Economia | Hong Kong, Singapura e Paris são as três cidades mais caras do mundo

Pela primeira vez, o primeiro lugar no ranking das cidades mais caras do mundo é partilhado por três metrópoles. Hong Kong e Paris juntam-se a Singapura como os locais com custo de vida mais elevado, seguidos por Zurique, Genebra e Osaka. No fundo da lista Worldwide Cost of Living 2019 estão três cidades indianas, Bangalore, Chennai, Nova Deli, Karachi no Paquistão e Caracas

[dropcap]P[/dropcap]ela quinta vez consecutiva, Singapura foi considerada a cidade mais cara do mundo, de acordo com o Worldwide Cost of Living 2019 da Intelligence Unit da revista The Economist. No relatório referente ao ano passado, publicado ontem, Singapura tem outras duas cidades para partilhar o primeiro lugar: Hong Kong e Paris. A região vizinha subiu três posições, em comparação com 2017, enquanto a capital francesa chegou ao topo da lista, depois de ter ocupado o segundo lugar no ano passado.

É a primeira vez, em trinta anos de publicação do Worldwide Cost of Living, que o posto da cidade mais cara do mundo é partilhado a três no estudo que compara mais de 400 preços individuais de cerca de 160 produtos e serviços entre 133 cidades de 93 países. Os itens avaliados distribuem-se entre alimentação, bebidas, vestuário, produtos para a casa, escolas privadas, empregadas domésticas e custos com produtos recreativos.

O estudo, feito duas vezes por ano, tem como objectivo ajudar empresas a calcular subsídios e apoios que tenham em conta o custo de vida e a construir compensações para expatriados e profissionais que viajam frequentemente em trabalho.

Este ano o ranking do Worldwide Cost of Living sofreu várias flutuações, algo que se espelha no top 10, onde apenas Singapura manteve o posto em relação ao ano anterior. Nos primeiros dez lugares, a Ásia e os países europeus de fora da zona Euro, à excepção de Paris, ocupam os lugares cimeiros. As únicas outras excepções à regra geográfica foram Nova Iorque, que subiu seis posições para o sétimo posto, e Los Angeles, que ficou em décimo lugar depois ascender quatro posições.

Em quarto e quinto lugar surgem duas cidades suíças. Zurique ocupa o primeiro lugar depois do pódio, depois de descer duas posições, seguido de Genebra, que subiu uma posição para o quinto lugar, empatado com Osaka, no Japão. No sétimo lugar, juntam-se a Nova Iorque as capitais da Coreia do Sul e da Dinamarca, Seul e Copenhaga. A fechar o top 10, a par de Los Angeles, surge Telavive.

Câmbio dos câmbios

De acordo com o Worldwide Cost of Living, 2018 foi um ano com muitas movimentações transversais em toda a lista, com as cidades norte-americanas a ficarem mais caras, enquanto que metrópoles na Argentina, Brasil, Turquia e Venezuela caíram a pique em termos de custo de vida.

Em termos gerais e de forma transversal às todas as regiões geográficas e países, o estudo revela um elevado grau de convergência em 2018 entre os locais mais caros. Como apontado acima, as economias com moedas que mais valorizaram, como os Estados Unidos, subiram significativamente na lista, denotando a valorização do dólar verificada no ano passado. Estas movimentações são particularmente contrastantes se tivermos em conta que há cinco anos atrás Nova Iorque e Los Angeles estavam empatadas na 39.ª posição.

A valorização do dólar é também um factor que contribuiu para a subida de Hong Kong no ranking do The Economist, uma vez que a moeda da região vizinha está anexada à norte-americana.

A subida da capital israelita, que ocupava o 28.º lugar há cinco anos, também se ficou a dever à apreciação cambial, acompanhada do aumento do preço de alguns produtos, onde se destaca o valor dos seguros e da manutenção automóvel, factores que levaram à subida dos custos dos transportes.

