1984 a caminho

[dropcap]S[/dropcap]empre ouvi dizer que uma das características culturais chinesas é a paciência, a forma como o país, o poder e as suas gentes lidam com o tempo, com uma espécie de dom de saber montar estratégias a longuíssimo prazo. Pois, parece-me que 50 anos é um prazo que está a custar muito a passar em Pequim.

Vamos esquecer a fantasia do segundo sistema, da Lei Básica e dos acordos internacionais que estabeleceram as transferências de soberania. Hoje quero falar-vos das oportunidades trazidas pela Grande Baía. Além dos chavões, que já todos conhecíamos e que foram apresentados como “desígnios” para Macau, a notícia de que o sistema de crédito social estará a chegar a Guangdong, antes de se tornar obrigatório na China inteira em 2020, e fazer parte do projecto da Grande Baía é das coisas mais perversas que vi no meu horizonte político.

Quando não conseguirem comprar um bilhete de avião, arrendar casa, ser promovido ou manter o emprego, por cometer o hediondo crime de pensar diferente, ou ser amigo de alguém que sai fora da ortodoxia do sacrossanto partido, quero ver o que vão fazer os filhos da terra que criticam as manifestações em Hong Kong. O privilégio de ter passaporte português é uma segurançazinha muito confortável, não é? Até dá para apoiar cegamente a autocracia. Mas quando lhes morder os calcanhares, quero ver se marcham alinhados, ou se marcham daqui para fora.

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