Pequim considera que autoridades de Hong Kong conseguem lidar com protestos

[dropcap]U[/dropcap]m alto quadro do Governo chinês colocado em Hong Kong expressou ontem confiança na capacidade das autoridades locais para restabelecer a ordem na cidade, que é há quatro meses palco de protestos cada vez mais violentos.

Os comentários, feitos nas vésperas de a República Popular da China celebrar o seu 70.º aniversário, sugerem que Pequim não vai intervir na região. “Acreditamos que o governo de Hong Kong tem capacidade para acalmar a situação”, disse Song Ru’an, vice-comissário do gabinete do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros na cidade.

Song considerou que era expectável que o princípio “um país, dois sistemas”, sob o qual Hong Kong foi devolvido à China, em 1997, encontraria obstáculos, devido à sua natureza sem precedentes.

“De facto, deparamo-nos com alguns problemas na implementação da política ‘um país, dois sistemas’ em Hong Kong, e alguns são graves e precisam de ser tidos em consideração”, afirmou, em conferência de imprensa.

Song disse que o Governo chinês está a reflectir sobre os sucessos e insuficiências da política “um país, dois sistemas”, para melhorar a sua implementação, mas que a sua missão e princípios originais permanecerão inalterados.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A proposta foi, entretanto, retirada, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica, enquanto apelam à demissão de Carrie Lam, a chefe do governo local, pró-Pequim, e à eleição de um sucessor por sufrágio universal directo, e não nomeado pelo Governo central.
Meses de protestos, sem fim à vista, levaram a especulações de que a China poderia enviar tropas para o território.

Os manifestantes exibiram ontem uma faixa com a frase “Desejo glória a Hong Kong”, num centro comercial de luxo. Mais protestos estão planeados para este fim de semana e para o dia 1 de Outubro, que coincide com o aniversário da fundação da República Popular da China.

O princípio “um país, dois sistemas”, que vigora também em Macau, garante à ex-colónia britânica que as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam no território, que goza de “um alto grau de autonomia”, à excepção da Defesa e das Relações Externas, que são da competência exclusiva do Governo central chinês.

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