Macau aposta na gastronomia para provar que há mais vida para além do jogo

[dropcap]A[/dropcap] gastronomia é uma das apostas da capital mundial do jogo para diversificar a indústria do turismo, disse à Lusa a directora dos Serviços de Turismo de Macau, à margem de uma iniciativa que reuniu ‘chefs’ internacionais no território.

Na véspera de se ‘apagar’ o Festival de Luzes e a menos de dois meses após o Festival de Gastronomia, uma série de demonstrações públicas em Macau de mais de 30 ‘chefs’ de mais de 20 Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) traduz a estratégia do território em mostrar aos turistas que há mais vida para além do jogo, segundo Helena da Senna Fernandes.

A aposta parece estar ganha e a organização admite repetir a iniciativa, adiantou a responsável, embora seja necessária “uma avaliação por parte de todos os parceiros”, ressalvou.

“O tempo está a ajudar e há muita adesão da população local. (…) O alvo é atrair mais turistas para ficarem mais tempo em Macau, e não só nos casinos, daí esta aposta na cultura, no nosso legado gastronómico, e em aproveitar constantemente todas as oportunidades”, salientou, junto ao ‘palco’ onde decorriam as demonstrações culinárias, ladeado por dois ecrãs gigantes a partir dos quais o público seguia a confecção dos pratos.

Desde 2017, quando Macau entrou para a UNESCO na área da Gastronomia, “que esta aposta se tornou muito importante, não só porque temos essa obrigação, mas porque também queremos ajudar a cidade a crescer de forma sustentável”, acrescentou a directora dos Serviços de Turismo do território.

“Temos que avaliar o sucesso do evento com os nossos parceiros, mas julgo que temos toda a possibilidade de repetir a iniciativa”, concluiu Senna Fernandes, reiterando a ideia de que “a gastronomia é um ponto forte de Macau”.

Junto a um dos emblemáticos lagos artificiais que serve de cartão de visita de Macau, no espaço Anim’Arte Nam Van, alguns cozinheiros, num momento pós-demonstração pública dos seus pratos, conversam com o público.

Um ‘chef’ turco passeia-se com um tacho e dá a provar a iguaria confeccionada que só tinha sido possível apreciar no ecrã para a esmagadora maioria das pessoas.

O ‘chef’ brasileiro David Bolhões Vieira França veio de Paraty para fazer a sua estreia na China e em Macau. Na sua bagagem, fez questão de trazer boa parte dos ingredientes, à excepção do peixe.

Na viagem de quase 18 mil quilómetros, o ‘chef’ trouxe farinha de mandioca para fazer a farofa, camarão, banana, coentros selvagens, pimenta dedo-de-moça e palmito, que tanto serve para colorir a comida como para tingir roupas de vermelho, sendo ainda usada pelos indígenas para pintarem o rosto.

“O convite foi irrecusável”, disse à Lusa, explicando que esta oportunidade para interagir com outros ‘chefs’ e com o público é sempre importante.

Por outro lado, frisou, “Paraty tem uma cozinha de muitas influências, que vão desde o pescador à cozinha indígena”, e “Macau tem esta componente de fusão, tendo pertencido a Portugal durante tanto tempo que é muito interessante”, argumentou, apesar do pouco tempo no território ainda não lhe ter permitido significativas experiências gastronómicas.

As demonstrações dos ‘chefs’ é um dos destaques do “Fórum Internacional de Gastronomia”, que começou sábado e chega hoje ao fim.

Além da região administrativa especial chinesa, estão também representadas no evento cidades do interior da China, Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Turquia, Espanha, Noruega, Suécia, Itália, Colômbia, México, Brasil, Panamá e Estados Unidos.

Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, tornando-se na terceira cidade na China, a seguir a Chengdu e Shunde, a conquistar tal feito.

Após o reconhecimento, foi lançado no início de 2018 o “Ano da Gastronomia de Macau”, uma iniciativa inserida num plano a quatro anos para “forjar uma Cidade Criativa” à boleia da designação recém-atribuída.

Realizado pela primeira vez em 2016, quando Macau preparava a candidatura à Rede de Cidades Criativas de Gastronomia da UNESCO, o Fórum Internacional de Gastronomia pretende ser “uma plataforma de relevo para intercâmbio e exploração de iniciativas de colaboração entre Macau, outras Cidades Criativas de Gastronomia, profissionais e académicos do ramo”.

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