Sombras Chinesas | Criada a primeira Associação de Teatro em Macau

A primeira Associação de Teatro de Sombras Chinesas em Macau foi criada no passado mês de Janeiro. A iniciativa é de António Inácio que pretende, desta forma, levar esta arte aos países de língua portuguesa e ao mundo

[dropcap]A[dropcap]Associação de Teatro de Sombras Chinesas de Macau foi fundada no passado mês de Janeiro para colmatar a ausência de uma entidade que se dedicasse à investigação e desenvolvimento de actividades a partir desta forma de arte.

Para António Inácio, presidente da associação, a criação de um grupo que represente o teatro de sombras chinesas “é um dever” e vem na sequência de uma promessa feita a si próprio há 21 anos, depois de um encontro em Pequim com o responsável de uma trupe da capital. “Foi nessa altura que também entrei em contacto pela primeira vez com as marionetas e com esta arte”, apontou ao HM.

No entanto, o projecto não avançou na altura porque as facilidades de comunicação “não eram as que existem hoje em dia”, afirmou.

No ano passado, 21 anos depois do primeiro contacto, António Inácio regressou a Pequim e aproveitou o momento para marcar novo encontro com o responsável “que é também herdeiro da quinta geração da arte de teatro de sombras da China”. “O destino permitiu que nos encontrássemos apesar de se ter passado tanto tempo, e este foi o primeiro passo para formar a associação em Macau”.

Necessidades quase esquecidas

A existência desta entidade em Macau era uma necessidade: “o teatro de sombras chinesas foi reconhecido pela UNESCO em 2011 como património mundial imaterial da humanidade e numa altura em que a China está a avançar com a política ‘Uma faixa, uma rota’, é importante que Macau assuma uma posição em que possa servir de plataforma de divulgação desta arte do espectáculo”.

António Inácio recorda ainda que o teatro de sombras acompanhou a antiga rota da seda tendo por esse meio chegado ao Médio Oriente, à Turquia, à Grécia e mesmo a França. “Foi esta rota que acabou por levar as máscaras e os espetáculos para vários países”, aponta.

Através da política “uma faixa uma rota” o responsável quer “devolver esta tradição à própria rota da seda e alargar os destinos da divulgação, primeiro pelos países de língua portuguesa e depois pelo mundo inteiro”.

Na agenda

Para já, a associação recentemente criada ainda se está a organizar e a promover contactos com companhias ligadas a esta área tanto na China continental como noutras regiões.

Entretanto, é necessário constituir um grupo local, e para a formação de actores, músicos e técnicos António Inácio conta com a possibilidade de intercâmbio com várias regiões da China para que os interessados de Macau possam vir a ser formados.

A transmissão de conhecimentos pode ainda passar pela aprendizagem com os “grandes mestres” chineses. “Há muitos mestres de marionetas chinesas que se encontram isolados em várias partes do país e são estas pessoas que também queremos chamar para virem ensinar os de cá”, aponta.

Promover palestras e oficinas para aprender a representação e confecção de marionetas, e criar um museu de teatro de sombras no território são metas que a associação também quer atingir. “Há um museu em Nanjin que já mostrou interesse em transferir peças para Macau. Agora é necessário ter pessoas interessadas e os devidos apoios”, sublinhou.

“Queremos ainda realizar o primeiro festival internacional do teatro de sombras em Macau ainda este ano, se possível”, avança. Contudo a missão apresenta-se algo utópica até porque o objectivo seria “reunir 20 grupos chineses e 20 grupos estrangeiros”. Os contactos já estão em andamento nomeadamente com países com tradição em teatro de sombras como a Indonésia, a Malásia, Singapura, Tailândia e Camboja.

Modernizar para atrair

António Inácio considera ainda que há dificuldades a ultrapassar nomeadamente para atrair pessoas que se dediquem ao ofício. “O teatro de sombras não é uma coisa moderna e está a deixar de atrair jovens. Os interessados são normalmente idosos ou crianças, salvo raras excepções”. Para colmatar esta dificuldade é necessário atrair jovens e assegurar que esta possa ser uma carreira reconhecida.

Na manga, estão ainda algumas inovações a serem feitas aos conteúdos. Às histórias clássicas que normalmente servem de suporte ao teatro de sombras chinesas, podem ser acrescentados outros argumentos, como a “história do Titanic, que é muito conhecida e mais internacional”. A nível técnico o responsável quer integrar as novas tecnologias, principalmente na área da iluminação.

 

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