A tendência das movimentações na lista do Worldwide Cost of Living tiveram como factores predominantes a inflação e flutuações cambiais, mas também instabilidade política e tumultos sociais. Como tal, não é surpreendente verificar que Caracas, capital venezuelana, é considerada a cidade mais barata do mundo. Seguindo a astronómica inflação de quase 1 milhão por cento do ano passado, e com o nascimento de uma nova moeda lançada pelo Governo de Maduro, a instabilidade na Venezuela faz parte do quotidiano. De acordo com o relatório do The Economist, a nova moeda tem sofrido muitas variações desde que foi criada e a economia foi desmonetizada. Estes fenómenos levaram a casos insólitos para uma economia moderna, com o regresso da troca directa, com consumidores a usar artigos de roupa, peças de automóvel e joalharia para comprar artigos de primeira necessidade e mercearias.

 

A estrada à frente

Com o crescimento económico global a desacelerar até 2020, os resultados obtidos em 2018 também se ficaram a dever à guerra comercial entre a China e os Estados Unidos e a externalidades que se espera prolongarem-se ao longo do ano corrente. No entanto, a continuação do dólar em alta não se deve manter muito tempo, de acordo com a aferição feita pelo The Economist. Desde Dezembro que a moeda norte-americana tem vindo em ligeira descida, sendo expectável uma depreciação mais acentuada face ao euro e ao yen a partir do fim deste ano face à expectativa da desaceleração da economia norte-americana. Outro factor a ter conta são os cinco anos consecutivos de declínio do preço do petróleo, que bateu no fundo em 2016. “O preço do petróleo vai continuar a ter um peso forte nas economias que dependem das receitas do mercado petrolífero. Isto pode significar austeridade, mecanismos de controlo económico e inflação baixa, deprimindo o sentimento de confiança do consumidor e o crescimento”, lê-se no relatório que acompanha a lista.

Em simultâneo, o The Economist prevê o agravamento de choques económicos este ano motivado por vários factores políticos. Neste aspecto, é destacado o já verificado declínio acentuado do custo de vida no Reino Unido, que a Intelligence Unit atribui ao referendo do Brexit e à depreciação da libra. Para 2019, é previsível que estas tribulações políticas se traduzam no aumento dos preços em cadeias de distribuição, à medida que se vai tornar mais complicada importar bens. A consequência será o aumento dos custos dos bens. Estes efeitos inflacionários podem ser acentuados com a recuperação cambial da libra.

Guerra comercial

Existem ainda outras incógnitas, num panorama que privilegia a estabilidade. O The Economist destaca neste aspecto o efeito Trump, nomeadamente devido à forma como a Casa Branca tem escrutinado acordos comerciais e relações internacionais, algo que pode levar à subida de preços em importação e exportação.

Outro dos elementos a ter em consideração é a postura da China, nomeadamente as medidas adoptadas para combater os elevados níveis de endividamento privado, algo que pode aprofundar a desaceleração económica e à baixa do consumo ao longo dos próximos dois anos. Circunstância que pode ter consequências globais, resultando na continuação da estagnação do renminbi com efeito no custo de vida em cidades chinesas.

Aqui entra também em jogo a guerra comercial entre Pequim e Washington, que já mostrou sinais de estar a abrandar a economia global, algo que terá tendência para se agravar.

Instabilidade e conflitos armados vão continuar a alimentar inflação localizada a curto-prazo, com o respectivo impacto no custo de vida de algumas cidades. Por outro lado, com as economias emergentes vão continuar a contribuir para a maioria dos crescimentos de salários de consumo e é de esperar que os centros urbanos destes países se tornem mais caros. No entanto, como é destacado pelo Worldwide Cost of Living 2019, o custo deste tipo de convergência é uma tendência que se revela a longo-prazo, enquanto a capacidade para absorver choques económicos e flutuações cambiais pode ter um efeito muito rápido em tornar uma cidade mais cara ou mais barata muito rapidamente.

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