar na Argélia prendeu-se com o facto da primeira apoplexia que sofreu em Setembro de 1873, em Bruxelas, que paralisou o seu braço direito, ter comprometido o seu cargo de professor no Conservatório dessa cidade, que seria assumido por Henryk Wieniawski em 1875, tendo o compositor perdido qualquer esperança de retomar a sua carreira em Bruxelas. Vieuxtemps mudou-se então para Paris, continuando a compor e conseguindo voltar a tocar música de câmara em privado, mas as suas tentativas de voltar a dar aulas no Conservatório dessa cidade não deram resultado.

O Concerto para Violino Nº 6 em Sol maior, Op. 47, e o Concerto para Violino em Sol menor, Op. 49, foram ambos compostos no último ano da vida de Vieuxtemps, que atribuiu grande importância às obras, apesar de não ter conseguido fazer as revisões finais que poderiam ter sido possíveis caso tivesse conseguido ouvir a prometida interpretação do seu compatriota e aluno Eugène Ysaÿe. Dedicou o sexto concerto à violinista checa Wilhelmine Normand-Neruda e o sétimo a Jeno Hubay, ambos contando-se entre os seus visitantes na Argélia. O primeiro dos dois faz uso de uma forma incomum de quatro andamentos. Começa com um andamento em forma-sonata integral, com uma exposição para a orquestra e para o solista, este último encarregado do material lírico esperado. O segundo andamento é um suave Pastorale, seguido de um intermezzo, no qual o ritmo siciliano característico é dado ao solista num compasso composto de 12/8, enquanto a orquestra toca num simples compasso quaternário, uma experiência invulgar em ritmos contrastantes. O concerto termina com um Rondo final, sendo a sua encantadora melodia principal quase como algo do repertório operático leve.

O sétimo concerto para violino, composto entre 1879 e 1881, o ano da morte do compositor, faz exigências ligeiramente maiores de virtuosismo que o sexto. O primeiro andamento, apresentado brevemente pela orquestra, oferece os dois temas na tradicional forma-sonata, que retornam em recapitulação em Mi menor e Lá maior, respectivamente, levando a uma coda brilhante. O andamento lento, intitulado Melancolie, é em Lá menor. Conduz a um andamento final com um tema de Tarantella de abertura, seguido de um tema de implicação espanhola, ecoado no seu acompanhamento orquestral.

Vieuxtemps permaneceu um compositor activo quase até à sua morte, que ocorreu no dia 6 de Junho de 1881. O seu corpo foi transladado para a Bélgica onde foi recebido como um herói nacional e enterrado em Verviers, a sua cidade natal. Foi sem dúvida um dos maiores violinistas do seu tempo, combinando um comando técnico soberbo com uma compreensão musical muito profunda. Pode ser visto como o representante da escola franco-belga de violinistas, o sucessor de De Beriot, enquanto aqueles que foram ensinados por ele ou estiveram sob a sua influência directa incluem Eugène Ysaÿe, Jeno Hubay e Leopold Auer.

Sugestão de audição:
Henri Vieuxtemps: Violin Concerto No. 6/ Violin Concerto No. 7
Misha Keylin, violin, Slovak Radio Symphony Orchestra, Andrew Mogrelia – Naxos, 2004

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