Marcas portuguesas levam a feira de Milão nova tendência de calçado ‘vegan’

[dropcap]A[/dropcap] produção de calçado ‘vegan’ é uma das novas tendências em que algumas marcas portuguesas de calçado presentes na maior feira internacional do sector, em Milão, Itália, começaram a apostar, aproveitando um nicho de mercado em crescente expansão.

“Ser diferente num mercado cada vez mais global pode ser a chave do sucesso para muitas empresas”, nota a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes e Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), sustentando que, “em alguns casos para empresas que acabam de nascer, noutros casos para empresas que procuram distinguir-se num cenário de cada vez maior competitividade, os nichos de mercado começam a ser cada vez mais procurados na hora de lançar um negócio”.

E se a produção de calçado em Portugal é, maioritariamente, em couro, a associação diz haver “um número crescente de empresas interessadas em diversificar o tipo de produtos que comercializam”, surgindo o veganismo e a sustentabilidade ambiental como duas tendências de eleição.

A Rutz – Walk in Cork nasceu em 2012 pela mão de um jovem casal lisboeta que quis apostar num produto “tradicionalmente português”, feito à base de cortiça, explicou à Lusa a sócia Raquel Castro no primeiro dia da feira de calçado Micam, que decorre até quarta-feira e onde Portugal é a segunda maior delegação estrangeira, com cerca de 90 empresas de calçado.

Com o início da internacionalização e seguindo “as tendências da moda” e de crescente preocupação ambiental, a Rutz decidiu “abrir espaço para combinar a cortiça com outros materiais”, desde o algodão orgânico às solas de borracha naturais feitas com cereais ou pneus reciclados e às denominadas peles ‘vegan’, fabricadas com tecidos alternativos à pele animal.

“Ligamos o eco da cortiça ao ‘vegan’ e hoje 95% dos modelos da nossa coleção não têm pele nem quaisquer produtos derivados de animais”, afirmou Raquel Castro, que diz sentir “muita procura” por este tipo de produtos, que “provavelmente nunca vão deixar de ser um nicho de mercado”, mas têm cada vez mais adeptos.

Com um preço médio em torno dos 120 euros, os modelos da Rutz são fabricados integralmente em Portugal, em fábricas no Norte do país, e a empresa propõe-se triplicar a atual faturação de 500 mil euros nos próximos cinco anos, impulsionada pela aposta nas vendas ‘online’.

Actualmente cerca de 20 a 30% do volume de negócios é obtido em Portugal, nas duas lojas próprias da empresa em Lisboa e numa loja multimarca no Porto, mas cuja clientela são sobretudo turistas. Os EUA correspondem a outros 20 a 30% das vendas, surgindo depois países como a Alemanha e, embora ainda no início, o Japão.

‘Vegan’ há 20 anos, Catarina Pedroso, formada em Belas Artes, está a estrear-se nesta edição da Micam com a sua marca própria de calçado ‘vegan’ Balluta, que lançou há nove meses em parceria com o marido e que está certificada pela organização defensora dos direitos dos animais PETA (‘People for the Ethical Treatment of Animals’ ou Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, em português).

“Há três anos e meio começámos a pensar em lançar uma marca de calçado. Na altura não sabia nada sobre qual seria a identidade da marca, só sabia que ia ser ‘vegan’, porque não havia oferta nesta área para a mulher que gosta de moda urbana e que se preocupa com a sustentabilidade do planeta”, disse à Lusa.

Seleccionada para participar na Micam num concurso internacional para ‘designers’ emergentes promovido por aquela feira, Catarina Pedroso fabrica os modelos que desenha em duas fábricas de São João da Madeira e vende exclusivamente ‘online’ para países como a Áustria, Alemanha, Holanda, EUA e Reino Unido.

Os preços dos sapatos Balluta variam entre os 230 e os 485 euros, sendo o objetivo atingir o milhão de euros de facturação num prazo de cinco anos.

“A Ásia é uma região que gostávamos de explorar”, disse à Lusa a responsável da marca, apontando ainda o Médio Oriente como um mercado “muito forte na vertente sustentável e ‘vegan’” e identificando também potencial de crescimento nos EUA, Norte da Europa, Tóquio e Hong Kong.

Já implantada no mercado está a Lemon Jelly, uma marca de calçado injectado detida pela empresa Procalçado, de Vila Nova de Gaia, e cujas coleções vão, a partir do inverno de 2019, “ser oficialmente 100% ‘vegan’, também com o selo da PETA.

Em declarações à Lusa, o responsável da marca, José Pinto, disse que “a grande tendência é falar sobre sustentabilidade”, o que levou também a Lemon Jelly a executar o programa ‘Wasteless’, no âmbito do qual está a produzir três modelos “feitos exclusivamente com desperdícios da produção”.

Conforme explicou, com este programa a marca produz cada par de sapatos com menos 90% de emissões de dióxido de carbono, zero desperdícios e 100% de plástico reciclado, apenas com recurso a energias renováveis.

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