Monserrat Caballé foi “um dos pináculos do canto lírico do século XX”, diz João Pereira Bastos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] antigo diretor do Teatro Nacional de S. Carlos João Pereira Bastos classificou Montserrat Caballé, que morreu este sábado aos 85 anos, como “um autêntico pináculo do canto lírico do século XX”.

Para João Pereira Bastos, que também foi diretor da Antena 2, a soprano Montserrat Caballé está ao nível de outras “divas” do século XX como Gina Sinha, Zinca Milanov, Maria Callas, Giulietta Simionato, Fiorenza Cossoto, a Tebaldi, Mirella Freni e Joan Sutterland.

É uma perda muito grande, sustentou o antigo diretor do Festival de Macau, considerando que atualmente há “canto a rodos” e “cantores do melhor que há” mas que “não têm a personalidade nem o recorte específico que estas grandes divas do século XX tinham”.

Para João Pereira Bastos, Montserrat Caballé “era uma das maiores sopranos de sempre da história da música do século XX”.

João Pereira Bastos, que também foi diretor de produção e diretor técnico do S. Carlos, sublinhou ainda o facto de Monserrat Caballé ter tido “bastantes pontos importantes para Portugal como para ela”, exemplificando com o facto de a soprano ter saído de Espanha para ir para uma companhia residente na Alemanha, tendo o S. Carlos sido “muito importante

Para a soprano, porque foi o primeiro teatro internacional que visitou vindo dessa companhia”, onde cantou uma obra de Mozart e outra de Richard Strauss, disse.

Na altura, a “soprano espanhola foi fazer a sua carreira internacional e estreou ´Norma`, que foi estreia absoluta no S. Carlos, que ela escolheu para estrear essa ópera”, frisou.

João Pereira Bastos considerou Monserrat Caballé “uma voz de soprano lírico com algumas características invulgares, sobretudo ao nível do ‘apianar’ de notas agudas (…) muito vizinhas do dó de peito que um cantor daquelas características não produz”.

E Monserrat Caballé “apianava ao nível de não se ouvir uma mosca na sala, como se diz, porque era de uma perfeição tal que era estranho uma voz tão forte ter esse tipo de características”, frisou.

João Pereira Bastos referiu ainda outras prestações da cantora em Portugal como a que teve em 1993 no início do Centro Cultural de Belém (CCB), sublinhando, porém, que a sua interpretação de “Norma”, em 1972, no S. Carlos, foi uma prestação “famosa”.

“Aquela ´Norma` ficou famosa e só a partir dela é que foi cantar pelo mundo fora, nomeadamente no Scala de Milão”, frisou.

Relativamente a outras prestações que a soprano teve, nomeadamente no Algarve, em programas para turismo, João Pereira Bastos considerou que “isso não terá ofuscado a sua carreira”.

“Porque Caballé pertence a uma época em que havia quatro, cinco, seis cantores fantásticos e depois havia uma plêiade de cantores bons mas já de uma segunda linha de luxo, mas era uma segunda linha”.

Não há “dúvida nenhuma que ao mesmo tempo que a Callas e A Tebaldi eram pessoas que se opunham apenas e só nos palcos, como é lógico, também o caso da Caballé e da Joan Sutterland foi um caso idêntico na geração imediatamente a seguir”, referiu.

Monserrat Caballé morreu este sábado de madrugada, aos 85 anos, no Hospital de Sant Pau, em Barcelona. O funeral realiza-se, na segunda-feira, às 12:00, para o cemitério de Barcelona.

Plácido Domingo diz que foi “um privilégio” cantar com voz “incrível” de Caballé

O tenor Plácido Domingo afirmou que partilhar os palcos com a soprano Montserrat Caballé, falecida em Barcelona aos 85 anos, foi “um privilégio” pela sua “incrível” voz e talento.

“Minha querida Montserrat, que impressionante vida e carreira tiveste. Obrigada pela tua voz incrível, o teu talento. Descansa em paz. Deus chamou outro anjo para o seu reino”, escreveu o artista na sua conta pessoal da rede social Twitter.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários