Uma manhã normal no parque das nações

[dropcap]R[/dropcap]espondo enquanto co-editor a uma professora búlgara que lecciona em Inglaterra para lhe dizer que não sou eu que estou a coordenar a publicação de um certo “volume especial” para uma revista académica, é um colega italiano. Escrevo depois aos investigadores indianos que convidaram para um interessante estudo sobre desenvolvimento turístico em zonas rurais da Índia para lhes dizer dos meus possíveis calendários para visitar a região, partindo do Japão – e também para os lembrar que temos que responder ao colega da Nova Zelândia que no dia anterior nos enviou o protocolo para utilização do programa informático que desenvolveu e que tão preciosa ajuda pode dar ao projecto. Esclareço detalhes da minha integração temporária num centro de investigação em Sapporo, que está para breve, com o respectivo director. Indeciso entre participar em excelentes conferências nas maravilhosas cidades de Hong Kong e em Split, que infelizmente decorrem nos mesmos dias, contacto o director escocês da escola de Hong Kong com quem me vou cruzando com regularidade acidental e os colegas croatas com quem mantenho contacto mais assíduo, seja por razões académicas, seja por outras mais pessoais. Coisas do Mediterrâneo…

 

Numa relativamente longa pausa para café, respondo a mensagens mais informais de familiares e amigos, quase todos em Portugal, com proximidade facilidade pelas possibilidades das “redes sociais” e comunicações digitais gratuitas com vídeo e tudo. Faço os meus “likes” de acordo com a importância do que vou lendo ou os sorrisos que me vão suscitando algumas leituras. Acrescento novas razões a preocupações antigas sobre o que se vai passando na Turquia ao ver os “posts” das pessoas que conheci nos cinco meses em que vivi na maravilhosa Istanbul. “Desamigo” um indivíduo que insiste em partilhar as falsas notícias com que a extrema-direita vai agredindo diariamente o que nos resta de democracia, depois da pedagógica, paciente e amigável explicação no dia anterior. Dou por encerrada a sessão e dedico-me ao futebol, com as notícias e resumos dos dois jogos da véspera na Liga dos Campeões. Desta vez houve golos e foram logo 7 em dois jogos, uma fartura em comparação com a seca absoluta do dia anterior.

 

Volto ao trabalho concentro-me na organização dos painéis de discussão que tenho que organizar, com um colega holandês e outro italiano numa uma conferência de Helsínquia, lá para o fim da Primavera. Envio detalhada proposta aos organizadores finlandeses e ao presidente da organização, também holandês. O programa está praticamente fechado mas há outra conferência a organizar pelo mesmo grupo, já no Outono mas também em terras nórdicas. Discutido o assunto internamente no dia anterior, apresento a nossa proposta inicial aos colegas sueco e israelita que organizam o evento, na Suécia. Constato ainda que, para a visita mais próxima, não tenho resposta do colega de Taiwan que contactei há mais de uma semana. A comunicação digital às vezes é um bocadinho volátil. Paciência. Estará muito longe de ser a primeira vez que organizo sozinho a visita a uma cidade que desconheço. Na realidade é um prazer e não tenho memória de alguma ter corrido mal.

 

Dedico-me então com paciência a mais um puzzle que se há de tornar artigo académico, adicionando argumentos devidamente fundamentados em pesquisas anteriores, discutindo como o respectivo contexto e objectivos ajudam ou não à minha própria proposta explicativa, e redefinido uma e outra vez uma estrutura narrativa que parece já bastante estável e adequada. Veremos mais tarde o que pensam disto os meritíssimos “referees” da revista para onde o artigo for submetido, que ainda faltam uns meses até o puzzle estar completo e discutido com os colegas holandês e japoneses com quem trabalho neste caso. A manhã está tranquila e solarenga, as temperaturas têm estado acima dos 0 graus e a neve começa a derreter aceleradamente na cidade, muito mais cedo do que é habitual.

 

Interrompo o trabalho para ir almoçar ao centro de Sapporo, um “ramen”, uma das mais típicas massas japonesas. Opto desta vez pela carne de porco numa deliciosa sopa de caranguejo, mas há outras variantes. Os restaurantes especializados seguem quase sempre semelhante metodologia: faz-se o pagamento e escolhe-se o prato numa máquina que imprime o talão que há de ser entregue ao balcão. No centro da cidade as máquinas têm informação em inglês (e às vezes em chinês e coreano), para facilitar a vida aos turistas (ou residentes com dificuldade de leitura, como é o meu caso). Tomo uma bica razoável no café da omnipresente cadeia coreana que tem sempre sala de fumadores e leio alguma coisa do que vai sendo publicado no Hoje Macau a medida que vou recebendo por email as notificações dos novos artigos online. Amanhã irei reler esta crónica e enviá-la também para Macau, a menos que me pareça um total despropósito que não interessa a ninguém.

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