FAM | Teatro do Eléctrico apresenta “Karl Valentin Kabarett” amanhã em Macau

“Karl Valentin Kabarett” é o nome da peça que a companhia portuguesa Teatro do Eléctrico traz ao Festival das Artes de Macau. Inspirada na obra e personalidade de Karl Valentin, que ficou conhecido com o Chaplin alemão, a peça sobe ao palco do Sands Theatre amanhã às 20h

 

[dropcap]”N[/dropcap]a verdade, é como um tributo ao ser humano. Mesmo nos momentos mais agrestes conseguimos florir.” É assim que Ricardo Neves-Neves, director da companhia Teatro do Eléctrico, se refere à vida e obra do comediante e multifacetado performer alemão Karl Valentin, o homem que serve de inspiração para “Karl Valentin Kabarett”, o espectáculo que traz a Macau. A peça adaptada pela companhia portuguesa sobe ao palco do Sands Theatre amanhã às 20h e é um dos espectáculos mais aguardados do cartaz deste ano do Festival das Artes de Macau.

Karl Valentin foi uma figura ímpar no panorama performativo do início do século XX. Autor, músico, palhaço, actor e pilar de um movimento artístico que espalhou o humor durante uma das épocas mais negras da história da Europa. Ricardo Neves-Neves salienta que o alemão teve a capacidade de marcar as artes performativas europeias do início do século XX ao longo de um período que incluiu duas grandes guerras.

“Trabalhou a comédia e os textos com uma grande leveza e com um lado solar muito forte numa altura muito negra, densa e pesada”, contextualiza o director do Teatro do Eléctrico, acrescentando que arrancar gargalhadas durante esta época histórica é um feito, no mínimo, heróico.

“Li os textos dele em 2011. Ao perceber a altura em que foram produzidos, achei incrível. Como é que um homem a viver na Alemanha, a viver toda aquela pressão, antes, durante e pós-guerras, continua a fazer teatro, música, cabarés, a cantar e ter a sua dose de humor? É incrível, uma verdadeira história de herói”. Foi este deslumbramento que levou Ricardo Neves-Neves a adaptar os textos do alemão.

Versão própria

Os textos daquele que ficou para a história como o Charlie Chaplin alemão foram adaptados para cena pela primeira vez em Portugal pelas mãos do encenador Jorge Silva Melo. A peça subiu ao palco do Teatro da Cornucópia na década de 70. “Este espectáculo é quase um género de herança da primeira encenação em Portugal. Foi o Jorge Silva Melo que me deu a ler os textos de Karl Valentin, tivemos várias conversas e depois fizemos a nossa própria versão”, conta Ricardo Neves-Neves.

Apesar dos textos da peça serem em português, “Karl Valentin Kabarett” é uma peça musicada e cantada em alemão, partindo de um repertório popular germânico do início do séc. XX. O director do Teatro do Eléctrico explica esta opção com a vontade de aliar “a dureza dos tempos à dureza da língua alemã que, ao mesmo tempo, pode ser muito cómica”.

Durante a fase de ensaios, Ricardo Neves-Neves sentia que a pequena companhia que dirige se estava a transformar num dispositivo orquestral, um pouco à semelhança da orquestra mecânica de Valentin, que com o rodar de uma manivela punha a tocar 20 instrumentos musicais. “Houve uma altura nos ensaios em que parecíamos uma grande engrenagem. A máquina foi-se montando segundo as necessidades do espectáculo”, conta o director da companhia.

“Chegámos a ter três ou quatro salas de trabalho em simultâneo: uma onde estava com os actores, noutra o meu assistente a fazer e a recordar as cenas, a solidificar. Depois havia uma sala onde aprendemos as canções e uma outra sala dedicada à coreografia. Parecia uma produção gigantesca e nós somos uma pequena estrutura”, recorda.

Esta é a primeira internacionalização do Teatro do Eléctrico e “logo para o outro lado do mundo”. Num palco desprovido de complexidades cénicas vão estar 11 actores, um cantor lírico e uma orquestra composta por dez músicos. O preço dos ingressos para provar o requinte da doce ironia de Karl Valentin situa-se entre as 150 e as 200 patacas.

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